CaféCafé e Mercado

[Fundação Procafé] – Síntese do Mercado de Café: Jul/24 – “Bolsas + Dólar + Basis em Alta = Momento Oportuno!!”

(Resumo do mês de Junho/2024)

No mês de julho/2024, o café Arábica, na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em 224,85 cents/lb, para depois, em um forte movimento de alta, ser negociado acima de 255,00 cents/lb e, então, devolver maior parte dos ganhos e encerrar o mês a 229,20 cents/lb, portanto, um mês de muita volatilidade, com leve viés de alta.

Na ICE Futures Europe (Bolsa de Londres), o Canephora (Robusta/Conilon), iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em USD 4.067/ton, para depois, alcançar níveis recordes ao ser negociado acima de USD 4.650,00/ton e, então, devolver parte dos ganhos e encerrar o mês com fechamento em USD 4.261,00/ton, portanto, de modo similar ao Arábica, um mês de muita volatilidade, com leve viés de alta. Os motivos desses movimentos nas principais Bolsas de café do mundo com algumas perspectivas futuras, a seguir…

FATORES DE SUSTENTAÇÃO (ALTA)

No decorrer do mês de julho/2024, o mercado seguiu marcado pela alta volatilidade. Nas duas primeiras semanas do mês, as cotações na Bolsa de Nova Iorque chegaram a se aproximar das máximas vistas no início do ano de 2022. Já Na Bolsa de Londres, também nas duas primeiras semanas do mês, as cotações seguiram batendo recordes com negócios acima de 4.680,00.

A apreensão com a oferta segue no radar e divergências de números relacionadas à produção global, sobretudo, dos dois maiores produtores do mundo, seguem dando sustentação ao mercado que, apesar da correção baixista ao final do mês de julho, ainda segue se mantendo próximo da linha de 230,00 cents na Bolsa de NY.

Atrelado à questão acima, ainda há a questão da real safra brasileira de 2024. Apenas recapitulando, os números do USDA apontam uma safra brasileira de 69,9 milhões de sacas para o ciclo 2024/25, o que em números, repete a safra recorde de 2020/21. O que chama a atenção para esse número, é que produtores, agrônomos e técnicos seguem dando indícios de que a atual safra brasileira está bem longe de se aproximar da safra recorde de 2020/21. Para o Robusta/Conilon, essa perda de potencial já estava perceptível há alguns meses. Para o Arábica, começou a ganhar mais evidência recentemente em função do avanço nos trabalhos de colheita.

Segundo pesquisadores da Fundação Procafé, no Podcast Procafé nr. 134, intitulado “Cadê o café que estava aqui?” (https://www.youtube.com/watch?v=uclLuE7UngQ), há alguns meses atrás, existia-se um consenso entre vários profissionais do setor que, apesar de distante da safra recorde de 2020, a safra de 2024 seria maior do que a safra de 2023. E, agora, a impressão que se têm é que, ao menos no Sul de Minas, a safra de 2024 deve ficar abaixo da safra 2023, o que já significa uma redução de mais de 1,5 milhão de sacas no comparativo com as estimativas de meses atrás. De acordo com os Pesquisadores da Procafé, Alysson Vilela Fagundes e Alexandre Pedrosa Pinto, até mesmo os produtores irrigados estão tomando susto ao fecharem suas safras, pois o principal problema que impactou a safra 2024, não foi a falta de água, mas sim as elevadas temperaturas (ocasionadas pelo El Niño).

Reforçando este fato, em entrevista ao Notícias Agrícolas, o Presidente da Cooxupé, Sr. Carlos Augusto Rodrigues de Melo, afirmou que no raio de atuação da Cooperativa, tudo leva a crer que a safra de 2024 deve ser igual ou inferior à safra de 2023. Para deixar o mercado ainda mais apreensivo, apesar de cedo para conclusões, o clima segue preocupante para a safra brasileira de 2025, com déficit hídrico em grande parte das regiões cafeeiras do Brasil bem abaixo dos índices de um ano atrás e da média histórica.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos Estados Unidos, publicou novo relatório no mês de julho, no qual indica 70% a chance de que o La Niña se estabeleça entre os meses de agosto e outubro deste ano. Há ainda 79% de probabilidade de influência do fenômeno entre novembro e janeiro de 2025. Entretanto, apesar das previsões do modelo concordarem quanto à probabilidade do La Niña, a projeção em relação à intensidade do evento climático tem recuado.

