Se quiserem saber algo a respeito de Agricultura Sustentável perguntem a EMBRAPA e não à Gisele Bundchen.
A safra de soja do ano agrícola de 2017/2018 foi um marco na história da agricultura brasileira porque foi a primeira safra de soja brasileira na qual equiparamos ou até suplantamos a produção de soja americana.
Muito pouca gente sabe disso, mas o Brasil dedica apenas 8,6% do seu território para o plantio de safras anuais ( o que em estatística é computado como “terras aráveis”) e preserva 61.9% do seu território como florestas, enquanto que os Estados Unidos dedicam 16.8% do seu território para safras anuais e somente 33.13% para as florestas, de acordo com dados públicos obtidos até na CIA e na NASA disponíveis na internet. Um livro recentemente lançado no Brasil, mas também com edição em inglês, de autoria do Dr. Evaristo Miranda, PhD, Chefe da Embrapa Territorial, sediada em Campinas ( 2 ) também corrobora os dados da NASA com notável exatidão demonstrando a excelência dos nossos institutos de pesquisa e estatística.
Se esses dados são públicos, então porque pessoas totalmente estranhas ao meio agrícola, como a modelo internacional (aposentada) Gisele Bundchen, insistem em afirmar o contrário ? Estaria ela trabalhando para o lobby agrícola americano ? É possível, já que lá existe verba para esse determinado tipo de coisa.
Não obstante esses dados serem absolutamente irrefutáveis, quando o jargão “destruição de florestas tropicais” é proferido, em qualquer lugar do mundo, a primeira palavra que vem a cabeça é o nome do Brasil. Esse é um exemplo típico do que o lobby agrícola americano, em associação com a empresa David Gardiner & Associates, e com a imprensa esquerdopata, também conhecida como fabrica de fake news, podem fazer para manipular a opinião publica visando os interesses econômicos desse ou daquele grupo.
Para que aqueles números possam ser ainda mais convincentes seria apenas suficiente dizer que os Estados Unidos dedica 152 milhões de hectares para safras anuais comparados com 64 milhões de hectares dedicados aos mesmos tipos de lavouras pelos agricultores brasileiros, ou seja o nosso país é capaz de produzir a mesma quantidade de soja e outras culturas anuais preservando o dobro de florestas e usando menos da metade de terra usada pelos americanos. Mas a Gisele Bundchen ainda não está satisfeita com isso. Ela quer mais.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos agricultores brasileiros, que não contam, nem de longe, com as benesses oferecidas aos agricultores americanos, como subsídios, preços inferiores de diesel e eletricidade, tratores melhores e mais baratos, preços inferiores de fertilizantes e agroquímicos, assim como também uma infra-estrutura muito melhor em estradas, rede de armazenamento e portos, ainda assim os agricultores brasileiros conseguem se sair melhor do que os seus concorrentes americanos. Isso é um fato e contra fatos não existem argumentos, mas alguém se esqueceu de avisar a Gisele Bundchen porque ela aparentemente não está satisfeita com essa situação.
Mas se os EUA possuem as melhores escolas e Universidades agrícolas do mundo assim como os melhores instituições de pesquisa do planeta o que poderia estar, então, assim tão errado ?
Pra início de conversa , talvez o que esteja sendo ensinados naquelas escolas não seja 100% verdadeiro. Tenho tido a oportunidade de escrever sobre isso inúmeras vezes e até já cunhei um termo que descreve esse fenômeno que é o da “Ditadura Científica” onde tentam nos enfiar goela abaixo e à força, meias verdades científicas e, as vezes, até inverdades, sendo que o mito da nutrição vegetal baseadas em N-P-K é, por suposto, a mais gritante deles todas.
Por outro lado, os americanos tem o péssimo hábito de olharem somente para o seu próprio umbigo e de desconsiderar tudo o que não venha da sua própria cultura ou da cultura que lhes deu origem, a cultura anglo-saxônica. Muito raramente fazem algumas concessões a cultura germânica.
