JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.
Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS
O mercado fechou sexta-feira em 330,25 centavos base Março, contra um fechamento sexta-feira retrasada em 318,05 centavos.
O que falar deste mercado? Quem resolveu fazer um retiro durante a semana não acreditaria que o mercado varou abaixo dos 300 centavos durante a semana, somente para voltar com vingança na quinta e sexta-feira.
Falar que o mercado está sobre comprado, que nem a inelasticidade do café vai resistir a alta de preços, que talvez a “pegação“ não tenha sido tão ruim assim, que a safra no Vietnam pode chegar a 27/28 milhões de sacas… nada por enquanto parece alterar a tendência do mercado.
Acertou quem determinou que o mercado precisava de um ajuste, mas a volta realmente impressiona.
À principio, muitos comentários que o cheiro de “sangue“ na verdade poderia levar aos comprados temerem com a liquidez do mercado, e assim teríamos mais liquidações… mas parece a aposta dobrou, e o mercado parece disposto a testar a histórica resistência em 339 centavos.
Dólar: Os esforços de Lira para acalmar o mercado quanto ao comprometimento do Congresso em manter o foco no corte de gastos não foi suficiente para segurar o Dólar abaixo de R$6,00 por muito tempo, pois é grande a possibilidade do pacote ser desidratado no congresso. À princípio, acreditemos ou não, difícil o governo encontrar mais alguma má noticia até o final do mês.
Muitos analistas acreditam que o Dólar à nível de R$6,00, basicamente já está incorporando o descarrilhamento da politica fiscal do governo. A contínua degradação da politica fiscal deve deixar o Dólar entre R$5,80 e R$6,20, dependendo da velocidade e tamanho do estrago. Nisto acredito, já estar precificado SELIC entre 14,5 e 15% e inflação na casa dos 5%. O crescimento do PIB no 3 trilhões em + 0,9% frente ao 2 trilhões, reforça a possibilidade dos juros SELIC bater em 15%. O impacto do aumento de crédito, principalmente via BNDES e os programas assistencialistas do Governo mantém o círculo vicioso… parece que tudo está bem, mas você não consegue comprar mais nada no supermercado.
O próximo tiro no pé que poderia levar o Dólar a níveis ainda mais altos seria então o descarrilhamento da política monetária. Ou seja, um interferência muito maior do executivo no BC com a posse do novo Presidente e a nova Diretoria nomeados por Lula (ou Janja?) e consequentemente, o retorno do mesmo impacto do Governo Dilma.
Nos EUA, continuam as apostas de mais uma queda de 25 p.p. na taxa básica este mês. Os últimos dados mostram dados em emprego e da economia muito perto do que o mercado esperava. A economia continua saudável, porém sem sinais de novo aquecimento e de retomada de aumentos de preços. A espera agora é para a chegada no governo Trump.
Na China, apesar da economia ainda estar em lenta recuperação após a crise imobiliária, o país detém 31% de toda produção industrial do mundo. Um número impressionante. Em segundo lugar está os EUA com 16%, seguido do Japão com 5%.
Outro fator de relevância foi a assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a EEUU. Um passo importante, porém que ainda deve passar por vários passos lá na EEUU antes de sua ratificação oficial. O acordo ainda encontra forte resistência na França, Polônia e Irlanda, que ainda tentam angariar outros membros para bloquearem a ratificação do acordo pelo Parlamento Europeu (quando isto acontecer o acordo está ratificado, mesmo que os Parlementos dos países individuais rejeitem). É um processo que ainda pode levar até 4 anos para uma ratificação final.
Ao que nos interessa, para cafés verdes, torrado e solúvel, com alíquota atual variando de 7,5 à 11%, a retirada das tarifas ocorrerá em 4 a 7 anos. No caso do café, haverá exigência de que 40% do café verde e entre 40-50% do café solúvel seja originário do Brasil (acredito que o mesmo sirva para o torrado).
Nos fundamentos, o Brasil exportou quase 5 milhões de sacas em Novembro. A federação Colombiana acredita que a produção 24/25 pode chegar acima dos 13,5 milhões de sacas (crescimento de 20% a/a). Segundo a OIC, as exportações globais em Outubro (seguindo o calendário da OIC), primeiro mês da safra 24/25 foi de 11,13 milhões de sacas, ou cerca de 15% acima do mesmo mês ano passado.
Ano a ano, em Outubro as exportações totais globais totalizaram 139 milhões de sacas, contra 123 milhões no mesmo período ano anterior. Não temos os dados de consumo consolidado, porém as exportações continuam fluindo.
No Brasil, o mercado continua bastante retraído de vendedores. Na quinta e na sexta-feira alguns negócios na exportação, porém com os diferenciais ainda sem alargar para MTGB. Para peneiras 17/18… o difícil é ter vendedor… não vamos nem falar no nível de preços. Ofertas sempre no curto prazo.
No Vietnam a safra flui devagar, com os produtores sem pressa na venda. Os estoques visíveis estão ainda cerca de 18% abaixo em comparação mesmo período do ano anterior. Os diferenciais também pouco se mexeram, com a qualidade exportável GRADE 2 oferecida a -100/Março. Embarques também oferecidos para curto prazo.
Quanto tempo essa bonanza pode durar?? Já pensaram que talvez estes Fundos sejam um pouco mais espertos que nós???? talvez o passado não mais reflita o que poderemos ver daqui para frente.
Na economia, quase como certo que após a noite virá o dia, após um ciclo com crescimento, viria um período recessivo. O que a inteligência artificial e os avanços em tecnologia podem trazer, pode significar estarmos entrando em um ciclo de crescimento de longo prazo.
No café, o crescimento do consumo do Oriente Médio a Ásia, e as constantes mudanças climáticas podem significar um desafio muito maior em manter o equilíbrio entre produção e demanda. O aumento da “riqueza” que os novos avanços tecnológicos podem trazer na economia global, pode também estar mudando o ponto de equilíbrio do valor percebido para cada xícara de café que tomamos. Claro que existem inúmeros desafios que podem muito bem jogar esta teoria por água abaixo, mas… será que os Fundos, ao qual pensamos, observam o curto prazo e ganhos imediatos, podem estar observando algo a mais longo prazo??
Boa semana a todos!