No mês de agosto/2024, o café Arábica, na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em 226,40 cents/lb, para depois, na última semana do mês, se aproximar de níveis não vistos desde fevereiro/2022, ao ser negociado a 259,45 cents/lb e, então, encerrar o mês com fechamento em 244,05 cents/lb, portanto, um mês de alta.
Na ICE Futures Europe (Bolsa de Londres), o Canephora (Robusta/Conilon), iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia em USD 4.083/ton e, ainda na primeira semana do mês, bateu suas mínimas ao ser negociado abaixo de USD 4.000,00/ton.
Todavia, após um forte movimento de alta, na última semana do mês, o Robusta/Conilon chegou a ser negociado no nível recorde de USD 5.180,00/ton, encerrando o mês cotado a USD 4.948,00/ton, portanto, mais um mês altista na Bolsa de Londres. Os motivos desses movimentos nas principais Bolsas de café do mundo com algumas perspectivas futuras, a seguir…
FATORES DE SUSTENTAÇÃO (ALTA)
No mês de agosto/24, o mercado seguiu extremamente volátil. É importante observar que nos últimos três meses, o mercado veio alterando sua curva de preços e subindo alguns degraus.
No mês de junho/24, a Bolsa de NY operou dentro do intervalo de 215,00 cents/lb a 235,00 cents/lb, no mês de julho/24, as cotações saltaram para o intervalo de 225,00 cents/lb a 250,00 cents/lb, enquanto na segunda quinzena do mês de agosto/24, acabaram consolidando um novo patamar de 230,00 cents/lb a 260,00 cents/lb, o que expõe o fato de que, mês a mês, o mercado já vem tendo uma correção frente às apreensões com as adversidades climáticas que devem seguir impactando negativamente o quadro de oferta.
Na Bolsa de Londres, a curva de preços também veio saltando alguns degraus nos últimos meses, com destaque para o mês de agosto/24 em que o Robusta/Conilon alcançou um recorde histórico ao trocar de mãos acima de USD 5.000,00/ton, levando-o a ser negociado, ao final do mês, em um patamar muito próximo do Arábica tipo 6/7 de bebida dura.
A luz amarela está acesa. Clima segue castigando as lavouras cafeeiras de um modo geral. O mês de agosto/2024, já deu indícios de que o mercado segue cada vez mais apreensivo com o as adversidades climáticas que a cafeicultura vem enfrentando atreladas ao quadro de oferta escassa que deve perdurar por, ao menos mais um ou, até mesmo, dois ciclos.
No Brasil:
Safra 2024/25: diferentemente do que o USDA divulgou em seu “Relatório Mundial de Produção, Mercados e Comércio”, a safra brasileira para o ciclo 2024/25 está longe de alcançar o nível recorde da safra de 2020/21. Conforme exposto na Síntese do mês de julho/24, há um mês atrás, produtores, agrônomos e técnicos já davam indícios de que a atual safra brasileira está bem longe de se aproximar da safra recorde de 2020/21. Para o Robusta/Conilon, essa perda de potencial já era perceptível há alguns meses. Para o Arábica, começou a ganhar mais evidência recentemente com a proximidade do término nos trabalhos de colheita.
Segundo pesquisadores da Fundação Procafé, no Podcast Procafé nr. 134, intitulado “Cadê o café que estava aqui?” (https://www.youtube.com/watch?v=uclLuE7UngQ), há alguns meses atrás, existia-se um consenso entre vários profissionais do setor que, apesar de distante da safra recorde de 2020, a safra de 2024 poderia ser maior do que a safra de 2023.
E, agora, a impressão que se têm é que, ao menos no Sul de Minas, a safra de 2024 deve ficar abaixo da safra 2023, o que já significa uma redução de mais de 1,5 milhão de sacas no comparativo com as estimativas de meses atrás.
De acordo com os Pesquisadores da Procafé, Alysson Vilela Fagundes e Alexandre Pedrosa Pinto, até mesmo os produtores irrigados vêm tomando susto ao fecharem suas safras, pois o principal problema que impactou a safra 2024, não foi a falta de água, mas sim as elevadas temperaturas (ocasionadas pelo El Niño). Reforçando este fato, em entrevista ao Notícias Agrícolas, o Presidente da Cooxupé, Sr. Carlos Augusto Rodrigues de Melo, afirmou que no raio de atuação da Cooperativa, tudo leva a crer que a safra de 2024 deve ser igual ou inferior à safra de 2023.
Safra 2025/26: as altas temperaturas juntamente com a escassez de chuvas, já ligaram o sinal de alerta. Para se ter melhor noção do atual cenário climático, um comparativo do balanço hídrico baseado em dados da Estação de Avisos Fitossanitários da Fundação Procafé em Varginha para os meses de agosto de 2020, de 2021, de 2022, de 2023 contra o mês de agosto de 2024 expõe o fato de que, se nos últimos anos o déficit hídrico do mês de agosto, abaixo da média histórica, estava crítico, agora, em 2024, está caótico.
