JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.
Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS
O mercado fechou sexta-feira em 318,05 centavos base Março, contra um fechamento de sexta-feira retrasada em 302,10 centavos.
O mês de Novembro de 2024 entra na história. Uma valorização impressionante!! NY chegou aos 335 centavos durante a semana, chegando muito perto da máxima histórica (339,90 centavos).
O ajuste negativo de sexta-feira foi absolutamente natural, com a máxima histórica sendo uma forte resistência. Veremos o quanto esta forte resistência perdurará.
Como comentamos semana passada, o potencial de subida era forte pelas chances de vários participantes do mercado serem “obrigados“ a liquidar suas posições por problemas financeiros. Esse problema vai continuar norteando o mercado.
De certa maneira, o mercado ficou “disfuncional”, no sentido de que a situação financeira de conseguir administrar chamadas de margens acelerou um processo de valorização do mercado, que poderia ou não existir e ser mais lento.
Os estoques certificados subiram acima de 900 mil sacas, o que também é natural, pois com as subidas de mercado NY se torna uma “compradora“ natural aos cafés que estavam no fluxo. Tem um forte cheiro de sangue no ar…
No macro, o Dólar se alinhou a NY para continuarmos com a tempestade perfeita. Quase tão perfeita quanto o amadorismo do Governo local na comunicação do seu “pacote fiscal” durante a semana.
O governo se precipitou em anunciar um pacote fiscal, com variáveis que fogem ao seu controle. Muitas destas variáveis dependem da aprovação do Congresso, que não é exatamente um aliado do Executivo. A aprovação de aumento do teto para isenção do IR para $5 mil Reais (na minha opinião justa) deverá tirar cerca de R$40 bilhões de arrecadação dos cofres públicos. Essa parte, bastante popular, será facilmente aprovada pelo congresso. Agora… as medidas de balanceamento, com o aumento do IR para as os super ricos (sim… quem ganha acima de 50 mil mensalmente em todas suas receitas), mesmo que passando pelo congresso, dificilmente terá o resultado desejado.
Mesmo com a super máquina de controle da Receita Federal, a ingenuidade, criatividade e disposição do brasileiro para “vencer o sistema“ é imbatível.
Outras medidas anunciadas, como a mudança no reajuste do salário mínimo, que limitou o aumento real em 2,5%, e do abono salarial, que passará a ser pago à quem ganha até 1,5 salários e não 2, são redutoras de despesas, porém manter os pisos de gastos em educação e saúde comprometem as ganhos. Não que não seja extremamente benéfico um país investir em educação e saúde… o problema é que no Brasil é muito mal gasto.
O Dólar chegou a R$6,11, e só foi contido pelas declarações de Lira e Pacheco (Presidentes da Câmara e do Senado) que vão defender o equilíbrio fiscal nas votações.
O Dólar acabou fechando sexta-feira na casa dos $6 reais. Isto porque a lambança foi tão grande, que passaram desapercebidas declarações de alas do PT (com o aval vocês sabem de quem) novamente criticando a independência do BC.
Outra incerteza no mercado com a posse do novo Presidente do BC. Com isto, a curva de juros futuros bateu perto dos 15%, e a inflação caminha para a casa dos 5% (muito provavelmente vamos passar… não surpreendem as últimas pesquisas com o aumento de desaprovação do Governo). Como bem disse William Waack na sua coluna do Estadão : “o Governo continua enxugando gelo“.
Lá fora, os últimos dados da economia americana mostram estabilidade (ou seja, a economia americana não está desaquecendo). Mesmo assim, ainda são grandes as apostas de mais um corte de 0,25 p.p. na taxa básica por lá.
As taxas de Notas do Tesouro de 10 anos cederam um pouco para 4,2%, enquanto a Bolsa de Valores de NY chegam perto de máximas históricas.
A nomeação de Scott Bassent como novo Secretário do Tesouro do futuro governo Trump foi bem recebida pelo mercado. Scott é forte defensor da redução do déficit público e redução dos gastos do governo.
Os maiores ruídos continuam vindo das declarações do novo governo sobre tarifas e guerras comerciais. Se seguirmos a cartilha Trump, por enquanto muito mais uma cartada para sentir o terreno e já entrar em uma situação fortalecida em negociações do que efetivamente ações escritas em sangue. Bom exemplo já é o embate com o México.
Para não jogar o acordo NAFTA pelos ares, Trump vai querer da nova Presidente do México mais contra, e na fronteira e fortemente limitar importações Chinesas.
O Primeiro Ministro Canadense (nenhuma amizade com Trump) já desceu este fim de semana para um jantar em Mar El Lago para acertar as arestas. Muito provavelmente Trump vai conseguir de ambos o que quer, e o NAFTA vai continuar de pé.
Trump também já abriu as baterias contra os BRICS… se continuarem querendo substituir o Dólar como moeda de troca internacional (o que ao longo dos anos vai acontecer naturalmente), as tarifas serão pesadas. Quanto tempo vocês acham que alguém do bloco já senta para conversar?? E quem vocês acham, que vai ficar segurando a brocha??
Nos fundamentos, as exportações brasileiras de café em Novembro devem ficar na casa das 4 milhões de sacas. Dentro do esperado. Bem provável os números de Dezembro não sejam tão bons, devido aos feriados de final de ano e também com uma nova greve dos fiscais federais. Estimativas ainda indicam cerca de 1,5 a 1,7 milhões de sacas em atraso para embarques. No mercado físico, preços de cafés finos atingem R$2.200/Sc, enquanto cafés baixos Conilon saíram a R$1.800/Sc.
Os diferenciais Brasil quase não se mexeram durante a semana, o que mostra a contínua dificuldade de originação. É a mesma dificuldade que a indústria nacional já sentiu…
Várias industrias já anunciaram aumentos de preços. Não há como escapar. Lá fora, existe sempre o debate de quanto as grandes indústrias têm de cobertura de preços para poder segurar um aumento… porém, escutando vários agentes de mercado, me parece não haverá grande luta entre market share & resultado financeiro. A defesa do resultado financeiro/econômico não está em debate.
Aumentos virão… e rápido. Tanto nos EUA como na UE.
No Vietnam, a colheita segue seu ritmo, mas exportadores já sentem forte resistência do produtor em vendas. Mesmo com a subida de Londres, os diferenciais também mal se mexeram.
Em teoria o aumento do spread de juros entre US e Brasil deveria aumentar consideravelmente o fluxo de dólares para o Brasil. É possível… mas acho dificil . As desconfianças são muito grandes. O JP Morgan foi o primeiro a jogar água fria.
Em NY os fatores climáticos e o déficit na produção não mudaram. O mercado foi super impulsionado pelos fatores de empresas sendo obrigadas financeiramente a recomprar seus hedges de proteção, e é claro compras especulativas (que serão exatamente para jogar ainda mais sal na ferida). Ainda tem muito sangue no ar para que a turma dos Fundos (administrados ou especulativos) colocarem o lucro no bolso.
NY a 300 cents e Dólar à R$6,00 … quem quer vender?
Boa semana a todos!
Joseph Reiner