MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com
Estamos no início de Agosto, já podemos considerar em aproximadamente 80% do café colhido no Brasil. Muitos produtores de cafés arábicas já estão na fase final. As colheitas mais atrasadas encontram-se no Cerrado e na Alta Mogiana com 65% da colheita já realizada.
A percepção da colheita nas principais regiões produtoras de cafés arábicas é que realmente houve uma quebra considerável dados as anomalias climáticas ocorridas no primeiro trimestre do ano.
No Sul de Minas , a Cooxupé reporta perdas de 30%. No Cerrado , onde se pensava que as perdas seriam mínimas , há relatos de perdas na ordem de até 20%. A Zona da Mata também foi severamente castigada com perdas que ultrapassam 1/3 da produção. A Alta Mogiana , com seu ano de alta produção, também terá perdas na ordem de 20%. Semelhante perda é observada na Região de Marilia/Garça. Mesmo o Paraná , castigado com a geada em 2013 , porém menos castigado pelas anomalias deste princípio do ano , apresenta perdas com um rendimento menor , devido aos grãos mal formados e menores. Até cafés irrigados em várias regiões apresentam algumas perdas . Normalidade só houve no estado da Bahia e nas regiões de produção de conilon do Espírito Santo e Rondônia.
A grande realidade é que as anomalias climáticas , com severa estiagem combinado com altíssimas temperaturas ocorridas no primeiro trimestre de 2014, foram generalizadas no coração produtor de café arábica brasileiro, abaixo, uma ilustração do parque cafeeiro no Brasil.
Tudo converge para que a produção de cafés arábicas seja próxima aos 28,34 milhões de sacas, conforme indicado por Terra Forte no último relatório, dia 30 de Julho.
Porém, quero destacar dois pontos destoantes do relatório da Terra Forte :
I) A Terra Forte aponta uma produção de 17,44 milhões de conilon , porém , o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) ,que é o principal órgão no desenvolvimento e pesquisas de café conilon no Brasil , em declarações realizadas no dia 01 de Agosto , pelo Coordenador de Cafeicultura , Sr. Romário Ferrão , indica uma safra de 10 milhões de sacas no estado do Espírito Santo e apenas 1 milhão de sacas no Sul da Bahia , apontando para uma safra de conilon no Brasil de apenas 13 milhões de sacas. (http://www.noticiasagricolas.com.br/videos/entrevistas/143326-entrevista-com-romario-ferrao-coordenador-cafeicultura-incaper.html#.U9wa4_ldV8E
II) O carryover apresentado pela Terra Forte em 01 de Julho é de aproximadamente 8,16 milhões de sacas , quando através do Levantamento de Estoques de Café publicados pela CONAB , indicam estoques privados e públicos de 16,87 milhões em 31 de Março. Estes estoques quando calcula-se o desaparecimento para os três meses subsequentes (Abril , Maio e Junho ) , para um consumo interno aproximado de 5 milhões de sacas , mais as exportações em 8,97 milhões de sacas , apontam para um carryover para 01 de Julho de 2014, inferior a 3 milhões de sacas.
Destaquei os pontos destoantes, não para desqualificar nenhuma das informação do relatório da Terra Forte , apenas para apontar estas grandes divergências, pois a prudência recomenda que trabalhemos dentro de uma mediana. Portanto, a produção total de café no Brasil para a safra 2014/15 deverá ser próxima de 43 milhões de sacas.
Vejam que a quantidade citada é superior aos números divulgados pelo Citigroup, pois este apontou a safra brasileira em 41,75 milhões de sacas. ( http://www.agrimoney.com/news/coffee-to-see-protracted-bull-run-record-prices–7335.html )
Destaco ainda, que devido aos problemas climáticos do primeiro trimestre, as qualidades dos cafés arábicos colhidos nesta safra apresentam uma maior quantidade de defeitos, oriundos de cafés mal granados e chochos.
Assim sendo, no período de Julho de 2014 a Junho de 2105, o potencial de exportação de todos os cafés do Brasil, será próximo a 25 milhões de sacas, quantidade bem inferior aos exportado no mesmo período de 2013 à 2014, quando o Brasil exportou próximo de 34 milhões de sacas, então teremos um fornecimento menor de 9 milhões de sacas aos países importadores.
