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[Cleidiane de Andrade Ferreira] – Sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta e seus benefícios

CLEIDIANE DE ANDRADE FERREIRA
Engenheira agrônoma, Especialista em Fertilidade de solo e Nutrição de plantas,

Mestranda em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Tocantins

E-mail: cleidiane.agro@gmail.com
E-mail: cleidiane.andrade@mail.uft.edu.br

A integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF) consiste em uma estratégia de produção agropecuária sustentável a qual é formada por diferentes sistemas de produção em uma mesma área: sistemas agrícolas, pecuários e florestais, podendo ser feita com cultivos consorciados, em sucessão ou em rotação, onde ambos se beneficiam de forma mútua.

Na ILPF podem ser utilizadas diferentes culturas agrícolas, tais como culturas para a finalidade alimentícia, para a produção de fibras e/ou energia e também diferentes animais para a composição pecuária da área, tais como bovinos de corte ou leite, bubalinos, caprinos, ovinos e até aves. Para composição florestal dos sistemas podem ser adotadas diferentes espécies, podendo ser para fins madeireiros ou não madeireiros, nativas ou exóticas, a depender do local e região onde será implantado o sistema.

Existem 4 modalidades de Integração:

  • Integração lavoura-pecuária (ILP): também conhecido como sistema agropastoril e é formado pelos componentes lavoura e pecuária, adotando cultivos em rotação, consórcio ou sucessão na mesma área, no mesmo ano agrícola ou em vários anos;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): também conhecido como sistema agrossilvipastoril. É formado pelos componentes lavoura, pecuária e floresta, adota rotação, consórcio ou sucessão na mesma área, sendo que o componente lavoura pode haver restrição ou não no início da implantação do sistema;
  • Integração pecuária-floresta (IPF): também chamado de sistema silvipastoril. É formado pelos componentes pecuária e floresta em consórcio.
  • Integração lavoura-floresta (ILF): também conhecido como sistema silviagrícola, é formado pelos componentes lavoura e floresta, adotando consórcio de espécies arbóreas com cultivos agrícolas anuais ou perenes.

Dentre as quatro modalidades de integração dos sistemas produtivos, a integração lavoura-pecuária (ILP) é a mais utilizada pelos produtores, correspondendo a 83% dos sistemas, seguido pela ILPF com 9%, IPF com 7% e ILF com 1%.

Sistema de integração lavoura, pecuária, floresta.

Sistema de integração lavoura, pecuária, floresta.

Benefícios dos sistemas de integração

  • Otimizam e intensificam a ciclagem de nutrientes no solo;
  • Ajuda na manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária;
  • Aumento de renda líquida permitindo maior capitalização do produtor;
  • Melhoria do bem-estar animal devido ao maior conforto térmico;
  • Melhora a qualidade e conservação das características produtivas do solo;
  • Aumento da produção de grãos, carne, leite, produtos madeireiros e não madeireiros em uma mesma área, possibilidade de aplicação em propriedades rurais de todos os tamanhos e perfis;
  • Redução da sazonalidade do uso de mão-de-obra no campo e do êxodo rural;
  • Maior eficiência na utilização de recursos, tais como água, luz, nutrientes e capital, ampliação do balanço energético;
  • Maior otimização dos processos e fatores de produção, geração de empregos diretos e indiretos;
  • Melhoria da imagem pública dos agricultores perante a sociedade;
  • Redução da pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa;
  • Mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa e estabilidade econômica com redução de riscos e incertezas devido à diversificação da produção.

Benefícios dos sistemas de integração para o solo

  • Maior ciclagem de nutrientes;
  • Maior quantidade de matéria orgânica;
  • Melhores condições para o desenvolvimento de microrganismos;
  • Maior infiltração de água no solo;
  • Menor perda de água.

A lavoura implantada nas áreas de integração é favorecida pela palhada deixada pelo capim e também pela descompactação do solo realizada pelas raízes. As árvores presentes nestes sistemas reduzem a perda de umidade no solo devido à barreira formada contra o vento. A forrageira e as árvores apresentam raízes mais profundas e com isto são favorecidas com o aproveitamento de insumos utilizados na lavoura e que acabam sendo lixiviados para camadas mais profundas do solo, além disto, o nitrogênio deixado pelas leguminosas (soja e feijão) também é aproveitado pelas forrageiras, reduzindo assim o gasto com adubos na área. O capim, devido a grande disponibilidade de nutrientes, apresenta melhor produtividade e qualidade, contribuindo assim para o melhor desempenho dos animais criados nestes locais.

A adoção de sistemas ILPF

Os sistemas ILPF tiveram um grande crescimento nos últimos anos no Brasil e segundo pesquisa encomendada pela Rede ILPF e realizada pelo Kleffmann Group na safra 2015/2016 estimaram que o Brasil já contava com 11.468.124 hectares formados com sistemas integrados de produção agropecuária e com base em modelos lineares simples estimaram que em 2020 as áreas com ILPF estavam entre 15,07 e 17,42 milhões de hectares.

Em termos de tamanho de área por Estado formada com sistemas ILPF, na safra 2015/2016, Mato grosso do Sul liderava com 2.085.518 ha, seguido por Mato Grosso com 1.501.016 ha, Rio Grande do Sul com 1.457.900 ha, Minas Gerais com 1.046.878 ha, Goiás e DF com 943.934 ha.

