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[Marco Antônio Jacob] – Sugestão de uma Política Cafeeira Mundial.

MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com

 

A presente sugestão Política Cafeeira Mundial vem ao encontro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, documento adotado na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU se reuniram em Nova York e reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável.

Ao adotarem o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” , os países comprometeram-se a tomar medidas ousadas e transformadoras para promover o desenvolvimento sustentável nos próximos 15 anos sem deixar ninguém para trás.

A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos e metas claras, para que todos os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro.

O atual modelo de comercialização mundial do café em pleno século XXI é perverso e está espoliando milhões de famílias que produzem café, fazendo com que os cafeicultores vendam o fruto de seu trabalho a preços aviltados, levando-os a pobreza, inversamente do que recomenda a Agenda 2030.

Para compreender a necessidade de uma urgente Política Cafeeira Mundial, é necessário ter o conhecimento da atual situação dos cafeicultores mundiais.

Em Julho de 2017 foi publicado a DECLARAÇÃO FINAL DOS PARTICIPANTES DO 1º FORO MUNDIAL DE PAÍSES PRODUTORES DE CAFÉ, que foi realizado na cidade de Medellín, Colômbia, em 12 de Julho de 2017. No final, reproduzo parte do documento. A íntegra encontra-se no anexo e no link abaixo:

www.worldcoffeeproducersforum.com/pt/wp-content/uploads/2017/07/Declaracion-final-WCPF_pt.pdf

1. A rentabilidade do cultivo de café em muitos dos países produtores apresenta uma situação crítica, passando incluso por períodos de rentabilidade negativa, devido a diversos fatores como:

  • O menor preço internacional do grão que diminuiu de maneira dramática os termos de intercâmbio do café, isto é, a capacidade aquisitiva do cafeicultor;
  • a baixa produtividade agronômica e o aumento dos custos de produção associados ao câmbio climático e à variabilidade climática e ao aumento do valor da mão-de-obra para tarefas como a colheita.

2. A perda de rentabilidade traduz-se em que uma porcentagem importante de produtores de café do mundo se encontre na pobreza, com privações na sua qualidade de vida (moradia e conexão aos serviços públicos, o atraso e a baixa assistência educativa, baixo acesso ao sistema de saúde) e redução na capacidade de reinvestimento nos seus cultivos.

Em 27 de Agosto de 2018 , os dois (2) maiores produtores mundiais de cafés arábicas, Brasil e Colômbia divulgaram comunicado anexo informando o grave cenário predador no mercado mundial de café.

www.noticiasagricolas.com.br/noticias/cafe/220127-brasil-e-colombia-alertam-sobre-cenario-predador-no-mercado-mundial-de-cafe.html#.W5ebEOhKiUk

Em 15 e 16 de novembro de 2018, os Chefes de Estado e de Governo dos países ibero-americanos, reunidos por ocasião da XXVI Cúpula Ibero-Americana, na cidade de La Antígua Guatemala, publicaram o COMUNICADO ESPECIAL SOBRE O COMÉRCIO SUSTENTÁVEL DO CAFÉ, abaixo reproduzo parte deste comunicado, a integra encontra-se no anexo e no link abaixo:

www.segib.org/wp-content/uploads/19.-COM-COM.-COMERCIO-SOSTENIBLE-DEL-CAF–_E.pdf

COMUNICADO ESPECIAL SOBRE O COMÉRCIO SUSTENTÁVEL DO CAFÉ

  1. Reconhecemos a necessidade de obter um preço sustentável e rentável do café que garanta melhorias significativas na qualidade de vida dos cafeicultores.
  2. Reiteramos nosso compromisso de cumprir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, a criação de empregos decentes e a obtenção de padrões sustentáveis de produção e consumo.
  3. Lamentamos o impacto negativo das práticas comerciais que limitam a concorrência na compra de café no mercado internacional, que afetam os pequenos produtores, forçados a vender abaixo do custo de produção. Pelo que consideramos necessário fortalecer o diálogo para encontrar o equilíbrio e um preço sustentável que gere rentabilidade para o produtor de café de nossa região.
  4. Expressamos a necessidade urgente de adotar medidas de natureza financeira e técnica que garantam uma redistribuição eqüitativa dos benefícios do comércio sustentável de café para os produtores. Neste contexto, reconhecemos a importância da Cooperação Sul-Sul como catalisador do desenvolvimento na criação de capital humano e do conhecimento no setor cafeeiro.

