Giovani Belutti Voltolini1 – graduando em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF. E-mail: giovanibelutti77@hotmail.com
Larissa Cocato da Silva2 – graduanda em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF. E-mail: lari.cocato@hotmail.com
Pedro Menicucci Netto3 – graduando em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF. E-mail: pedromeniccuci2010@hotmail.com
Ricardo Nascimento Lutfala Paulino4 – graduando em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF. E-mail: ricardo.lutfalap@gmail.com
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A praga de maior importância agronômica na cafeicultura é o bicho mineiro. Desta forma, a mesma é caracterizada por ser uma mariposa pequena, com ciclo de vida completo (metamorfose completa), ou seja, seu ciclo se inicia na fase de ovo, evolui como lagarta, pupa ou crisálida e posteriormente se torna adulta. Cada mariposa põe, em média 36 ovos em um período de até 25 dias, justificando assim sua importância, pois devido ao ciclo curto, a infestação é muito rápida e severa.
Como características, a mariposa pertencente a ordem Lepdoptera, sendo da espécie Leucoptera coffeella. Os hábitos do inseto são noturnos, onde os mesmo se escondem nas folhagens durante o dia, e ao entardecer realizam suas atividades de postura e predação das folhas.
Sintomas
O Bicho mineiro possui esse nome pelo fato das larvas penetrarem nas folhas e se alimentarem do tecido, deixando um vazio entre as duas epidermes da folha, conhecidas como “minas”. Essa região posteriormente se transformará em manchas necróticas reduzindo assim a área fotossintética da planta. Outro dano que pode ocorrer é a desfolha interferindo na produção, na formação de botões florais e no pagamento da florada. Dessa forma, dependendo da intensidade dessa praga além de afetar a produção do ano de infestação, ela pode afetar também a safra seguinte, isto por que devido aos danos à atividade metabólica da planta, o ramo vegetativo terá seu crescimento reduzido, e consequentemente menor produção no segundo ano do biênio.
Condições para disseminação
O clima é um fator de enorme influência nos ataques desta praga, sendo mais ocorrente em regiões com temperaturas elevadas associadas a estiagens e baixa umidade relativa, período que vai de março a setembro. Outros fatores também afetam a incidência dessa praga, dentre eles podemos citar o uso excessivo de inseticidas que podem interferir no equilíbrio de inimigos naturais do bicho mineiro, adubações insuficientes deixando as plantas mais sensíveis ao ataque e espaçamentos mais largos, que propiciam maior circulação do ar, sendo o vento um fator de disseminação dessa praga.
Danos
A mosca do bicho mineiro na sua fase larval se alimenta apenas nas folhas do cafeeiro, causando lesões (minas), que evoluem para o aspecto necrótico, com coloração escura. Como consequência do ataque, a área foliar da planta reduz, o que implica diretamente na redução da taxa fotossintética produzida pela planta. Isso é um fator que acarreta em prejuízos ao desenvolvimento vegetativo e também menor produtividade da cultura.
Outro dano causado pelo bicho mineiro é a queda das folhas. De acordo com a intensidade do ataque da praga pode ocorrer desfolhas drásticas no cafeeiro, começando do terço superior para as regiões baixeiras da planta. Nas plantas em produção, a infestação é maior no terço superior da planta. Em caso de intensa desfolha do cafeeiro a sua recuperação pode durar até dois anos. Esses prejuízos acarretam queda na produção da lavoura, diminuindo o lucro e aumentando gastos com a recuperação para o produtor. Por fim, vale ressaltar que mesmo em diferentes épocas do ano, onde ocorre o ataque da praga, a produção cafeeira será afetada, como principalmente na fase de formação dos botões florais onde as perdas atingem até 50% da safra.
Monitoramento
O monitoramento é uma das práticas de maior importância para o controle e manutenção da praga na cultura, visto que o mesmo deve ser realizado sistematicamente, de modo que a quantificação dos níveis de infestação irá servir como tomada de decisão para o momento correto de se iniciar o controle químico.
A etapa de planejamento é muito importante, pois é nesta hora que o cafeicultor vai dividir as glebas da lavoura, obtendo áreas homogêneas até 10 ha. As planilhas de anotações devem ser elaboradas para a coleta dos dados. Estes dados históricos também podem servir como ferramenta para os anos posteriores, indicando locais onde a infestação é antecipada ou com maior intensidade.
