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[Marcelo Fraga Moreira] – Mercado do Café – “Vai faltar café” (comentário semanal 20 a 24/09 de 2021)

MARCELO FRAGA MOREIRA
É um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas,

escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting –
Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.
www.archerconsulting.com.br

A semana começou com o risco de mais uma crise sistêmica vindo da China com a atenção voltada para a empresa Evergrande (com uma dívida de “apenas” 300 bilhões de dólares)! Com o risco do “efeito dominó” as commodities começaram a segunda feira em queda, com o minério de ferro voltando a negociar abaixo dos 100 US$/ton (uma queda de aproximadamente -60% em 30 dias após o governo chinês voltar a colocar a sua “mão pesada” sobre as empresas/mercado) e o café caindo -405 pontos @ 182,35 centavos de dólar por libra-peso (praticamente o low da semana @ 182,00 centavos de dólar por libra-peso).

A falta das chuvas e as elevadas temperaturas nas principais regiões produtoras brasileiras continuaram a castigar as lavouras e a preocupar os produtores. A crise hídrica vem dando suporte aos preços. A semana terminou com uma valorização de +1.200 pontos, com o Dez-21 fechando @ 194,35 centavos de dólar por libra-peso!A Conab publicou sua terceira estimativa de safra reduzindo a produção brasileira em -1,90 milhões de sacas. A produção total estimada foi atualizada para 46,90 milhões de sacas (ainda acima da previsão da Archer mas, ao nosso ver, a mais próxima da realidade). Para a Conab o Brasil vai produzir 30,70 milhões de sacas do café tipo arábica e 16,10 milhões de sacas do café tipo robusta.

Infelizmente a Conab até agora não mencionou qual foi o estoque de passagem da safra 20/21 para 21/22. Sabemos que o estoque de passagem não pode ser “zero” pois tanto as indústrias locais quanto as tradings carregam estoques/posição para cobrir suas necessidades e compromissos durante os meses iniciais da colheita.

Considerando um estoque de passagem em 8,250 milhões de sacas (aproximadamente 3 meses do consumo interno brasileiro – julho/agosto/setembro – e 1 mês de exportação) e replicando essa mesma estimativa para o estoque de passagem da safra 21/22 para a safra 22/23 o mercado vai levar um susto! Pelos números da Conab, o Brasil vai conseguir exportar apenas 23,90 milhões de sacas nos próximos 12 meses (na média apenas 1,99 milhões de sacas por mês)! E isso não tem nada a ver com falta de conteiners! Mas sim a falta de produto!

Considerando os números da Archer, para uma produção total em 44 milhões de sacas e as mesmas premissas acima referente estoque de passagem e consumo interno, então o Brasil deverá exportar apenas 21 milhões de sacas nos próximos 12 meses (aproximadamente 1,75 milhões de sacas por mês)!

Considerando que na safra 20/21 o Brasil exportou 46,5 milhões de sacas e que na safra 21/22 deverá exportar apenas 21 milhões de sacas, acreditamos que o mercado vai ter que se ajustar via preço, consumo dos estoques certificados e/ou redução no consumo através do aumento dos preços! Onde o mundo vai encontrar +25,5 milhões de sacas para suprir a demanda?

Será que o “fundos+especuladores”, a indústria nacional e as tradings finalmente acordaram? Com base no último relatório do CFTC* os “fundos+especuladores” voltaram às compras e terminaram o período comprados em +41.176 lotes (adicionando +2.552 lotes na posição). A indústria local e as tradings estão “no mercado” buscando ofertas e dando sustentação aos preços.

O Dez-21 conseguiu fechar a semana acima das médias móveis dos 9/17/72 dias (ao redor dos 188,00 centavos de dólar por libra-peso) e a resistência continua no topo da “Bollinger Bands” dos 50 dias @ 204,90 centavos de dólar por libra-peso.

Já começou a circular no mercado “sugestões mirabolantes” onde o Brasil vai precisar importar café. Ora, nesse momento acreditamos que faz mais sentido as tradings e as cooperativas/exportadoras realizarem os famosos “spreads de origem” substituindo os compromissos de exportação já assumidos mantendo o café brasileiro em território brasileiro e honrando seus compromissos com a entrega de produto de outras origens.

Também voltaram as conversas referentes ao Brasil exportar “matéria-prima” para países produtores de café (onde esses países industrializam o café brasileiro e reexportam para os principais mercados consumidores). Infelizmente a politica brasileira parou no tempo e não incentiva as operações para exportação de commodities em produtos semi-elaborados/acabados.

Os países importadores também buscam manter suas empresas ativas e empregos locais comprando matéria prima e processando nas suas industrias. Dessa forma, os países “parceiros” do Brasil, através das suas políticas comerciais, sobretaxam os produtos brasileiros já processados. Imaginem se o Brasil, ao invés de exportar soja em grãos voltasse a exportar farelo hi-protein/low-protein e óleo de soja? Ao invés de exportar açúcar bruto a granel do tipo VHP (very high polarization) passar a exportar apenas açúcar ensacado cristal 100/150/200 e apenas açúcar refinado-45? Com certeza, no primeiro momento os países da Europa, África, Ásia, Oriente Médio iriam tentar retaliar o Brasil. Porém, necessitam dos produtos brasileiros e não poderão “fechar” as portas para os produtos agrícolas brasileiros!

Novamente nossa visão é para o Brasil “acordar” e, no caso do café especificamente, autorizar uma “zona franca” e autorizar a instalação de indústrias para operar no sistema “draw-back” quando necessário. Acreditamos que os estados do Espirito Santo, Rio de Janeiro ou São Paulo são os estados aptos para tanto pois possuem porto, logística, produção e estão próximos aos principais mercados consumidores (Minas não tem litoral – apesar de Vitória ser a praia dos mineiros!! e Rondônia produz apenas 15% da produção do café tipo robusta e também não tem porto, logística nem energia).  

Existe previsão para as chuvas voltarem com intensidade já a partir da próxima semana. Para muitos produtores, agrônomos e “chutadores de plantão”, a próxima safra 22/23 já está comprometida. Para a safra 22/23 as previsões para a produção já oscilam entre 45-60 milhões de sacas! Para o café tipo robusta a previsão continua favorável, entre 17-19 milhões de sacas. E para o café tipo arábica entre 28-41 milhões de sacas! Façam suas apostas!

Mercado interno segue muito firme com poucos negócios sendo realizados entre 1.050-1.250 R$/saca para café tipo arábica e o café tipo robusta já sendo negociado acima dos 800 R$/saca.

“Sugestões da semana”:

Mercado Spot: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo @ 1.200 R$/saca para o café tipo arábica e 1.300/1.350 R$/saca para “cereja descascado” e @ 850/900 R$/saca para o café tipo robusta.

Para a safra 22/23:

No Set-22 – analisar a compra de proteção através da compra da opção de venda “Put”*  strike +160 e vender a opção de compra  “Call” strike -290,00. Essa operação terminou na sexta-feira com um custo “flat” (garantindo um preço mínimo ao produtor ao redor de 1,050 R$/saca – já considerando o custo da operação – e um preço máximo até @ 1.9700 R$/saca e desde que o Set-22 feche acima dos 160 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 290 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções do Set-22, no dia 12 de agosto de 2022).

O Produtor ficará exposto ao risco, e deixará de “ganhar” caso o mercado fechar acima 290,00 centavos de dólar por libra-peso.

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