Apesar da situação de falta de sustentabilidade econômica dos cafeicultores mundiais, o café após industrializado gera bilhões de dólares em valor agregado, com gerando muitos lucros e impostos, criando também muitos empregos, basta ver a quantidade de cafeterias instaladas e o crescimento destas em todos países consumidores.

Para exemplificar o grandioso e promissor mercado mundial de café, abaixo seguem duas (2) recentes notícias neste ano de 2018 do segmento de café:

i) Nestlé pagará US$ 7,15 bilhões para Starbucks em aliança global de café, acordo permitirá a dona das marcas Nescafé e Nespresso comercializar produtos da Starbucks em todo o mundo fora das lojas da rede de café.
https://g1.globo.com/economia/noticia/nestle-investe-us-715-bilhoes-em-licencas-de-produtos-starbucks.ghtml

ii) Para diversificar, Coca-Cola compra cafeteria britânica Costa, negócio de US$ 5,1 bi permite rivalizar com Starbucks, líder do segmento.
https://oglobo.globo.com/economia/para-diversificar-coca-cola-compra-cafeteria-britanica-costa-23029379

Abaixo um quadro elaborado pela Organização Internacional de Café demonstrando o consumo mundial de café e a projeção para o ano de 2030

Porém o mercado mundial de café é imperfeito, pois do lado da oferta se encontram produtores em concorrência perfeita de países pobres e do lado da demanda se encontram oligopólios de importadores e industrias de países ricos.

A compensação recebida pelos agricultores de café e outros que dependem diretamente ou indiretamente em sua produção não tem relação com o preço que os consumidores pagam pelo café nos países desenvolvidos.

Infelizmente, os bilhões de dólares em valor agregado, lucros e impostos que são gerados pelo café após industrializado não beneficiam as milhões de famílias que trabalham nas plantações de café.

No modelo atual, quase todas as xícaras de café que diariamente são bebidas, ajudam a perpetuar a pobreza e miserabilidade nas regiões produtoras de café, o modelo de negócios da maior parte da indústria do café explora o elo mais fraco, que são os cafeicultores.

Então, apesar de toda esta exuberância demonstrado no mercado consumidor de café, os produtores mundiais estão cada dia mais sendo explorados em um sistema injusto, comparável a uma “escravidão” em pleno século XXI.

Atualmente, com as cotações de café arábica na Bolsa de Nova York, contrato “C” na Intercontinental Exchange-ICE gravitam próximo de US$1,1000 per libra peso (453,59 gramas), os produtores de café recebem em valor real próximo a 30% do que recebiam em 1982, quando existia o Acordo Internacional de Café, pois devido ao acordo, as cotações flutuavam próximo de US$1,3000 per libra peso naquela época.

Esta cotação de US$1,3000 em 1982 corrigida a valor presente pela inflação americana, portanto após 36 anos, é equivalente a US$3,5000 per libra peso.

O equivalente a 1.30 USD em 01 Janeiro 1982 é de 3.50 USD em 10 Setembro 2018
A inflação no período: 168.98 %, índice utilizado: USCPI31011913 Bureau of Labor Statistics-USA. Índice inicial: 957.74 e Índice final: 2 576.11. Fonte de cálculos: http://fxtop.com/pt/calculadora-de-inflacao.php

 

Como parâmetro, a cotação em 03 de Dezembro de 2018 da Bolsa de Café em New York está em US$1,0930, portanto nominalmente inferior a US$1,3000 que foi o praticado na década de 80.
Alguns dirão que é o excesso de oferta que provoca estes preços aviltados, esta afirmação é uma falácia, abaixo uma tabela mostrando previsões de oferta e demanda mundial elaborado por alguns “experts” do mercado mundial de café:

Como se demonstra na tabela acima, ao fazermos uma média de várias fontes de previsões, observa-se que a oferta e a demanda mundial estão equilibradas.

