Café

Consultoria especializada da Casa das Sementes quebra paradigma da cafeicultura no Itambé

Com assistência técnica, novas variedades, tecnologias eficazes e colaboradores extremamente dedicados o café produzido na Fazenda Vale Verde, da empresária Luiza Helena Trajano, em Cássia (MG) surpreende o mercado e supera 83 pontos

CARLOS ARANTES CORRÊA
Engenheiro Agrônomo e Diretor da Revista Attalea Agronegócios

carlos@revistadeagronegocios.com.br

Tudo começou numa pequena propriedade dedicada inicialmente ao lazer, nas margens do Rio Grande, zona rural de Cássia (MG), divisa com os municípios de Ibiraci (MG) e Delfinópolis (MG). Mas, o que levou uma empresária conhecida no mundo todo por ser destaque do setor de varejo brasileiro apostar e investir também na cafeicultura? Ainda mais quando, tradicionalmente, o mercado não reconhecia a qualidade da bebida do café produzido naquela região?

Segundo ela mesma afirmou à equipe da Revista Attalea Agronegócios, os méritos desta conquista são exclusivas da sua equipe de colaboradores na LH Agropastoril, empresa criada para gerenciar a Fazenda Vale Verde. “São pessoas extremamente dedicadas, trabalhadoras, responsáveis e de minha inteira confiança. Houve, sim, um investimento por parte da empresa. Mas não chegaríamos a estes resultados se não fosse o trabalho e o empenho de cada um dos colaboradores, em especial o Edinho e a Roberta. São merecedores das conquistas que tivemos com a cafeicultura nesta região”, afirmou a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza e proprietária da Fazenda Vale Verde.

À direita, o casal Edson Gonzaga de Souza e Roberta Faleiros de Souza (responsáveis pelo gerenciamento da propriedade na Região do Itambé, município de Cássia/MG). À direita, a empresária Luiza Helena Trajano, proprietária da LH Agropastoril – Fazenda Vale Verde e presidente do Conselho do Magazine Luiza.

Edimilson Bezerra, consultor em cafeicultura da Casa das Sementes e Insumos Agrícolas, que atende a propriedade há mais de três anos, concordou inteiramente. “Esta mudança de paradigma na cafeicultura da Região do Itambé deve-se ao trabalho de uma equipe extremamente dedicada, aliado à consultoria especializada em cafeicultura, difusão de tecnologias, manejo correto do solo, conhecimento da fisiologia do cafeeiro e um trabalho árduo na secagem de terreiro”, resumiu.

A Casa das Sementes e Insumos Agrícolas é uma das mais tradicionais revendas agropecuárias da Região da Alta Mogiana, com mais de 30 anos de trabalho voltado ao homem do campo, especializada em produtos agrícolas, bem como todo material para jardinagem, adubos, foliares, sementes, defensivos e irrigação.

Com vigor e excelente carga, no talhão da variedade “Mundo Novo”, Edimilson Bezerra (Consultor da CASA DAS SEMENTES) e Edson Gonzaga, o “Edinho” (gerente da Fazenda Vale Verde).
Mateus Coelho (gerente da CASA DAS SEMENTES), Edimilson Bezerra (consultor da CASA DAS SEMENTES) e Edson Gonzaga, o “Edinho” (gerente da Fazenda Vale Verde).

A Fazenda Vale Verde – LH Agropastoril está situada na região do Itambé, município de Cássia (MG), nas margens do Lago de Furnas, bacia do Rio Grande, a uma altitude média de 650 metros, com temperaturas máximas e mínimas anuais que variam de 30ºC a 15ºC e índice médio pluviométrico anual de até 1.600mm, com estações seca (maio a outubro) e chuvosa (novembro a abril) bem definidas.

Consultor da Casa das Sementes há mais de 30 anos, Edimilson Bezerra é um respeitado consultor em cafeicultura e dos pioneiros na indicação aos cafeicultores da Região da Alta Mogiana sobre a importância da produção de massa na cafeicultura, com ênfase na condução da braquiária. Há cerca de três anos, é o responsável pela assistência técnica das lavouras de café da propriedade.

A equipe da Revista Attalea Agronegócios foi recebida com um belíssimo “café medroso”, como chamamos aquele café bom que vem acompanhado por bolo, biscoito, pão caseiro e manteiga da roça.

