RICARDO FRAZZATO
Diretor da Filius Venture, Engenheiro Mecatrônico formado pela UNICAMP
com especialização em Novos Modelos de Negócios pela University of Virginia,
Venture Capital e Private Equity pela Università Bocconi e Administração e
Estratégia de Negócios pela UNICAMP. Possui conhecimentos e experiência
em desenvolvimento de produtos e negócios, gerenciamento de risco associado e vendas.
Não é todo dia que uma revolução tecnológica bate à nossa porta. Mas é exatamente isso o que está acontecendo com o setor mais pujante da economia brasileira, o agronegócio: conquistamos expressividade na produção e exportação e apresentamos enorme potencial de crescimento graças à incorporação constante de novas tecnologias.
Trata-se de uma revolução verde e tecnológica que, de tão nova, nem se estabeleceu ainda por qual nome será chamada. Há quem fale Agricultura 4.0, Smart Farming, Agricultura de Precisão ou Agricultura Digital, mas o fato é que a revolução digital chegou ao campo, trazendo com ela uma nova leva de mecanização preparada para a iminente internet das coisas, capaz de extrair dos campos uma infinidade de dados e algoritmos para analisá-los – tudo em nome do aumento da produtividade e competitividade.
Cada uma destas vertentes citadas traz inúmeras oportunidades. A digitalização envolve inúmeras possibilidades: o segredo está na modelagem e na tecnologia de transmissão de dados para economia de água, energia elétrica, prevenção de doenças, com aplicação preventiva de tratamentos no solo, entre outros, além da eficiência intangível, como no caso do controle da dados à distância (quando o funcionário não tem que ir até a plantação para aferir equipamentos).
Não se trata de criar todas as soluções possíveis de aumento de eficiência, mas de plataformas que agreguem diferentes soluções capazes de fornecer insights aos agricultores em tempo real, numa forma de gerenciamento assistido por inteligência artificial.
E isso é possível graças ao trabalho das startups especializadas em agronegócio – as chamadas Agtechs – um fenômeno mundial. Nos últimos dois anos, o total aplicado em startups da agricultura mais do que dobrou, atingindo 6,9 bilhões de dólares. Só Brasil tem hoje mais de 400 pequenas empresas, a maioria delas com menos de dois anos, oferecendo soluções aos agricultores para incentivar a inovação em diferentes áreas do Brasil, com suas respectivas características de produção e nível de desenvolvimento.
Isso porque a crescente busca por inovação não é só uma prioridade, mas uma necessidade em um ambiente econômico altamente complexo e de crescente pressão por parte dos consumidores, governos e reguladores que demandam mais eficiência, controle, rastreabilidade e sustentabilidade.
Outro ponto que tem ajudado a tecnologia a chegar mais rapidamente ao campo é a mudança de cultura dos agricultores, hoje mais abertos às novidades e às facilidades introduzidas por sistemas digitais. A maior aceitação da tecnologia pelo agricultor é o primeiro ponto desse avanço grande das Agritechs. Isso tem impacto diretamente no crescimento do nosso segmento.
Para alavancar as Agritechs, por sua vez, trabalham as aceleradoras de startups. Trata-se de empresas que fornecem mentoria e capital em troca de retorno financeiro. Geralmente, as aceleradoras são consultoria sobre produtos, serviços ou plano de negócios e fazem a ponte com potenciais investidores, posicionando-se como um dos fatores mais importantes para consolidar e expandir a atuação das startups.
Essa combinação tem permitido multiplicar o número de oportunidades dentro e fora das porteiras. A união da expertise das aceleradoras em gestão e consultoria de negócios, com as startups e investidores em potencial permite um processo de cocriação que permite melhor integração com a indústria.
Os sinais dos resultados já estão aí. Na consistência e na diversidade das soluções tecnológicas. A nova revolução verde aponta não só para o aumento da produtividade, mas para o aumento da qualidade e para um salto de sustentabilidade.