NOTÍCIASOutros Grãos

Combinação de microrganismos pode aumentar a produtividade do feijão em até 11%

Pesquisadores da Embrapa comprovaram que o feijoeiro-comum, quando coinoculado com Rhizobium tropici e Azospirillum brasiliense, pode atingir níveis de produtividade 11% maiores do que com adubação nitrogenada, com média de produção acima de 3.200 quilos por hectare (ha).

Segundo o pesquisador Enderson Ferreira, da EMBRAPA Arroz e Feijão (GO), que coordena a pesquisa com a coinoculação, a nova técnica traz vantagens econômicas aos agricultores e ao meio ambiente pela não utilização de ureia e tem potencial para substituir totalmente a aplicação de nitrogênio (N), quando utilizada com os dois microrganismos.

O pesquisador considera que a atuação conjunta do Rhizobium tropici e do Azospirillum brasiliense é uma solução viável na busca de maiores rendimentos. O Azospirillum atua na potencialização do desenvolvimento da planta, principalmente raízes, resultando em melhores condições para que ela estabeleça, então, a simbiose com o Rhizobium na fixação de nitrogênio. Além dessa associação, o maior volume radicular gerado pelo Azospirillum melhora a absorção de água e de nutrientes do solo, aumentando o crescimento da parte aérea e a produção de grãos.

Ganhos de até 114% em Minas Gerais

De acordo com a análise econômica realizada pelo pesquisador em socioeconomia Alcido Elenor Wander e pela analista Osmira Silva, também da EMBRAPA Arroz e Feijão, os pequenos produtores que adotaram a coinoculação, por exemplo, tiveram um ganho de 13%. Ou seja, cada R$ 1 mil investidos na lavoura retornaram ao agricultor familiar o valor de R$ 1.130,00. Na agricultura empresarial, o rendimento é ainda maior: 90% (em Goiás) e 114% (em Minas Gerais). Traduzindo em moeda, os produtores goianos tiveram retorno de R$ 1.900,00 para cada R$ 1 mil empregados, enquanto o retorno para os mineiros foi de R$ 2.140,00, com o mesmo investimento.

O meio ambiente também é beneficiado pela não aplicação de fertilizantes químicos nas lavouras, enfatiza o pesquisador. Entre as culturas de grãos, na qual se enquadra o feijão, espera-se que o aumento da área cultivada com o uso de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) seja responsável por grande parte do que o governo espera em melhora ambiental. Ou seja, uma redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) entre 36,1% e 38,9% até 2020.

Coinoculação do feijão tiraria 700 mil t de CO2 da atmosfera

Ferreira cita estudos feitos pela EMBRAPA demonstrando que, se o uso de fertilizante nitrogenado fosse substituído pela coinoculação na área total cultivada com feijoeiro no País, poderia haver uma mitigação de aproximadamente 700 mil toneladas de CO2, o que contribuiria para que se cumprisse 52% da meta estabelecida pelo governo brasileiro.

Segundo estimativas da ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos, utiliza-se no Brasil, anualmente, 25 Kg/ha. Como a área média plantada no País é de cerca de três milhões de hectares, temos 75 mil toneladas anuais de nitrogênio. Considerando-se a adoção da ureia, cuja tonelada gira em torno de R$1.200,00, e que são necessárias 167 mil toneladas para atender essa aplicação estimada de nitrogênio, o custo final supera os R$ 210 milhões anuais para os produtores brasileiros.

Considerado básico na mesa do brasileiro, o feijão é um dos principais alimentos e a principal fonte de proteína vegetal para milhões de consumidores de famílias de baixa renda, contribuindo com cerca de 28% de toda proteína ingerida pela população. É o que mostra um estudo da pesquisadora Mariângela Hungria, da EMBRAPA Soja (PR), importante especialista em FBN no Brasil. Segundo dados do pesquisador Alcido Wander, a produção média das lavouras de feijão no Brasil é de 1.068 kg/ha.

O que é inoculante?

O inoculante é um produto que contém microrganismos com ação benéfica para o desenvolvimento das plantas. No caso do Rhizobium, a aplicação é feita na semente, antes de realizar o plantio.

Ele está acessível a qualquer produtor em lojas de produtos agropecuários.

Já a aplicação do Azospirillum é feita via pulverização, em momentos específicos da lavoura. Em termos técnicos, seria quando a planta se encontra no estádio fenológico V2 (folhas primárias, par de folhas primárias abertas) e V3 (primeira folha trifoliolada, com folíolos abertos).

A importância do nitrogênio

O nitrogênio é um dos elementos presentes em maior concentração nos vegetais e um dos principais nutrientes para o desenvolvimento das plantas. Ele exerce funções essenciais, colabora com o aumento na qualidade e produtividade dos grãos, é imprescindível na realização da fotossíntese e está diretamente relacionado à formação e ao aumento do teor de proteína nos grãos. No caso do feijoeiro-comum, além de promover maior crescimento, o nitrogênio influencia alguns componentes determinantes do sucesso da produção, como maior número de vagens nas plantas e grãos mais pesados.

O Rhizobium e o Azospirillum são conhecidos no meio agrícola pela capacidade de fixação de nitrogênio, o primeiro no feijoeiro, o outro em arroz, milho e trigo, sendo ambos já utilizados pelos produtores. No feijão, entretanto, o Azospirillum apresenta desempenho distinto do que acontece nas outras culturas, promovendo o crescimento vegetal, por meio da produção de hormônios, principalmente o ácido indol acético (AIA).

Atualmente as pesquisas com coinoculação estão explorando novos microrganismos e apresentando outros mecanismos, que ajudam no desenvolvimento das plantas, aumento de produtividade, no controle de doenças e solubilização de nutrientes.

Related posts

Bureau Veritas certifica fazendas de algodão com critérios de Responsabilidade Socioambiental

Mario

Logística: Custo Brasil vai “desabar” em cinco anos, diz ministro da Infraestrutura em live com Tereza Cristina

Mario

Campeonato Brasileiro de Torra de Café ocorrerá em Curitiba (PR)

Mario

Deixe um Comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar Leia Mais