GLAYK HUMBERTO VILELA BARBOSA
Zootecnista, B.Sc Mestre em Produção Animal Sustentável pelo IZ – Instituto de Zootecnia.
Jurado Efetivo de Raças Zebuínas e Assessor de Pecuária Leiteira.
E-Mail: glaykhumbertovilela@yahoo.com.br
VÂNIA MIRELE FERREIRA CARRIJO
Médica Veterinária, B.Sc Mestre Produção Animal Sustentável pelo IZ – Instituto de Zootecnia.
Docente do Centro “Paula Souza”. Atua na área de sanidade, escrituração
zootécnica e biotecnologia da reprodução.
Em tempos de alta do dólar, a maior valorização de commodities comercializadas na moeda norte-americana é inevitável, aumentando os custos das rações utilizadas na bovinocultura, as quais são compostas em grande parte por milho e soja.
Nas criações de animais, a alimentação é responsável por, aproximadamente, 70% dos custos de produção. A maioria das rações utilizadas na nutrição animal são formuladas utilizando como base, os ingredientes milho e soja, alimentos que concorrem diretamente com a alimentação humana e apresentam custo elevado no mercado.
Saber como enfrentar a situação é imprescindível para manter-se no mercado com lucratividade, minimizando os custos. Essa não é uma tarefa simples, mas há estratégias adotadas na formulação de ração que podem auxiliar no processo.
Independente da capacidade de cada produtor quanto a negociação, compra e armazenamento das commodities, as possibilidades para minimizar o impacto financeiro devem ser avaliadas criteriosamente, buscando aquela que possa se adequar melhor à realidade do negócio. Os ingredientes ditos como alternativos nada mais são do que cultivares, coprodutos das indústrias beneficiadoras de grãos, usinas produtoras de álcool ou fabricantes de produtos alimentícios para humanos.
Os resíduos e/ou subprodutos de origem vegetal são bastante utilizados na nutrição animal como fontes de energia e proteínas em substituição a outros alimentos convencionais. Entre estes subprodutos e/ou resíduos agroindustriais podemos citar o bagaço de cana-de-açúcar, casca de soja, DDG de milho (Grãos de destilaria), farelo de amendoim, farelo de arroz, farelo de dendê, resíduos de algodão, resíduo de cervejaria, resíduos de milho, resíduos de soja, entre outros.
No Brasil, formas diferentes de produção agroindustrial funcionam em paralelo com a produção agrícola. Em sua maioria o beneficiamento está condicionado diretamente à geração de produtos e, consequentemente a geração de resíduos. A produção de resíduos oriundos dos trabalhos agroindustriais são originalmente derivados do processamento de couro, fibras, alimentos, madeira, produção da indústria sucroalcooleira. Sua produção é geralmente estacional, atrelada pela maturidade da cultura ou oferta da matéria-prima. A característica e quantidade de resíduos agroindustriais produzidos são versáteis com o tempo.
Os resíduos do beneficiamento de alimentos surgem durante o preparo destes, para a sua conversão em produtos alimentícios. Este tipo de resíduo é eliminado dos alimentos durante o seu processamento e, por estratégias tecnológicas se tornam subprodutos.
O termo subproduto foi originado para caracterizar aqueles produtos resultantes de um processamento industrial, onde o objetivo final da produção é um outro produto. O uso desse termo traz sempre alguma conotação negativa a esses alimentos. Entretanto, quando analisados sob o prisma da nutrição, muitas vezes se apresentam como fontes nutricionais com qualidades excepcionais. Um volume muito grande de subprodutos agroindustriais é produzido anualmente no Brasil, a partir do processamento de uma grande variedade de culturas para a produção de alimento ou fibra.
Alguns são restritos a determinadas regiões, enquanto outros são facilmente encontrados em todo país. A utilização bem sucedida destes subprodutos é muitas vezes limitada pelo escasso conhecimento de suas características nutricionais e de seu valor econômico como ingredientes para ração, como pela falta de dados de desempenho de animais alimentados com este tipo de alimento. Analisando sob outro enfoque, a utilização de subprodutos agroindustriais vem ao encontro dos anseios das atuais políticas ambientais que, de forma crescente e com tendência a se fortalecer cada vez mais, vêm acompanhando de perto a eliminação de produtos potencialmente poluentes pelas indústrias.
O crescimento demográfico aliado às crises de abastecimento, principalmente nos países em desenvolvimento, aumenta a discussão sobre a competição entre humanos e animais domésticos por alimentos nobres. Neste sentido, o estudo e utilização de fontes alternativas de alimentos são de fundamental importância.
Existem vantagens e desvantagens inerentes à utilização de cada subproduto, sendo que diversos fatores devem ser considerados quando se pretende fazer uso de algum deles.
A) – VANTAGENS
Normalmente, os subprodutos entram na dieta em substituição a algum outro alimento mais tradicional como milho ou soja. No entanto, qualquer que seja o motivo da utilização, certamente o principal fator considerado na avaliação é uma possível vantagem econômica, seja por uma redução direta no custo da alimentação, seja por um melhor desempenho animal, resultante de aumento na eficiência alimentar.
Porém, esta avaliação nem sempre é simples como parece. Vários componentes do custo devem ser considerados, como a logística (transporte, descarga e armazenamento); perdas na armazenagem; fluxo de caixa da propriedade; teor de matéria seca (MS) do material (principalmente no caso de produtos úmidos); composição nutricional, além do resultado que se pode esperar da introdução de um determinado subproduto na dieta.
