JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.
Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS
O mercado fechou sexta-feira em 253,35 centavos base Dezembro (o Março em 253,10 centavos), contra sexta-feira retrasada em 242,95 centavos. Com altos volumes, o mercado foi influenciado esta semana pelas rolagens de opções (e o volume de rolagens não deve ser baixo, com as expectativas climáticas). Voltou a fechar acima dos 250 centavos, o que tecnicamente mostra que o mercado realmente ainda não está disposto a jogar a toalha.
Pouca mudança nos estoques certificados.
No macro, a onda vermelha Republicana varreu os EUA. Donald Trump é o novo Presidente. O partido Republicano vai controlar o Senado, e bem provavelmente vai controlar a Câmara. Fora que venceu tanto no colégio eleitoral, como também no voto popular.
Entre as diretrizes econômicas que ele pretende implementar, estão a introdução de novas tarifas de importação, ainda mais reduções de impostos, forte desregulamentação da economia e redução do tamanho do Estado.
Para a produtores de café, fora o impacto na relação Dólar & Real, novas tarifas de importação podem eventualmente trazer algum impacto.
O Dólar teve uma valorização contra várias moedas. Um dos poucos detratores foi o Real, muito relacionado à expectativa da divulgação do pacotão de redução das despesas do governo local. Como o pacotão não sai, na sexta-feira o Dólar já voltou para perto dos R$5,80.
Mesmo com o FED americano cortando os juros em 25 pontos, e o BC aqui aumentando em 50 pontos, ainda é pouco provável vermos uma enxurrada de dólares se aproveitando do spread de juros. Mesmo porque, como muitos consideram aumento de tarifas como inflacionário, e redução de impostos como um grande problema para o déficit, as taxas dos títulos federais e privados até subiram nos EUA. Segundo vários economistas os títulos federais devem ficar ainda na taxa de 4,5%, e títulos privados de AAA ou BBB+ na faixa de 7%.
O mercado está precificando uma possível piora do déficit público por lá. É mais fácil sair mais Reais ainda do Brasil, do que entrar Dólares. O mercado precifica o risco Brasil no spread… pelo jeito o spread precisa abrir ainda mais para termos um impacto significativo no câmbio.
● Tarifas: O primeiro impacto em caso de todas exportações de café pagarem 10% de imposto de importação, seria que o importador repassasse este custo ao torrador e consequentemente ao consumidor. Resumindo: o consumidor americano paga a conta.
Agora, imaginemos um ciclo onde tenhamos uma produção global que seja maior que a demanda… O torrador vai, com certeza, querer dar descontos para recuperar ou ganhar market share por lá, e vai pressionar o importador a começar a passar a conta dos 10%… advinha quem vai começar a pagar a conta??.
Vamos ver se realmente ele vai implementar 10% de tarifas a todo e qualquer produto.
Com certeza vai gerar uma “retribuição“ da maioria dos países em cima de exportações americanas. Na hora “H” é bem provável tenhamos muitas acomodações. Os famosos “loopholes“ (excessões a regra) vão criar várias oportunidades para empresas, e até produtores individuais brasileiros, que saibam explorar as mesmas.
A vitória de Trump trouxe uma nova expressão a uma nova ordem logística. Já havíamos comentado sob a onda do “nearshoring“, onde empresas estão saindo da Ásia para se instalarem no México (que já passou a ser o maior exportador aos EUA). Agora com Trump, não só teremos um impulso ao “nearshoring“, mas agora aliado ao “trustshoring”. Isto diz respeito à, não só a instalação de unidades fabris e logísticas perto dos EUA, mas também que sejam confiáveis no sentido de segurança jurídica, patrimonial, e alinhamento político. (trust = confiança).
Países como Costa Rica, Panamá, El Salvador… e sim… Argentina começam a voltar no radar de investimento.
Nossos gênios de plantão em Brasília com certeza não terão a visão de também capturar este oportunidade, porém empresas brasileiras podem sim se aproveitar e muito.
Por aqui, sinceramente não temos muito o que comentar. Seguimos no mesmo caminho. Não é nem só criticar, se ainda estivéssemos gastando mais do que arrecadamos em educação, saúde, infra estrutura, segurança (em todos os níveis), saberíamos que lá na frente isto nos traria retorno (ie Coreia do Sul).
as a realidade é outra… A semana foi de idas e vindas de reuniões, no estilo bem Lula de jogar um Ministro contra o outro, e até ontem no final da tarde nada havia de concreto no pacote de redução de gastos. E entre nós… se houver, provavelmente vai ser algo desidratado e/ou com promessas que não serão realizadas.
No momento com um PIB acima do esperado, desemprego baixo, vamos levando com a “barriga“ até 2026. Isto com certeza é o pensamento de Lula. E não duvidem que funcione….
Nos fundamentos também não temos muita novidade. Brasil embarcou quase 5 milhões de sacas em Outubro, e segue forte para um Novembro acima dos 4 milhões.
Nos primeiros 10 meses do ano, a produção Colombiana aumentou quase 19% a/a, e as exportações atingiram 9,83 milhões de sacas (aumento de 17%).
A safra do Vietnam um pouco atrasada, mas vai ganhando tração, com pouca mudança na demanda e nos diferenciais durante a semana.
No comparativo anualizado as exportações globais estão mais altas. Eu sei… chover no molhado… uma hora tem que cair, ou…
Boa semana a todos!
Joseph Reiner