(Resumo do mês de Junho/2024)
No mês de junho/2024, o café Arábica, na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em 225,50 cents/lb, chegando a se aproximar dos níveis de 240,00 cents/lb para depois, ser negociado abaixo de 220,00 cents/lb e encerrar o mês com fechamento em 226,80 cents/lb, portanto, um mês de extrema volatilidade cujo fechamento final se manteve próximo das cotações do início do mês.
Na ICE Futures Europe (Bolsa de Londres), o Canephora (Robusta/Conilon) iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em USD 4.110/ton, para depois, no dia 06, ser negociado próximo dos níveis de USD 4.400,00/ton e, então, devolver os ganhos e encerrar o mês com fechamento em USD 4.011,00/ton. Os motivos desses movimentos nas principais Bolsas de café do mundo com algumas perspectivas futuras, a seguir…

FATORES DE SUSTENTAÇÃO
Apesar da extrema volatilidade no decorrer do mês de junho/24, com muitos picos e baixas, as cotações nas principais Bolsas de café do mundo, encerraram o mês com valores próximos aos que iniciaram. Produtor deve ficar atento para fazer suas médias, a volatilidade sempre propõe oportunidades.
Dentre os principais motivos para os momentos de alta vistos no decorrer do mês, é preciso enfatizar a escassez de curto prazo com as apreensões relacionadas à oferta global de café diante as adversidades climáticas que seguem no radar batendo de frente à uma demanda crescente e resiliente.
No que tange a questão dos fundamentos de oferta e demanda, o destaque do mês foi para os números do relatório de oferta e demanda global do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) para o ciclo 2024/25. De acordo com a Entidade, um incremento 3,6 milhões de sacas na produção do Brasil e de 2,75 milhões de sacas na produção da Indonésia são os principais propulsores para o aumento da safra mundial de café para 2024/25, que deverá recuperar 7,1 milhões de sacas em relação ao ciclo 2023/24.
Devido a esse incremento, o USDA também aponta um aumento de 3,6 milhões de sacas nas exportações globais, que devem atingir o volume de 123,1 milhões de sacas. Observando esses números, de produção e exportações globais, individualmente, é possível formar um sentimento baixista para o mercado de café.
Contudo, ao inserir nesta balança, os dados de consumo global e estoques de passagem ao final do ciclo, a
história muda. Dados do USDA apontam que o consumo global deverá aumentar em 3,1 milhões de sacas, totalizando 170,60 milhões.
Quanto aos estoques de passagem, a Entidade aponta que, após três anos de declínio, devem apresentar uma ligeira recuperação de 1,9 milhão de sacas, indo para 25,8 milhões de sacas, o que significa que a relação percentual dos estoques de passagem frente ao consumo global deve seguir em um nível crítico ao final desse ciclo. Para se ter melhor noção, ao final do ciclo 2022/23, os estoques de passagem representavam 15,71% do consumo global de um ano.
Ao final do ciclo 2023/24, essa relação deve ficar em 14,28%. Já para o ciclo 2024/25, a previsão é que os estoques de passagem representem algo em torno de 15,11%, um nível ainda alarmante para um setor que há três décadas atrás chegou a deter estoque suficiente para quase um ano de consumo. E, agora, esses estoques mal devem dar para dois meses do consumo global.
Quanto a atual safra brasileira, inúmeros produtores seguem relatando uma impressão de que a produção deste ano não deve ser tão volumosa como previsto pelo o USDA, que coloca a safra brasileira 2024/25 no mesmo patamar da safra recorde de 2020/21. Além disso, seguem surgindo diversos relatos de que a safra brasileira deste ano, em termos de peneira, está deixando muito a desejar, com lotes repletos de grãos miúdos.
Consequentemente, o diferencial de base (FOB Brasil para Bolsa de NY), que na maioria das vezes trabalha com deságio, segue mais reduzido e a depender do padrão, até mesmo positivo. Como exemplo, um Fine Cup 17/18, que há um ano encontrava-se na casa de -15,00 cents/lb e há um mês na casa de -5,00 cents/lb, atualmente está girando em torno de +2,00 cents/lb.
No que tange a safra brasileira para o ciclo 2025/26, as condições climáticas já ligam o sinal de alerta. Apesar de cedo para uma conclusão, os dados preocupam. Como exemplo, a estação de Avisos Fitossanitários da Fundação Procafé em Varginha, ao final do mês de junho, apontou disponibilidade de água no solo de -81,5mm, contra +29,3mm há um ano atrás e contra um média histórica de +38,6mm. Quanto às temperaturas, no mês de junho a média ficou em 18,4ºC, contra uma média histórica de 16,8ºC, ou seja, 1,6ºC a mais. Portanto, é preciso seguir acompanhando o clima no Brasil com muita cautela para o ciclo de 2025/26.