Edson Gonzaga de Souza, o “Edinho” como é conhecido na região, é gerente da Fazenda Vale Verde desde 2005, quando assumiu a condução dos 14 hectares de café da propriedade. Casado com Roberta Aparecida Faleiros de Souza, o casal tem dois filhos: a jovem Ana Luiza, que mora na propriedade e Marcos Paulo, recém formado em em Engenharia Agronômica pela FAFRAM e que se encontra em estágio no IAC – Instituto Agronômico de Campinas.

“Antigamente, todas as propriedades aqui do Itambé eram utilizadas para produção de gado ou plantio de milho. A Luiza Helena adquiriu o rancho inicialmente para lazer. Não havia intenção do cultivo do café. Quem começou com o café aqui foi o meu pai, em 1996, quando ele plantou a primeira lavoura (4 hectares). Logo depois, quem passou a cuidar desta lavoura foi um cunhado. Eu voltei para o Itambé somente no ano 2000 e a lavoura já tinha 14 hectares e estava arrendada. Foi a partir do final de 2005, com a rescisão do contrato de arrendamento, que eu comecei a mexer com café aqui. Eram 14 hectares de café. Café muito judiado. No primeiro ano deu 100 sacas. Mas no segundo ano, fomos para 760 sacas. Então, a Luiza Helena despertou: peraí, este negócio aí vai dar certo. A partir daí, com total apoio da Luiza Helena, nós passamos a investir mais nas lavouras de café. De 14 hectares passamos para 28 e atualmente estamos com 50 hectares”, explica Edinho.

Aspecto da lavoura da variedade “Mundo Novo”, antes e depois do esqueletamento.

QUALIDADE DE BEBIDA

A questão produção foi incentivada. Mas o gerente explica que, por muito tempo, a questão qualidade de bebida sempre foi muito questionada pelos compradores. “Levei amostras do nosso café para vários locais e antes mesmo de provarem, eu sempre ouvia deles que o café do Itambé não bebe. Não desanimei não. Investimos mais no café. Um dia, levei o nosso café em uma cooperativa da região e não disse de onde era. Daí o provador de lá me perguntou: O Edinho, de onde é este café? Respondi: ‘uai sô, é do Itambé, ué!’ Ele retrucou: ‘Nossa, mas o café de lá não dá esta bebida não!’ E não acreditou que o café que eu levava era daqui do Itambé”, afirmou Edinho.

De acordo com o gerente da propriedade, a desconfiança foi difícil de quebrar. “Onde eu levava o café eu ouvia: ‘Ih, sei não, café do Itambé não bebe!’. Respondia sempre: ‘uai, sô, prova o café. Vamo vê no que dá!’ Só conseguimos ter o nosso café reconhecido após um laudo de boa bebida emitido pela Syngenta. A partir daí, graças a Deus, nunca mais tivemos problemas com bebida do café daqui”, explicou Edinho.

Contudo, quando questionado se ele poderia explicar o motivo da resistência dos compradores pelos cafés produzidos na região do Itambé, Edinho foi categórico: “Produzir café aqui nesta região exige muito trabalho. O problema aqui se chama terreiro. Aqui não se pode brincar com café no terreiro, que você perde ele mesmo. E o pessoal aqui não cuida. Por isso não dá bebida. Aqui você tem que rodar o café, mesmo, bastante. Deixar os grãos no terreiro com no máximo 20-25cm de altura. Tem que arejar o café. E como o inverno no Itambé também é complicado, tudo isto faz com que o café daqui não pontue, não dê bebida”, explica.

Detalhe da boa carga do cafeeiro variedade “Catuaí-99”
Cafeeiro da variedade “Catucaí 2SL”

INVESTIMENTO NA LAVOURA

A primeira ação efetiva adotada por Edinho na melhoria das lavouras de café da Fazenda Vale Verde foi erradicar as lavouras antigas e adotar variedades mais produtivas e resistentes. Ao mesmo tempo – com o retorno financeiro obtido com o aumento da produção anual de café – a área da fazenda foi sendo ampliada ano a ano com a aquisição de algumas propriedades vizinhas.

