Agricultura Natural

Sobre o novo livro de Ana Maria Primavesi: “Micronutrientes: os Duendes Gigantes da Vida”

Geralmente se acredita que tudo que é pequeno é pouco e fraco, desinteressante e sem importância. Mas um brilhante do tamanho de um grão de Milho vale milhões enquanto uma Abóbora grande vale muito pouco. Os átomos, as ínfimas partes de nossa matéria, são minúsculos e, com sua organização igual a constelações de estrelas, possuem uma força capaz de arrasar o mundo.

Todos os venenos são substâncias que agem em quantidades mínimas e mesmo assim possuem ação fulminante, incluindo nossos agrotóxicos. Assim, para se intoxicar com chá de camomila seriam necessárias quantidades enormes, mas para morrer de caldo de Mandioca Braba, um ou dois goles são suficientes, e do veneno de uma cobra necessita-se somente algumas gotas para matar uma pessoa.

As epidemias e a maioria das doenças são causadas por bactérias e vírus, seres incrivelmente pequenos, que somente aumentados milhares de vezes podem ser vistos em detalhes e, para isso, constroem-se microscópios eletrônicos para “perseguir” esses seres poderosíssimos, mas invisíveis.

Os micronutrientes têm uma força muito grande. Podem aumentar ou arruinar uma colheita, deixando adoecer animais e plantas e, provavelmente, também o ser humano. Eles são os antagonistas dos macronutrientes ou nutrientes de massa, que todos conhecem como NPK. Eles dominam os macronutrientes, e são os responsáveis por produzirmos colheitas.

É um erro muito grande acreditar que é possível adubar os macronutrientes e negligenciar os micro. É como se pensasse em movimentar um avião sem piloto ou um trem sem maquinista. Funcionam, sim, mas como fazem o serviço é outro assunto.

Ao usarmos somente macronutrientes, implantamos desequilíbrios que tornam as plantas doentes e que agora necessitam ser defendidas para que elas, mal nutridas, consigam sobreviver. Na Europa e nos Estados Unidos, onde os solos são rasos, mas muito ricos, as reservas em micronutrientes são grandes e suportam quase 100 anos de NPK até que apareçam as deficiências dos micronutrientes.

Mas em clima tropical, onde os solos são profundos, mas pobres (quanto mais antigos e lixiviados, podendo ocorrer deficiências múltiplas), a falta se faz sentir logo em seguida.
(Créditos dos Desenhos: Veronica Fukuda)

MANGANÊS
O Manganês é o micronutriente mais perseguido, porque em nossos solos decaídos (com uma quantidade muito baixa ou ausência de macroporos) e parcialmente anaeróbios se torna disponível em quantidades tóxicas. E, em lugar de se melhorar as condições dos solos, especialmente seu sistema poroso e as compactações, persegue-se o Manganês com calagens, já que em forma reduzida por causa do anaerobismo do solo, pode prejudicar as culturas.
A inter-relação dos micronutrientes é delicada. Manganês pode ser mobilizado pelo boro, igual ao Zinco, mas o Cobre é imobilizado. Nos micronutrientes, pouco ou muito é questão de alguns quilos. Uma calagem fixa Manganês e Zinco. Uma adubação elevada de Fósforo em forma de superfosfato aumenta a absorção de Manganês e Ferro, mas diminui a de Boro, Cobre e Zinco.

FLÚOR
Geralmente é associado a minerais fosfóricos, como fosfatos na-turais. É mais disponível em solos ácidos enquanto a calagem o diminui. Como é extremamente tóxico, sua acumulação em pastagens pelo uso de fosfatos naturais é temerosa. Há acumulação de Flúor em terras perto de indústrias, especialmente de adubos nos quais ocorre a desfluoretação dos fosfatos. Também pode ocorrer a intoxicação de animais por meio de rações comerciais que contém fosfato natural. Em animais com intoxicação crônica de Flúor, os maxilares inferiores são aumentados, eles mancam e os dentes são mosqueados. Em animais novos, os dentes nascem irregularmente e podem ocorrer supurações nas raízes dos dentes.

ALUMÍNIO
Ao lado do Ferro e do Cobre, o Alumínio é importante no ciclo respiratório da planta, bem como na hidratação do plasma celular. Porém, quando aparece em quantidades maiores, em forma solú-vel, ele é tóxico, desidratando as (inibem o crescimento das) raízes e bloqueando a absorção de Fósforo. Para o animal, o Alumínio pode ser prejudicial, embora não se conheçam os sintomas de toxidez. Assim, num haras de cavalos Quarto-de-Milha, os potros morriam de poliartrite aos três meses, e não houve remédio que pudesse impedir isso.

O pasto das éguas era de sapé (Imperata brasiliensis), uma gramínea rica em Alumínio. Como o Alumínio é tido como poderoso desmineralizante, supôs-se que o potro já nasce desmineralizado e não havia possibilidade de mineralizá-los por meio de injeções com Cálcio e Fósforo. Aconselhou-se a mudar as éguas para um outro pasto, com capim melhor, o que foi feito, e nunca mais morreu potro algum com poliartrite.

