JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.
Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS
O mercado fechou sexta-feira em 284,20 centavos, base Setembro, contra sexta-feira retrasada em 297,55 centavos. Outra sexta-feira dolorida. Mesmo assim continua dentro do canal de 275/310 centavos, e os certificados continuam a cair no Arábica e subir no Robusta.
Estamos mantendo o mesmo cenário da semana passada, e o mesmo deve se repetir na próxima semana.
A colheita segue firme mesmo com as chuvas dos últimos dias, e o efeito do granizo em varias cidades mineiras, apesar de trágico para quem foi afetado, não deve ter maiores impactos na próxima safra. Algumas regiões de São Paulo e Paraná já chegando aos 85% colhidos.
O mercado teve um volume bem razoável durante a semana, considerando as incertezas macroeconômicas. Uma semana movimentada no cenário macroeconômico.
Os EUA confirmaram a aplicação de tarifas de 40% a partir de 6 de Agosto no Brasil, já em cima dos 10% aplicados em Abril, para um total tarifário de 50%.
O latido foi um pouco mais alto que a mordida, com a isenção final dos 40% de 694 produtos (incluindo aviões e suco de laranja). Existe uma grande chance do café verde logo também ser incluído na lista de isenções.
O trabalho do Cecafé junto ao NCA e outros organismos americanos, deve surtir efeito, bem como da pressão do setor varejista americano.
Especialistas indicam que infelizmente, cerca de 37% das exportações brasileiras para os EUA continuam afetadas.
Tivemos uma saraivada de aplicações tarifárias antes do dia 01… Índia 25% (não devia estar comprando petróleo da Rússia), Canadá volta aos 35% (não devia pensar em reconhecer a Palestina), Suíça tomou 39% (impacto alto em farmacêuticos e químicos, e agora para o americano compensa pagar uma passagem e ir comprar seu Rolex ou Patek Philippe na Suíça mesmo).
A China continua sendo uma negociação em separado… não podemos esquecer que na semana passada uma Corte Federal americana escutou argumentos tanto do governo como das empresas prejudicadas pela tarifa, da constitucionalidade de usar o IEEPA como base jurídica das tarifas, e fazê-lo sem a aprovação do Congresso. Sendo julgado precedente, novamente as tarifas ficam suspensas e toda discussão vai parar na Suprema Corte.
Apesar de um PIB anualizado de 3% no segundo trimestre nos EUA, muito desta atividade veio de antecipação de produção/importação pré novas tarifas. Os números de inflação, apesar de baixos não caem, inclusive incrementalmente sobem pouquinho cada mês.
Porém como aqui, alguns itens como alimentação e moradia, que afetam na carne a classe média, continuam resilientes a queda de preços. Apesar de todo oba-oba, a popularidade de Trump não está lá grande coisa. Ele perdeu grande espaço no eleitorado “independente“, que hoje é a maior fatia do eleitorado americano.
O assunto só não é mais discutido, porque simplesmente hoje, não existe nenhum candidato da oposição que levantou a mão e começou uma campanha visando 2028. Os números de novas aberturas de vagas também foi decepcionante em Julho frente ao esperado, e os números de Junho e Maio foram corrigidos para baixo.
A primeira solução de Trump foi demitir a Chefe do setor de estatísticas do Ministério do Trabalho de lá, Pegou muito mal no mercado. No fundo nenhuma grande supresa. Esta diminuição já vinha sendo anunciada no mundo corporativo. Empresas não estão demitindo, porém a abertura de vagas “colarinho branco“ está estagnada.
O FED acabou ficando entre a cruz e a espada… e acabou não mudando a taxa básica de juros, apesar de dois votos divergentes no colegiado (primeira vez em muitos anos). Trump continua furioso com o Presidente do FED, e as ofensas não param. O mercado começa a enxergar uma real possibilidade de dois cortes de 25 pontos até o fim de ano. Veremos o impacto das tarifas…
Os EUA são quase 35% do PIB mundial… é um transatlântico que se move lentamente, porém o mesmo tempo e esforço que leva em uma direção, demora para voltar se necessário.
Várias redes de varejo e também indústrias já estão abertamente declarando que vão aumentar os preços. Quando os estoques terminarem, sentirão os impactos. O consumidor está mais cauteloso.
Já no campo politico, a mordida parece seguir um caminho bem mais forte que o latido. Moraes foi sancionado pela Lei Magnitisky. Foi uma sanção geral, sem detalhes exatos, o que me parece proposital. O grau da paulada vai depender das ações e bravatas de Moraes e o STF.
Do lado do STF a reação foi “bem“ institucional. Palavras de apoio a Moraes e independência do STF em um tom bem moderado. Os Ministros de recusaram a assinar uma carta de agravo, e no jantar de apoio a Moraes montado por Lula, apenas metade dos Ministros compareceram. O fato é que ali não tem nenhum bobo. Desde quando a Lei teve início, pouquíssimos casos foram revertidos.