Motivos para a adoção de sistemas ILPF

Existem diversos motivos para que produtores rurais adotem os sistemas ILPF, tanto na pecuária, como na agricultura, na pecuária podemos citar:

  • Redução do impacto ambiental;
  • Recuperação de pastagens;
  • Rotação de culturas por necessidade técnica;
  • Aumento da rentabilidade por hectare;
  • Diminuição de riscos financeiros.

Historias de sucesso na adoção de sistema ILPF

Existem diversos casos de sucesso de produtores rurais que adotaram o sistema em suas propriedades. Entre as historias de sucesso e que estão distribuídas nos mais diferentes biomas existentes no Brasil e que abrangem os diferentes Estados podemos citar:

  • Sitio Nelson Guerreiro, localizado em Brotas (SP), no Interior de São Paulo, proprietário Luiz Fernando da Silva: o produtor adotou o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em 45,9 hectares da fazenda, antes da implantação do sistema a única renda vinha da citricultura, atualmente, são plantados grãos, cana, eucalipto, pasto e citrus, todos os produtos são beneficiados e comercializados aos pecuaristas. Segundo o produtor rural, com a implantação do sistema produzem fubá, lenha, carne e laranja e conseguiram agregar valor à produção e comercialização das mercadorias sem atravessadores;
Produtor rural Luiz Fernando da Silva e sua esposa Maria Fernanda Guerreiro em sua propriedade
em meio ao sistema de integração implantado.
  • Fazenda Santa Brígida em Ipameri (GO): segundo a proprietária Marize Porto Costa, em 2006, quando assumiu a gestão da Fazenda se deparou com as pastagens degradadas e a baixa produtividade dos animais presentes na fazenda, diante do alto custo para recuperar os pastos de forma direta, buscou orientação da Embrapa e implantou o sistema de integração lavoura-pecuária de inicio, onde a agricultura cobriu todos os custos de produção e o pasto saiu de graça. Segundo ela, nas primeiras lavouras de soja e milho no sistema, conseguiu colher e vender os grãos e pagar as contas da propriedade. No terceiro ano entrou com o componente floresta, implantando o eucalipto na área, que além de fornecer madeira, as árvores proporciona sombreamento para o gado e o conforto animal, além da fixação do carbono do sistema.  

Em 10 anos de implantação do sistema, a lotação animal que era de 0,5 UA/ha e com produção de 2,5@/ha/ano passou para 4 UA/ha e produção de 25@/ha/ano em 2015, tendo 10 vezes mais produtividade. Em relação as lavouras as produtividades médias de soja e milho passaram de 45 sacas/há para 65 sacas/ha e uma projeção de 190 sacas/ha para safra atual.

Sistema integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda Santa Brígida em Ipameri (GO) – (A) e (B).

            COP – 26 e sua relação com os sistemas de integração

A COP – 26 é a sigla que representa a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em seu 26º encontro, principal cúpula da ONU que visa o debate sobre assuntos climáticos e tem como objetivo acelerar a ação climática para cumprir o Acordo de Paris e da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. 

No acordo, as nações aceitaram a proposta de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera com a finalidade de prevenir a interferência da atividade humana nas condições climáticas. Atualmente, o acordo conta com 197 signatários e o Brasil voluntariamente confirmou o compromisso junto à COP – 21 em 2015 de reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 36,1 e 38,9% das emissões até 2020 e na Cúpula do Clima, o governo brasileiro assumiu uma nova meta para emissões até 2050.

Os sistemas de integração constituem em uma das estratégicas do Brasil para a redução da emissão de gases de efeito estufa e que tem mostrado resultados positivos nas áreas onde foram implantados, podendo ser aplicados em propriedades pequenas, médias e grandes, além da adequação a diferentes condições climáticas.

Visando incentivar e acelerar a adoção de sistemas ILPF pelos produtores rurais e intensificar a agricultura sustentável brasileira, foi criada a Associação Rede ILPF, constituída pela Embrapa e pelas empresas Bradesco, Ceptis, Cocamar, John Deere, Soesp e Syngenta. A associação tem como objetivo aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável através da coordenação científica do projeto Rural Sustentável. Para conhecer mais sobre esta associação os interessados podem acessar o site da associação pelo endereço: https://www.redeilpf.org.br.

Carne Carbono Neutro (CCN)

A Carne Carbono Neutro consiste em uma marca conceito que visa comprovar que a carne bovina comercializada foi produzida em sistemas de integração silvipastoril ou agrosilvipastoril por meio de protocolos específicos, tendo como principal objetivo garantir que os animais que deram origem a carne tiveram as emissões de metano entérico compensadas durante o processo de produção pelo crescimento de árvores no sistema.

O Estado do Mato Grosso do Sul em 2015 quando foi lançada a marca, iniciou o processo para se tornar o primeiro Estado Carbono Neutro do Brasil, implantando políticas  públicas que promovam a marca CCN em seu território. Em 2020, a empresa Marfrig fez uma parceria com a Embrapa, lançando a linha de carnes Viva, seguindo o conceito de Carne Carbono Neutro, com produtos advindos de animais inseridos em sistemas de produção pecuária-floresta.

Marca conceito Carne Carbono Neutro (CCN)
Linha de carne “Viva” lançada pela empresa Marfrig

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