Inclusive a Organização Internacional do Café (OIC) elevou novamente sua estimativa para o déficit global de café na safra mundial de 2017 que se encerra no mês de Setembro , em seu relatório de mercado do mês de agosto de 2018 , a entidade estimou que o déficit no período deve somar 3,555 milhões de sacas, acima dos 2,674 milhões de sacas projetadas no relatório anterior. http://www.ico.org/documents/cy2017-18/cmr-0818-e.pdf

Outro fator que demonstra o justíssimo equilíbrio no suprimento de café mundial é o fato recente que o Brasil não mais possui estoques governamentais de café, hoje é ZERO ( 0 ) os estoques públicos brasileiros.
O Acompanhamento da Safra Brasileira de Café pela CONAB divulgado em Setembro de 2018, estima a produção brasileira para a safra 2018/19 em 59,9058 milhões de sacas https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe

É importante frisar que a safra 2018/19 é de ciclo alto, peculiaridade da cafeicultura brasileira, então a próxima safra será de ciclo baixo, a bienalidade nos cafés arábicos para a safra de 2019/20 será relevante, pois no período de abril a julho do ano de 2018 ocorreu uma anormal e intensa estiagem, que deverá refletir em no mínimo menos 25% de produção de cafés arábicos que foram produzidos nesta safra , que foi estimada em 45,9378 milhões de sacas , então para a próxima safra a produção de cafés arábicas será de aproximadamente menos 11,5 milhões de sacas , colhendo-se 34,50 milhões de sacas.

Atualmente os preços de café no mercado internacional são baseados pela cotação do contrato “C” na Intercontinental Exchange- ICE, popularmente conhecida com Bolsa de Café de Nova York.

Os “experts” em mercados agrícolas futuros de café sabem que manter posições vendidas “short” em bolsas é muita mais vantajoso do que manter posições compradas “longs”, pois a própria estrutura da composição de preços futuros “contango”, ajuda esta pratica de permanecer vendido, assim sendo, os mercados cotados em bolsa sempre estarão com excesso de posição vendidas, deprimindo os preços.

Então os fundos de investimento (managed money) que participam do mercado de café percebendo que os países produtores não praticam políticas para proteger a renda de seus cafeicultores, passaram a serem muito mais agressivos em suas vendas a descoberto, exercendo uma pressão de venda tão grande que deslocam os preços para baixo.

Máximo = US$1,76 em 16/11/2016                      Mínima = US$99,35 em 22/08/2018

 

Tradicionalmente estes fundos de investimentos ficavam no máximo vendidos líquidos em aproximadamente 40.000 contratos , porém há alguns meses este fundos se tornaram bastante agressivos , culminando com uma posição vendida liquida em 21 de agosto de 106.105 contratos , que equivalem a mais de 30 milhões de sacas de café , abaixo uma tabela a evolução das vendas demonstrado no COT (Commitments of Traders) , que é um relatório semanal do CFTC-Commodity Futures Trading Commission que é órgão regulador dos USA.

Diante do exposto acima, podemos concluir que os preços de café são aviltados em função das práticas dos oligopólios que comercializam o café mundialmente, pois quando exigem que as negociações sejam paritárias a bolsas de café, indexam as cotações ao “bel-prazer” de grandes fundos financeiros especuladores.

Então apoiar que os preços mundiais de café flutuem ao sabor da vontade de fundos especulativos capitalizados em bilhões de dólares é insano, predatório e perverso, basta recordar que em 1992 o Banco da Inglaterra foi batido pela “especulação” destes fundos.

Neste mercado futuro de café qualquer um pode participar, do singular produtor até os grandes fundos de investimento, é um mercado com poucas regras e para participar precisa inicialmente depositar um valor em dinheiro para garantir as operações de seus contratos, é como num grande cassino, para jogar precisa ter o “cacife”.

Estes fundos de investimento administram bilhões de dólares, assim sendo, nenhuma país ou organização é capaz de fazer frente ao seu poderio financeiro e econômico.

