(Resumo do mês de setembro/2022)
No balanço geral do mês de setembro, é possível observar no gráfico de cotações da ICE Futures US, um viés baixista. O retorno das chuvas em importantes regiões cafeeiras do Brasil se aliou às incertezas relacionadas ao cenário econômico global exercendo pressão sobre as cotações do café nas principais Bolsas do mundo. As perdas foram amenizadas na segunda quinzena do mês, em especial, pela queda dos estoques na Bolsa de Nova Iorque e pela tensão provocada pelo Tufão Noru que passou pelo Vietnã.
Fatores de sustentação ao mercado:
- Na segunda quinzena do mês de setembro, na contramão de muitas commodities, o café chegou a esboçar reação, voltando a esbarrar na linha de 230,00 cents/lb. Dado o quadro de aperto na oferta, sobretudo de curto prazo, o mercado segue sensível a qualquer novidade fundamental que surge. A seguir algumas novidades entre as quais, no mês de setembro, colaboraram para a recuperação das quedas vistas na primeira quinzena do mês.
- Como destaque do mês, os novos números da Conab. Anteriormente, em seu levantamento de maio, a Entidade havia estimado uma safra 53,43 milhões de sacas de café para este ano. Em seu levantamento de setembro, a Entidade revisou seu número para 50,38 milhões de sacas, portanto, 3,05 milhões de sacas a menos do que a previsão anterior. Esta nova estimativa, quando comparada com a safra de 2021 (47,73 milhões de sacas), equivale a um incremento de 5,6%. O café Arábica, antes estimado em 35,71 milhões de sacas, sofreu uma revisão de -3,3 milhões de sacas, indo para 32,41 milhões de sacas. Já o Conilon, antes estimado em 17,72 milhões de sacas, foi revisado para cima indo para 17,97 milhões de sacas colhidas neste ano. Em suma, no balanço geral, a Entidade que antes previa um aumento percentual de 12,0% na safra de 2022 quando comparada com a safra de 2021, agora prevê um acréscimo menor, de 5,6%. Segundo o Cecafé, no ano de 2020 o Brasil exportou 44,5 milhões de sacas e no ano de 2021, 40,62 milhões de sacas. Agora, com estoques de passagem em níveis extremamente baixos, o Brasil, maior produtor do mundo, que segundo a ABIC, consumiu algo em torno de 21,5 milhões de sacas no ano de 2021, terá disponível para exportação, no ciclo 2022/2023, um saldo que não deve exceder 30 milhões de sacas, o que evidencia o quadro de total aperto no abastecimento do atual ciclo.
- A queda dos estoques da ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), que atingiram seu nível mínimo de 23 anos, ao final do mês de setembro, segue sendo um fator altista para as cotações do café. Estes estoques, que há um ano se aproximavam de 2 milhões de sacas, atualmente estão próximos de 415 mil sacas.
- Apesar do retorno das chuvas, o clima segue castigando algumas regiões cafeeiras, seja de um jeito ou de outro: embora não seja possível dimensionar perdas, há relatos de inúmeros produtores que a chuva de granizo que atingiu grande parte do Sul de Minas nos dias 03/10 e 04/10 tenha sido uma das, senão a de maior intensidade dos últimos anos. Lamentavelmente, mais um evento que vem para prejudicar a safra brasileira, afetando de forma significativa grande parte de nossos produtores.
- O clima, além de afetar a produção brasileira, afetou também outras importantes origens, tal como a Colômbia, segundo maior produtor da espécie Arábica do mundo. Segundo a Federação dos Produtores de Café da Colômbia, as exportações da Colômbia no mês de setembro totalizaram 820 mil sacas, uma queda de 24,77% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já no acumulado entre janeiro e setembro deste ano, as exportações colombianas somaram 8,58 milhões de sacas, 6,22% a menos do que o mesmo período do ano passado. Quanto à produção Colombiana, cujo ciclo cafeeiro é de outubro a setembro, dados da Federação apontam uma produção para o ciclo 2021/2022 de 11,68 milhões de sacas contra 13,39 milhões de sacas produzidas no ciclo anterior (2020/2021), isto é, 12,77% a menos.
- Na última semana de setembro, um susto no Vietnã chegou a dar suporte às Cotações: a passagem do Tufão Noru pelo país, uma das tempestades mais fortes de duas décadas que atingiu a maior área de cultivo de café do Vietnã, o norte do Planalto Central do país. No entanto, relatos de produtores e comerciantes indicam que as lavouras de café não sofreram grandes danos com a passagem do tufão pelo país.
- A valorização do Dólar frente ao Real, que acabou esbarrando em uma recuperação das cotações na Bolsa de Nova Iorque, gerou oportunidade no mercado físico, com o Arábica tipo 6, bebida dura para melhor, chegando a ser negociado acima de R$ 1.300,00. A valorização do Dólar frente ao Real nos últimos dias do mês de setembro se deu frente ao cenário de aversão ao risco ocasionado pelos receios de recessão global, sobretudo nos EUA e na Europa. Além disso, as incertezas relacionadas ao cenário político brasileiro em período eleitoral deixam o mercado cambial extremamente volátil, entre picos e tombos em um curto período de tempo.