A partir do planejamento, é hora da execução da amostragem para levantamento das informações da área de cultivo. Sobretudo, para o monitoramento do bicho mineiro as folhas amostradas devem estar localizadas no terço médio das plantas (Figura 4), pois é neste local onde os níveis de infestação são mais severos.
A escolha das plantas a serem utilizadas para a amostragem deve ser ao acaso, totalizando cerca de 20 plantas por gleba homogênea, e coleta de uma folha adulta (expandida), localizada entre o terceiro (3º) ou quarto (4º) par de folha, em 5 galhos de um lado da planta. O caminhamento deve ser em zigue zague de forma que a amostragem seja o mais representativa possível.
A época de amostragem também é de grande importância, pois há períodos estratégicos de coleta em campo, isto devido aos picos de infestação do patógeno na cultura. Neste sentido, o monitoramento do bicho mineiro é realizado em duas épocas do ano (Figura 5), sendo a primeira compreendida entre os meses de setembro e outubro, pois o tempo está seco e propício a disseminação desta praga, assim como o período de março à abril. Portanto, cabe aos cafeicultores maior atenção ao bicho mineiro nestas épocas do ano, garantindo assim, maior eficiência no controle em caso de infestação, isto devido ao controle no momento correto.
Após a obtenção das informações da época ideal de se iniciar o monitoramento, assim como a metodologia a ser utilizada, o próximo passo é qual a forma de se avaliar o material coletado. No caso do bicho mineiro, as anotações devem estar divididas em duas colunas, uma com o número de folhas com minas ativas (NFCMA) e a outra com o número de folhas com minas rasgadas (NFCMR). Sobretudo, estas informações são utilizadas no cálculo de infestação, que é a principal ferramenta indicadora para o momento de iniciar o controle.
A partir da obtenção do nível de infestação de bicho mineiro na lavoura o cafeicultor pode lançar mão de estratégias de controle, sendo que em situações onde os níveis de infestação chegam a 30 % no terço médio das plantas ou 20 % no terço superior, o produtor deve iniciar o controle pois já está no nível de dano econômico à cultura. Em lavouras novas, o cálculo de infestação é desnecessário, e a partir da constatação das primeiras folhas minadas o controle deve ser realizado. Vale ressaltar que o cafeicultor deve analisar cada talhão separadamente, e somente realizar o controle naqueles que atingiram os níveis de dano econômico, visando assim preservar os inimigos naturais situados no local.
Sobretudo, o georreferenciamento é uma das técnicas mais atuais que vem sendo utilizadas para amostragem e monitoramento de pragas e doenças na agricultura, permitindo maior eficácia no levantamento das informações.
Formas de Controle
Afim de evitar a ocorrência da praga ou ameniza-la é importante que seja feito o monitoramento da área pelo produtor ou técnico responsável. Dessa forma pode observar a presença ou não de ovos e larvas nas folhas do cafeeiro, como também a presença da mosca. A partir desse levantamento é indicado, de acordo com a necessidade, as formas de controle para o bicho mineiro, visando à diminuição dos níveis de infestação e controle do patógeno. Dentre estas formas de controle, os mais comumente utilizados são o químico, cultural, genético e em alguns casos o controle biológico.
Contudo, o controle químico, por meio da utilização de inseticidas é o mais utilizado, pois seu resultado é rápido e na maioria das vezes é o mais eficiente no controle do inseto. Desta forma, os inseticidas de ação sistêmica são os mais utilizados e podem ser aplicados junto a pulverizações foliares, para diminuir os custos operacionais. Assim como mencionado anteriormente, o controle químico somente deve ser realizado quando aos níveis de infestação atingirem 30 %. Importe ressaltar que o cafeicultor não deve lançar mão da pulverização com inseticidas sem a recomendação adequada, pois o custo é elevado, além dos possíveis riscos de contaminação e desequilíbrio ambiental, ou até mesmo causar fitotoxidez à planta.