O gerente afirma que, a partir das orientações da equipe da Casa das Sementes, a lavoura de café chega a 50 hectares, totalmente irrigados, com grande parte deles em plantio reto. Cultivam 8 variedades diferentes: “Catuaí 99 Vermelho”, “Acauã”, “Mundo Novo”, “Arara”, “Catucaí Amarelo”, “Obatã”, “Catucaí 2SL” e “IAC 125”. “Todas são muito boas. Mas, atualmente, já temos parâmetros econômicos suficientes para entender quais destas variedades são melhores para nossa região e quais poderemos substituir”, explicou Edinho.

Segundo Edimilson, a ideia é escolher a variedade que dá uma expressão maior de produtividade média. “O ‘Obatã-Amarelo’ é bem superior que as demais. Aqui temos lavouras com 10 anos extremamente produtivas. A média desta variedade, quando ela carrega e se fizer tudo certinho no manejo, é de 55-60 sacas por hectare. Para o ‘Mundo Novo’, alcançamos média de 44 sacas por hectare. Mais que isto, muito difícil”, explicou o consultor.

A questão primordial, assim como para qualquer tipo de empresa, é o retorno financeiro. “Eu ouço muito cafeicultor falar que produzir muito e produzir menos custa a mesma coisa. Eu digo que a lavoura que produz menos custa mais caro. Porque ela não tá te dando o retorno. Outra questão que eu aponto é a incidência de doenças. Ferrugem adora o ‘Mundo Novo’, já no ‘Obatã’ não temos esta dor-de-cabeça. Particularmente, considero o ‘Obatã’ melhor que o ‘Arara’. O ‘Obatã’ foi muito injustiçado. Por ser muito produtivo, ele necessita de um bom trato. E quem plantou, anteriormente, não teve este cuidado”, advertiu Edinho. Para Edimilson, o ‘Obatã’ é mais estável que o ‘Arara’. Consigo ter uma média de produtividade melhor com o ‘Obatã’ do que o ‘Arara’, além de ter um padrão de peneira melhor”, disse.

Edinho mostra o vigor da lavoura de café da variedade “Arara” com 2 anos

Com relação a estas novas e boas variedades de café no mercado, Edimilson destaca a importância da pesquisa brasileira na cafeicultura. “Os pesquisadores trabalharam por décadas para lançar materiais consistentes. Eliminar uma ferrugem dentro de um cafeeiro já é um passo importante. Para qualquer material que está no campo hoje, ele tem pelo menos 20 anos de avaliação. Para o produtor ele é novo, mas para a pesquisa não é. Ressalto o seguinte. Há sim uma diferença entre a pesquisa genética para cereais e aquela para o café. Veja bem, nos cereais, quando se lança uma nova variedade, o produtor já vai plantando. No café, o produtor ainda quer o ‘Mundo Novo’ e o ‘Catuaí’. Eu digo o seguinte: numa propriedade rural, uma análise para a implantação de uma cultura perene deve contar com o melhor material existente e não o que o produtor quer escolher. Foi para isto que a pesquisa trabalhou. Assim, digo que o cafeicultor, na sua decisão, deve ser muito profissional. Pois será uma lavoura para, pelo menos, 40 anos! Não é para arrancar no ano que vem”, orientou Edimilson.

Segundo o consultor da Casa das Sementes, o cafeicultor tem que procurar o máximo de informações para ser assertivo na sua decisão. “O sucesso de um cafeicultor está na: escolha da variedade; manejo adequado; conhecer bem a fisiologia do cafeeiro, para ajustar a produtividade da lavoura; não tratar o café como sendo um presente do meu pai para mim”. Em lavouras perenes, leva-se tempo para corrigir uma decisão falha. Mas é possível. Aqui na Fazenda Vale Verde nós conseguimos em 36 meses, através da consultoria da equipe Casa das Sementes, recolocar a lavoura num padrão de produtividade que seja lucrativo. O Edinho afirmou corretamente. A lavoura que produzir menos vai dar prejuízo, pois a estrutura envolvida na produção do café é a mesma para lavouras que produzem mais ou menos. Mas destaco: uma produtividade maior só vai ser alcançada se o cafeicultor e seus colaboradores fizerem o ‘dever de casa’, que se resume em: correção do solo mais cedo; adubação de inverno; e fazer as correções de cálcio, magnésio e potássio enquanto ainda vai chover neste ciclo. Veja bem, estamos em 2022. Se não fizermos isto agora, a lavoura vai responder em 2024 e não em 2023”, advertiu Edimilson.

