No mês de outubro/2024, o café Arábica, na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), que iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia de negócios em 262,15 cents/lb, encerrou o mês com fechamento em 245,50 cents/lb, portanto, um mês baixista. De modo similar, na ICE Futures Europe (Bolsa de Londres), o Canephora (Robusta/Conilon), que iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em USD 5.179,00/ton, encerrou o mês com fechamento em USD 4.369,00/ton, portanto, um mês de forte queda.
Os motivos desses movimentos nas principais Bolsas de café do mundo com algumas perspectivas futuras, a seguir…
FATORES DE SUSTENTAÇÃO (ALTA)
No mês de outubro/24, apesar do forte recuo das cotações na Bolsa de NY e de Londres, de um modo geral, os fundamentos ainda seguiram dando sustentação aos preços e devem minar quedas muito acentuadas, ao menos, até o primeiro semestre de 2025, quando as atenções já começam a se voltar para a safra de 2026.
Apenas para contextualizar o atual cenário de fundamentos positivos para as cotações, é válido recapitular que a Conab, em sua previsão de safra do mês de setembro/24, revisou a safra brasileira deste ano (ciclo 2024/25) em 4,02 milhões de sacas a menos do que o estimado em sua previsão anterior, saindo de 58,81 milhões previstos no mês de maio/24 para os atuais 54,79 milhões que, inclusive, representam uma ligeira quebra contra a safra anterior, de 55,07 milhões.
Assim como posto na síntese do mês passado, na contramão de inúmeras fontes, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, aponta uma safra recorde para o Brasil no atual ciclo (2024/25), idêntica a safra recorde de 2020/21, estimada em 69,9 milhões de sacas.
A entidade também aponta números discrepantes de diversas fontes para a safra a ser colhida no Vietnã no ciclo 2024/25, com números que giram em torno de 5 milhões de sacas a mais do que outras estimativas, tais como da Stone-X, da Volcafé e da própria VICOFA (Associação de Café e Cacau do Vietnã).
A grande questão é que, com esses números, o USDA aponta um superávit global de 5,6 milhões de sacas. Todavia, seria muito inconsistente e contraditório a entidade não atualizar seus números em seu próximo relatório no mês de dezembro/24.
E considerando as quebras de produção apontadas recentemente por inúmeras fontes para os maiores produtores de café do mundo, o Brasil e o Vietnã, é possível concluir que o ciclo 2024/25 está para ser mais um de déficit global, porém, diante um cenário em que os estoques globais já se encontram em níveis críticos e com perspectivas de produção bem pessimistas para o próximo ciclo (2025/26), ao menos no Brasil.
Quanto ao ciclo 2025/26 no Brasil, ainda que as chuvas tenham retornado em bom volume no mês de outubro, é importante frisar que, conforme já se esperava, o pegamento das floradas foi muito aquém do que seria em uma situação de clima não adverso. No Sul de Minas, já começa a se formar um consenso de que 70% das lavouras tiveram um nível significativo de comprometimento e, embora seja necessário aguardar as previsões oficiais da safra do ano que vem para se falar em números, já é possível afirmar com segurança que as perdas não são pequenas.
Indo de encontro a este cenário, o inverno no hemisfério norte se aproxima cada vez mais e com ele, o pico do consumo em importantes países consumidores também se aproxima. Assim, a expectativa é que a ponta compradora intensifique suas compras para suprir as necessidades das indústrias no pico de consumo do hemisfério norte, o que é mais um fator de sustentação para as cotações.
Apesar dos níveis recordes de exportação (conforme exposto em fatores de pressão, logo abaixo), o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, afirmou que o setor exportador continua enfrentando críticos problemas na logística, que se intensificaram no segundo semestre, com falta de estrutura e espaço nos portos brasileiros e com uma maior demanda por contêineres para embarques, principalmente de café, açúcar e algodão.
Certamente, esses entraves logísticos limitam o fluxo de exportação que poderia ser ainda maior. Segundo o presidente do Cecafé, não houve alteração no cenário logístico, que segue com grandes e constantes atrasos de navios para exportação, abertura de gates com tempo limitado, pátios de portos abarrotados e cargas que chegam do campo e não conseguem ser despachadas, gerando elevados custos extras aos exportadores, o que gerou o não embarque de aproximadamente 2 milhões de sacas de café, que seguem acumuladas nos portos.
