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Embrapa lança documento com áreas recomendadas para cultivo da nogueira-pecã no Sul do País

Um documento que indica as áreas mais propícias para o cultivo da nogueira-pecã no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná será lançado pela Embrapa Clima Temperado (RS) durante a Abertura Oficial da Colheita da Noz-pecã, no dia 29 de abril. O evento será on-line, no canal da Emater/RS-Ascar no YouTube, às 9h.

O “Zoneamento Edafoclimático da Nogueira-pecã para a Região Sul do Brasil” promove o ordenamento territorial e indica as melhores regiões para produção sob a perspectiva da sustentabilidade. Quanto mais apta a área, menor o uso de insumos e a intensidade do manejo e maior a exploração do potencial produtivo e qualitativo das nogueiras-pecã, refletindo em produtividade.

“Foi uma importante conquista. E uma das primeiras demandas reais que o setor produtivo trouxe para a Embrapa no início do projeto de pesquisa”, explica o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Carlos Martins, responsável pelo projeto “Bases sustentáveis para a produção de noz-pecã no Brasil”, iniciado em 2017 e do qual o documento faz parte dos resultados.

O zoneamento tem como base mapas de solos, bem como dados climáticos dos três Estados do Sul, como quantidade de horas de frio e níveis de umidade do ar. A indicação das regiões mais ou menos aptas ao cultivo, principalmente para implantação de novos pomares, é feita a partir do cruzamento desses dados. 

Segundo Martins, os solos mais adequados para a cultura são profundos, ricos em matéria orgânica, com boa fertilidade e, principalmente, que não têm problemas de drenagem. Além disso, a nogueira-pecã necessita de qualidade de frio acima de cem horas anuais e não tolera alta umidade. “Áreas litorâneas, de solos muito encharcados e que não têm frio, não são muito propícias ao cultivo”, exemplifica.

Percepção do setor produtivo

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan) e coordenador da Câmara Setorial da Noz-pecã, Demian Segatto, o zoneamento é importante porque dá mais segurança a quem pretende investir na cultura, além de ajudar na escolha das cultivares mais adequadas à região onde o pomar está localizado. 

Segundo Segatto, o retorno do investimento em pomares comerciais acontece somente depois de 15 anos. Ele, que também é produtor no município de Pantano Grande (RS), cultivou 60 hectares em 2013 e estima custo médio anual de 16 mil reais por hectare. “É um investimento de longo prazo, com retorno longo e com altos valores. Então eu não posso correr o risco de fazer esse investimento em uma área inadequada, em uma região que não seja propícia”, justifica.

Para ele, o documento também é base para outros trabalhos, como o zoneamento de risco ambiental, que alicerça o acesso a financiamentos bancários. “A existência de um zoneamento edafoclimático, que indica a cultura como viável no nosso estado e indica as regiões onde pode ser plantada, é algo que profissionaliza a cultura e nos coloca no patamar das principais frutíferas do estado em relação ao aspecto econômico”, conclui. 

Pesquisador Carlos Martins em curso sobre a Nogueira-pecã em 2018. (Créditos: Paulo Lanzetta)

Realidade da cultura no país

A nogueira-pecã foi introduzida no Brasil em 1870, mas somente nas décadas de 1960-1970 passou a ser explorada comercialmente, especialmente na Região Sul do Brasil. Segundo dados da Embrapa e do International Nut and Dried Fruit (INC), a produção em 2019 projetou o Brasil mundialmente, com safra recorde de 3,5 mil toneladas, tornando o país o quarto maior produtor do fruto. Em 2021, a expectativa é de um novo recorde: superar 4,5 mil toneladas.

O crescimento em termos de área cultivada foi de 930 hectares, em 2004, para cerca de dez mil hectares em 2019. Desse total, cerca de 70% está no RS, 22% em SC e 8% no PR. Mas, apenas 4,5 mil hectares estão em fase produtiva. A produtividade média, em 2021, está prevista para superar a cifra de uma tonelada por hectare.

Esse aumento, de acordo com Martins, ocorreu, principalmente, pelo investimento em novos pomares, que agora estão entrando em produção, e pela melhoria do aporte tecnológico. O surgimento de novos atores, como empresas para processamento e comercialização ou para desenvolvimento de máquinas e equipamentos, também ajudou. “A cadeia produtiva como um todo se desenvolveu”, afirma.

Mais crescimento para o setor

De acordo com Segatto, o crescimento da cultura deve seguir de forma exponencial. Foram 1,2 mil novos hectares em 2019. “Essa produção de 4,5 mil toneladas que vamos ter em 2021 vai continuar crescendo nos próximos anos pelo amadurecimento dos pomares que, ao longo dos anos, passam a apresentar uma produtividade mais homogênea e significativa, fora os novos pomares que estão sendo implantados”, avalia.

A situação acaba se tornando um desafio para o setor, uma vez que esse crescimento não tem sido acompanhado pelo aumento do consumo no mercado nacional. Com volume de produção maior do que as taxas de consumo, o preço de comercialização tende a diminuir. 

“Antevendo essas questões de comercialização, o IBPecan vem trabalhando fortemente com a consolidação e ampliação do mercado interno. Temos feito ações para melhorar o manejo da fertilidade, das podas, do controle de pragas e doenças dos pomares, além de melhorar as condições de armazenagem e acondicionamento para aumentar o tempo de prateleira, tudo visando entregar um produto de mais qualidade, de forma que a noz-pecã venha ser a opção do consumidor na hora de escolher entre nozes e castanhas”, afirma Segatto.