Já o controle genético consiste em busca por cultivares que sejam resistentes ao ataque do bicho mineiro. O mercado dispõe de várias pesquisas, e em diversas regiões, para alcançar o resultado esperado pelo melhoramento genético, onde podemos citar os trabalhos da fundação Procafé, que recentemente lançou a cultivar Seriema, com alelos que lhe conferem resistência à infestação deste patógeno.
Por meio de técnicas como a estruturação de plantios intercalares ou até mesmo quebra ventos a incidência do bicho mineiro é reduzida, isto devido ao controle cultural desta praga.
Por fim, há o controle biológico, feito com inimigos naturais da praga, sendo eles algumas espécies de parasitas, entopatógenos ou predadores. O uso de feromônios sexuais, em armadilhas, também é uma forma de controle biológico, podendo atrair o macho e evitar a reprodução das moscas. Esse tipo de controle necessita de condições ideias para um bom resultado, e muitas vezes, dependendo da incidência do bicho mineiro, pode ser inviável.
Equilíbrio Nutricional x Bicho Mineiro
A correlação entre a incidência de bicho mineiro no café e o desbalanço nutricional entre os elementos N e K já é estudada e tem seus efeitos elucidados parcialmente.
Salvo exceções, na maioria dos casos, o desequilíbrio entre N e K acentuam a infestação de bicho mineiro, isto quando os teores de N estão muito elevados quando comparados aos teores de K. Justifica-se esta infestação devido à atividade metabólica desempenhada pelo nitrogênio dentro da planta, estruturando e formando aminoácidos, e consequentemente acarretando em maior vegetação na planta. Sobretudo, pela associação do N no metabolismo, as folhas tornam-se mais frágeis, isto pelo intenso crescimento, e são mais suscetíveis ao ataque desta praga.
Por outro lado, quando em baixas quantidades de K, o desbalanço inibe a lignificação. Neste sentido, sabe-se que a lignificação é favorecida pela presença do potássio, que torna a folha mais rígida e menos exposta ao ataque deste patógeno.
Outro fator que é associado a presença e infestação do bicho mineiro é a aplicação de cobre (Cu), por meio de pulverizações foliares a base de fungicidas cúpricos, em épocas de estiagem, ou seja, em períodos secos. Neste caso, a atuação do cobre sobre as folhas do cafeeiro implicam na maior propensão ao ataque da praga, visto que as mesmas se apresentam mais suscetíveis. Outra explicação pode ser a alteração do micro ambiente na área de cultivo, onde a ação cúprica possa inibir/prejudicar os inimigos naturais deste patógeno, aumentando assim sua eficiência reprodutiva e consequente disseminação.
Incidência Atípica
Nestes últimos anos foi observada elevada incidência de bicho mineiro nas lavouras cafeeiras, inclusive em regiões como o sul de Minas Gerais e Alta Mogiana, que comumente não apresentavam problemas graves com esta praga. A causa desta infestação severa do bicho mineiro nestes anos está associada as mudanças do clima que ocorreram, onde as chuvas se iniciaram mais cedo, no final de agosto e começo de setembro, porém a estiagem acompanhada de veranico também se iniciou mais cedo, no final de dezembro, gerando assim maior propensão a disseminação da praga.
Esta ampla disseminação foi favorecida porque a praga adiantou seu ciclo de reprodução em uma fase, isto devido ao clima favorável ao bicho mineiro, fazendo com que a população dos insetos e a instalação dos mesmos na cultura já tivessem adiantados no momento em que comumente as aplicações com inseticidas são realizadas, ou seja, no final de dezembro/começo de janeiro.
Como consequência disto, as formas de controle foram pouco eficientes, pois a partir do momento que a infestação atinge níveis elevados de danos às lavouras, ou seja, alta porcentagem de folhas infestadas, os inseticidas não têm tanta eficácia, somente “segurando” a infestação por um curto espaço de tempo.
Os danos observados pela presença de bicho mineiro nas lavouras cafeeiras nos anos de 2014 e 2015 foram muito severos, porém devido ao retorno da chuva depois do ataque à cultura, o fluxo de seiva dentro da planta permaneceu elevado, assim como sua atividade metabólica, gerando essa condição atípica, onde mesmo com a presença de “minas” nas folhas, as mesmas não caíram.