Não pensem que estes fundos de investimentos terão compaixão das 25 milhões de famílias que vivem do café no mundo, para estes especuladores o que interessa é a rentabilidade que seus operadores com ajuda de sofisticados algoritmos poderão obter, enfim, o lucro está acima de tudo.

Infelizmente é impossível mudar as regras na Bolsa de Nova York, pois lá impera o “livre mercado”, então os cafeicultores mundiais não devem participar deste mercado “viciado” e os países produtores devem mudar a estratégia para garantir a sustentabilidade econômica de seus cafeicultores.

Esta estratégia consiste em o Brasil como maior produtor e exportador de café do mundo liderar uma política cafeeira mundial sensata e inteligente, impedindo o “rabo de balançar o cachorro“ e buscar o caminho natural do “cachorro balançar o rabo”.

A solução está em os cafeicultores mundiais buscarem a sustentabilidade econômica e desvincularem que os preços de exportação de café sejam referenciados pelas cotações da Bolsa de Nova York e de Londres, lugares dominados por grandes especuladores.

Os países produtores, liderados pelo Brasil que detém um terço (1/3) da produção mundial de café, devem criar a Organização dos Países Produtores de Café – OCAFÉ que terá como objetivos:

  1. Criar regras de exportação de café com preços acima dos custos de produção, garantindo a Sustentabilidade Econômica dos produtores.
  2. Fomentar o aumento do consumo de café em todo o mundo.
  3. Criar estoques estratégicos e de segurança nas origens.
  4. Agir com inteligência a produção de café sem criar excedentes.

Há de se informar que apenas 10 países, Brasil, Vietnam, Colômbia, Indonésia, Honduras, Etiópia, Índia, Uganda, Peru e Guatemala detém aproximadamente 90% da produção mundial.

 

1 – Criar regras de exportação de café com preços acima dos custos de produção, garantindo a Sustentabilidade Econômica dos produtores.

Através do diálogo, mostrar ao mundo importador que os cafeicultores mundiais estão exportando café abaixo do custo de produção, contrariando os preceitos elementares de erradicação de pobreza da Agenda 2030.

Através de experiências de outras commodities, determinar conjuntamente com todos os países produtores e exportadores de café um PREÇO MINIMO DE EXPORTAÇÃO DE CAFÉ, criando assim um piso mínimo de preço que traga a sustentabilidade aos cafeicultores mundiais.

 

2. Fomentar o aumento do consumo de café em todo o mundo.

O café é um alimento funcional e nutracêutico, a comunidade médico-científica o relaciona à prevenção de doenças físicas, mentais e degenerativas e à manutenção da saúde, pesquisas comprovam que o café vai muito além da cafeína, contendo também diversos nutrientes.

Os Países Escandinavos consomem próximo a 10 quilos per capta ano e coincidentemente são os que tem os melhores IDH- Índice de Desenvolvimento Humano.

Consumir café gera valor agregado, empregos, lucros e impostos para as nações que o consomem.

A OCAFÉ deve liderar e estimular junto a setor cafeeiro mundial programas para o aumento de consumo de café.

https://www.cafepoint.com.br/noticias/giro-de-noticias/mapa-mostra-os-paises-que-mais-consomem-cafe-no-mundo-105233n.aspx

O objetivo é mirar que o consumo dos escandinavos, alguns exemplos do consumo per capta anual: Brasil 6,2 kg, Alemanha 6,4 kg, USA 4,8 kg, Colômbia 2 kg, abaixo um quadro demonstrando o potencial para crescimento adicional da demanda.

Então os esforços para aumento de consumo devem ser focados em todos os mercados, tradicionais, mercados emergentes e nos países produtores.

Porem deve dar uma ênfase e incentivar os países produtores de café para o compromisso em aumentar o consumo interno nestes países.

A produção de café é concentrada em 20 países produtores, que produzem 97% da produção mundial, com uma população somada de 2,34 bilhões de habitantes, aumentar o consumo interno nestes países trará um impacto significativo na oferta e demanda mundial.