“Eu vejo que o cafeicultor, principalmente o pequeno, ainda está muito ‘atrasado’. Vamos comparar com o produtor de soja e milho. Olha a tecnologia que os caras usam. Eles mudaram rapidamente a forma de trabalhar. Eles não brincam. Já o cafeicultor ainda tá muito naquela coisa lá de trás, de usar 20-5-20, espera chover, e quando chove espera três meses para uma adubação, aplica defensivos em época errada. Tem que procurar uma consultoria profissional, que entende do assunto. E aceitar as recomendações do consultor. O que adianta o Edimilson me passar uma recomendação e eu colocar o papel ali em cima da prateleira? Tenho que fazer o dever de casa. Quem tem que ganhar com a recomendação do consultor sou eu, o cafeicultor. Está sendo maravilhoso. Estamos chegando no terceiro ano de consultoria e os resultados mostram que estamos no caminho certo”, explicou Edinho.

Segundo Edimilson, é na prática, nos resultados alcançados na lavoura, que se confirma que o trabalho está sendo bem feito. “Nós sempre discutimos juntos em cada recomendação. O Edinho mostra o seu ponto de vista e eu mostra os motivos pelo qual cheguei em determinada recomendação. Precisamos confiar no trabalho um do outro. E, neste sentido, gostaria de ressaltar uma coisa. Sempre que a gente fala na produção, dizemos que nenhum colaborador tem a voz mais alta que os outros. Todos estão no mesmo nível. E o conjunto destes colaboradores é o que vai fazer com que a atividade seja mais eficiente. Luiza Helena, Edinho e os demais colaboradores, cada um tem sua responsabilidade”, ressaltou.

O manejo adequado do cafeeiro promove além de uma carga excepcional, um excelente enfolhamento até mesmo na saia da planta.
Adubação de inverno: garantia de manter a planta enfolhada, com nutrientes suficientes para programar a próxima safra de café.

EQUIPE COMPROMETIDA

O sucesso em qualquer empreendimento depende de vários fatores. E, um dos principais, está na escolha adequada e assertiva da Equipe de Colaboradores. No caso da Fazenda Vale Verde, para a surpresa da nossa equipe, não é o número de colaboradores que faz com que os resultados sejam alcançados, mas sim no comprometimento de todos em todas as fases da atividade.

“Aqui na propriedade, nós temos uma equipe muito boa. É uma equipe fantástica. São apenas cinco colaboradores efetivos. Para todas as áreas. Mas todos ajudam em todos os setores. Só para você entender, um dia eu estava em Cássia (MG) e uma colaboradora nossa estava passando pela lavoura (mas que não trabalha efetivamente na lavoura) e me enviou uma foto pelo whatsapp de um pezinho de café que estava com sintoma de Requeima. Com isto, imediatamente, já começamos a planejar as decisões para barrar o problema. Eles me ajudam a ‘policiar a lavoura’. Eles trabalham com gosto aqui. Eu digo que, não só eu ou minha esposa, mas cada um de nós aqui temos compromisso pelo sucesso da empresa, seja na lavoura, na limpeza, na organização, na contabilidade, em tudo! Acho que aprendemos isto com a Luiza Helena. Ela sabe de tudo o que está acontecendo. Mas ela nos dá a liberdade de trabalhar. É com ela que eu me identifico e, com isto, transfiro a todos os nossos colaboradores”, ressaltou Edinho.

E complementa: “Minha esposa Roberta tem um papel importantíssimo nisto também. Todos estes nossos colaboradores que estão conosco agora foi ela quem indicou. Ela tem visão. Toda vez que só eu escolhi, me dei mal”.

“É extremamente importante tudo isto que o Edinho falou. Contar com uma equipe comprometida com o sucesso das atividades em uma empresa facilita demais para o proprietário, mas também para nós, da assistência técnica. Veja bem, a utilização do whatsapp com imagens e informações de quaisquer problemas na lavoura, facilita demais o meu trabalho como consultor. Com informações antecipadas, lá da minha casa mesmo, já tomamos decisões para solucionar o problema mais rapidamente”, afirmou Edimilson.