O relatório da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), de junho de 2024, aponta uma fase de neutralidade para o momento atual. Porém, existe uma probabilidade de 65% de ocorrência do La Niña para o segundo semestre deste ano, com possível início entre julho e setembro, e indícios de que possa se estender até o final de 2024 ou início de 2025.
É muito importante seguir atentos à essa possibilidade, sobretudo, em um cenário de aperto na oferta, pois o La Niña, geralmente estabelece padrões climáticos mais secos e frios em importantes regiões cafeeiras do Brasil, o que poderia, de vez, colocar em xeque o potencial produtivo para o próximo ciclo.
Dentre os principais motivos para os atuais níveis recordes de exportação brasileira que, de certo modo inibiram alguns avanços nas cotações, é importante destacar os fundamentos de oferta e demanda. A demanda por café no mundo está aquecida e vem crescendo, ainda mais nos mercados orientais e asiáticos em que o café não era um hábito e vem se tornando.
Atrelado a isso, é importante mencionar que as indústrias nos países importadores, no início deste ciclo adotaram a estratégia de não carregar estoques em função dos níveis de juros mais altos e também na expectativa de preços mais baixos e, agora, com estoques menores e a demanda aquecida, estão tendo que participar mais do mercado.
Certamente os desafios logísticos que as exportações de café vêm enfrentando, com gargalos principalmente nos portos é um fator de alta para as cotações uma vez que tende a limitar o fluxo de exportações. Apesar dos recentes recordes de exportação, é evidente o fato de que há uma necessidade crítica de melhorias na infraestrutura dos portos do Brasil.
De acordo com o Diretor Técnico do Cecafé, Eduardo Heron, há um esgotamento da capacidade portuária, não somente em Santos, mas também em outros portos brasileiros, o que resulta em atrasos nas operações dos navios com consequente lotação dos pátios dos terminais portuários. Apesar do recorde de exportação no mês de maio, de 4,397 milhões sacas de café, estes atrasos causam prejuízos significativos aos exportadores, com perdas estimadas em aproximadamente 119 milhões de dólares (cerca de 600 milhões de reais) em maio de 2024. E os desafios não se limitam ao primeiro semestre de 2024. Com o aumento esperado das exportações no segundo semestre, incluindo mais café além de outras commodities, a situação pode se agravar.
Outro destaque no mês, que colaborou fortemente para a valorização do café no mercado físico, foi a alta do dólar cuja ptax saiu de R$ 5,2373 no primeiro dia do mês para encerrar o mês a R$ 5,5589. Essa forte alta, certamente agregou na composição dos preços no mercado físico, elevando o potencial de pagamento dos exportadores aos produtores. Exemplificando: esta valorização do Dólar de R$ 0,32, tende a elevar o valor (em Reais) de um café de exportação no padrão Good Cup 3/4 Mtgb (14/16), precificado no último dia do mês, em aproximadamente USD 275,00/saca, em quase R$ 90,00.
No decorrer do mês de junho, tecnicamente o mercado operou respeitando o intervalo de 220,00 a 240,00 cents/lb. Nos momentos em que as cotações se aproximaram do suporte de 220,00 cents/lb, fatores técnicos deram suporte às cotações evitando assim perdas maiores e promovendo uma recuperação dos preços na Bolsa de NY.
FATORES DE PRESSÃO (BAIXA)
Em um mês de muita volatilidade, apesar de seguir respeitando o intervalo de 220,00 cents/lb a 240,00 cents/lb, as cotações chegaram ser pressionadas fortemente em determinados momentos do mês de junho/2024, chegando a romper, inclusive, o suporte de 220,00 cents/lb em determinadas ocasiões.
Dentre os principais motivos para os momentos de baixa vistos no decorrer do mês de junho/24, os níveis recordes de exportação do Brasil merecem destaque. No mês de maio/24 o Brasil exportou 4,397 milhões sacas de café, um recorde para o mês, que gerou também a maior receita cambial já registrada em qualquer mês da história, superando US$ 1,000 bilhão. As exportações de maio representam um crescimento de quase 80% em volume e mais de 85% em receitas quando comparado com maio do ano passado.