A título informativo, se estes países produtores amentarem o consumo em 200 gramas per capta/ano, há um aumento de consumo de 9,7 milhões de sacas.

Abaixo o quadro dos 20 maiores produtores mundiais:

Apesar da China ser um produtor de café, não consta deste quadro.

De acordo com dados da OIC, o consumo mundial em 2017 foi de 162,38 milhões de sacas, destaca-se a Etiópia com um consumo interno anual de 3,72 milhões de sacas.

Consumir café gera bem-estar para os consumidores e gera muito riqueza para os países consumidores, basta calcular o valor agregado após industrializado o café.

As indústrias e países consumidores serão os maiores beneficiados com o aumento do consumo, pois gerará lucros, impostos e empregos.

É importante ressaltar que para mitigar a emigração desenfreada para Europa e Estados Unidos é necessário criar condições de crescimento econômico nos países subdesenvolvidos, então usar a inteligência para valorizar o café é uma questão humanitária, e os países desenvolvidos irão se beneficiar desta valorização.

Também há de se levar em consideração que com o justo valor de exportação de café, os países produtores de café poderão incrementar o comércio mundial importando mais bens e serviços dos países desenvolvidos.

Lembrando a todos que estamos no século XXI, e está mais que na hora da humanidade ter atitudes mais inteligentes e que tornem o mundo com mais virtudes, ajudando a desenvolver os países pobres conforme preconiza a Agenda 2030.

Os consumidores mundiais de café não querem beber café com o gosto amargo da exploração econômica dos produtores de café.

 

3. Criar estoques estratégicos e de segurança nas origens.

O consumo mundial em 2017/18 foi próximo de 162 milhões de sacas e as exportações de café de outubro de 2017 a setembro de 2018 foram de 121,88 milhões de sacas, pode-se afirmar que não há estoques de cafés estratégicos ou de segurança nos países de origem, praticamente todo café colhido foi transferido para os países importadores ao longo do ano.

Assim sendo, é prudente que os países produtores tenham um estoque estratégico e de segurança de aproximadamente 10% do consumo mundial, isto é, próximo de 16 milhões de sacas, que será constituído no decorrer dos anos.

Como sugestão, devido ao Brasil ser o maior produtor de café naturais e ter conhecimento de estocagem de café , este estoque “mundial” poderá estar localizado no Brasil.

Então em armazéns alfandegados no Brasil a OCAFE constituiria o estoque de café comprando o café do Brasil e respeitando o preço mínimo estabelecido para a exportação de café pelos países produtores.

Para isto, se criaria um Fundo Financeiro com 5% das receitas mensais de exportação dos países produtores e este FUNDO compraria o café físico para ser estocado , então a propriedade deste café estocado seria proporcional a exportação de cada país , dividindo-se o ônus de estoque regulador e estratégico entre os países produtores de café que serão beneficiados por um receita maior na exportação de café devido a melhora dos preços proporcionados pela criação de regras de exportação sustentáveis.

Não se deve temer estes estoques feitos no Brasil, porque é como se o Brasil estivesse exportando para os outros países produtores, lembrando que os estoques serão formados em “armazéns alfandegados” como exportado fossem.

 

4. Agir com inteligência na produção de café sem criar excedentes.

Dialogar intensivamente com a classe produtora, pois o crescimento na produção de café deverá acompanhar a demanda de café mundial. Se os países produtores de café forem eficientes em se fazer consumir café mundialmente a uma taxa de 2,5 % ao ano, será necessário se produzir 4 milhões de sacas a mais anualmente, assim com planejamento pode-se aumentar a produção sem prejudicar a oferta global.

A cafeicultura no Brasil:

Baseado em levantamentos de dados do IBGE do ano de 2016, a cafeicultura brasileira é cultivada em 1470 municípios em 16 estados da federação brasileira.

Assim sendo, devido a extensa capilaridade da cafeicultura, e por ser uma cultura de intensiva mão de obra, fortalecer a cafeicultura brasileira é fortalecer milhares de economias municipais, gerando desenvolvimento econômico no interior da Nação, ajudando a eliminar esta perversa recessão econômica que prejudica a todos brasileiros.

