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EMBRAPA Meio Ambiente: Extratos de plantas são eficazes no controle de lagartas

Estudos realizados por pesquisadoras da EMBRAPA Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP) avaliaram a bioatividade de extratos de quatro plantas no combate às lagartas Helicoverpa armigera e Anticarsia gemmatalis, duas importantes pragas agrícolas.

As cientistas descobriram que os extratos das espécies vegetais Clerodendrum splendensConyza canadensisTithonia diversifolia e Vernonanthura westiniana produzem efeitos com potencial para controlar os insetos, como redução de peso ou do consumo de folhas e, no caso da A.gemmatalis, foram encontrados efeitos inseticidas com até 80% de mortalidade.

Os resultados abrem oportunidades para o desenvolvimento de produtos naturais a serem usados em cultivos orgânicos, ou mesmo o emprego dessas plantas para a síntese de novos compostos inseticidas.

Mariposa Anticarsia gemmatalis (Créditos: Jeanne Marinho-Prado)

As cientistas avaliaram cada planta diluída em quatro diferentes solventes (água, diclorometano – DCM, hexano e metanol) e constataram que os extratos de todas as espécies vegetais avaliadas causaram redução no ganho de peso das lagartas. Isso ocorreu em pelo menos um dos solventes. À exceção de T. diversifolia, todas as espécies vegetais também provocaram a redução no consumo foliar de lagartas em algum dos solventes avaliados.

“O objetivo foi avaliar se os extratos feitos com cada uma das quatro espécies de plantas apresentam ação inseticida ou nociva ao desenvolvimento das lagartas de H. armigera e A. gemmatalis, via ingestão,” conta a pesquisadora da Embrapa Jeanne Prado, uma das autoras do estudo.

Pupas da Anticarsia gemmatalis. (Créditos: Jeanne Marinho-Prado)

Atualmente, o controle de lagartas é realizado principalmente pelo uso de agrotóxicos e plantas transgênicas Cry1Ac, proteína do Bacillus thuringiensis que apresenta efeito tóxico sobre o inseto. Entretanto, o aumento no número de indivíduos resistentes a essas moléculas em uso no mercado e o surgimento de insetos híbridos (como os oriundos do cruzamento entre Helicoverpa armigera e H. zea) têm reduzido a eficácia dessas abordagens e impulsionado a busca por novos produtos para controle dessas pragas.

Lagartas de A. gemmatalis consumiram maior área de folhas contendo extratos metanólicos de C. canadensis e T. diversifoliado que de folhas contendo somente água (dentro das análises de cada espécie vegetal), sugerindo que pode existir, nesses extratos, substâncias agindo como fagoestimulantes (veja quadro ao lado) a esses insetos.

Entretanto, o consumo elevado de uma planta nem sempre representa vantagens aos insetos, uma vez que pode haver nas folhas outras substâncias com efeitos de antibiose, que causam mortalidade ou redução de tamanho, peso, longevidade e fecundidade. Situação semelhante ocorreu quando lagartas de H. armigera alimentaram-se de folhas contendo o extrato metanólico de V. westiniana. O extrato não alterou o apetite das lagartas nas primeiras 24 horas e ainda aumentou o consumo foliar após 48 horas de avaliação. Porém reduziu o peso de pupas, indicando um efeito de antibiose.

A INTRINCADA RELAÇÃO ENTRE PLANTAS E INSETOS

A pesquisadora Jeanne Prado explica que a relação entre insetos e plantas é regulada por substâncias denominadas aleloquímicos que, ao serem liberadas pelos vegetais, são percebidas pelos insetos e podem agir como estímulos sobre seu comportamento ou alterar características do seu ciclo.

Se o estímulo emitido pela planta for positivo, o inseto se dirigirá a ela (substância atraente); caso seja negativo, irá em direção contrária (substância repelente). Após contato com a planta, outro estímulo positivo levará à picada ou à mordida de prova (substância incitante) ou, no caso de um estímulo negativo, o inseto não provará da planta e se afastará (substância supressora).

Por fim, após a prova, o inseto pode receber estímulo para continuar se alimentando (fagoestimulante) ou para parar com a alimentação (fagoinibitória).

Pupa da Lagarta Anticarsia gemmatalis sofreu mais os efeitos dos extratos naturais (Créditos: Jeanne Marinho-Prado)

EXTRATOS INSETICIDAS

Dois extratos se destacaram pelo potencial inseticida contra a A. gemmatalis. O de C. splendens, em DCM ou em hexano, causou mortalidade acima de 60% em lagartas, além de redução no ganho de peso de larvas e de pupas.

O extrato metanólico de V. westiniana, por sua vez, provocou mortalidade superior a 80% na população de lagartas de A. gemmatalis e, por isso, foi selecionado para avaliação sobre lagartas de H. armigera. “Usamos esse procedimento devido a dificuldades de multiplicação da espécie H. armigera em quantidade suficiente para realizar todos os bioensaios de avaliação de compostos”, explica Jeanne Prado.

Entretanto, apesar da alta mortalidade provocada em lagartas de A. gemmatalis, o mesmo extrato metanólico de V. westiniana causou mortalidade de apenas 20% da população avaliada de lagartas de H. armigera.

OS ALVOS

Conhecida como lagarta-da-soja, A. gemmatalis é considerada praga principal dessa leguminosa, sendo um importante inseto desfolhador na sojicultura nacional. A espécie H. armigerapossui grande capacidade de dispersão.  Em sua fase larval pode se alimentar de mais de 60 famílias de plantas e se encontra hoje distribuída em todo o território nacional, atacando principalmente o milho, feijão e algodão, além da soja.

Helicoverpa armigera É O PRÓXIMO ALVO

A resistência de populações de H. armigera a moléculas inseticidas é alvo de diversos estudos e tem sido associada a características intrínsecas da espécie como: hábito alimentar altamente polífago, ciclo de desenvolvimento curto, alta capacidade de dispersão e alta variabilidade genética.

Por isso, novos bioensaios com H. armigera devem ser realizados utilizando os extratos vegetais que foram avaliados somente para A. gemmatalis, considerando as diferenças em suas relações interespecíficas e de resposta à defesa das plantas.

As etapas seguintes também vão abranger a identificação das moléculas responsáveis pela ação de antibiose ou antixenose observada nos extratos, seu mecanismo de ação e a avaliação se essas moléculas são capazes de afetar organismos não alvo como, por exemplo, outros insetos.

As cientistas esperam que esse trabalho gere alternativas de produtos a serem empregados em estratégias de manejo integrado dessas pragas (MIP) em campo.

Parte das informações desse estudo executado pelas pesquisadoras Jeanne Marinho-Prado, Sonia Queiroz, Simone Prado e Marta Assis estão em um boletim de pesquisa disponível na internet.

FONTE: Cristina Tordin – EMBRAPA Meio Ambiente 
 

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