Para Ricardo dos Santos da Silva, médico veterinário da Secretaria de Agricultura e Abastecimento que atua na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Catanduva, este ano tem sido desafiador para os produtores de leite e corte no Estado de São Paulo. “A seca tem sido severa e mesmo aqueles produtores que tinham feito um planejamento prévio passaram ou estão passando por dificuldades com a falta de comida para os rebanhos neste período. Mesmo em áreas de pastejo rotacionado, com piquetes irrigados e adubados, faltam temperatura e luminosidade ideais para o bom crescimento e produção do capim”.
Nesse contexto, o veterinário ressalta que o produtor precisa investir em algumas ações emergenciais. “Para que os animais tenham bem-estar e não ocorram perdas de peso e capacidade produtiva, é preciso fazer a complementação da alimentação com volumosos (capineiras, silagem e pasto) ou concentrados (milho e farelos), analisando caso a caso”, avalia Ricardo, enfatizando que, no entanto, “não é no meio do período de seca que se deve pensar no problema de alimentação do gado na propriedade”.
Segundo o técnico, para minimizar os problemas na seca, é preciso investir em ações no período das chuvas, que os meteorologistas esperam ser mais frequentes a partir do mês de outubro. “Investir no plantio de forrageiras no período das águas é a chave para que no momento de seca os animais tenham alimentação balanceada e em quantidade para seu crescimento e bem-estar. Por isso, agora é a hora de o produtor conversar com o técnico da sua região, na Casa da Agricultura ou nos escritórios regionais da CDRS, e comparar prós e contras do uso de cada componente da alimentação do rebanho, analisar os custos de implantação e definir a quantidade de matéria-verde necessária para atravessar a seca com margens de sobra e suplementar as pastagens que poderão ter menor produtividade, pois haverá seca todos os anos (só não se sabe a intensidade) e necessidade de suplementação com volumoso”, orienta.
O veterinário argumenta ainda que é preciso ajustar, ano a ano, a oferta e demanda de alimentos ou até mesmo a lotação da propriedade, para que os animais não passem fome e possam desenvolver seu potencial produtivo. “O objetivo é obter melhor desempenho zootécnico por hectare na propriedade, seja ela produtora de carne ou leite”.
Eder Augusto Duarte, produtor de leite no município de Urupês, é um dos que seguiram as recomendações do extensionista e está passando pelo período de seca com um impacto menor na produção de leite, o que vai na contramão da realidade de muitos produtores. Na Chácara Vó Emília, ele tem um rebanho de 25 cabeças, entre bezerras e vacas, das quais 11 estão em lactação; com uma média diária de 200 litros de leite, ele direciona uma pequena parte da produção à fabricação de queijos artesanais, comercializando o restante in natura para laticínios e sorveterias da região.
“Há mais de dois anos, conto com o acompanhamento técnico da CDRS, pois faço parte de um projeto para melhorar a qualidade e quantidade de leite, conduzido pelo Ricardo. Adotei as metodologias indicadas, como o pastejo rotacionado com irrigação, que preconiza a divisão em piquetes; na minha área são três módulos com variedades de capim Tifton, Mombaça e Quênia. Por conta desse período de estiagem estar mais intenso, só o pasto não dá conta, por isso complemento a alimentação com silagem de sorgo, que no momento preciso comprar, pois não tenho uma área plantada”, diz o produtor, acrescentando que, pelo fato de antecipar a necessidade de suplementação, investiu na compra de silagem no momento em que o preço estava mais baixo. “Como já tinha sido orientado e capacitado pelos técnicos, fui prevenido e comprei uma boa quantidade de silagem no mês de fevereiro, prensei os fardos com trator, passei inoculante e armazenei em silos. Paguei R$ 110,00 a tonelada, que hoje está custando mais de R$ 200,00, além de estar difícil de encontrar, por conta da seca e da pandemia. Com essa prevenção, tive um custo bem menor”, conta Eder.
Para o período das águas, o produtor está investindo no plantio de uma área de cana-de-açúcar, o que acarretará a redução de custos e material complementar de qualidade e em quantidade para complementação da alimentação do rebanho. “Já estou preparando uma área para, assim que chover, plantar a cana, que é uma cultura mais barata para condução, pois não precisa de plantios sucessivos, como as culturas de milho e sorgo, pois ela rebrota”, relata, enfatizando a importância do trabalho da extensão rural nessa decisão. “Os técnicos da CDRS e da Casa da Agricultura vão além da consultoria; se tivéssemos que pagar particular, seria muito caro para nós que somos pequenos. Eles nos orientam quanto ao manejo do gado, à sanidade, à formação e à condução do pasto e adubação etc. Também nos acompanham mensalmente no campo”.
