Profª Drª ALESSANDRA MARIELI VACARI
docente e pesquisadora na Universidade de Franca
Me. e Engº Agrº GUSTAVO PINCERATO FIGUEIREDO
GPF Pesquisas e doutorando na Universidade de Franca
Engº Agrº ENES PEREIRA BARBOSA
Emater e Mestrando na Universidade de Franca
Seletividade
O impacto dos produtos fitossanitários sintéticos no meio ambiente, nos artrópodes benéficos e na saúde humana, principalmente pela exposição a esses produtos químicos são questões de crescente preocupação. Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), sendo que a ODS-2 visa estratégicas sustentáveis na agricultura, como implementar estratégias de Manejo Integrado de Pragas (MIP), seguindo a agenda 2030.
Uma das táticas do MIP é o uso de controle biológico, mas o biocontrole pode nem sempre ser eficaz o suficiente para controlar as populações de insetos-praga, e tratamentos corretivos com inseticidas podem ser necessários, particularmente em locais onde a incidência de pragas ocorre com maior intensidade.
O controle químico pode ser necessário para suprimir pragas que não têm agentes de controle biológico eficientes, e, portanto, a identificação de produtos que não sejam prejudiciais aos organismos benéficos e que respeitem o meio ambiente, o que é uma preocupação primordial nos programas de MIP.
A principal premissa para o uso de agrotóxicos em sistemas de MIP é a utilização de produtos com comprovada seletividade a agentes de controle biológico, baixa toxicidade a mamíferos e aves, mínima persistência ambiental e baixo risco de desenvolver resistência nas populações-alvo, ainda que possua amplo espectro de atividade inseticida contra pragas.
Uma avaliação precisa dos potenciais efeitos colaterais dos inseticidas sobre os agentes de controle biológico é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de MIP.

Crisopídeos
Os crisopídeos, como gênero Chrysoperla (Neuroptera: Chrysopidae), são encontrados em uma ampla gama de habitats agrícolas e são considerados inimigos naturais comumente utilizados e comercialmente disponíveis em vários países do mundo, incluindo Europa e América do Norte.
No Brasil, a espécie Chrysoperla externa está sendo comercializada e/ou liberada em campo por cinco empresas (Grupo Vittia, AMIPA, Valentto Biodefensores, TopBio Sistemas Biológicos, Tríade Agronegócios).
O crisopídeo é considerado um agente chave de controle biológico generalista, que é utilizado principalmente por meio de liberações periódicas aumentativas para o controle de várias espécies de pragas em estufas e campo. Além disso, as larvas de C. externa também consomem uma grande variedade de artrópodes de corpo mole, como cochonilhas, cigarrinhas, mosca-branca, psilídeos, tripes, ovos e larvas de lepidópteros e ácaros.
Pesquisas
Os resultados de pesquisas desenvolvidas na Universidade de Franca pela docente e pesquisadora Profa. Dra. Alessandra Marieli Vacari e sua equipe, indicam que em áreas de cafeeiro da região da Alta Mogiana ocorrem naturalmente várias espécies de crisopídeos.
A equipe já coletou e comprovou a ocorrência das espécies Ceraeochrysa cincta, Ce. dislepis, Ce. everes, Ce. scapularis, Ce. silvanoi, Chrysoperla externa, Leucochrysa (Nodita) rodriguezi e L. (Nodita) forciformis (Neuroptera: Chrysopidae), tendo apoio do Prof. Dr. Francisco José Sosa Duque (UFRA). Tais resultados evidenciam o quanto é importante a questão da utilização de produtos seletivos em áreas de cafeeiro. Além disso, a equipe também comprovou que os inseticidas fluripadifurona (Sivanto®, grupo químico butenolida) e abamectina (Abamectin Nortox®, Batent®, grupo químico avermectina) foram seletivos a espécie C. externa.
De acordo com as classes de toxicidade preconizadas pela International Organization for Biological Control (IOBC), os inseticidas/acaricidas foram considerados inócuos (classe 1, mortalidade < 30%) para o predador C. externa. Tais resultados foram publicados em congresso internacional realizado em St. Louis, MO, EUA. Pesquisas continuam sendo realizadas e o objetivo é elaborar um guia de seletividade de produtos fitossanitários aos crisopídeos.