Atualmente, a NOAA indica 50% de chance de que o fenômeno atinja a categoria moderada. De acordo com climatologista Luiz Carlos Molion, a impressão que ele tem é de que esse não vai ser um La Niña clássico, não ocasionando impactos na distribuição de chuvas no Brasil. “Tomara que ele esteja certo.”
De modo similar, os números do USDA para a safra vietnamita, segundo maior produtor mundial de café, sendo o primeiro para o Robusta/Conilon, também não fecham com os dados do país.

Enquanto o USDA aponta uma safra de 29,1 milhões de sacas para o ciclo de 2023/24 (ciclo do Vietnã é de outubro a setembro), o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural vietnamita informa que a produção de café do Vietnã na safra 2023/24 deverá ter uma redução de 20% em comparação à safra anterior, indo para 24,5 milhões de sacas, a menor em quatro anos.

No primeiro semestre deste ano, o Vietnã apresentou uma queda de mais de 8% em volume de exportação. Só no mês de junho, as exportações representaram praticamente a metade do volume exportado no mesmo mês do ano passado. Tudo isso justifica os avanços recordes na Bolsa de Londres. Já para o ciclo 2024/25, que no Vietnã se inicia em outubro/24, dados do USDA apontam que o país deverá produzir 29 milhões de sacas, algo incompatível com a percepção dos produtores vietnamitas que, em função das chuvas abaixo das médias e das elevadas temperaturas, em especial, no início da floração, já esboçam uma ideia inicial dando a entender que a safra 2024/25 pode ficar abaixo das 24,5 milhões de sacas da safra 2023/24.

Para encerrar os comentários relacionados à oferta global, é importante recapitular que, o incremento na safra 2024/25, de 7,1 milhões de sacas em relação ao ciclo 2023/24, com uma produção total de 176,24 milhões de sacas, pode gerar um sentimento baixista para o mercado. Contudo, conforme posto na Síntese do mês passado, ao inserir nesta balança, os dados de consumo global e estoques de passagem ao final do ciclo, a história muda. Dados do USDA apontam que o consumo global deverá aumentar em 3,1 milhões de sacas, totalizando 170,60 milhões.

Quanto aos estoques de passagem, a Entidade aponta que, após três anos de declínio, devem apresentar uma ligeira recuperação de 1,9 milhão de sacas, indo para 25,8 milhões de sacas, o que significa que a relação percentual dos estoques de passagem frente ao consumo global deve seguir em um nível crítico ao final desse ciclo.

Para se ter melhor noção, ao final do ciclo 2022/23, os estoques de passagem representavam 15,71% do consumo global de um ano. Ao final do ciclo 2023/24, essa relação deve ficar em 14,28%. Já para o ciclo 2024/25, a previsão é que os estoques de passagem representem algo em torno de 15,11%, um nível ainda alarmante para um setor que há três décadas atrás chegou a deter estoque suficiente para quase um ano de consumo. E, agora, esses estoques mal devem dar para dois meses do consumo global.

Diante esse cenário de escassez que vem conduzindo os produtores a uma posição mais retraída, os diferenciais de base entre a Bolsa de Nova Iorque e o FOB Brasil seguem se alargando. Apenas para ilustrar, o diferencial de base para um Fine Cup, tipo 2/3, pen. 17/18 que há um ano estava em -9,00 cents/lb, atualmente está positivo em +4,00 cents/lb. Um Good Cup, tipo 3/4, pen. 17/18 que há um ano atrás estava em -17,00 cents/lb, atualmente está com diferencial de -3,00 cents/lb. Já um Good Cup, tipo 3/4, Mtgb que há um ano estava em -21,00, atualmente está com diferencial de -17,00 cents/lb. Esses dados evidenciam que o mercado interno brasileiro ganhou valor em relação às cotações da Bolsa de Nova Iorque.

