ARTIGOSPolítica Agrícola

[João Brunelli Junior] – O fim da CATI

JOÃO BRUNELLI JR.
Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, pós-graduado no MBA em Gestão de Agronegócio,
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-Coordenador da CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Iniciou na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
como extensionista na Defesa Agropecuária de Andradina (SP) em 1977, posteriormente atuou
como chefe da Casa da Agricultura de Andradina (SP), assistente regional em Campinas (SP),
assistente de planejamento na Divisão Regional Agrícola (Dira) de Campinas (SP),
assessor de planejamento do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, diretor da Divisão de Extensão Rural (Dextru), diretor do Departamento de Comunicação e Treinamento (DCT).

 

A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI, o órgão oficial de assistência técnica e extensão rural do governo do estado de São Paulo, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, deixa de existir com esse nome. Estranhamente, de maneira totalmente impositiva, passa a se chamar Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Nos últimos anos, a CATI nunca esteve tão presente e atuante junto ao setor rural paulista. Não há como negar as inúmeras evidências e os excepcionais resultados do Microbacias II, projeto apoiado pelo Banco Mundial, que levou centenas de associações e cooperativas de produtores rurais a um novo patamar de desenvolvimento, permitindo que se organizassem, com infraestrutura e gestão, para poderem participar ativamente do mercado, ofertando produtos com melhor qualidade e valor agregado.

Não se trata de corporativismo, mas do reconhecimento de uma política pública que deu certo. Ouçam os beneficiários, consultem as quase 300 associações e cooperativas que participaram do projeto, sintam como cresceu a autoestima desses grupos de produtores rurais, que hoje caminham pelas próprias pernas e servem de exemplo até para outros países.

A atual gestão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento se recusa a reconhecer tal sucesso e coloca todas essas organizações de pequenos produtores rurais no esquecimento, chegando a impedir a divulgação desses resultados para a sociedade, talvez por não poder assumir a paternidade, talvez para justificar as propostas de desmonte da extensão rural em curso.

A agricultura paulista não pode ser resumida a atendimento de balcão, somente com a emissão de documentos, atestados e certidões. A extensão rural, principal instrumento de implantação de políticas públicas efetivas, seja por conta de sua capilaridade, seja por conta do perfil dos técnicos que a comungam, precisa ser não só preservada, mas fortalecida em seus quadros.

Agrônomos, veterinários, zootecnistas, sociólogos e outros profissionais da extensão rural proporcionam ações concretas de conservação de solo, adequação ambiental das propriedades, boas práticas de produção agropecuária, melhoria de gestão das organizações de produtores, enfim, colocam a mão na terra e pegam na mão do produtor rural.

As atuais propostas de reforma, decididas em gabinetes e sem nenhuma participação, feita por pessoas sem nenhum conhecimento das reais demandas da agricultura paulista, sinalizam a transferência paulatina de todas as Casas de Agricultura para os municípios, além da redução dos escritórios regionais de desenvolvimento rural, tudo em nome da redução de despesas, porém a um custo social enorme que, infelizmente, a sociedade só irá perceber muito tarde.

Já que mudaram o nome da CATI, agora estão caminhando a passos firmes para a extinção da extensão rural paulista.

A agricultura familiar paulista, representada por quase 300 mil propriedades rurais, e a extensão rural pedem socorro. Nossos produtores rurais precisam saber que esse serviço vai desaparecer rapidamente se nada for feito para barrar essa diretriz única de economia dos recursos públicos a qualquer custo!

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