Dentro da legislação brasileira, encontramos amparo a defesa de preços justos na Constituição Federal em seu artigo 187:

Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente:

II – os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização;

A principal legislação infraconstitucional, o ESTATUTO DA TERRA – LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964, normatiza o Preço Mínimo para a produção agrícola:

CAPÍTULO III, Da Assistência e Proteção à Economia Rural:
Art. 73. Dentro das diretrizes fixadas para a política de desenvolvimento rural, com o fim de prestar assistência social, técnica e fomentista e de estimular a produção agropecuária, de forma a que ela atenda não só ao consumo nacional, mas também à possibilidade de obtenção de excedentes exportáveis, serão mobilizados, entre outros, os seguintes meios:
XII – garantia de preços mínimos à produção agrícola.

Neste mesmo diploma legal temos:

SEÇÃO VII Da Assistência à Comercialização:
Artigo 85.- A fixação dos preços mínimos, de acordo com a essencialidade dos produtos agropecuários, visando aos mercados interno e externo, deverá ser feita, no mínimo, sessenta dias antes da época do plantio em cada região e reajustados, na época da venda, de acordo com os índices de correção fixados pelo Conselho Nacional de Economia.
§ 1° Para fixação do preço mínimo se tomará por base o custo efetivo da produção, acrescido das despesas de transporte para o mercado mais próximo e da margem de lucro do produtor, que não poderá ser inferior a trinta por cento.
§ 2º As despesas do armazenamento, expurgo, conservação e embalagem dos produtos agrícolas correrão por conta do órgão executor da política de garantia de preços mínimos, não sendo dedutíveis do total a ser pago ao produtor.

Infelizmente o Governo Federal Brasileiro nos últimos anos vem manipulando os preços mínimos do café, exemplo é a portaria MAPA n°840 publicada em 19 de abril de 2017 divulgando preços mínimos inferiores a realidade e com metodologia diversa das normatizadas pela legislação brasileira, desta forma, desrespeitando a legislação brasileira, inclusive a Constituição Federal.

A publicação irresponsável e ilegal da portaria MAPA n° 840 em 19 de Abril de 2017, iniciou e provocou uma queda nas cotações internacionais do café em 39,44 %, uma perda equivalente à US$85,00 no valor da saca de café.

O Governo Federal ao publicar e manipular os preços mínimos abaixo do custo efetivo de produção e não obedecendo as normas legais , transforma o remédio em veneno , pois além de não estar protegendo a renda dos cafeicultores brasileiros, faz com que o oligopólio importador juntamente com os fundos de investimentos manipulem predatoriamente as cotações nas bolsas, tornando a exportação de café com preços aviltados e beneficiando os grandes grupos oligopólios importadores em prejuízo da Nação Brasileira.

Então para se estabelecer o Preço Mínimo correto do café , como disposto na Legislação Brasileira , o Consorcio Pesquisa Café, liderado pela EMBRAPA Café e composto das demais instituições participantes, será responsável por pesquisar, apurar e divulgar o CUSTO EFETIVO DE PRODUÇÃO pela média de custos dos cafés produzidos no Brasil conforme as duas qualidades comerciais existentes; arábicas e conilons, lembrando que o pró-labore , custos previdenciários dos cafeicultores, custo de capital e todos os outros componentes de custos deverão ser inclusos e fazer parte do custo efetivo de produção, enfim , a realidade do cafeicultor têm que se fazer presente.

Este CUSTO EFETIVO DE PRODUÇÃO será aberto e transparente, e os pesquisadores terão apoio e subsídios de dados da CONAB, Cooperativas, Sebrae, Certificadoras Internacionais e demais entidades participantes do agronegócio café.

Após a apuração do CUSTO EFETIVO DE PRODUÇÃO, será acrescido a margem de lucro do produtor mínima de 30%, conforme a determinação legal do artigo 85 do Estatuto da Terra e assim obter o PREÇO MINIMO DO CAFÉ para as distintas variedades, isto é, arábicas e conilons.