Ao contrário, ao longo do tempo os outros países com leis muito similares (Canadá, Inglaterra, EEUU, Austrália) adotaram as mesmas sanções contra os indivíduos. Como cita um artigo no jornal O Estado de São Paulo), a Lei Magnitisky é conhecida como a “pena de morte financeira“ do indivíduo sancionado.
O recado foi dado pelos “coleguinhas“: daqui para frente, Moraes… te vira… não vou perder minhas benesses por tua causa… e o Barroso não quer perder Paris!
Quanto a Lula… bom… ser o papagaio de pirata da China lhe rendeu até agora na verdade, 0,5% de melhoria na aprovação de seu governo (saiu de 49,7 para 50,2%). Bem ou mal, toda a explosão de nacionalismo está lhe rendendo algo que ele não tinha: chance de vitória!… não vai mudar a retórica… ao contrário, vai continuar.
O mais interessante da pesquisa Quaest… avaliação de Lula melhorou no sudeste e com a população de renda média e alta… ou seja, a mesma nutelada que colocou no poder o que temos ai hoje. E vai ficando interessante…o PT está entrando na Justiça para criminalizar qualquer Banco com sede aqui que sancionar “brasileiros“ baseados na Lei Magnitisky. Arminio Fraga deve estar ainda mais “com medinho“! Íamos lentamente Venezuelando…
Trump colocou o elefante na mesa! A decisão final é da sociedade brasileira… não esqueçamos o velho ditado: cada povo tem o governo que merece!! Será que o Agro será o ultimo portal da resistência???
Por aqui a Bovespa tomou uma pancada com toda esta incerteza. Obviamente houve fuga de capital, porém nada que tivesse mexido muito com o Dólar, mesmo porque o BC manteve a SELIC a 15%, e sem muito viés de queda no curto prazo.
Com os dados mais fracos vindo do nível de emprego nos EUA, a turma do spread de juros continua por aqui. Ao mesmo tempo que a política fiscal/monetária americana não ajuda em nada o Dólar, por enquanto diversificar um pouco faz todo sentido… Mas podem estar certos… existe toda uma preparação de saída rápida caso o cenário político se deteriore a favor de uma reeleição de Lula.
O mercado físico foi bem mais calmo esta semana. Poucos negócios também no FOB, com um MTGB good cup na media, ofertado na mesma faixa da semana passada a, -20. Os peneiras tiveram um pequeno incremento de 2 centavos segundo exportadores.
Ambos os lados esperando se café fica ou não fica no tarifação. Mesmo se mantido, no médio prazo pouco deve mudar no fluxo Brasil – EUA.
O café brasileiro eventualmente vai continuar fluindo e quem vai pagar a conta é o consumidor americano.
São dois riscos moderados para o Arábica Brasil… uma mudança mais drástica dos blends para o Robusta e/ou um aumento de preços que impacte a demanda americana. O risco maior é na gôndola.
Nas cafeterias quem já paga $7 dólares por um latte, vai provavelmente pagar $8 ou $8,50 e continuar tomando o seu matutino (não podemos esquecer que o café continua sendo o 4° ou 5° custo em uma cafeteria, após aluguel, mão de obra e leite).
Nas cápsulas acredito a mesma situação… se a cápsula sair de 60 centavo para 65 centavos, o consumo delas em casa não deve cair. Mas daí achar que o consumo tenha crescimento no maior mercado individual do mundo, se as tarifas se mantiverem, fica difícil acreditar.
Com todo barulho de tarifas e Magnitisky, quase passa desapercebido o aumento de tensões entre EUA e Rússia. A temperatura tem aumentado consideravelmente. Para quem tem forte dependência da Rússia para fertilizantes, como nós, principalmente Potássio, isso começa a acender uma forte luz amarelada. Vejam o impacto para a Índia de “brincar“ os dois lados.
O Real tem tido, repito, uma resiliência surpreendente. Porém não acredito o Dólar volte abaixo de R$5,50 enquanto Lula mantiver melhoras nas pesquisas (por mais que sejam duvidosas) e a tensão EUA-Rússia continuar aumentando.
Faltando apenas a China para acertar o assunto tarifas (pelo menos sem as negociações subsequentes, que com certeza ocorrerão com os outros países), Trump agora precisa explicar ao eleitorado americano como a economia está melhorando, e a realidade do balanceamento do déficit público e os juros de mercado. Nada fácil. Mas por enquanto devemos manter os R$5,50.
NY deve manter o canal intacto, mas com boa probabilidade de testar os 275 centavos.
Boa semana a todos!
Joseph Reiner