OBS: Na biografia de Ana, ela conta um caso sobre o Alumínio:- Arturzinho (o caçula de Ana) quando bebê frequentemente sofria com cólicas e diarreias. Ele estava começando a se alimentar com sopinha e aquilo era estranho, porque Ana fazia tudo igualzinho como tinha feito para seus outros dois filhos e nunca nenhum deles tivera qualquer problema. Ela pensava no que estaria fazendo de diferente, quando se lembrou que quando Arturzinho nasceu, ela ganhara uma panela de Alumínio, onde fazia sopa. A solução foi imediata. Voltou às suas velhas e boas panelas de ferro e ágata, e ele nunca mais adoeceu.

ZINCO
Nos trópicos, o Zinco é tido como o elemento mais importante na resistência vegetal à seca. Todos conhecem Cafeeiros amarelados do lado norte (mais ensolarado) e verdes do lado sul. É a deficiência de Zinco que é maior onde o calor e a seca são maiores. É o primeiro micronutriente a faltar em períodos secos, ao lado de boro.
Zinco é o ativador de algumas enzimas que influem sobre a fotossíntese e se ele faltar há uma redução drástica de fotossíntese, o que resulta em um crescimento vegetal muito menor.

As plantas ficam pequenas, os entrenós são muito curtos e, especialmente na ponta dos galhos, aparecem tufos de folhas muito pequenas, as chamadas “rosetas”. As plantas absorvem normalmente os outros nutrientes e, em uma análise foliar, aparecem níveis até duas vezes maiores do que o normal.

Mas mesmo assim, não conseguem crescer. Falta o Zinco! Zinco ativa igualmente o hormônio de crescimento, o ácido indol-acético. E como a deficiência de Zinco pode ser induzida por luz intensa, se considerou novamente o sombreamento das culturas tradicionalmente de sombra na maioria dos países, como Café, Cacau, Guaraná.
Quase todos os micronutrientes são absorvidos mais na sombra do que na luz.

COBRE
O nitrogênio amoniacal é controlado pelo Cobre. Se este se tornar deficiente, a planta cresce demasiadamente, de cor verde-escura ostentando uma super nutrição (que muitos acham que seja planta vigorosa, mas em realidade é um falso vigor).

Árvores como Laranjeira, Cafeeiro e Cacaueiro formam folhas gigantes e, muitas vezes, o agricultor fica todo satisfeito ao ver essa “boa nutrição”. Mas não é nada de bom! A deficiência de Cobre que produz esta vegetação aparentemente luxuriante torna as plantas suscetíveis a doenças fúngicas.

Em muitas plantas, como o Fumo ou o Tomateiro deficiente em Cobre por excesso de Nitrogênio, os brotos murcham com o Sol e não há irrigação que o corrija. No Trigo, as espigas têm dificuldade de sair da bainha da última folha, são brancas e estéreis.

O Milho é o cultivo que mais Nitrogênio suporta, sendo, por isso, sempre a primeira cultura após a roça do mato, e por isso até hoje ficou com o nome de “roça”. Mas quando se usa Nitrogênio demais e a proporção com o Cobre se torna muito larga, ele se acama e, em casos extremos, parece planta volúvel que se arrasta sobre o chão.

O cobre na planta age especialmente na enzima catalase, que tem que desdobrar o peróxido de hidrogênio (H2O2), comumente conhecido como água oxigenada e que se acumula como lixo metabólico. Se a catalase não funcionar, a acumulação de H2O2 nas células pode levar ao aparecimento de câncer em animais e homens e a processos cancerosos na planta. O Cobre torna todos os seres vivos mais resistentes a infecções.

MOLIBDÊNIO
É difícil dizer qual a proporção correta entre Cobre e Molibdênio, uma vez que existem poucas pesquisas e muitas vezes a semente já é deficiente. Assim, no algodão a proporção é dada como 35 (o Registro Nacional de Cultivares − NRC − informa que em geral o ideal está entre 6:1 e 10:1), mas isso não quer dizer que é o certo, porque numa cultura como o algodoeiro, que recebe de 12 a 25 pulverizações com defensivos (muitos dos quais tem íons minerais em sua composição), muita coisa deve estar desequilibrada.

Uma planta equilibradamente nutrida possui seu sistema de defesa funcionando e é mais resistente. Já em 1963, Bachelier mostra que a Lagarta-Rosada no Algodão aparece especialmente quando falta Fósforo e Molibdênio na dieta vegetal. Também a Mosca-das-Frutas ataca mais os Pessegueiros deficientes em Molibdênio.

Um solo bem provido com Molibdênio é aquele que possui entre 0,5 e 3,5 mg de Mo por cada quilo de terra. Solos com pouca acidez normalmente são mais ricos que solos ácidos e, onde houver matéria orgânica, o abastecimento com Molibdênio é melhor.

