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[Joseph Reiner – Cafezal Sul de Minas] – Comentário Semanal Café – 26/01/2025

JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.

Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS

O mercado fechou sexta-feira em 347,55 centavos base Março, contra o fechamento sexta-feira retrasada em 328,25 centavos. Quebrou o canal constrito em que se encontrava, buscando novamente o patamar de 350 centavos. Movimento muito mais baseado em fatores macro do que necessariamente de fundamentos novos.

Nada muda quanto a incerteza da próxima safra Brasil, e os últimos dias de alto calor e chuvas um pouco abaixo da média serão compensadas na próxima semana.

Os estoques certificados estacionaram na semana na casa dos 950 mil sacos. Como boa parte deste estoque está em portos europeus, segundo comentários de traders ativos na Europa, temos no momento estoques acumulados parados na Europa em virtude da EUDR… e com o inverso… Os estoques certificados vão começar a desovar mais rapidamente quando Brasil ficar mais caro e/ou os embarques caírem fortemente. Pelos possíveis números de embarques em Janeiro, não veremos grandes decréscimos.

● Macro & Dólar: com o amansamento da retórica tarifária pelo governo Trump, os receios inflacionários cederam e o mercado volta a esperar corte nos juros e consequente enfraquecimento da moeda americana. Com isto, investimentos de mais riscos (como commodities) se tornam mais atrativos. Como comentamos semana passada, Dólar testar os R$5,80 será muito mais uma função da economia americana dos grandes avanços por aqui. O mercado chegou aos R$5,87 até o governo anunciar o possível lançamento de um “supermercado federal“ com preços, intervenções nos preços de alimentos etc, etc… (o que foi logo desmentido). Mas foi o suficiente para jogar o Dólar acima dos R$5,90 novamente.

A enxurrada de medidas provisórias do governo Trump foi muito mais em função de combate a imigração ilegal e dar uma machada final na onda woke de DEI (diversidade, inclusão, etc…).

Agora voltamos ao mérito… Da retórica a realidade, Trump & China.

Você começar uma nova guerra comercial com alguém que está $1 trilhão de dólares na sua frente, pode não ser algo que você queira fazer na emoção do momento. $1 trilhão de dólares é o superávit de trade entre a China e o resto do mundo em 2024 (é um belo barril de munição).

Só com os EUA foram $360 bilhões apesar de todas as tarifas já impostas.

Os USA ainda dependem muito da China em metais raros, eletrônicos de telecomunicações, energia solar, entre outros.

Os números oficiais de crescimento em 2024 foram de 5%, porem economistas renomados (Chineses de empresas estatais… que depois das declarações devem estar presos) indicaram que o crescimento real deve ter ficado em 2,4%.

A indicação de que várias novas frentes de conversas estão sendo abertas novamente (começando por já duas conversas entre Trump e Xi), continuam a mostrar um pacotão de tarifas muito mais ameno do que se esperava.

Uma janela de bondade já se abriu esta semana com a China barrando embarques brasileiros de soja alegando problemas fitossanitários…caso as conversas se adiantem… advinha quem cobrirá estes embarques… A dança apenas começou… isto sem contar com México e Canadá.

Com NY nos níveis atuais, acho muito pouco provável qualquer ação em termos de tarifas em café. Os republicanos sabem muito bem que o humor do eleitorado pode mudar rapidamente se tivermos um retorno inflacionário nos EUA (principalmente alimentos). Então, tarifas em alimentos e tarifas que impactem a inflação muito pesadamente provavelmente não acontecerão, com exceção quando a mensagem pese mais que o efeito inflacionário.

A Colômbia foi a primeira… Trump acabou de taxar a Colômbia em 25% em suas exportações após o Governo Colombiano não autorizar o pouso de 2 aviões com Colombianos sendo repatriados. Não tenho informações se café está incluso, mas a notícia parece ser abrangente. E pode aumentar para 50% se em 1 semana a Colômbia não mudar a atitude.

● Fundamentos: o mercado continua altamente invertido. Carregar café continua sendo um péssimo negócio. A arbitragem Londres & NY continua abrindo e com os últimos pregões chegando perto dos 100 pontos. Interessante notar que a demanda por Robusta deveria estar muito forte, mas fontes no Vietnam indicam os embarques Jan/Fev já estão boa parte cobertos (até pelo ano novo lunar em que tudo mais ou menos para por lá), e as coberturas de Março/Abril ainda lentas, com ofertas de +70 no Março e +110 do Abril.

Muitos relatos de torrefações média e pequenas também em forte aperto, tanto na Europa como nos EUA.

Muitos traders não só preocupados com defaults de embarques, como também com o risco crédito destas torrefações. Esperamos ansiosos os reports trimestrais das grandes torrefações para termos um bom termômetro que o alto impacto de preços pode ou não estar afetando o consumo.

Um olhar nas ações das grandes empresas com capital aberto, e vemos um cenário não tão bom.

Temos logo na frente reuniões do FED e do BC sobre a taxa de juros. Um aumento do BC e uma nova redução do FED, na esteira de não aplicação de tarifas pode levar rapidamente a testarmos os R$5,80 no Dólar. Novamente dependendo de nenhuma nova bobagem por aqui (o que sabemos, não é fácil de conter).

● Safra Brasil: Entramos em Fevereiro. Turma vai começar a sair mais a campo para estimativas. Novamente não será surpresa uma grande amplitude entre números.

Chegam comentários da safra de Arábica um pouco melhor do que se supunha, e uma safra de Conilon também razoavelmente melhor.

No momento, o macro e as incertezas do tamanho da safra e os impactos na demanda ainda devem prevalecer e sustentar NY. O Dólar na última foto também favorece investimentos de riscos.

Boa semana a todos!!

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