A valorização do Dólar frente ao Real, que chegou a superar R$ 5,70 no dia de hoje (02/08), vem contribuindo fortemente para a composição dos preços no mercado interno. É válido ressaltar que o Dólar vem tendo forte valorização apenas contra as moedas emergentes.

Com relação a outras moedas, tidas como mais fortes, o Dólar apresentou recuo, o que é possível verificar com o desempenho do US Dollar Index, que é um índice que mede o valor do Dólar contra uma cesta de moedas fortes. No mês de julho/24, o US Dollar Index apresentou recuo próximo de 2,00% frente às expectativas do mercado com os direcionamentos do FED (Banco Central norte-americano) em relação aos juros norte-americanos e, também, em função da elevação das taxas dos títulos do Tesouro norte-americano.

A desvalorização do Dólar contra essas outras moedas mais forte, tende a dar suporte para as cotações nas principais Bolsas de café do mundo. Neste sentido, o mercado deve seguir monitorando as decisões do FED em busca de possíveis indicações sobre o futuro da política monetária norte-americana. Por ora, na reunião do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) do último dia do mês de julho, a taxa de juros foi mantida entre o intervalo de 5,25% e 5,50%, pela oitava reunião consecutiva, sendo esse o maior nível em 22 anos.

Apesar do FOMC deixar claro que não acha apropriado reduzir os juros até que se tenha maior confiança de que a inflação esteja caminhando de forma sustentável para a meta de 2%, o presidente do FED, Jerome Powell, já afirmou que não pretende esperar a inflação voltar exatamente para a meta de 2% para começar a cortar juros. Com isso, até então, a expectativa para o primeiro corte de 0,25% nos juros dos EUA está para o mês de setembro, sendo que o mercado prevê mais dois cortes de 0,25% até final do ano. Ademais, alguns dados recentes da inflação norte-americana justificam o otimismo do mercado.

O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos caiu 0,1% em junho, desacelerou para 3% na base anual e surpreendeu o mercado. Caso esses três cortes nas taxas de juros norte-americanos se concretizem, toda essa aversão ao risco pode dar lugar a um ambiente econômico mais estável, despertando o apetite ao risco por parte de investidores, o que para as cotações do café seria bem interessante.

FATORES DE PRESSÃO (BAIXA)

Da terceira semana do mês de julho/24 em diante, após o intenso movimento altista do início do mês, uma correção baixista se iniciou, fazendo com que as cotações, tanto na Bolsa de Nova Iorque quanto de Londres, devolvessem grande parte dos ganhos do mês. Ainda assim, as cotações permaneceram acima das cotações apresentadas no primeiro dia do mês.

Com os Arábicas da safra nova começando a dar as caras ao mercado, uma correção técnica com realização de lucros por parte de fundos de investimentos e especuladores, diante um mercado sobrecomprado, que não teve força para se manter acima de 250,00 cents/lb, deu início a um movimento baixista que se iniciou no dia 15 do mês se estendendo até o final do mês na medida em que suportes foram sendo rompidos e novas ordens de vendas ativadas.

De acordo com o relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), no mês de junho/24, o Brasil exportou 3,573 milhões de sacas, sendo 2,480 de Arábica, 0,818 de Robusta/Conilon e 0,275 de cafés industrializados. O destaque foi para os canephoras que comparado com o mesmo mês do ano passado, apresentou um aumento de 254,5% nas exportações. Desta forma, a exportações brasileiras de café alcançaram um volume histórico de 47,300 milhões de sacas no ano safra 2023/24, o que implica alta de 32,7% na comparação com as 35,632 milhões de sacas apuradas no ano safra 2022/23.