Agricultores americanos estão entre as pessoas mais retrógradas do mundo, presos a idéias impostas pelo status-quo acadêmico científico, e a tradições do passado, avessos a mudanças e impermeáveis a câmbios que não sejam aqueles preconizados pelo Status-Quo. São verdadeiras crianças grandes a clamar por subsídios todo o tempo. Não fosse as quantidades inimagináveis de subsídios que recebem todos os anos já teriam ido a falência há muito tempo.
O que, aparentemente, poderia ser uma vantagem e a coisa certa a ser feita, na verdade se constitui em uma das razões que os impedem de evoluir e de adotar novas práticas. E ser flexível, hoje em dia, em um mundo cada vez mais competitivo, é fundamental.
A despeito de relatórios, com todo aquele ar de tecnicismo, tão ao gosto das pessoas subservientes ao Status-Quo Ditatorial Científico, repletos de dados manipulados e com conclusões falsas, como esse famigerado “Farms Here, Forest There” ( 1 ), que apresentam números não verdadeiros sobre destruição de florestas tropicais, e que foram fabricados as custas de gordas “doações” a empresa que o elaborou, as evidências são muito fortes a favor do Brasil. São 8,6% da área territorial usadas para a agricultura contra 17.4% dos EUA segundo o último levantamento feito pela NASA. Mas a Gisele Bundchen não reconhece os dados da NASA. Talvez ela nem saiba o que vem a ser isso.
Valeria, então, a pena pergunta-la: Quem está preservando mais o seu território, os EUA ou o Brasil ?
O Brasil já deu ao mundo várias práticas agrícolas sustentáveis como o “Plantio Direto” que reduz a erosão, aumenta o teor de matéria orgânica do solo e reduz a incidência de ervas daninhas; a Cultura de Cobertura com múltiplas espécies , também conhecida como “Coquetel”, poderosa técnica regeneradora de solos degradados que promove o aumento dos exudatos radiculares que nutrem o microbioma do solo, permitindo sua re-estruturação e formação de substancias humicas, graças ao colega patrício Dr. Ademir Callegari, do IAPAR, hoje uma referência mundial; o “Rolo Faca”, para terminação de culturas de cobertura, permitindo o cultivo em plantio direto sem o uso de herbicidas tóxicos e permitindo a formação de cobertura morta que impede o crescimento de mato, retém umidade e baixa a temperatura do solo, e todas essas técnicas são hoje usadas pelo mundo à fora sem que as pessoas nem sequer se deem conta de onde se originaram esses avanços tecnológicos. Sim, todas elas saíram daqui mesmo desse nosso país.
No entanto a mídia venal e falsa insiste em depreciar a agricultura brasileira e tenta apresentá-la como os “campeões da devastação de florestas tropicais” e a Gisele Bundchen ajuda a piorar ainda mais as coisas. Seria o caso de perguntar-mos: Quando ela deve estar levando do lobby da agricultura americana para ficar repetindo, como um papagaio, esses jargões falsos e mentirosos ?
Agora, duas outras novas técnicas sustentáveis estão sendo implementadas e que irão, sem dúvida alguma, alavancar ainda mais a agricultura sustentável brasileira. Trata-se da aplicação de pós de rocha em larga escala e em grandes quantidades, técnica conhecida como Rochagem,que tem exibido resultados extraordinários no aumento da produtividade, na maior resistência à seca e as pragas e doenças e que tem recebido uma atenção toda especial, atualmente, por parte dos pesquisadores da Embrapa, notadamente do Dr. Eder de Souza Martins, da Embrapa Cerrados.
Evidentemente, que existe muita coisa ainda a ser estudada e pesquisada sobre de que forma esse insumo alternativo funciona no solo e nas plantas, porém, esse aspecto, ao invés de desabonar a técnica, pelo contrário, demonstra a necessidade das autoridades proverem cada vez mais os necessários recursos para que possamos balizar a sua eficiência e sua utilização ainda mais, com novos estudos e pesquisas.
