GUY CARVALHO
Engenheiro Agrônomo, MBA em Gestão em Agronegócios (FGV).
Especialização em Agronegócio Café – Universidade Illy do Café / Pensa.
Palestrante. Cafeicultor nos municípios de Guaranésia (MG) e Cabo Verde (MG).
Consultor na produção de cafés especiais em Minas Gerais e São Paulo.
Dirige o canal Papo de Cafeicultor (https://goo.gl/sjSToV)
Contato: www.guycarvalho.com.br
Neste mês de fevereiro, com apoio da Stoller, tive a oportunidade de acompanhar o Profº José Donizete, da UFLA, para conversarmos sobre um tema bastante oportuno para os cafeicultores e técnicos: as altas temperaturas e como elas afetam a produção cafeeira, o que resultou em um conteúdo informativo e dois vídeos para o Canal Papo de Cafeicultor (FLORADA ATÍPICA PREOCUPA CAFEICULTORES e CALOR INTENSO PREJUDICA CAFEEIRO ).
Nosso intuito foi despertar a atenção para o problema de forma técnica e responsável, sem alarmismo e sem a pretensão de deter a palavra final. Em resposta, recebemos dos cafeicultores diversos relatos e imagens de lavouras do Sul de Minas e de Mogiana de SP mostrando queimas em folhas e grãos, queda precoce de frutos etc, como podem ser observados nas imagens abaixo:
Aqueles que nos acompanham sabem da nossa responsabilidade e compromisso com os nossos seguidores, e comentando com Prof. José Donizete sobre o retorno que tivemos fomos presentados com um pouco mais do seu conhecimento. Segue o texto completo enviado pelo Professor:
“Prezado Guy,
Sem dúvida alguma, as fotos falam por si e mostram os vários efeitos da escaldadura no café e tenho pouco a acrescentar ao que já foi dito como desfolha, desfrutificação, coração negro, frutos chochos, queima de folha reduzindo a área fotossintetizante e frutos pequenos. Todas essas anormalidades fisiológicas decorrentes da perversa interação entre calor e seca irão, em menor ou maior grau, afetar a produção de café, e os efeitos negativos serão proporcionais ao grau de escaldadura que varia de lavoura para lavoura.
Após visitar várias lavouras no Sul de Minas Gerais, observei na mesma propriedade talhões onde não existem injurias destes tipos, portanto com nenhuma perda na produção, enquanto em outros ela está bastante pronunciada, sugerindo perdas de até 40% na produção, somando todas as desordens fisiológicas listadas acima mesmo em lavouras irrigadas. Portanto, uma vez instalados esses sintomas, nada há de se fazer a não ser lamentar as perdas.
Por outro lado, sabendo que os próximos cinco anos serão gradativamente mais quentes, temos que antecipar ações preventivas no sentido de amenizar os problemas futuros que certamente serão fontes de estresses como os que estamos observamos neste momento.
Especial atenção deve ser dada para o potássio, magnésio, cálcio e fósforo. Ações que privilegiam o crescimento radicular, como fosfatagem em profundidade, calagem e gessagem, nunca devem ser esquecidas, uma vez que as raízes em profundidade exploram camadas subsuperficiais de solos onde ainda existe, apesar da seca, abundante quantidade de água. Na atualidade, lavouras onde o sistema radicular se concentra nos primeiros 40 cm de profundidade, como a que tínhamos até duas décadas atrás, está fadada a ter, em maior proporção, problemas com escaldadura. Nas lavouras modernas onde são aplicadas tecnologias de ponta, o sistema radicular normalmente aprofunda-se até a camada de um a dois metros. Se a morfologia radicular de sua lavoura não se encaixa neste modelo algo está errado e precisa ser corrigido.
Cultivo de braquiária nas entre linhas, além de reduzir as perdas por evaporação de água, ajudam na parte física do solo, uma vez que as raízes profundas dessa gramínea quando morrem deixam poros no solo, melhorando assim a aeração do mesmo e evitando a malfadada respiração anaeróbica das raízes do cafeeiro, que gera produtos tóxicos e estresse oxidativo que levam, invariavelmente, a morte de suas próprias radicelas.
De nada adiantam essas ações se não atentarmos para o enfolhamento das plantas. Cafeeiros mais enfolhados produzem, no sentido horizontal, de três a quatro camadas de folhas, de modo que as camadas mais externas, ao sobrepor as mais internas, criam gradientes de temperatura e luminosidade fazendo com que a escaldadura se concentre na camada mais exterior da copa, auto protegendo do calor cerca de 80% das folhas. Sem falar nos benefícios diretos na fotossíntese disponibilizando mais energia para as plantas, que é vital para o enfrentamento desse período adverso. Controle fitossanitário e pulverização com produtos hormonais tem que estar na lista de prioridades.
Nunca esquecer que o método mais eficaz de recomposição da parte aérea do cafeeiro, quando todos ou outros falham, é a poda. No entanto é importante destacar que existem podas que recuperam a parte superior da copa enquanto outros a saia. A adoção do sistema correto de poda pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso para se ter cafeeiros com copa mais fechada no verão, em cuja época o cafeeiro já deve estar enfolhado e não em processo de enfolhamento. Esse assunto deverá ser tratado mais oportunamente em outra ocasião.
Enfim meu caro Guy, estas são minhas considerações. Use-as sem parcimônia.
Abraço,
Prof. José Donizete Alves”
Essas considerações nos ajudam na preparação para enfrentar o problema de aquecimento que temos vivido. Agradeço a todos e continuem interagindo com o nosso blog.