OBS: O Molibdênio auxilia na proporção que ajuda a afastar a presença de formigas

FERRO
Em nossa agricultura moderna, o Ferro facilmente chega a faltar. Não é somente a falta de matéria orgânica, mas também calagens que não seguem princípios ecológicos e que podem induzir sua deficiência. Também fungicidas e inseticidas que entram na raiz podem precipitar o Ferro, tornando-o inaproveitável para a planta.
E, finalmente, o uso exagerado de fosfatos na adubação para forçar colheitas elevadas contribui para a imobilidade do Ferro.

O Ferro é indispensável na primeira fase da formação da clorofila sendo, mais tarde, substituído pelo Magnésio. Sem Ferro e sem Magnésio não haveria o verde do nosso mundo. Também faz parte de enzimas que desdobram o peróxido de hidrogênio em continuação à ação do Cobre e, no mundo animal, é o fator decisivo na formação da hemoglobina, o vermelho do sangue

SILÍCIO
Sessenta por cento da crosta terrestre é Silício. Seu teor em plantas se assemelha ao do Fósforo. É tratado entre os micronutrientes porque sua ação como macronutriente é discutida.

O Silício promove o fortalecimento da parede celular das folhas e caules ao deixar as plantas mais eretas e aumentar a área de exposição ao sol, favorecendo também a fotossíntese e ajudando na melhor distribuição do Cálcio e do Magnésio. Aumenta também a resistência das plantas às doenças.

IODO
Especialmente em regiões com “água dura”, ou seja, rica em sais como Cálcio e Magnésio (não formando espuma), ocorre a falta de Iodo. Também Soja aumenta a necessidade em Iodo, de modo que frangos nutridos com ração que inclui muita Soja precisariam de mais Iodo para não transmitir a deficiência ao consumidor humano.

Ovos de galinhas deficientes têm casca mais fina, o tempo de incubação passa de 21 dias e muitos embriões morrem na casca antes de amadurecer. Sabe-se que há uma inter-relação estreita entre iodo/cobre e, se faltar cobre, o Iodo não é bem utilizado pelo organismo.

A adubação com doses elevadas de NPK induz à deficiência em Cobre-Manganês e Iodo e pode provocar fertilidade reduzida e redução de inteligência.

CLORO
Cloro sempre existe em todos os solos, porém em quantidades muito diferentes. Assim, perto do mar, as regiões são bem mais ricas do que no interior. As chuvas trazidas do mar podem conter entre 5,1 e 477 kg/ano/ha. É um elemento muito solúvel e de fácil lixiviação. Em regiões áridas, acumula-se na superfície do solo.

Ele abunda em plantas do deserto e plantas marinhas. Existem plantas que contêm certa quantidade de Cloro, como o Café, mas sua deficiência foi notada especialmente em plantas que normalmente são muito sensíveis ao Cloro, como Tomates e Beterrabas.

Os sintomas iniciais podem ser confundidos com os da carência de manganês, porém, mais tarde, os tecidos das folhas se recolhem, formando leves depressões, como as nervuras protuberantes. Em Tomates murcham as pontas das folhas, que se tornam cloróticas, quer dizer, perdem sua cor verde e pouco a pouco tornam-se marrons.
Plantas severamente atingidas não formam frutos.

SELÊNIO
Geralmente se fala do excesso de Selênio em solos alcalinos. Mas que é também nutriente poucos consideram. Assemelha-se um pouco ao Enxofre e pode substituí-lo em parte nas plantas, até podendo fazer parte de proteínas.
Enriquecendo-se a semente com micronutrientes como Boro, Cobre, Zinco e Manganês, eles têm de ser adicionados também ao adubo. Os nutrientes menores como Molibdênio, Cobalto, Vanádio, Selênio, etc., não necessitam disso; a quantidade colocada na semente é o suficiente. A semente pode ser misturada com os micronutrientes durante 2 minutos na misturadeira de fungicidas mas também pode ser simplesmente pulverizada no momento em que se colocam no corpo da plantadeira.

BORO
O Boro na planta é de suma importância, porque é o responsável pelo transporte dos carboidratos da folha para a raiz. Quando faltar Boro, esse transporte se torna deficiente e a raiz fica fraca, absorve menos, cresce menos e finalmente pode ser atacada por fungos que a fazem apodrecer.

As culturas que mais necessitam Boro são: Café, Citros, Manga, Mandioca, Batata-Doce, Aspargo, Girassol, Verduras em geral e Leguminosas, mas antes de tudo, Algodão. Na deficiência de Boro, as partes mais afetadas são as raízes e brotos. Ambos morrem em casos graves. Não é raro verificar Cafeeiros, Pinheiros ou outras árvores cujos galhos são mais compridos que a guia central; é a deficiência de Boro! A formação de “vassouras” na Mandioca e de “leques” no Cafeeiro são bem conhecidos.

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