MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com
Se o Brasil desejar criar uma política pública para o setor cafeeiro, a primeira coisa a fazer é verificar seu parque cafeeiro, sua produção, seus estoques de café e as demandas de consumo brasileiro e mundial.
Abaixo apresento os dados de produção brasileira extraídos do Terceiro Acompanhamento de Safra Brasileira de Café realizados pela Conab em setembro de 2014:
Consulte a fonte aqui.
Pelos dados acima, a previsão de produção brasileira para a safra 2014/2015 é de 45,141 milhões de sacas, sendo 32,107 milhões de sacas de arábicas e 13,033 milhões de sacas de conilons.
Abaixo temos os dados do Levantamento de Estoques de Café Brasileiros de acordo com a Conab, com data de referência em 31 de Março de 2014:
Consulte a fonte aqui.
Pelos dados acima, os estoques privados brasileiros são de 15,218 milhões de sacas, sendo 14,163 milhões de sacas de arábica e 1,054 milhões de sacas de conilon.
Abaixo segue os dados de Estoques Governamentais apresentados pela Conab, também com data de referência em 31 de março de 2014:
Somando os estoques privados e governamentais, os dados apresentados pela Conab apontam um estoque total de café brasileiro na data de 31 de março de 2014 de 16,871 milhões de sacas.
As últimas informações da Abic indicam um consumo doméstico brasileiro é de 21 milhões de sacas por ano, assim sendo, um consumo linear de 1,75 milhões de sacas por mês.
Abaixo segue uma tabela com projeção de Suprimento e Demanda, com o Estoque Inicial somando a Produção, deduzindo o Consumo Interno e as Exportações.
Os dados de exportações são fornecidos pelo Cecafé, as colunas em azul são projeções de exportações lineares, com um adendo que a produção de arábicas se atrasará devido a principal florada ter sido em novembro:
Dentro da projeção acima, se o Brasil exportar 3 milhões de sacas em novembro e 2,80 milhões de sacas em dezembro de 2014, no primeiro semestre de 2015 terá capacidade de exportar apenas 8,49 milhões de sacas, com uma média de 1,41 milhão de sacas ao mês, para se ultrapassar esta quantidade na exportação, terão que ser usados cafés da nova colheita, safra 2015/2016.
Conclusão e sugestão
Dado às essas incongruências, devido a falta de credibilidade dos dados oficias brasileiros, sugiro que para o ano de 2015, o próximo levantamento de estoques realizado pela Conab seja feito em parceria com o Banco do Brasil, pois esta instituição já têm pessoal qualificado nas suas redes de agências; e o custo desta parceria será ínfimo, trazendo credibilidade aos dados oficiais.
É de suma importância para todo o setor cafeeiro saber a realidade dos estoques brasileiros, pois através deste estoque é possível aferir a safra derivada, somando-se estoques finais mais o desaparecimento (uso) de café no mercado doméstico e nas exportações brasileiras e subtraindo os estoques iniciais.
Vale lembrar que tivemos uma gravíssima anomalia climática desde o inicio de 2014, com altíssimas temperaturas e poucas chuvas, a partir da segunda quinzena de novembro as chuvas foram abundantes nas principais regiões brasileiras produtoras de café arábica.
Abaixo um quadro demonstrativo de chuvas na cidade de Guaxupé, nos anos 1963/1985/2013/2014.
No momento ainda não é possível mensurar os danos para a safra de 2015/2016 de cafés arábicas, mas se observarmos o histórico da cafeicultura brasileira, poderemos constatar que é urgente uma política pública cafeeira, abaixo seguem os dados do Usda de produção brasileira de café, pois nos anos 1963 e 1985 tivemos a mesma anomalia climática de severa seca.
Pelos dados do Usda, no ano de 1964 o Brasil colheu menos 52,59% que em 1963, e em 1986 a colheita foi de apenas 1/3 (um terço) de café arábica que o ano de 1985.
Para que a história não se repita, vamos aproveitar o Natal e pedir para que o Papai Noel seja generoso com a próxima safra de café arábica do Brasil, e, que as lideranças cafeeiras brasileiras se conscientizem da necessidade uma política pública cafeeira no Brasil, assim como o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento Brasileiro, basta de indolência.