JOÃO MARCELO DE OLIVEIRA AGUIAR
Superintendente Executivo da Fundação PROCAFÉ
www.fundacaoprocafe.com.br
Fatores de Sustentação ao Mercado:
⦁ Queda nos estoques de café arábica monitorados pela ICE US para níveis inferiores a 1.320 milhões de sacas, nível considerado baixíssimo. Isso se deve ao fato da baixa disponibilidade dos suaves que compõem os estoques certificados da Bolsa de Nova Iorque.
⦁ Expectativa de uma menor safra brasileira em 2021 devido ao ciclo bienal da cultura. E, se acaso houver estiagem que comprometa as floradas que, o mercado pode romper importantes resistências. Salienta-se que, de um modo geral, os cafeeiros já vêm sentindo com a escassez de chuva dos últimos meses.
⦁ Frente a pandemia do Covid-19, há de se notar uma mudança no foco dos investidores para o segundo semestre deste ano: perspectiva de reação no consumo de café após sua queda diante a pandemia aliado a um sentimento otimista relacionado a sinais que apontam uma possível recuperação econômica a se iniciar possivelmente neste segundo semestre.
⦁ Fatores técnicos, com rompimento de resistências, colaboraram para alguns avanços do mercado durante o mês e, também, deram suporte para que, nos momentos de declínios das cotações, estas permanecessem acima da importante linha de 110 cents/lb na ICE US.
⦁ Revisão das projeções da OIC, no início do mês de agosto, para um déficit de 486 mil sacas para o ciclo 2019/20. Entretanto, há de se ressaltar nova projeção da entidade em seu relatório do mercado de café do mês de agosto (divulgado em 02/09/2020), com estimativa superavitária de 952.000 sacas.
⦁ Além disso, muita atenção às oscilações do dólar que tendem a estimular as cotações na bolsa de modo inverso haja vista que:
⦁ Com o câmbio mais baixo, há um interesse maior de compra nas bolsas, com consequente estímulo altista das cotações do café. Isso ocorre pelo fato de que as cotações nas principais bolsas de café do mundo são em dólar e, com o dólar mais barato, as cotações ficam mais atraentes para que investidores entrem comprando. Interesse maior de compra tem estímulo altista;
⦁ Outro ponto é que, caso o dólar tenha retração, as vendas/exportações nas origens ficam menos atraentes, com consequente retração no fornecimento, o que ocasiona também um estímulo altista nas cotações;
⦁ Ainda, atrelado ao dólar, um fato interessante: em determinados dias durante o mês, foi possível notar que, mesmo com a moeda norte americana em alta, o café conseguiu se manter altista na ICE Futures US, o que pode ser um sinal muito positivo.
Fatores de Pressão ao Mercado:
⦁ No início do mês de agosto, entre os dias 06 e 11, foi possível perceber uma queda nas cotações pelo fato de que, a alta nos primeiros dias do mês levou não somente cafeicultores brasileiros às vendas, mas também cafeicultores de outras origens, cuja safra se inicia em outubro, que aproveitaram os níveis mais elevados para fazerem hedge do café que ainda vão colher. Durante momentos de alta nas cotações, o aumento da oferta conduziu os preços a um movimento baixista. De certo modo, no decorrer de alguns meses, esta lógica vem ocorrendo: quando as cotações atingem determinados níveis de resistência, elas acabam recuando por fatores técnicos atrelados ao aumento da oferta ocasionada pela entrada de cafeicultores no mercado. E, quando as cotações atingem determinados níveis de suporte, elas acabam se recuperando por fatores técnicos atrelados à redução da oferta uma vez que os produtores saem do mercado.
⦁ Apesar dos baixos níveis de estoques certificados da ICE Futures US, segundo o GCA, os armazéns de café dos EUA estão com bom nível de estoque (pouco acima de 7 milhões de sacas).
⦁ Percepção de que as geadas que vinham sendo especuladas até a data de (26/08), não impactaram nas lavouras de forma significativa.
⦁ Os fundamentos continuam baixistas: com a expectativa de uma safra grande no Brasil aliada às incertezas e inseguranças relacionadas aos impactos da pandemia no consumo de café que, apesar de um leve otimismo, segue existindo.
⦁ Do mesmo modo, pertinente aos fundamentos, a revisão da OIC (Organização Internacional de Café), em seu último relatório do mercado de café do mês de agosto (divulgado em 02/09/2020), revisou sua estimativa anterior de déficit da safra 2019/2020 de (-)486.000 sacas para uma estimativa superavitária de (+)952.000 sacas, o que pode ser um fator de pressão nas cotações do mês de setembro.
⦁ Atenção à safra brasileira 2021/2022 pois, embora menor, uma chuva benéfica às lavouras pode desencadear uma boa floração, o que sempre pressiona as cotações.
⦁ Fundos de investimentos e especuladores estão sobre-comprados na ICE US, hora ou outra entrarão realizando lucro, principalmente se não houver nenhuma novidade fundamental que dê novo suporte às cotações.
⦁ As oscilações do dólar também podem impactar de modo oposto nas cotações do café: dólar em alta, no mercado físico há um aumento na remuneração dos cafés a serem exportados, com consequente elevação da oferta nas origens, o que acaba pressionando as cotações na bolsa. Ademais, com o dólar em patamares elevados, existe um interesse maior nas movimentações de venda nas bolsas haja vista que os preços ficam mais atraentes. Estímulo maior de venda leva a uma consequente queda das cotações.
⦁ No mercado físico, outra dificuldade encontrada por vendedores nos últimos dias, mesmo com diante momentos de alta das cotações vem sendo:
⦁ Demanda externa limitada, o que reduz o ânimo do exportador no mercado físico interno;
⦁ Como este ano tivemos muitas vendas futuras para entrega física agora, os armazéns estão com estoque razoável, sem alta necessidade de curto prazo;
⦁ Ainda, compradores e vendedores vêm enfrentando um problema de logística com dificuldades para encontrar transportadores;
⦁ Nas poucas comercializações dos últimos dias, os compradores vêm pedindo prazo para retirar o café pela falta de espaço em armazéns e também de caminhões para o transporte;
⦁ Deste modo, mesmo com movimento altista das cotações no fim do mês de agosto, os negócios foram bem pontuais e, em sua maioria, com vendedor se comprometendo em entregar o café e, ainda, com prazo.
Mensagem aos Leitores:
“Nos últimos dias, maioria dos compradores tem dado preferência para vendedores que flexibilizam prazo e entrega no seu armazém, assim, para não perderem as oportunidades do mercado, dentro de suas condições, tentem negociar neste sentido. E por falar em oportunidade, durante o mês de agosto, em determinados dias, o mercado propôs ótimas possibilidades de negócio ao se aproximar de 130,00 cents/lb na ICE Futures US somado ao dólar na casa de R$ 5,50: quando estas ocasiões surgirem, não deixem de participar, seja no mercado spot ou futuro, um pouquinho de lucro não faz mal a ninguém. ”
Varginha (MG), 02 de setembro de 2020.