Agricultura Natural

[Ana Maria Primavesi] – Profundidade de Plantio (ou: maneira de plantar as mudas)

ANA MARIA PRIMAVESI

Engenheira Agrônoma, nascida e formada na Áustria em 1920. Foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Durante seu período de faculdade a Europa enfrentava a 2ª Guerra Mundial e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal imigrou para o Brasil, onde viveram em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Ícone da Agricultura Ecológica, escreveu o livro que seria o divisor de águas na compreensão da prática natural da agricultura: “Manejo Ecológico do Solo”. Além desse, outros livros foram publicados e que foram relançados pela Editora Expressão Popular (https://www.expressaopopular.com.br/)

Contato: https://www.facebook.com/anamariaprimavesi

Todas as plantas possuem uma profundidade específica de plantio geneticamente determinada.

Em cereais, tubérculos, etc., a única alternativa é instalar uma rotação de culturas de no mínimo 4 a 5 culturas diferentes.

Deve-se cuidar de não juntar culturas antagônicas ou inimigas que tentam se aniquilar mutuamente. Estes são especialmente:-

  • Leguminosas x cebola e alho (que não produzem quase nada quando em rotação ou vizinhança de leguminosas);
  • Girassol x batatinhas, fumo, tomates (tentam aniquilar-se mutuamente);
  • Sorgo x gergelim ( o gergelim nem consegue florescer)
  • Funcho x todas as outras hortaliças (funcho baixa a produção de todas as outras hortaliças, menos do coentro).

Especialmente em épocas secas, o agricultor costuma plantar fundo, milho em 8 a 10 cm ou mais; feijão em 10 cm; batatinha ou cana entre 40 a 50 cm para colocar a semente em solo ainda úmido.

Porém, todas as plantas possuem uma profundidade específica de plantio geneticamente determinada. Se o plantio é feito profundo demais, a plântula nova tem de fazer um esforço grande para nascer e isso baixa a colheita radicalmente. Assim se diz para o trigo: “cada centímetro mais profundo causa um colmo a menos”.

Como alguns exemplos, a profundidade correta é:

  • arroz: 2 cm;
  • trigo: 3 cm;
  • milho: 5 cm;
  • feijão: 5 cm;
  • cana: 10 cm;
  • batatinha: 10 cm.

A profundidade correta é sempre esta onde a planta faz seu ponto vegetativo, quer dizer, de onde saem as raízes. Se for plantada mais profundamente, ela faz primeiro um cordão até a profundidade geneticamente determinada e somente aqui forma suas raízes. Ela NUNCA forma suas raízes na profundidade que o agricultor escolheu, mas nesta a que é programada. Cada um pode desenterrar plantas para ver onde foram plantadas e onde iniciou-se a formação de raízes.

No plantio de verduras, cometem-se dois erros fundamentais:

O lugar onde se colocam as bandejas. Se o suporte é feito de tábuas em lugar de arame ou se as bandejas foram colocadas simplesmente no chão por alguma razão, as raízes saem dos buracos e viram para cima da tábua ou do chão batido.

Plantando com a raiz virada para o lado, esta não desvira mais, mas continua crescendo paralela à superfície do solo, podendo explorar somente os 4 cm mais superficiais, normalmente os mais pobres por serem lixiviados pela chuva ou irrigação. A colheita pifa.

O pessoal que planta não faz um buraco com um instrumento para pendurar a raiz por dentro. Normalmente abre o solo um pouco com a mão e planta. Pode ser que a raiz pendure para baixo, pode ser que vire para o lado, mas também pode ser que vire para cima. Desenvolvem somente as plantas com raízes para baixo. As outras plantas não desviram suas raízes e continuam na direção em que foram plantadas. As plantas com raízes viradas para o lado ou para cima são malnutridas e produzem quase nada.

Na agricultura convencional, com adubação semanal especialmente com ureia, mesmo que mal plantadas, as plantas produzem ainda mais ou menos, mas como são muito desequilibradamente nutridas, necessitam de agrotóxicos frequentemente.

O agricultor orgânico com este sistema de plantio relaxado, que não aduba tanto ou só de vez em quando com Bokashi, naturalmente colhe muito menos. Culpam a pobreza do solo, o método orgânico, a pobreza do composto em relação ao NPK e outros, mas nunca culpam o mal zelo no plantio.

Seja ciente: O agricultor convencional comete os mesmos erros e mal zelos, porém corrige isso com adubos e agrotóxicos.

O agricultor orgânico deve corrigir os mal zelos.

Em hortaliças, o mais vantajoso é o manejo do mato. Normalmente se mantém a área das hortaliças muito bem capinada, evitando qualquer erva nativa que se considera “daninha”. Mas cada vez que uma área já plantada foi abandonada, (geralmente por falta de água para irrigação) e onde desenvolveu um mato muito diversificado, denso e alto, a cultura sobreviveu até 70, 75 dias sem uma gota de chuva, sem agrotóxicos, sem adubação e sem irrigação e produziu muito melhor do que a área tratada convencionalmente com toda tecnologia. O único problema das hortaliças em meio ao mato é o descuido no plantio. Planta bem plantada é bem maior do que as convencionalmente tratadas, mas plantas com raízes paralelas voltadas para cima produzem miseravelmente.

Related posts

COOPFAM: Vem aí a 4ª Festa do Café Orgânico FairTrade

Mario

Qualidade de inoculantes produzidos em laboratório ganês é atestada no Brasil

Mario

Secretaria de Agricultura SP assina Plano de Incentivo para Orgânicos e Agroecológicos

carlos

Deixe um Comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar Leia Mais