Caso haja necessidade de se comprar café para regular o fluxo, para não onerar o orçamento da União Federal, este compra será feita pelo Banco Central do Brasil-BACEN, usando para isto uma ínfima parte das reservas internacionais, pois em 06 de setembro de 2018 estas reservas totalizavam 381,438 bilhões de dólares.

https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?method=consultarSeries&series=13621

Esta compra de café pelo preço mínimo pelo BACEN será usada para cumprir a participação dos estoques estratégicos e de segurança nas origens.

 

CONCLUSÃO:

Esta sugestão de Política Cafeeira Mundial fará com que a receita de exportação de café do Brasil cresça substancialmente, podendo ter um acréscimo nas exportações na ordem de 15 bilhões de dólares em 4 anos, exportando 145 milhões de sacas neste período, incluindo-se o estoque estratégico da OCAFÉ.

O Brasil precisa liderar a cafeicultura mundial para sair do círculo vicioso para um CICLO VIRTUOSO que beneficiará principalmente países pobres e populações que hoje vivem na miserabilidade.

Esta sugestão de Política Cafeeira Mundial é um excelente exemplo para mitigar a pobreza mundial e tornar realidade o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

O Brasil liderando a criação da Organização dos Países Produtores de Café – OCAFÉ, trará benefícios para todas as Nações produtores de café, trazendo dignidade aos cafeicultores e mitigando a pobreza destes e consequentemente ajudando no desenvolvimento econômico destas nações.

É uma questão humanitária estancar os sofrimentos das milhões de famílias dos produtores de café do mundo, e, é insano perpetuar a miséria.

É necessário urgentemente corrigir os erros que prejudicam milhões de cafeicultores e suas famílias no Brasil e no Mundo, trazendo-lhes esperança e um mínimo de dignidade.

É importante ressaltar que para mitigar a emigração desenfreada para os países desenvolvidos, principalmente Europa e Estados Unidos, é necessário criar condições de crescimento econômico nos países subdesenvolvidos, então usar a inteligência para valorizar o café ajudará inclusive os países desenvolvidos a mitigarem este êxodo de pessoas sem esperança nos seus países de origem.

Inclusive os países desenvolvidos irão se beneficiar desta valorização, pois terão mais mercados para suas exportações gerais, pois com justo valor de exportação de café, as nações produtoras de café terão mais divisas para suas importações, desta forma haverá o incremento no comercio internacional.

Lembrando a todos que estamos no século XXI, e está mais que na hora da humanidade ter atitudes mais inteligentes e que tornem o mundo com mais virtudes, ajudando a desenvolver os países pobres, a Agenda 2030 precisa se tornar uma realidade.

 

Marco Antonio Jacob

Espirito Santo do Pinhal (SP), 03 de Dezembro de 2018

 

OBS: Este documento foi entregue em mãos para a Ministra Tereza Cristina em 4 de dezembro de 2018.  A maior burrice é os países produtores e exportadores permitir que as cotações de Nova York sejam a referencia de preço para suas exportações. Para parar com a “sacanagem” dos fundos, que vendem 30 milhões de sacas sem produzir um grão, basta os PAÍSES PRODUTORES fazerem o PREÇO MINIMO DE EXPORTAÇÃO. Todo café Arábico só será exportado acima de US$1,8000 por libra e o ROBUSTA por US$1,5000. Temos que aprender com os árabes , que fizeram isto em 1973 com o Petróleo (OPEP). 

 

………

ANEXO

DECLARAÇÃO FINAL DOS PARTICIPANTES DO 1º FORO MUNDIAL DE PAÍSES PRODUTORES DE CAFÉ, que foi realizado na cidade de Medellín, Colômbia, em 12 de Julho de 2017.

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1 comment

Marco Antonio Jacob 04/03/2019 at 12:35

Carlos , obrigado por divulgar esta Sugestão , faço um alerta , existe maneira de resolver o problema de RENDA do cafeicultor , porem as atuais lideranças da cafeicultura brasileira não querem , pois valorizar o cafeicultor é dar-lhes independência para varias atitudes , inclusive se libertar da escravização moderna e dos gigolôs que exploram o sistema.

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