- Enquanto alguns players seguem desconfiados de que a inflação global, o conflito entre Ucrânia e Rússia com respectivas consequências a nível mundial e a possibilidade de recessão em importantes economias do mundo possam afetar diretamente o consumo, o Rabobank, que revisou seu balanço entre oferta e demanda, anteriormente estimado em um superávit de 1,7 milhão de sacas, para um déficit de 1,3 milhão de sacas, tem uma percepção diferente. De acordo a Agência Reuters, o Rabobank vê na demanda do café uma característica inelástica e não espera nenhuma queda significativa no consumo, pelo menos não em mercados maduros, tal como é o caso dos principais consumidores do mundo, EUA e Europa, em caso de recessão.
Fatores de pressão ao mercado:
- Após um mês de agosto altista, o mercado de café iniciou o mês de setembro devolvendo maior parte das altas, rompendo a linha de 215,00 cents/lp e se aproximando dos 210,00 cents/lb. Dentre os fatores que pressionaram as cotações no decorrer do mês de setembro, pode-se mencionar:
✓ Do lado financeiro, nas primeiras semanas do mês, grande parte das expectativas dos players do mercado giraram em torno da economia norte americana, com o centro das atenções voltado para a política de aperto monetário que o FED – Federal Reserve (Banco Central dos EUA) vem adotando em vistas de conter a inflação e trazê-la de volta à meta de 2%. As dúvidas e apostas em relação à postura do FED, mais agressiva ou mais moderada, geraram apreensão ao mercado levando investidores à aversão ao risco, o que acabou impactando negativamente no Índice CRB, no petróleo e consequentemente, no café. No dia 21/09 o Federal Reserve anunciou a elevação da taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Com isso, ela passou do intervalo de 2,25% a 2,5% ao ano para 3% a 3,25%. Esta é a quinta alta consecutiva implementada pela autarquia norte americana desde o início do ciclo de aperto monetário, em março deste ano. Antes disso, os juros estavam no intervalo entre 0% e 0,25%. De certo modo, este aumento 0,75% nos juros dos EUA não ficou fora do que era aguardado pelo mercado e, desta forma, a pressão que as cotações do café vinha sofrendo em função deste fator, foi amenizada. - ✓ Do lado fundamental, o retorno das chuvas em importantes regiões produtoras que vinham sendo castigadas pela seca, como na maioria dos anos, acabou pressionando as cotações do café diante uma ideia, por parte de alguns players do mercado, de safra grande para o próximo ciclo. Entretanto, é válido ressaltar que, frente ao crítico cenário de déficit hídrico elevado dos quais importantes regiões cafeeiras enfrentaram, muitas lavouras foram comprometidas e não devem apresentar o potencial produtivo que apresentariam se não fosse esse quadro. O retorno das chuvas, sim, paralisou as perdas, mas não as eliminou por completo. Outro ponto importante a se considerar é que, mesmo com a paralisação das perdas, ainda é cedo para admitir uma produção volumosa para o próximo ano como alguns já vêm fazendo. É preciso contar com clima favorável para o pegamento das floradas e granação dos frutos. Portanto, muita calma, até lá, nada certo.
- ✓ A desaceleração da economia mundial, já esperada em função da política de aperto monetário para contenção da inflação nas principais economias do mundo, e os temores de que uma possível recessão econômica esteja por vir em importantes consumidores do mundo, tal como EUA e Europa, segue gerando incertezas relacionadas à demanda.
- ✓ Pressionando as cotações do Robusta na Ice Future Europe (Bolsa de Londres para café Robusta), o Departamento Geral de Alfândegas do Vietnã, maior produtor mundial de café Robusta, informou que as exportações de café do Vietnã, entre os meses de janeiro a setembro aumentaram 13,7%, somando 22,5 milhões de sacas.
Mensagem aos leitores:
“É importante notar que, na Bolsa de Nova Iorque, o intervalo que em agosto se encontrava com suporte em 220,00 cents/lb e resistência em 240,00 cents/lb, parece ter descido um degrau, encontrando-se agora entre 210,00 cents/lb e 230,00 cents/lb. Os produtores que seguem dosando suas vendas e fazendo suas margens, devem se atentar aos momentos em que o mercado se aproxima de suas resistências (atualmente 230,00 cents/lb), ainda mais, quando a alta do dólar se alia à alta do café nas Bolsas, gerando boas oportunidades, tal como ocorreu ao final do mês de setembro, quando o café se aproximou de 230,00 cents/lb com o dólar cotado na casa de R$ 5,40.”
Varginha (MG), 11 de outubro de 2022.
Analista: João Marcelo Oliveira de Aguiar
Superintendente Executivo – Fundação Procafé
Colaboradores: Alysson Vilela Fagundes e Rodrigo Naves Paiva
Pesquisadores – Fundação Procafé