No mercado físico interno, a alta do dólar, que saiu do patamar de R$ 5,45 para R$ 5,80 aliado a uma posição retraída dos produtores que se negam a vender seus cafés nos momentos de quedas mais expressivas das cotações, também ajudaram a reprimir uma maior desvalorização nos preços pagos aos produtores.
Ao final do mês de outubro/24, os estoques certificados da Bolsa de NY estavam em 852.058 sacas, apresentando uma redução de 38.059 sacas no comparativo com o final do mês de setembro/24 quando os estoques estavam em 813.999 sacas. Há um ano atrás, os estoques certificados de NY estavam em 389.138 sacas. Apesar disso, os atuais níveis de estoques ainda são considerados baixos. Quanto aos estoques de café Robusta certificados da Bolsa de Londres, caíram 11,7% de setembro/24 para outubro/24, fechando o mês com algo em torno de 660.000 sacas.
FATORES DE PRESSÃO (BAIXA)
No mês de outubro/24, tanto as cotações para o Arábica na Bolsa de NY como as cotações para o Robusta na Bolsa de Londres, apresentaram forte recuo, rompendo importantes suportes e descendo alguns degraus. Dentre os principais motivos, é importante destacar a alta do Dólar que pressionou fortemente as cotações, tanto na Bolsa de NY quanto na Bolsa de Londres, e conduziu ambos os mercados, ao rompimento de importantes suportes técnicos, com ativação de ordens de vendas automáticas intensificando as perdas e levando o mercado a mirar novos fundos.
Tanto a alta do Dólar contra o Real, que saltou de R$ 5,45 para R$ 5,80, quanto do US Dollar Index (Índice do Dólar Norte Americano), que saltou de 100,75 pts para 103,90 pts no mês de outubro, pressionou as cotações do café nas principais Bolsas pelo fato de que, com o Dólar valorizado, há um estímulo maior por parte de comitentes vendedores uma vez que a moeda de negociação nestas Bolsas é o Dólar.
No cenário interno, conforme posto na Síntese do mês passado, enquanto a alta dos juros tende a atrair investidores ocasionando um viés de desvalorização do Dólar contra o Real, o persistente aumento da dívida pública nacional, sem indícios de que o governo vai mudar a sua política de gastos e se enquadrar um pouco mais no orçamento, segue elevando o risco do país e levando à consequente fuga de capital de investidores estrangeiros, o que tende ocasionar um viés de valorização do Dólar contra o Real. Apesar do FMI (Fundo Monetário Internacional) revisar crescimento do PIB brasileiro, de 2,1% para 3%, a inflação, a taxa de juros já em 11,25% e o persistente aumento da dívida pública seguem preocupantes.
O FMI prevê elevação da dívida pública bruta, de 84,7% do PIB em 2023 para 87,6% do PIB neste ano. O indicador subirá para 92% do PIB em 2025 e para 97,6% do PIB em 2029, ano final das projeções. Segundo o FMI, o Brasil está em sexto lugar num grupo de 38 países emergentes em relação ao tamanho da dívida pública. O país só está atrás de Bahrein (126,7% do PIB), Ucrânia (95,6% do PIB), Argentina (91,5% do PIB), Egito (90,9% do PIB) e China (90,1% do PIB).
Já no cenário externo, a valorização do Índice do Dólar Norte Americano se deve, sobretudo, pelas incertezas existentes em torno da política norte americana antes da eleição dos EUA e cujas expectativas em cima do Presidente já eleito, Donald Trump, são de uma política protecionista, o que tende a valorizar o Dólar frente às outras moedas. Além disso, as guerras da Rússia na Ucrânia e do Oriente Médio, que seguem sem expectativas de fim, dão uma pitada extra de incertezas no cenário macroeconômico global, o que estimula a procura pela moeda norte-americana.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) global, é importante observar que o FMI manteve previsão de crescimento econômico global estável em 3,2% para 2024 e 2025, evolução abaixo do ideal de acordo com a própria instituição. Para um horizonte de cinco anos, o FMI prevê um crescimento médio de 3,1%, algo visto como medíocre ante das tendências pré-pandemia.
Tecnicamente, como se pode ver no gráfico da primeira página, desde 19/mar, o mercado novaiorquino (Ice Futures US) vinha apresentando uma tendência altista muito bem sustentada, evidente ao se observar a linha de tendência altista (destacada em verde). No mês de outubro, essa linha foi rompida após se sustentar durante sete meses.