Atualmente, a noz-pecã representa de 3 a 4% do mercado mundial de nozes e castanhas, segundo o IBPecan. Então, quando comparada a outras nozes e castanhas, ainda ocupa uma fatia pequena desse segmento, com margem para crescimento.

Zoneamento garante a exploração do potencial produtivo e qualitativo dos pomares. Produção em 2021 deve superar 4,5 mil toneladas. (Créditos: Paulo Lanzetta)

Abertura de mercados internacionais

A abertura de novos mercados, principalmente chinês, também está no horizonte da cadeia produtiva para escoamento da produção. Internamente, o preço médio do fruto com padrão comercial – seco a 4,5% de umidade, com mais de 50% de rendimento e classificado por variedade e tamanho – é de 13 reais o quilo. 

Mas, no mercado internacional, o valor é mais atrativo e já chegou a 4,5 dólares o quilo, segundo Demian. “Se pudéssemos exportar a quatro dólares, estaríamos falando de praticamente o dobro do preço nacional, sem impactar na diminuição do preço do mercado interno, porque vai ser possível exportar o excedente”, completa.

Para dar suporte tecnológico e projetar a cadeia produtiva nesses aspectos, a Embrapa Clima Temperado está estabelecendo uma parceria com o IBPecan chamada “Pecan 2030”. A ideia é captar recursos, desenvolver tecnologias e elaborar estratégias com base nas metas do setor para 2030. A projeção é atingir entre 25 e 30 mil hectares plantados. 

No projeto, também está prevista a formalização, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Produção Integrada da Nogueira-pecã, de maneira a viabilizar a rastreabilidade e a certificação, o que também ajudará a acessar novos mercados com a exportação das nozes. Por enquanto, o país ainda importa: foram 125 toneladas importadas da Argentina na safra 2019-2020.

Sobre a elaboração do zoneamento

Para elaboração do zoneamento, foi criado um banco de dados com informações de clima e solo coletadas pela Embrapa Clima Temperado, Embrapa Florestas (PR), Embrapa Informática Agropecuária (SP), Embrapa Solos (RJ), IBGE e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Inicialmente, foram elaborados um zoneamento climático e um zoneamento edáfico (solos), que posteriormente foram sobrepostos para gerar o zoneamento edafoclimático.

“A gente usa um sistema de informação geográfica, um conjunto de softwares e comandos, que permite extrair seletivamente, por posição, por condição, as informações de interesse, assim como fazer cruzamento dos dados de clima com os dados de solo”, explica o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, José Maria Filipini, responsável pelo mapeamento das áreas.

No caso do solo, as avaliações levam em conta fertilidade e declividade acima de 45%, o que dificulta a drenagem. A partir dos dados, as áreas foram definidas como “preferencial”, “recomendadas”, “pouco recomendadas”, “pouco recomendadas com restrições pela fertilidade do solo” – com possibilidade de correção por via tecnológica – e “não recomendadas”.

Já com relação ao clima, foi avaliada a aptidão agroclimática das cultivares utilizadas pelos produtores, de acordo com a necessidade de horas de frio (temperatura inferior ou igual a 7,2 ºC). Essa aptidão levou em conta a necessidade de 300 a 500 horas de frio, de 200 a 300 horas de frio e de 100 a 200 horas de frio. Foram consideradas restritas áreas com menos de cem horas de frio durante o ano e com umidade relativa do ar inferior a 82%.

Com base nestas classificações, o documento considerou apropriadas as regiões com disponibilidade de mais de cem horas de frio anuais e com condições de solo classificadas como “recomendadas” ou “pouco recomendadas com restrições pela fertilidade do solo”. O estado do Paraná apresentou quase 7% do território (2,1 milhões de hectares) com disponibilidade climática e condições de solo favoráveis, o Rio Grande do Sul apresentou 40% (12 milhões de hectares) e Santa Catarina 33,9% (3,8 milhões de hectares).

O trabalho de pesquisa

O projeto “Bases sustentáveis para a produção de noz-pecã no Brasil” teve início na Embrapa Clima Temperado em julho de 2017 e deve se encerrar em agosto deste ano. Dentre os principais resultados estão o desenvolvimento de políticas públicas, a identificação de pragas e doenças, a identificação dos polos de produção e, principalmente, a identificação das cultivares utilizadas. “Antes, ninguém sabia as cultivares que os produtores usavam. Hoje, estamos fazendo identificação genética e morfológica dessas variedades”, explica o pesquisador Carlos Martins.

O trabalho também viabilizou a formação de redes entre instituições e a integração da cadeia produtiva. Em articulação com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Seapdr), foram criados o Programa Estadual do Desenvolvimento da Pecanicultura (Pro-Pecã) e a Câmara Setorial da Noz-pecã. A conexão do setor também resultou na criação do IBPecan, em 2018, e da Associação Brasileira de Nozes, Castanhas e Frutas Secas (ABNC). 

O projeto ainda ajudou a projetar visibilidade internacional ao país, que passou a integrar a   International Nut and Dried Fruit (INC), associação mundial ligada à indústria de sementes e frutas secas. “Antes nós não existíamos em termos de noz-pecã. Hoje, estamos inseridos e reconhecidos internacionalmente. E essa visibilidade se deu muito em cima do que estamos fazendo”, finaliza Martins.

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