Outra possível vantagem é uma maior flexibilidade de formulação das dietas pela disponibilidade de maior diversidade de alimentos; além disso, alguns subprodutos podem conter ingredientes especiais ou complementares aos já existentes, que proporcionam um ajuste fino da dieta, possibilitando melhor desempenho dos animais. Uma terceira vantagem refere-se ao processamento. A maioria dos subprodutos dispensa qualquer tipo de processamento como a moagem, pois são comercializados em forma adequada ao uso (farelados ou peletizados). Isto também representa economia de mão-de-obra e energia e se faz mais evidente nas situações em que se dispõe de vagões de ração completa, que dispensam inclusive a pré mistura dos ingredientes.
B) – RISCOS
Atrelados às possíveis vantagens, diversos fatores de risco devem ser avaliados antes da introdução de um subproduto à dieta. O primeiro deles refere-se a própria decisão sobre quais produtos adquirir. A partir do momento que se passa a fazer uso de subprodutos é necessário formular toda a dieta na fazenda, o que requer conhecimento ou assessoria técnica especializada.
As regras de comercialização de subprodutos também podem ser distintas dos produtos convencionais. Normalmente, a grande vantagem de se adquirir subprodutos vem do fato de se negociar diretamente com a empresa produtora ou seu representante direto. Isto, porém tem limitações. Na maioria dos casos, só se comercializam grandes volumes ou cargas fechadas, o que pode representar um impedimento para pequenas propriedades, especialmente quando se trata de alimentos de fácil deterioração, que exigem consumo rápido. Nesta situação, o produtor se vê obrigado a comprar pequenas quantidades com maior freqüência, mesmo que a um custo maior, de forma que o pagamento fique mais bem distribuído.
A falta de controle de qualidade leva a outro problema, que é o correto estabelecimento do valor nutritivo do subproduto. Quando a variação na composição é muito grande, e isto é comum a alguns subprodutos, fica difícil o balanceamento de dietas por desconhecer-se o real valor nutritivo do alimento. Em função disso, muitos subprodutos não possuem dados de pesquisas suficientes para uma recomendação de uso consistente, o que pode gerar a necessidade de análises bromatológicas mais freqüentes. Esse é um fator adicional de custo, além de se aumentar o risco de resultados inesperados no processo. Neste caso a experiência do nutricionista com o produto assume papel importante.
O sucesso na utilização de subprodutos depende do bom planejamento, armazenamento e manuseio. As instalações da fazenda devem permitir uma fácil recepção, descarga e manutenção da qualidade do produto. O ideal é que se possa controlar com rigor as perdas e as quantidades utilizadas, para que se tenha bom controle dos custos e do estoque.
Alguns produtos não permitem estocagem prolongada, como o farelo de arroz. Em função de seu alto teor de gordura livre, ele rancifica em poucos dias, não sendo aconselhável seu uso quando não for possível imprimir um ritmo adequado de fornecimento. Este tipo de consideração deve ser feito quando se faz opção para cada tipo de alimento.
Ainda no armazenamento é importante lembrar que cada produto possui uma densidade específica, o que faz com que o espaço necessário para seu armazenamento seja distinto. Isto deve ser considerado quando se dimensionam os silos ou armazéns.
É também importante que se avalie a disponibilidade e sazonalidade do produto. Alguns subprodutos só estão disponíveis regionalmente e em pequena escala. Isto pode gerar inconstância de fornecimento, caracterizando uma falta grave para a nutrição animal.
Alguns produtos, embora produzidos em maior quantidade em determinadas épocas do ano, estão disponíveis o ano todo. É o caso dos farelos de glúten de milho. O resíduo de cervejaria também segue este padrão, porém sua oferta é maior na época de verão e consequentemente seu preço é menor quando o consumo e produção de cerveja atingem o pico.
Outros produtos possuem sazonalidade mais marcante, como é o caso do caroço de algodão, que normalmente deve ser adquirido na época da safra de algodão e estocado para o ano todo. Eventualmente, quando o período de entressafra promete ser mais longo, pode ser necessário fazer um estoque parcial na própria fazenda. Isto exige capacidade de mobilização de capital, além de maior estrutura de estocagem. Não existe inconveniente na utilização de determinado alimento somente durante uma época do ano. Na realidade, a princípio esta seria a atitude mais sensata e que aproveitaria o melhor preço do produto, adquirindo-o na época de maior oferta.
Existe no Brasil grande disponibilidade de resíduos agrícolas e agroindustriais com possibilidade de uso na alimentação animal. Em função de suas características nutricionais, muitos produtos apresentam potencial de utilização como alimentos, deixando de ser descartados e evitando potenciais problemas ambientais.
No entanto, a utilização racional desses subprodutos na alimentação animal depende basicamente do conhecimento sobre sua composição bromatológica, dos fatores limitantes, do desempenho animal e do seu custo e disponibilidade durante o ano.
No fornecimento de subprodutos aos animais devem-se observar os níveis máximos preconizados, seus possíveis efeitos adversos sobre o desempenho, identificando os agentes causais, bem como as estratégias já indicadas na literatura para compensá–los ou contorná-los.
Assim, conclui-se que os subprodutos da agroindústria podem e devem ser utilizados como matéria-prima alimentar para uso na produção animal, desde que se mantenham atualizados os conhecimentos sobre suas características bromatológicas, ambientais e sanitárias, visando manter em níveis adequados, além da viabilidade econômica de seu uso, a segurança alimentar e ambiental.