PRISCILA TAMIE FERNANDES BARBOSA
Aluna do Mestrado Profissional – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Universidade do Estado de Minas Gerais. Passos (MG), Brasil.
SÔNIA LÚCIA MODESTO ZAMPIERON
Docente e Pesquisadora – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Universidade do Estado de Minas Gerais. Passos (MG), Brasil.
Desde sempre foi necessário a utilização de boas práticas de manejo para controle de pragas nocivas aos diversos tipos de culturas agrícolas e, ao longo dos anos essas práticas têm se resumido no uso intensivo de produtos químicos, seja pela sua praticidade, eficiência e rapidez de resultados.
No entanto, passado séculos utilizando desses componentes, percebeu-se os impactos que seu uso ocasiona no meio ambiente como um todo, ocasionando diversos desequilíbrios biológicos como, resistência dos insetos a determinados produtos químicos, aparecimento de pragas até então secundárias, ressurgência de pragas antes extintas, contaminação de alimentos, água e solo, contaminação direta e indireta dos agricultores e consumidores e surgimento de diversos problemas de saúde antes inexistentes.
Diante deste cenário, a preocupação ambiental tem ganho destaque, principalmente quando se refere a qualidade dos alimentos e mudança nos tratos culturais.
O controle biológico de pragas é um “novo” conceito de tratos culturais que existe desde 1921, cujos resultados tem ganho destaque na cultura agrícola do século XXI.
O controle biológico é um fenômeno natural capaz de regular a concentração de praga existente na lavoura, através de minúsculos agentes biológicos naturais.
Há duas formas de se aplicar o controle biológico nos sistemas agrícolas, o Controle Biológico Natural e o Controle Biológico Aplicado. Segundo ABREU (2015), o Controle Biológico Natural refere-se à redução de inimigos que ocorrem naturalmente, sendo responsáveis pela mortalidade natural no agroecossistema e, consequentemente, pela manutenção do nível de equilíbrio das pragas. Já o Controle Biológico Aplicado ocorre através de liberações inundativas de parasitoides ou predadores, após a criação massal em laboratório desses agentes, visando a redução rápida da população da praga para seu nível de equilíbrio.
As vantagens da utilização do método do controle biológico nas lavouras é que além de controlar pragas e doenças, proteger a biodiversidade, melhorar a qualidade da água, assegurar alimentos sem contaminação, diminuir a dependência do petróleo, ser de fácil manuseio, o mesmo também aumentar o lucro do produtor ajudando na redução de custos com a lavoura por ser uma técnica de baixo custo quando comparado com o uso de agrotóxicos.
Representante da família Trichogrammatidae, o parasitoide do gênero Trichogramma constitue um dos grupos de insetos mais estudados no mundo, por atuarem como agentes de controle biológico no estágio inicial de desenvolvimento da praga, controlando-a antes que o dano a lavoura seja ocasionado.
Um dos agentes de sucesso introduzidos no Brasil na década de 90 é o Trichogramma pretiosum, uma microvespa generalista, criada em laboratório responsável por regular a população de pragas no campo, tais como as pragas de Oxydia spp (cultura de eucalipto) (OLIVEIRA et al, 2003), Alabama argillacea (cultura do algodão) (FERNANDES et al, 1999), Tuta absoluta (cultura do tomate) (PRATISSOLI et al, 2005), Plutella xylostella (cultura de crucíferas) (PEREIRA et al, 2004), Spodoptera frugiperda (Cultura do milho) (BESERRA e PARRA, 2004), Bonagota cronaodes (cultura da macieira)( MONTEIRO et al, 2004), Diatraea spp (cultura da cana-de-açúcar)(DIAS et al, 2011) e outras pragas típicas de ataques as culturas de hortaliças.
Biofábrica
Biofábrica é um laboratório biológico cuja missão consiste na criação e manutenção de um agente biológico capaz de controlar pragas existentes nas mais diversas culturas agrícolas.
É na Biofábrica Company, localizada no laboratório de Entomologia da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, unidade de Passos/MG, que o trichogramma pretiosum é produzido.
Este minúsculo agente biológico depende do corpo de outro inseto para completar seu ciclo de vida. A vespinha utiliza, portanto, do ovo da mariposa Anagasta kuehniella para se reproduzir.
À medida que vai acontecendo a postura dos ovos da Anagasta, popularmente conhecida como “Traça da farinha”, parte desses ovos são retirados e ofertados ao T.pretiosum, e parte são mantidas intactas, a fim de garantir a continuidade da prole de A. kuehniella,
Os ovos ofertados ao parasitoide então são conduzidos a uma capela, expostos à luz ultravioleta, para serem inviabilizados. Posteriormente os ovos são colados em cartelas quadriculadas, depositadas em frascos de vidro, contendo fêmeas de T. pretiosum adultos, ávidas por fazer sua postura nos ovos do hospedeiro, a fim de garantir o desenvolvimento de sua progênie. À medida que o parasitismo vai ocorrendo, e isto é perceptível pelo escurecimento dos ovos da hospedeira, as cartelas então já estão prontas para serem aplicadas na lavoura.
Finalmente, é importante salientar que o uso do agente biológico nas culturas agrícolas requer disciplina e acima de tudo “eliminação do uso de produtos químicos não seletivos” nas lavouras.
Os produtores rurais trabalham cada vez mais com a prevenção, utilizando do controle biológico de pragas em associação ou não a outros métodos de manejo de pragas, garantindo ao final um produto de qualidade, sem agrotóxicos, mais saudáveis e a custo reduzido.
Utilizando do controle biológico, o produtor deixa a natureza trabalhar para eles.
Referências Bibliográficas
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