Com mais uma safra prejudicada pelo clima, a saúde financeira de parte dos cafeicultores preocupa o setor.
Sob influência do fenômeno La Niña há três anos, o clima tem sido motivo de desafio entre os produtores brasileiros. E quando falamos da cafeicultura, o cenário que vem se montando para 2023 é de muita preocupação. Além das dificuldades quando falamos em produtividade, a vida financeira dos cafeicultores, que ainda mantém apenas a monocultura, tem ligado o sinal de alerta para a possibilidade do abandono da atividade.
O pesquisador da Fundação Procafé, Alisson Fagundes, ressaltou que tem chamado atenção as dificuldades que o cafeicultor vem enfrentando nos últimos três anos e isso aumenta a incerteza quanto ao cenário do ano seguinte. “Se o cafeicultor não for agraciado por qualquer benefício, seja um dinheiro com juros menores, uma alta no preço do café, qualquer coisa, corremos um risco real, sério, e aparente de realmente termos uma grande quantidade de produtores saindo da atividade. E isso é extremamente preocupante, porque quando um produtor sai da atividade ou reduz o seu plantio esse retorno para a cafeicultura é muito lento”.
A problemática do abandono das atividades, segundo o pesquisador, vai muito além do mercado brasileiro. “Isso representa um problema para o Brasil, para o exportador, para o torrefador, um problema para o mundo, porque o Brasil perde a importância no mercado global, reduz as exportações e reduz receita para o governo”.
Safra de 2023
Há três anos as dificuldades climáticas vêm prejudicando a cafeicultura. O pesquisador Alisson, destaca que os problemas vêm se repetindo e a esperança fica agora, somente para uma boa recuperação da safra de 2024.
“Os anos foram praticamente idênticos, o que levou a um problema de déficit hídrico severo, que impactou no pegamento da florada deste ano, que vai refletir na safra do ano que vem. O agravante é que as lavouras para a safra de 2023, já vinham cansadas de estresses climáticos, de 2020 e 21, este ano, foi o terceiro ano consecutivo de estresse climático, além geada, seca e por último o granizo. Isso fecha a parte climática deste ano, para o ano que vem”.
Segundo ele, o pegamento da florada foi ruim na maioria das regiões cafeeiras. Sul de Minas, Mogiana Paulista, Alto Paranaíba e Triângulo mineiro, na visão da Procafé, tiveram um pegamento da florada foi muito ruim. “Precisamos ressaltar, o motivo principal foi a seca, porque as lavouras irrigadas estão indo bem, no entanto, elas são pouco representativas da realidade” afirmou.
Adelson Costa, dono de uma das corretoras mais importantes de Minas Gerais, Costa Comissária, ressalta o que tem sentido no dia a dia junto aos produtores. Segundo ele, a vida financeira do produtor, realmente liga um alerta para o ano seguinte. “A situação financeira dos produtores, realmente não está confortável. O café caiu de preço e caiu muito, mas o que deveria cair são os insumos, os insumos se mantiveram em um patamar elevado e isso uma realmente dificulta a atividade”.
Ainda segundo ele, muitos produtores já falam do abandono da atividade. “É uma coisa que o produtor começa a pensar, realmente, se tem condições de continuar na atividade. Porque o café não dando dinheiro, ele olha e vê soja e milho remunerando, e com uma agilidade muito maior, começa a pensar em abandono sim. Eu já ouvi de vários produtores essa possibilidade, eles já cogitam isso”, finaliza.
FONTE: Thamires Benetório – PLAY NO AGRO