Porém, ao buscar o rompimento do segundo suporte, diante o cenário de fundamentos apertados, o quadro técnico não apresentou força suficiente para quebrar o fundo de 240,00 cents/lb e nem mesmo a banda inferior de Bollinger, voltando a operar em alta, neste início do mês de novembro, ao romper a linha de tendência baixista (destacada em vermelho) que começava se formar.
Como um costumeiro fator de pressão para esta época do ano, o retorno das chuvas no Brasil com abertura de floradas. Outubro, apesar das elevadas temperaturas no início do mês, apresentou bom índice de chuvas, acima das médias históricas, originando as principais floradas para a próxima safra, o que, para alguns, trouxe uma falsa percepção de que a safra brasileira para o próximo ano tem chance de ser volumosa.
É preciso ter cuidado com essa equivocada ideia de safra grande no Brasil para o próximo ano, pois conforme exposto mais acima, em fatores de sustentação, a uma altura dessas, são evidentes as sequelas da seca deste ano na safra de 2025.
É preciso observar atentamente a aproximação do período de oferta das origens cujo ciclo se inicia em outubro, tais como Vietnã, Colômbia e países da América Central, pois, apesar de não virem com safras tão volumosas, é natural que a chegada desses cafés ao mercado ocasione certa pressão sobre as cotações.
Dados do Cecafé apontam que apesar dos gargalos logísticos, no mês de setembro/24, o Brasil seguiu batendo recordes de exportação ao exportar um volume de 4,464 milhões de sacas de café, um recorde para o mês e que implica crescimento de 33,3% na comparação com os 3,348 milhões de sacas embarcadas em setembro do ano passado. Com o volume histórico para o mês, o acumulado para os primeiros nove meses do ano também saltaram para o recorde de 36,4 milhões de sacas.
Já com relação ao primeiro trimestre do ano safra brasileiro 2024/25 (julho, agosto e setembro), o Cecafé relata que os envios de café ao exterior totalizam 12,050 milhões de sacas. Frente aos números compilados entre julho e setembro de 2023, esse desempenho representa um incremento de 19,7% em volume.
Dados da OIC (Organização Internacional do Café), apontam que as exportações globais de café cru no mês de setembro/24 totalizaram 9,69 milhões de sacas contra 7,74 milhões de sacas no mesmo mês de 2023, portanto, um aumento de 25,2%.
No ciclo 2023/24, as exportações globais de café cru totalizaram 123,75 milhões de sacas, contra 110,72 milhões de sacas exportadas no ciclo 2022/23, portanto, um aumento exponencial de 13,02 milhões de sacas impulsionado não exatamente pelo excesso de oferta, mas, em especial, pelas importações aquecidas após dois anos de recuo das exportações globais e frente aos receios de desabastecimento com a lei da União Europeia para produtos livres de desmatamento cuja data inicial para entrar em vigor está para ser adiada, de janeiro/25 para janeiro/26.
O iminente adiamento da lei de antidesmatamento, denominada EUDR (Regulamento de Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia) reduz as preocupações com o desabastecimento que a lei poderia ocasionar já no ano de 2025, afastando assim, a tensão de curto prazo que as indústrias europeias vinham sofrendo para composição de estoques de segurança.
Em recente reunião da força-tarefa público-privada da OIC (Organização Internacional do Café) com autoridades responsáveis pela fiscalização do regulamento da União Europeia para produtos livres de desmatamento, o conselho europeu concordou com o adiamento das novas regras, proposta pelo bloco, mas a decisão final ainda cabe ao parlamento europeu.
MENSAGEM AOS CAFEICULTORES
“Com o retorno das chuvas no Brasil, mesmo que em bom volume, é possível perceber claramente que as perdas são certas e irreversíveis, com reflexos negativos para a safra 2025, o que deixa evidente o fato de que, embora em um dado momento ou outro, possam ocorrer ajustes baixistas, as cotações do café seguem muito bem escoradas sob a ótica dos fundamentos. Assim sendo, a uma altura dessas, como o produtor já tem uma visão mais clara de seu potencial produtivo para o próximo ano, o que já lhe permite estimar seu custo de produção de modo mais assertivo, o ideal é que o produtor explore as oportunidades de travas para o próximo ciclo, que em dados momentos se aproximam de R$ 1.600,00/sc, para ir compondo sua margem, reduzindo o risco de possíveis perdas diante uma eventual queda nos preços, mas, ao mesmo tempo, deixando um saldo para participar de uma eventual e nova escalada dos preços.”
Varginha (MG), 08 de novembro de 2024.
Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar.
Superintendente Executivo – Fundação Procafé