Quase dois anos após a instalação do primeiro laboratório para produção de inoculantes em Gana, na África, com o apoio da EMBRAPA, os resultados iniciais mostram-se promissores. É o que indica o pesquisador da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) Luc Rouws, que viajou em setembro para Tamale, no norte do país, para analisar a qualidade dos produtos desenvolvidos no local e a sua aplicação na agricultura familiar. “Amostras dos inoculantes para feijão-caupi e soja foram testadas por nossa equipe e verificou-se que têm boa qualidade”, revela.
Rouws visitou ensaios de campo de inoculação de feijão-caupi, amendoim e soja em áreas de produtores onde as primeiras doses dos inoculantes Sarifix Cowpea e Sarifix Soybean estão sendo testadas e trouxe ao Brasil algumas amostras. “Encontramos números de rizóbios acima de 1 bilhão por grama e baixos níveis de contaminação”, aponta, explicando que para ser considerado de boa qualidade, é necessário que o inoculante tenha ao menos 1 bilhão de bactérias por grama. “Também fizemos experimentos de inoculação seguindo os procedimentos descritos nos inoculantes e confirmamos a sua eficácia. Eles induziram nodulação abundante e fixação biológica de nitrogênio em feijão-caupi e em soja”, acrescenta.
A visita integrou as ações de projeto de cooperação internacional realizado em conjunto no Brasil e em Gana. “O maior avanço neste momento é que agora temos confiança de que a biofábrica de Gana está fazendo um produto que é realmente bom. Esse é um grande passo”, diz o pesquisador, alegando que essa é a primeira etapa para que sejam feitos os testes para verificação do aumento da produtividade da cultura. Segundo ele, no mínimo 250 ensaios de campo já foram conduzidos ou estão em andamento em áreas de pequenos produtores em diferentes regiões do norte de Gana.
Produtos para soja e caupi completam linha de inoculantes ganeses
Em maio de 2017 o laboratório de Gana produziu as primeiras doses do inoculante para amendoim. Segundo o pesquisador da Embrapa Agrobiologia Luís Henrique de Barros Soares, que foi ao local no fim de 2016 para auxiliar na instalação da biofábrica e treinar a equipe envolvida na produção dos produtos biológicos, amendoim, soja e feijão-caupi são culturas muito importantes como fonte de proteínas na alimentação dos países da África Ocidental.
Dessa forma, a fixação biológica de nitrogênio torna-se uma importante aliada para aumentar a produtividade e garantir a segurança alimentar. Rouws concorda: “Em locais menos pobres, em geral, as pessoas colhem os grãos do caupi e deixam o resto da planta, que se decompõe e melhora o solo. Mas em regiões mais pobres, como na África, as pessoas usam tudo. Então, no final do ciclo, não há mais matéria orgânica para a natureza se regenerar. Por isso a FBN na África tem um potencial muito bom.”
Localizado dentro do Savanna Agricultural Research Institute (SARI), unidade de pesquisa pertencente ao Council for Scientific and Industrial Research (CSIR), que é o órgão que coordena as atividades de pesquisa em Gana, o laboratório é o primeiro dedicado especificamente a essa finalidade em toda a África Ocidental. A parceria entre a Embrapa e o SARI já soma mais de cinco anos, sendo que diversos estudantes e pesquisadores ganeses vieram ao Brasil e foram treinados em diversas áreas e laboratórios ligados à tecnologia de FBN. O projeto atual é desenvolvido em Gana pelo SARI/CSIR em parceria com a Embrapa Agrobiologia, dentro da plataforma M-BoSs: building on successes of the MKTPlace. Tal plataforma é uma parceria entre o Forum for Agricultural Research in Africa (FARA), a Fundação Bill & Melinda Gates, o Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID) e a Embrapa, contando ainda com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC) e da Funarbe.
Liliane Bello (MTb 01799/GO)
Embrapa Agrobiologia