Em 08/2020, o déficit hídrico era de -94,1mm, em 08/2021 era de -101,1mm, em 08/2022 era de -97,7mm, em 08/2023 era de -30,8mm. Já o mês 08/2024, o déficit hídrico de Varginha fechou em -185,0mm. Essa situação alarmante, se estende para outras importantes regiões cafeeiras do país, o que já coloca em xeque uma safra volumosa para o próximo ciclo (2025/2026).
Apesar do cafeeiro se apresentar como uma planta resiliente, a uma altura dessas, é difícil acreditar em uma safra volumosa para o ano que vem. Além disso, o mercado deve se atentar ao fato de que, em inúmeras regiões do país as plantas estão extremamente estressadas. Quando as chuvas retornarem, é possível que ocorram floradas com alta intensidade de flor, mas é preciso ser cauteloso e não se enganar, pois lembrem-se que flor não é café e, por experiência de anos anteriores, frente ao atual quadro climático, com alto nível de déficit hídrico aliado a temperaturas elevadas, dificilmente uma florada intensa resultará em uma alta carga de café.
No Vietnã, é válido recapitular que o quadro climático com escassez de chuva nos primeiros meses do ano, quando geralmente ocorrem as floradas vietnamitas, entre março e abril, impactou negativamente o potencial produtivo para o próximo ciclo (2024/25) que, nesta origem, se inicia em outubro e termina em setembro.
A Volcafé projeta um déficit global para os Canephoras de 4,6 milhões de sacas em 2024/25, um déficit menor do que o déficit de 9 milhões de sacas visto em 2023/24, mas será o quarto ano consecutivo de déficits do Canephoras. Ademais, as exportações reduzidas de café do Vietnã, o maior produtor mundial de Canephoras, também dão sustentação ao mercado. De acordo com o Departamento Geral de Alfândega do Vietnã, as exportações de café vietnamita de janeiro a agosto apresentaram uma queda de -12,5% quando comparado com o mesmo período de um ano atrás.
É importante ressaltar que, conforme exposto logo abaixo, em fatores de pressão, o fluxo de exportações globais está aquecido, mas não por excesso de disponibilidade e sim pelo fato de que a demanda de importação está aquecida, com destaque para a União Europeia, cujas indústrias seguem antecipando compras e formando estoques frente à lei de antidesmatamento, denominada EUDR (Regulamento de Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia), que está programada para o início de 2025. Para se ter melhor noção, as importações europeias de café nos sete primeiros meses deste ano somaram 13,3 milhões de sacas, 64,9% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Apesar da leve recuperação dos estoques certificados da Bolsa de NY que, no dia 30/08/2024 encontravam-se em 847.873 mil sacas, contra 814.924 mil sacas de um mês atrás e 484.738 mil sacas de um ano atrás, os atuais níveis ainda são considerados críticos.
Do dia 06/08 até 19/08, o dólar operou em queda contra o Real, com a Ptax saindo de R$ 5,7646 para 5,4237, isso com certeza colaborou para o movimento altista do café nas principais Bolsas de café do mundo. Do dia 20/08 em diante, a Ptax deu início a um movimento de recuperação, encerrando o mês R$ 5,6562. Esse movimento de recuperação do dólar nos últimos dez dias do mês deveria ter pressionado as cotações do café nas Bolsas e, de certo modo, pressionou.
Todavia, mesmo diante essa pressão, nos últimos 10 dias do mês, as cotações do café nas Bolsas ainda apresentaram algumas altas, o que é um sinal muito claro de que o mercado segue firme. Com relação à composição dos preços no mercado spot, com o Dólar sendo negociado em níveis superiores, assim como no final do mês, os exportadores puderam precificar melhor os valores a serem pagos aos cafeicultores.
Já o Índice do Dólar Norte-Americano (DXY – US Dollar Index), iniciou o mês a 104,42 pontos e encerrou o mês a 101,73 pontos, portanto, um mês baixista para o DXY, o que, certamente, colaborou para a alta das cotações do café nas principais Bolsas de café do mundo. Além disso, o Índice CRB, principal índice de commodities do mundo, também operou em alta no decorrer do mês de agosto, dando ainda mais sustentação às cotações do café.
FATORES DE PRESSÃO (BAIXA)
No mês de agosto/24, apesar de um mês altista, as cotações na Bolsa de NY, logo na primeira semana do mês, chegaram a esbarrar nos níveis de 220,00 cents/lb, assim como no dia 13/08, após um forte movimento altista, chegou a apresentar uma queda de quase 1000 pontos em apenas um dia, evidenciando a alta volatilidade do mercado. Na Bolsa de Londres, os movimentos foram similares, isto é, um mês altista com momentos pontuais de quedas nos mesmos dias em que ocorreram as quedas na Bolsa de NY.