Mas também temos que pensar na safra de 2015/2016, pois os mesmos problemas climáticos que afetaram esta safra que está finalizando a colheita, afetou a produção para a safra vindoura.
Durante o primeiro trimestre de 2014, os frutos de café que estavam em fase de enchimento foram as maiores fontes de dreno do cafeeiro, pois as arvores deveriam buscar energia tanto para os enchimentos dos frutos, como para o desenvolvimento de suas ramas. Devido a esse fator, o crescimento vegetativo das ramas foi prejudicado, pois é nesse crescimento vegetativo onde se formará as flores e frutos para a próxima colheita.
Mesmo nas árvores que foram podadas (esqueletadas) em 2013, que nada produziram em 2014, o crescimento vegetativo está menor, e, estas serão as responsáveis pela principal parte da produção na próxima safra.
Nas árvores jovens, menos que 5 anos, mais sensíveis, o crescimento vegetativo foi muito pouco, devido a suas raízes serem menos profundas, e estarem com frutos pendentes, então sofreram mais com o déficit hídrico e calor, e, as árvores adultas que produziram bem, estão muito depauperadas e desfolhadas, mostrando um grande estresse devido a última produção.
Cafeeiros pós colheita
Além dos problemas expostos, temos uma grande incidência de ferrugem tardia, devido ao estresse dos cafeeiros pós colheita, e, também quando foram feitos os tratamentos fitossanitários preventivos, os produtos sistêmicos por não encontraram um ambiente ideal, pois as plantas estavam desidratadas, com pouca seiva, e, assim não se transportarem e tiveram seus efeitos reduzidos.
Incidência de ferrugem tardia
Devido a todos os problemas relatados, inviável é manter lavouras que produzirão pouco, pois além de serem antieconômicas, é necessário a poda em forma de esqueletamento ou recepa. Se não o fizerem , devido ao cafeeiro estar muito desfolhado , a luminosidade penetra e induz a formação de brotos , que tornarão no futuro as árvores envaçouradas e improdutivas.
Cafeeiros recém esqueletados
Diante do exposto, a safra de cafés arábicas brasileira de 2015/2016 será menor que a safra deste ano, dado os vários fatores, inclusive ao menor parque cafeeiro produtivo, vejam, mesmo se não houvesse os problemas climáticos, 2015/2016 seria uma safra de menor produção, dado ao ciclo brasileiro de produção de cafés arábicas, não esquecendo que em janeiro, fevereiro e março deste ano, não foram adubadas pela impossibilidade climática.
Então devemos ter consciência que a safra de 2015/2016 será inferior a este ano, e novamente exportaremos menos que os 25 milhões de sacas no período de Julho de 2015 à Junho de 2016.
Novamente devo salientar que o Citigroup indica a possiblidade da produção brasileira ser inferior a 40 milhões de sacas.
São grandes as probabilidades que a produção brasileira total de café no biênio 2014/15 e 2015/2016 , seja inferior a 85 milhões de sacas, enquanto o consumo mundial será na ordem de 300 milhões de sacas.
Mas para estes números de produção e exportação não diminuírem mais ainda, as condições climáticas deverão ser extremamente favoráveis para o desenvolvimento da cafeicultura, segue abaixo o quadro de umidade no solo nas regiões cafeeiras brasileiras, onde já indica nas principias regiões produtoras de cafés arábicas, deficiências hídricas no solo em 31 de Julho de 2014.
Como agosto é um mês característico de poucas chuvas, e os meteorologistas não indicam precipitações, os déficits hídricos no solo tendem a aumentar.
Concluindo, temos que estar preparados, pois são reais as perspectivas das exportações brasileiras nos próximos 24 meses terem perdidos 20 milhões de sacas , causando um grande déficit no suprimento mundial.
É o momento de discutirmos políticas de longo prazo, para que esta variância enorme no suprimento mundial não aconteça no futuro, assim chegou a hora dos representantes dos importadores, exportadores, indústrias e produtores iniciarem um diálogo buscando políticas de real sustentabilidade para o setor cafeeiro mundial, pois ultimamente as políticas públicas brasileiras tem beneficiados poucos.