Produtor de gado de corte no município de Tabapuã, Orivaldo Rosa, proprietário do sítio Santa Helena, compartilha das dificuldades enfrentadas na pecuária de leite. “Adotar as medidas recomendadas pelos técnicos da CDRS foi o que diminuiu os impactos da seca na minha atividade. Hoje, eu tenho 35 cabeças que estão sendo alimentadas com capim seco no cocho e suplementação de sal proteinado e quirela de milho. No começo desse período de seca, eu estava dando aos animais apenas o sal proteinado, gastando 1kg por dia, o que aumentou os custos de produção. Com a orientação do Ricardo, incluí a quirela, que é bem mais barata; hoje, uso apenas 400g de sal proteinado, o que fez o custo cair pela metade e o gado ganhar em bem-estar e desenvolvimento”, diz o produtor, comentando: “Quando que, sozinho, eu ia ter essa noção de balanceamento?!”.
Sobre o trabalho nessa propriedade, Ricardo complementa, dizendo que foi feito um planejamento de manejo e alimentação, com base na diminuição do número de animais para esse período, com a venda de vacas vazias e desmame de bezerros que tinham idade para isso antes do pico da seca, para ajustar a lotação do pasto.
Sobre as ações realizadas nas duas propriedades e em dezenas de outras da região, o veterinário informa que há muitos anos é realizada uma ação coordenada com as Casas da Agricultura, por meio de um projeto de extensão rural voltado à adoção de tecnologias de produção e manejo na pecuária, cuja metodologia ultrapassa as fronteiras do desenvolvimento do rebanho, agregando a conservação dos recursos naturais e o combate à degradação do solo nas áreas de pastagens, que são uma das principais causas de erosões e voçorocas no Estado de São Paulo.
Principais alimentos utilizados em período de seca
Ao listar brevemente os principais alimentos usados pelos produtores de São Paulo, Ricardo afirma que é preciso enfatizar algumas questões técnicas, lembrando que fatores como mão de obra, equipamentos disponíveis, pluviometria local e experiência do produtor devem ser levados em consideração na escolha. “Antes de adotar um ou outro alimento, o produtor precisa saber que os teores de produção por hectare, proteína bruta (PB) e energia (Nutrientes Digestíveis Total – NDT), são muito variáveis, de acordo com a adubação, a fertilidade do solo e as variedades. Além disso, ele deve ter em mente que, mais importante do que o material a ser utilizado, é, junto com um técnico experiente, definir qual deles vai atender melhor à sua realidade e de seus animais”, diz, ressaltando que existem diversas opções de alimentos que podem ser usados in natura ou em silagens.
O milho é o mais usado pelos produtores paulistas. É um material de excelente qualidade, com teores de proteína (7 a 8% PB) e energia (65 a 68% NDT) muito interessantes e que atendem às necessidades até de vacas de leite de alta produção, com rendimentos esperados de 40 a 45 toneladas de matéria-verde por hectare. Sua desvantagem reside no fato de ter o custo de implantação mais alto, maior demanda hídrica e replantio anual.
O sorgo tem produção e qualidade (6 a 8% PB e 60 a 65% NDT), custos de implantação e valor de sementes menor que o do milho. É um material com menor déficit hídrico, o que permite produzir mesmo em anos com veranicos ou chuvas irregulares e aproveitar uma rebrota, sem a necessidade de replantio, o que torna interessante seu custo por tonelada produzida. Podem-se esperar as mesmas 40 toneladas de matéria-verde por hectare do milho, somando-se os dois cortes. Suas desvantagens são a ausência de transgenia para resistência a herbicidas e o fato de que, em roças pequenas e isoladas, tem-se intenso ataque de pássaros.
As capineiras Napier (capim-elefante) e as variedades da Embrapa BRS Kurumi e Capiaçu são muito produtivas, com destaque para esta última, que tem relatos de 250 a 300 toneladas de matéria-verde por hectare e 5 a 7% de Proteína Bruta, em cortes mecanizados. “Porém, tem vantagens e desvantagens e o uso deve ser analisado com critério, pois demanda equipamentos para o corte mecanizado, visto que, com o passar dos anos, passa a ter touceiras vigorosas e bem perfilhadas; além disso, temos pouco conhecimento sobre pragas e problemas que podem afetar essa variedade em nosso Estado”, avalia Ricardo.
A cana-de-açúcar é um material extremamente produtivo, com média de 80 toneladas por hectare/ano, entre os vários anos de corte. “Sua maior vantagem é ser uma ‘poupança’ de volumoso em pé (que também pode ser ensilado), permitindo uma ‘janela’ de corte mais longa que a das outras capineiras. Dentre as variedades mencionadas, é a mais pobre em proteína bruta (2% PB e 60% NDT), o que exige uma correção dessa deficiência com uso de concentrado ou ureia. Mas, por ser um elemento energético, atende muito bem animais de baixa produção ou gado de corte, com pequenos ajustes, usando fontes de nitrogênio não proteico, como a ureia. Sua principal desvantagem é a necessidade de equipamentos para ser triturada, sej am trituradores estacionários ou implementos acoplados a tratores, que cortem a cana na roça”, explica Ricardo.
Produtores que tiverem dúvidas quanto ao melhor para o seu caso, podem consultar os técnicos das Casas da Agricultura mais próximas de sua propriedade ou a CDRS Regional. Os endereços podem ser encontrados no site www.cdrs.sp.gov.br
FONTE: Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – saacomunica@sp.gov.br