ENSEI NETO
Engenheiro Químico, Consultor em Gestão Sensorial de Bebidas & Alimentos,
Diretor do blog Coffee Traveler
www.thecoffeetraveler.net
O Brasil é o país com a mais avançada pesquisa genética de café do mercado.
O Brasil demonstrou sua grande capacidade de produção agrícola desde o século XVI com o ciclo do açúcar, quando pela primeira vez os canaviais dominaram os campos tupiniquins.
Com a entrada das primeiras mudas de cafeeiro, não poderia ser diferente com sua vocação à agricultura extensiva. Se considerarmos como 1727 essa data inicial, foram necessários pouco mais de 160 anos para o país se consolidar como o maior produtor de café do mundo, posto que mantém com folga até hoje.
Foi decorrente dessa presença que se tornou uma cultura e produto estratégico, vindo até a compor os brasões como o do Estado de São Paulo e estimular a pesquisa no campo agronômico, bem como o surgimento de importantes escolas no interior paulista.
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é a principal referência quando se comenta sobre pesquisas sobre o café, vindo a se tornar o principal celeiro de variedades de cafeeiros. Nisso, o nome de maior brilho é o do Dr. Alcides de Carvalho, pesquisador incansável e de fantástico senso de observação, que permitiu abertura a perspectivas inovadoras sobre seleção de plantas.
Dentro dessa linha de raciocínio, baseada em resistência a doenças e produtividade, a seleção do “Catuaí-Vermelho-144” reúne um conjunto de aspectos geniais, como a torção a 90º de cada seção de ramo, melhorando a captação de luz. Diversos países produtores da América Central têm utilizado essa variedade em suas lavouras com sombreamento por essa importante característica. A bebida preparada com suas sementes é sempre de excelente qualidade.
A variedade Obatã é a primeira utilizada em escala comercial que une genética de arábicas e robustas, tendo sido lançada no final dos anos 1950. Hoje é um dos cafeeiros favoritos porque tem tolerância a doenças como a Ferrugem, além de produzir cafés com excelente bebida. Essa combinação de espécies acabou se difundindo em outros países como a Colômbia, que tem em sua variedade Castillo um primo irmão do Obatã.
A variedade Bourbon, que vem de uma pequena ilha do leste da África, possuía apenas a linhagem vermelha. No Brasil, foi na região de Botucatu, mais precisamente na Fazenda Lageado, hoje parte do campus da UNESP, que foi encontrada a planta Amarelo de Botucatu, que deu origem ao Bourbon Amarelo, uma das variedades veneradas pelas excepcionais bebidas muitas vezes vencedoras de concursos de qualidade. O raro Mundo Novo Amarelo é resultado da combinação do Amarelo de Botucatu também e sua bebida é excelente também!
Outras variedades estão se consolidando no mercado tanto pelo lado do produtor, que precisa de plantas que lhe garantam qualidade e produtividade, como pelo consumidor, que cada vez mais se interessa em se aventurar intrepidamente em novos aromas e sabores.
Os pesquisadores estão trabalhando duro para que novidades em breve cheguem às xícaras. Certamente, vai valer a pena esperar!
FONTE: Estadão