É natural que o fluxo das exportações brasileiras mais intenso, com Robustas/Conilons e Arábicas da safra nova (2024/25) dando as caras ao mercado, atue como fator de pressão para as cotações. Tanto é, que as exportações brasileiras seguem aquecidas. Após um recorde de exportações do ciclo 2023/24 (julho/23 a junho/24), que alcançou o volume histórico de 47,300 milhões de sacas, dados do Cecafé apontam que as exportações brasileiras de café totalizaram 3,774 milhões de sacas em julho desse ano, primeiro mês da safra 2024/25, um volume que implica evolução de 25,7% sobre os 3,002 milhões de sacas embarcados no mesmo período de 2023.
Já no segundo mês do ciclo 2024/25, agosto/24, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), apontam que as exportações brasileiras de café totalizaram 3,577 milhões de sacas, volume que implica evolução de 3,73% sobre os 3,449 milhões de sacas embarcados no mesmo período de 2023. As exportações globais também seguem aquecidas.
Dados da Organização Internacional do Café (OIC) apontam que no mês de julho/24, as exportações globais somaram 11,286 milhões de sacas, um aumento de 12,2% quando comparado com as 10,062 milhões de sacas exportadas em julho/24. No acumulado do ano safra 2023/24 (outubro/23 a julho/24), as exportações globais somaram 115,008 milhões de sacas, um aumento de 10,5% quando comparado com o mesmo período do ano safra 2022/23, quando foram exportadas 104,050 milhões de sacas.
Apesar da demanda aquecida devido à lei europeia antidesmatamento, o consumo mundial começa a apresentar um ritmo de crescimento mais lento, uma vez que as indústrias de torrefação já começam a registrar dificuldades nas vendas devido aos atuais níveis de preços do café e à persistência da pressão inflacionária em importantes países consumidores. Com isso, os diferenciais de base, embora ainda valorizados, no mês de agosto/24 apresentaram queda. Como exemplo, um good cup, tipo 3/4, Mtgb, que ao final do mês de julho/24 estava em -17,00 cents/lb, encerrou o mês de agosto em -20,00 cents/lb, diferença que, considerando um câmbio de R$ 5,50, equivale a aproximadamente R$ 22,00/saca.
Em um mês altista como agosto/24, movimentos de correção técnica com realização de lucros por parte de fundos de investimentos e especuladores, frente a um mercado sobrecomprado, se tornam algo comum. E na medida em que tais correções técnicas ocorrem, alguns níveis de suporte ou resistência podem se romper intensificando assim as correções, tal como ocorreu no dia 13/08, quando as cotações na Bolsa de NY apresentaram uma queda próxima de 1.000 pontos.
A atual situação das lavouras de café em grande parte do Brasil é de plantas extremamente estressadas. Assim, quando as chuvas retornarem, é possível que ocorram floradas com alta intensidade de flor, o que geralmente tende a pressionar as cotações. Contudo, conforme explicado em fatores de alta (logo acima), ressalta-se que frente ao atual quadro climático, com alto nível de déficit hídrico aliado a temperaturas elevadas, dificilmente uma florada intensa resultará em uma alta carga de café.
Os desdobramentos da política de aperto financeiro dos EUA seguem ditando o apetite ou a aversão ao risco por parte dos players de mercado. Neste quesito, é importante ressaltar que indícios de fragilidade no mercado de trabalho norte-americano intensificam a expectativa do mercado de corte nos juros dos EUA ainda no mês de setembro. No primeiro semestre, a demanda forte por trabalhadores veio sendo uma das principais justificativas da inflação americana, pois mantém uma pressão de alta nos salários estimulando a inflação, protelando o corte dos juros e elevando a aversão ao risco.
Consequentemente, o mercado segue atento à divulgação do relatório de empregos dos EUA (payroll), uma vez que esse indicador será crucial para determinar a saúde da maior economia do mundo e, consequentemente, o tamanho do corte da taxa de juros do FED (Federal Reserve – Banco Central dos EUA) na próxima reunião, agendada para 18 de setembro. Caso a expectativa de corte se concretize, um maior apetite ao risco por parte dos players de mercado poderá impactar positivamente nas cotações de café, do contrário, a aversão ao risco poderá prevalecer e impactar negativamente as cotações.
MENSAGEM AOS CAFEICULTORES
“Sinal de alerta ligado, a luz amarela acendeu. Assim, o produtor deve ponderar mais ainda em suas vendas, pois, se a falta de chuva persistir por mais tempo de modo a impactar ainda mais a oferta, é possível que vejamos mais alguns ajuste positivos na curva do preço. Apesar disso, é importante não vislumbrar altas descomunais. É necessário ter em mente que, nos atuais níveis de preços, movimentos de alta muito intensos podem ser limitados frente ao fato de que, há uma altura dessas, as indústrias já começam a ter dificuldade de repassar os ajustes dos preços para seus consumidores finais sem que isso afete o crescimento do consumo. Como não se sabe qual o limite do topo, é importante aproveitar as oportunidades que o mercado propuser e, dosando as vendas, fazer médias sem apostar muitas cartas em poucos jogos.”
Varginha, 05 de setembro de 2024.
Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar.
Superintendente Executivo – Fundação Procafé