A outra prática, que também tem ajudado e muito os agricultores sustentáveis, é a multiplicação de organismos biológicos “on farm” para serem usados na nova técnica de “Inundação de organismos biológicos”, onde uma determinada espécie de bactéria é multiplicada e usada no ambiente em quantidades superiores aos volumes até então utilizados visando a resolução de problemas pontuais como insetos, doenças foliares e radiculares e de nematoides patogênicos e as vezes até visando o aumento da disponibilização de nutrientes do solo, como por exemplo o Fósforo.
Essa técnica reduziu em muito o custo dos Biológicos e permitiu que eles hoje sejam utilizados em largas áreas de terra e em volumes até então nunca imaginados permitindo alcançar resultados que antes não eram possíveis de serem obtidos com o uso da dose de rótulo recomendada somente. Com a ajuda dessa técnica, hoje em dia, já é possível cultivar-se , por exemplo, soja sem nenhuma das 5 pulverizações de inseticidas preconizadas pelo status-quo acadêmico científico, bem como das 3 pulverizações de fungicidas, permitindo o, que hoje é conhecido como, “cultivo da soja com zero de agrotóxicos”.
Um “efeito secundário” inesperado foi observado com o uso de alguns biológicos pois alguns deles, como o Azospirillum brasiliense e o Bacillus thuringiensis, são também organismos endofíticos e ao adentrar as plantas produzem também Reguladores de Crescimento de Plantas ou PGRs, dando a planta um inesperado e bem vindo boost nutricional.
O Brasil proporcionou aos seus agricultores a utilização dessa tecnologia fornecendo o necessário amparo e proteção legal baseado no fato de que as bactérias e fungos benéficos são componentes naturais de qualquer eco-sistema saudável e, por conseguinte, acessível a qualquer pessoa que queira fazer uso dos mesmos.
Com relação a esse aspecto e suporte legal, uma grande ajuda veio das instituições de pesquisa tanto a nível federal quanto a nível estadual que sempre pesquisaram e disponibilizaram até os próprios organismos biológicos para as industrias, como é o caso da Embrapa Recursos Genéticos, e que forneceram todo o embasamento científico e técnico para permitir que essa prática se tornasse uma prática comum, acessível e sustentável. Por isso eu deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos a todos os funcionários dessa unidade, simbolizados na pessoa da Dra Rose Monnerat, sob cujo pai, o Prof Celso Monnerat, tive o prazer de ter estudado e que creio ter tido a capacidade de influenciar não só a mim mas também a toda uma geração de agrônomos formados na antiga e saudosa ENA.
O nosso país é hoje um exemplo vivo e pujante de como pesquisadores de mente aberta, aliados aos agricultores e consultores agrícolas igualmente progressistas e legisladores de espirito altruísta, podem construir juntos uma sociedade mais justa, digna e consequentemente mais sustentável, a despeito dos relatórios tendenciosos criados pela chamada indústria de fake news.
COMPARTILHADO DE: José Luiz M. Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
(www.institutodeagriculturabiologica.org)
References
- Friedman, S. et all ( Sem data ) Farm here, Forest there, Tropical Deforestation and U.S. Competitiveness in Agriculture and Timber.
https://drive.google.com/file/d/0B-o3mZFR7nIWMjI2ZDhmZTMtNDJhNS00ZTQ2LWFiMTYtMmYyZjM4NDNlNmFj/view - Miranda, Evaristo (2018) Tons de Verde – Sustentabilidade da Agricultura no Brasil, Ed Metalivros, pedidos com bianka@metalivros.com.br
1 comment
Que texto! Obrigado por essa exposição de conhecimento rica e patriota. Um sentimento de orgulho me vem ao saber que nosso país, mesmo em condições reversas, consegue se sobressair e apontar para um futuro brilhante no que tange a ciência e tecnologia na cadeia produtiva do agro e aos ecossistemas envolvidos.