XICO GRAZIANO
Engenheiro Agrônomo e Doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. Professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano.
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Inexistem registros sobre doenças causadas. Publicações científicas não atestam efeito. Botar medo na população é irracionalidade.
Existe, na matemática, uma espécie de prova ao contrário. Ela é possível de ser aplicada à questão dos agrotóxicos. Se é verdade que tudo está envenenado, onde se verificam os efeitos?
A situação nos hospitais deveria ser alarmante. Milhares de pessoas estariam procurando as unidades de saúde para notificar e tratar doenças variadas, incluindo tumores cancerosos, causados por resíduos de agrotóxicos. Muitos casos seriam conhecidos.
Nada disso se encontra. As mioplasias estão crescendo, é verdade. Mas os pesticidas pouco têm a ver com isso. Quem garante é a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS): agrotóxicos não constam entre as 10 principais causas, ou fatores de risco, da doença.
Nas áreas especializadas em medicina toxicológica, notórios especialistas como Flávio Zambrone e Ângelo Trapé (UNICAMP), Rosângela G. Peccinini (USP) e Álvaro Pulchinelli Jr (Escola Paulista Medicina), tampouco confirmam essa (dita) tragédia. Nas unidades em que trabalham, inexistem registros sobre doenças causadas pela ingestão de alimentos contaminados por agrotóxicos.
Na aplicação em campo, lá nas lavouras, aí sim ocorrem problemas. São eles anotados pelo SINITOX, ligado ao Ministério da Saúde. Analisando-se as ocorrências no correr do tempo, verifica-se uma queda das intoxicações causadas por contato com agrotóxicos no Brasil. Ao contrário do esperado.
Entre os anos de 2000 a 2005, a média anual foi de 5.680 notificações; entre 2005 a 2010, de 5.688; e entre 2010 a 2016, de 4.238. (Rodapé: Em 2013 foram registradas 1907 notificações; por incongruência dos dados, excluí esse dado do período).
Nesse mesmo período, houve um grande aumento no consumo de agrotóxicos na agricultura brasileira, passando de 140 mil toneladas (2000) para 551 mil toneladas (2016), acréscimo de 294%. O crescente uso de agrotóxicos não ocasionou mais intoxicações por contato.
O professor Wanderlei Pignati (UFMT) lidera a campanha permanente contra os agrotóxicos. Segundo ele, a exposição das pessoas aos venenos no estado, Mato Grosso, campeão agrícola do país, é 10 vezes acima da média nacional. Supõe-se, em decorrência, que na zona rural do Mato Grosso as doenças cancerosas estejam altíssimas.
A hipótese não é confirmada pelo Instituto Nacional contra o Câncer (INCA). Na estimativa, para homens, de “casos novos” da doença, a capital, Cuiabá (MT), apresenta 299 casos por 100 mil habitantes; no interior, aparecem 253 casos.
Comparando-se os dados com o estado vizinho, do Mato Grosso do Sul, descobre-se que, neste estado, os casos de câncer estimados pelo INCA são 30% acima dos de Mato Grosso. Mais curioso é notar que os índices mato-grossenses são semelhantes aos notados no Ceará, onde o agro é bem mais fraco.
As avaliações médicas, portanto, coletadas da realidade em todo o país, deixam claro que o uso de mais agrotóxicos não elevaram a incidência de câncer no interior do Brasil.
O herbicida glifosato está na mira do ambientalismo mundial, pois poderia ter efeito cancerígeno. Como se utiliza muito desse agrotóxico nas lavouras do Mato Grosso, o fato deveria estar influenciando o surgimento do Linfoma não Hodgkin. Só que não.
A taxa de incidência em homens, para cada 100 mil habitantes, é de 5,6 em Cuiabá, contra 4,2 no interior; nas mulheres, são 5,5 na capital, contra 2,7 na roça. Deu ao contrário do esperado.
No relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Anvisa/PARA), referente aos anos de 2013 a 2015, detectou-se 134 amostras, entre 12.051 coletas de 25 alimentos frescos, com “potencial risco agudo” para a saúde humana. Dá um índice de 1,1% das amostras.
Entre as 134 amostras problemáticas, encontravam-se 90 amostras de laranja e 12 de abacaxi, frutas que mostraram resíduos acima dos permitidos em 12,1% e 5% das amostras, respectivamente. Felizmente ambas as frutas precisam ser descascadas, ou espremidas, para o consumo. Diminui o risco real.
Se fossem excluídas essas amostras, de laranja e abacaxi, tomando-se em consideração a avaliação sobre as restantes 23 frutas e legumes, o grau de contaminação que traz “potencial risco agudo” cairia para 0,3%, ou seja, 32 amostras entre 11.067 coletadas. Muito menor que se apregoa.
Mesmo assim, como existe grande margem de segurança, geralmente de 100 vezes, acima dos limites estabelecidos pela legislação, somente haveria dano real à saúde se a ingestão do alimento ocorresse em elevada quantidade.
Por exemplo, considerando o inseticida deltametrina, no cenário de que toda batata, de uma determinada lavoura, fosse vendida contendo o máximo de resíduo permitido, seria necessário ingerir 80 quilos de batata, por pessoa e por dia, para afetar a saúde. Impossível.
Só falta uma possibilidade de se comprovar o envenenamento geral causado por agrotóxicos no Brasil: aceitar a ideia de que existe um efeito acumulativo dos resíduos no organismo humano. Sendo verdadeiro, demorariam anos para se manifestarem os perversos efeitos na saúde das pessoas.
Dediquei-me a pesquisar sobre esse ponto. A despeito de encontrar inúmeras publicações sobre o efeito crônico dos resíduos de agrotóxicos, não encontrei nenhuma referência científica, na literatura recente, comprovando tal hipótese para os princípios ativos mais modernos. Repito: nenhuma publicação científica atesta o efeito crônico.
Antigamente, para os agrotóxicos do grupo dos “organoclorados”, a situação era muito séria, pois suas moléculas eram persistentes no ambiente. Mas eles foram proibidos em todo o mundo há décadas. No Brasil, DDT e BHC foram banidos em 1985.
Conclusão: a análise balizada pelo método científico não confirma que a população brasileira esteja sendo envenenada por resíduos de agrotóxicos. Supõe-se, mas não se evidencia. Felizmente.
Investir na tecnologia e nos cuidados da aplicação, nas lavouras, é sempre recomendável. Aprimorar a fiscalização, obrigatório. Alimento saudável é uma ótima causa, capaz de unir agrônomos, médicos, agricultores, governo, empresas e a sociedade. Todos deveríamos nos unir na defesa do alimento saudável.
Agora, botar medo na população inventando teses absurdas afronta a racionalidade. Quem falar, que mostre a prova. Eu não as encontrei.