Pra se ter melhor noção, de julho de 2023 até maio deste ano, o Brasil já havia exportado 43,7 milhões de sacas, faltando apenas o mês de junho para encerrar o ciclo, as exportações estavam a apenas 2 milhões de sacas para superar o volume recorde alcançado no ciclo 2020/21. Apesar disso, naquele ciclo, diferentemente do atual ciclo, o recorde de exportação esteve atrelado ao recorde de produção que o Brasil alcançou no ano de 2020.
Apesar do Cecafé ainda não ter publicado o relatório de exportação do mês de junho, a uma altura dessas, de acordo com dados da Secex, o Brasil já superou os 2 milhões de sacas que faltavam pra que as exportações acumuladas nesse ciclo 23/24 superasse o ciclo 20/21. Apesar dos níveis críticos de estoques e do aperto na oferta global, o alto volume de exportação atua como um fator de pressão para as cotações.
Dentre os principais motivos para os atuais níveis recordes de exportação brasileira destaca-se o fato de que a demanda por café no mundo está aquecida. Diante esse cenário de escassez, o Brasil, como maior produtor do mundo, vem aproveitando seus estoques restantes para suprir a demanda que outras origens, em especial dos canephoras, não vem sendo capazes de suprir, o que abre espaço para o Brasil aumentar seu market share a nível global uma vez que o Brasil é capaz de suprir não somente quantidade, mas também uma diversidade de qualidade que somente o Brasil é capaz de ofertar.
Muita atenção, o mercado invertido nas principais Bolsas de café do mundo segue com o padrão invertido, com cotações de vencimentos mais longos menos valorizadas do que as cotações com vencimento mais curto. Isso sinaliza que, a expectativa dos players segue sendo de que as cotações devem ser pressionadas nos próximos meses devido a uma chegada mais expressiva de cafés do Brasil e Indonésia, que estão em plena fase de colheita, ao mercado. Neste quesito, é válido ressaltar que, se o produtor mantiver sua atual estratégia de dosar as vendas, em especial nos momentos de baixa dos preços, esse fator de pressão pode ser atenuado.
Os estoques certificados da Bolsa de NY que ao final de junho/23 eram de 544.915 sacas, encerraram o mês de junho/24 com 807.394 sacas, representando um leve aumento de 22.623 sacas quando comparado as 784.771 do último dia do mês de maio/24. Apesar deste leve aumento pressionar as cotações, esses níveis de estoques ainda são considerados críticos.
Como exposto em fatores de sustentação (logo acima), no decorrer do mês de junho, tecnicamente o mercado operou respeitando o intervalo de 220,00 a 240,00 cents/lb. Nos momentos em que as cotações se aproximaram da resistência de 240,00 cents/lb, fatores técnicos pressionaram as cotações impedindo o rompimento desta linha e promovendo uma correção baixista.
Apesar de favorecer a composição dos preços no mercado físico, a valorização do Dólar frente ao Real que, atrelado à alta do US Dollar Index, estimula as exportações das origens, também aumenta o interesse de venda nas principais Bolsas de Café do mundo, gerando, assim, estimulo baixista nestes mercados.
No cenário nacional, a disparada do Dólar contra o Real se deve principalmente às críticas de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e à expectativa do mercado financeiro sobre o anúncio de medidas de corte de gastos para o orçamento de 2025 e do contingenciamento de verbas públicas para o orçamento de 2024.
No cenário internacional, a valorização da moeda norte americana segue tendo como principal razão, a mudança de projeção dos juros nos Estados Unidos que, frente a dados de emprego e PIB mais positivos, devem manter os juros mais altos por mais tempo na tentativa de conter a inflação do país.
MENSAGEM AOS CAFEICULTORES
“Enfim, muito fatores de alta e de baixa colidindo, o que eleva a volatilidade do mercado, que segue extremamente incerto. Se por um lado, as cotações nas principais Bolsas de café do mundo seguem dentro de um padrão invertido, apontando um sentimento baixista por parte dos players de mercado para o segundo semestre, os fundamentos de oferta e demanda, mostram que a safra pouco maior para o ciclo 2024/25 não será capaz de gerar estoques de segurança. Atrelado a esse quadro de fundamentos justos, praticamente sem excedente, o risco climático está aí e, mesmo após quatro anos de adversidades, parece não querer dar tréguas ainda esse ano. Frente a toda essa incerteza que ronda o mercado de café, a melhor estratégia segue sendo a de não depositar muitas cartas em poucos jogos, o ideal é seguir escalonando as vendas, aproveitando os picos não somente das cotações do café, mas também do dólar.”
Varginha (MG), 03 de JULHO de 2024.
Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar
Superintendente Executivo – Fundação Procafé