CAFÉ DE “ATITUDE”

O clima da região do Itambé é um dos fatores que merecem atenção dos cafeicultores, segundo o gerente do Sítio Vale Verde. “No pé do café, posso dizer que a maturação adianta muito, quando em comparação com cafés em áreas mais altas. Além disto, o inverno no Itambé também é complicado, pela umidade alta”, adverte Edinho.

“O cafeeiro é uma planta que exige altitude mais altas para produzir bem e com qualidade. Porém, é fato: o café produzido aqui no Itambé, em altitudes mais baixas, vai pontuar sim. Porém, exige do cafeicultor uma atenção primordial: precisaria secar em lugares mais altos ou então saber manejar corretamente o café no terreiro. Não vamos dizer que vai sair lotes de café acima de 85-86 pontos, por causa de altitude. A nossa proposta é produzir bebida dura. Mas, só para se ter ideia da qualidade do café na lavoura, esta semana a gente pegou o refratômetro e mediu o grau Brix do grão do café. Deu 27,5 pontos. O açúcar está ali. Então, é daqui prá frente que o café pode se deteriorar. Seja em baixas altitudes, seja em altas altitudes, o café também pode se deteriorar. É questão de ter o capricho na secagem. O Edinho e sua equipe de colaboradores conseguiu acertar o ponto do terreiro aqui no Itambé e consegue tirar café ‘Duro’”, explicou Edimilson.

Edinho concorda: “A fase final do café é que é o problema. A árvore já deu a bebida. O único ponto que tem que se atentar é no terreiro. É muito fácil perder um café bom de um dia para noite. Como estamos em altitude baixa, a umidade é muito alta no inverno. Muita neblina. A escala de tempo é muito pequena. Eu falo que, aqui no Itambé,
não temos um CAFÉ DE “ALTITUDE”, temos aqui um CAFÉ DE “ATITUDE”, ressaltou.

Em face da importância do manejo da secagem no terreiro na região, perguntamos ao gerente da Fazenda Vale Verde se ele utilizava algum produto para auxiliar. Edinho foi enfático: “Produto? Não. Isto não funciona. É uma anarquia, só faz bagunça. A receita é o tempo. É rodo, rodo e rodo de novo. Não tem jeito. Tem que rodar o café no terreiro. Só assim teremos qualidade. E precisa ter cuidado com o grão. Desde a colheita até o final da seca. Uma coisa que eu vejo muito. Muito companheiro faz isto. Colhe café que tá aquele mel. Gruda na caixa. E deixa lá.

Acabou a colheita, larga a máquina debaixo da árvore. E o pau vai quebrando. Só no ano que vem que ele lembra que tem uma colhedeira. E começa a colheita novamente sem limpar. Qualidade é tudo. Aqui é assim: você rodou o café duas vezes, passa o soprador. Volto aquele cafezinho do canto para o meio. Você não sabe qual grãozinho vai para a prova”, orienta Edinho.

Edimilson Bezerra realiza a Determinação do Grau Brix do café em campo: 27,5º Bx (1 grama de açúcar por 100 gramas de solução ou 1% de açúcar)

MANEJO DA LAVOURA

Segundo o consultor da Casa das Sementes, as lavouras da propriedade não recebem nenhum trato cultural diferenciado. Trabalham com colheita manual (lavouras novas) e colheita mecânica nas lavouras adultas (colheita de árvore e varrição). Além disto, todas as lavouras são irrigadas. “Na colheita manual, a mão de obra é contratada diretamente na cidade de Cássia (MG)”, disse Edinho.

Em toda tomada de decisão na Fazenda Vale Verde, consultor e gerente discutem a melhor para a empresa. A equipe leva sempre em consideração o retorno financeiro da atividade. Destacamos um exemplo. Em uma determinada lavoura o gerente apontou a necessidade de esqueletamento. O consultor Edimilson apontou que, na atual fase da cafeicultura e do estado sanitário daquela lavoura, o retorno financeiro da colheita da safra seria mais interessante do que o esqueletamento.
Com relação aos maquinários utilizados na propriedade, Edimilson destaca a importância da evolução dos
equipamentos nos últimos anos. “É extremamente importante para o cafeicultor a utilização de máquinas com mais tecnologia. Na pulverização, uma gota de produto que cai em lugar errado é desperdício. A regulagem tem que ser bem feita. Bico a mais na pulverização, prá quê? Ele precisa ter o dinheiro melhor aplicado em suas lavouras, seja na colheita, seja na pulverização”, advertiu.