O montante atual, embarcado para 120 países, também representa crescimento de 3,6% sobre o recorde anterior, de 45,675 milhões de sacas no ciclo 2020/21. No entanto, conforme já posto na Síntese do mês passado, naquele ciclo, diferentemente do atual ciclo, o recorde de exportação esteve atrelado ao recorde de produção que o Brasil alcançou no ano de 2020. Apesar dos níveis críticos de estoques e do aperto na oferta global, o alto volume de exportação atua como um fator de pressão para as cotações.

Desta vez, dentre os principais motivos para os atuais níveis recordes de exportação brasileira destaca-se o fato de que a demanda por café no mundo está aquecida. Diante esse cenário de escassez, o Brasil, como maior produtor do mundo, aproveitou seus estoques restantes para suprir a demanda que outras origens, em especial dos canephoras, não foram capazes de suprir, o que abriu espaço para o Brasil aumentar seu market share a nível global uma vez que o Brasil é capaz de suprir não somente quantidade, mas também uma diversidade de qualidade que somente o Brasil é capaz de ofertar.

O recuo do Petróleo e a alta do Dólar contra moedas emergentes também pesaram sobre as cotações. Se por um lado a valorização do Dólar frente ao Real contribuiu para a composição dos preços no mercado interno, por outro lado, nas Bolsas, o efeito foi o contrário, com o Dólar valorizado pressionando as cotações. Além disso, é válido ressaltar que existe o descolamento do Dólar comparado com moedas emergentes (alta) e do Dólar contra moedas fortes (baixa). Os motivos para essa colisão de alta e baixa do Dólar foram vários:

► No cenário nacional, o receio de investidores com o não cumprimento das metas fiscais e a preocupação com eventuais intervenções do governo no mercado, pressionam o Real. Da mesma forma, as declarações do presidente Lula, denigrindo a autonomia do Banco Central também pressionam a moeda brasileira. Além disso, tais declarações tendem a distorcer as cotações do dólar em função das reações imediatas que geram. De acordo com o analista Alfaix, da Rio Bravo Investimentos, “em vez de contribuir para tornar o cenário menos indefinido, Lula tem sido uma grande fonte de incertezas, e em um momento no qual o ambiente externo é desfavorável aos países emergentes”. Com o Dólar em alta contra o Real e o Ibovespa em baixa, o sentimento é de economia em crise, o que eleva a aversão ao risco no Brasil, fazendo com que os investidores migrem seus investimentos para outros países com maior segurança;

► No cenário internacional, o ambiente é desfavorável não somente para o Brasil, mas também para os demais países emergentes. A manutenção dos juros dos EUA no mesmo patamar (elevado) tende a provocar uma pressão de resgate dos investimentos internacionais no Brasil e em países emergentes, o que provoca uma saída de dólares com sua respectiva valorização nesses países emergentes. As taxas dos títulos do Tesouro norte-americano, considerados os investimentos mais seguros do planeta, voltaram a subir e esse fator, atrelado a todo esse cenário de instabilidade, também provoca a retirada de capitais financeiros de países emergentes, onde o risco está maior, e acaba os direcionando para os EUA. Além disso, os relatos de que o Irã pretende atacar Israel, as expectativas do Banco Central japonês elevar os juros e a desaceleração da economia chinesa também são fatores que colaboram para que o Dólar se valorize frente ao Real e outras moedas emergentes. Em especial, a desaceleração da economia chinesa pode impactar diretamente no consumo de commodities, pressionando suas cotações.
No que tange aos aspectos econômicos, toda os fatores mencionados acima tendem a gerar um sentimento de aversão ao risco por parte dos players de mercado, fazendo com que eles liquidem suas posições em ativos de risco tal como o café e migrem para ativos de maior segurança, o que, certamente, pressiona as cotações do café.

Varginha (MG), 03 de AGOSTO de 2024.

Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar
Superintendente Executivo – Fundação Procafé

Related posts

[Flávia Patrício] – Cobre na cultura do cafeeiro

Mario

FEMAGRI 2019 aposta nos avanços da tecnologia para o produtor rural

Mario

Apreendidas 28 mil unidades de cafés irregulares no Espírito Santo

Mario

Deixe um Comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar Leia Mais