CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO
Engenheiro Agrônomo, MS, Pesquisador Científico e Diretor do IEA – Instituto de Economia Agrícola.
www.iea.sp.gov.br
O certame eleitoral nacional, em segundo turno, se encaminha para a vitória do candidato de extrema direita. Os coordenadores da área macroeconômica que, eventualmente, poderão compor a equipe que comandará o Ministério da Economia (que tende a se converter em um superministério com a incorporação de outras pastas congêneres) reúnem nomes com perfil liberal e ultraliberal.
O diagnóstico fundamental formulado por essa equipe, comum em outros fóruns de discussão sobre os problemas do país, alicerça-se na necessidade de promover um choque de produtividade da economia e desse modo propiciar trajetória sustentável de crescimento.
Para obter maior produtividade dos fatores alocados na produção de bens e serviços, na perspectiva ultraliberal, deverá ser obtida mediante incremento do grau de abertura da economia com remoção gradual das tarifas de importação e barreiras não tarifárias, concomitantemente, seguida pela retirada de benefícios fiscais concedidos de maneira pulverizada para inúmeros segmentos produtivos.
Visando acelerar a abertura comercial cogita-se, o grupo responsável pelas diretrizes econômicas, processá-la de forma unilateral, porém sem desrespeitar os compromissos regionais (MERCOSUL e demais acordos multilaterais), com o intuito de internalizar novas tecnologias capazes de baratear os custos de produção e incentivar a competição.
A consecução dessa diretriz política enfrentará oposição longamente sedimentada entre agentes econômicos que atuam nos diversos ramos da produção. Dentre eles situa-se o aguerrido posicionamento das lideranças da cafeicultura em impedir a importação de café verde por parte do Brasil.
Muito já se discutiu sobre a relevância estratégica da autorização do draw-back na expansão e potencial de globalização da indústria brasileira de café (torrefadoras, solubilizadoras, produtoras de cápsulas). Entre 2015 e 2016, esteve-se muito próximo disso como reflexo do colapso de oferta de conilon capixaba. Todavia, lobby de cafeicultores e inúmeras manifestações regionais (bloqueio de estradas, queima de sacas de café) impediram que naquele momento tal política fosse implementada.
Nova oportunidade, para franquear o ingresso de café verde importado no mercado brasileiro, surge com a ascensão do próximo governo, conservador em termos de valores morais, mas ultra-liberal em matéria econômica. Pelo teor do pronunciamento dos membros da equipe crê-se que a abertura do mercado brasileiro será concedida sem restrições, ou seja, tanto para operações visando às exportações (regime de draw-back) como para compor blends que atenderão o mercado interno.
Curiosamente, situam-se no agronegócio os maiores entusiastas da candidatura à presidência do representante de extrema direita. Esse posicionamento, em especial, dos cafeicultores contra a própria natureza do negócio que conduzem (talvez, inadvertidamente) poderá trazer grandes benefícios para a cadeia produtiva do café.
Exportadores poderão atuar também na importação, agregando esse novo ramo de atividade ao seu portfolio de negócios. Industriais da torrefação terão acesso a tipos de bebidas que não são encontradas no país, atendendo ao crescente interesse dos consumidores por novas experiências gustativas. Finalmente, as empresas produtoras de cápsulas terão a disposição todo tipo de matéria prima para inovar e explorar aquele que é na atualidade o segmento mais dinâmico do mercado de café.
A abertura para a entrada de cafés das mais diversas origens e tipos pode, também, beneficiar os próprios cafeicultores. Os operadores desse mercado em âmbito internacional reagiram com alavancagem nas cotações, pois, afinal, o Brasil é o segundo maior consumidor da bebida sinaliza que pode se tornar importador relevante nesse comércio.
Países fronteiriços produtores de café como Peru e Colômbia estreitaram laços com o Brasil, gerando reciprocidades relevantes em outros segmentos agroindustriais e industriais. A cooperação internacional por meio do comércio é melhor maneira de se produzir prosperidade e bem-estar social. 2019 se apresenta como ponto de virada no comércio de café. A saída a direita virá para ficar.