Devido ao déficit hídrico na região do Itambé em fases importantes da cultura do café, a tomada de decisão para a implantação da irrigação em todas as lavouras foi fundamental para garantir a produção. “A irrigação é fundamental. Aqui no Itambé em setembro, na florada, é o período mais crítico de déficit hídrico e temperatura. Se não fornecer água a partir de agosto, perco a florada. Só para você entender, no último ano, os vizinhos que tiveram excelente florada, mas não dispõe de irrigação, perderam 100% da carga. Não vão ter colheita. Aqui não dá para arriscar. Em 2015, quando a represa deu aquela baixa extrema e ficamos sem irrigação, nosso café não granou”, explicou Edinho.

E está enganado aquele que pensa que a implantação total da irrigação nas lavouras da propriedade tem a ver com fertirrigação. “Em nossas lavouras, trabalhamos com adubação convencional. Nós preferimos. Com exceção das lavouras novas (com 1,5 a 2 anos), não trabalhamos com fertirrigação. Observamos aqui que a fertirrigação concentra muito, faz a planta ficar preguiçosa, além de dar muito tombamento. É um sistema muito prático, mas no nosso caso não justifica”, enfatizou o gerente.

Para Edimilson Bezerra, a pesquisa já mostrou que a fertirrigação é um suplemento, mas não a principal. “Além dos problemas já detectados de salinização do bulbo, outro ponto negativo que destacamos na fertirrigação observamos nas imagens que fizemos com drones. Animais (silvestres ou até mesmo cachorros dos ranchos) danificam as linhas de gotejo (talvez pela sede), fazendo com que haja excesso de nutrição naquele ponto, chegando a matar o pé de café, deixando buracos no meio da lavoura. A partir daí, decidimos fazer da fertirrigação como sendo a prática suplementar e não a principal”, explicou o consultor.

Lavoura da variedade “Arara” com Plantio em Tiro Reto e manejo de Braquiária na entrelinha do cafezal.

EFICIÊNCIA E PLANEJAMENTO

Para muitos, a técnica do Plantio em Tiro Reto das mudas de café é uma novidade. “Desde 1997, quando passei a prestar consultoria para a Casa das Sementes, eu sempre indicava o plantio em tiro reto e proteção do solo da entrelinha com a produção de massa, no caso, o manejo da braquiária”, afirmou Edimilson Bezerra.

O Plantio Reto é uma forma de plantio que visa o alinhamento reto e o maior comprimento das ruas de café, o que favorece um maior rendimento operacional e facilita a mecanização da lavoura.

“Com o Plantio em Tiro Reto, a gente aumenta pelo menos 25% de logística de equipamentos de aplicação no ano inteiro. Quando eu tenho muita manobra, além de perder área, perco também em eficiência. Mas eu ressalto: sem o manejo da braquiária eu não recomendo plantar café sem curva de nível. O cafeicultor interessado na técnica deve procurar a consultoria da Casa das Sementes, que a gente vai passar as orientações para se fazer de forma correta”, ressalta Edimilson.

Outro ponto extremamente importante na consultoria da equipe da Casa das Sementes está na garantia de continuidade expressiva da safra de café ano após ano. “O cafeicultor que quiser ganhar dinheiro, precisa conhecer a fisiologia do cafeeiro (que vai de fevereiro a junho) e fazer a adubação de inverno para poder garantir a próxima safra. A planta entrega a produção num ano e necessita de nutrientes para programar a safra do próximo ano. Esta é a diferença de manter a planta enfolhada. Veja aqui nestas lavouras. Vamos colher este ano 70 sacas por hectare. No ano que vem vamos ter novamente 70 sacas por hectare”, finalizou Edimilson.

Ampliação do terreirão para secagem do café na Fazenda Vale Verde.

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