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[Joseph Reiner] – Comentário Semanal Café – 15/12/2024

JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.

Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS

O mercado fechou última sexta-feira em 319,50 centavos, base Março, contra o fechamento de sexta-feira retrasada em 330,25 centavos. Basicamente o mercado se consolida em um range estendido entre 290 a 340 centavos (olhar com atenção a faixa de 336 / 338,40), pois na semana o mercado puxou novas altas históricas acima dos 340 centavos.

Fatores baseados em fundamentos continuam os mesmos na questão climática e uma deficiência na produção brasileira para a safra 25/26, porém que já vem se acumulando desde a última geada perante um consumo que vem crescendo acima de crescimento orgânico.

Os estoques certificados chegam perto das 940 mil sacas. Os Fundos basicamente continuam com as mesmas posições compradas.

Londres deu um bom suporte ao mercado esta semana com fortes chuvas atingindo as áreas de café do Vietnam, atrasando mais ainda a colheita e podendo afetar a qualidade dos cafés que estavam secando.

De interesse o USDA saiu com uma nova estimativa para a safra corrente de Robusta do Vietnam em 29 milhões de sacas. As fontes confiáveis por lá, continuam indicando safra de 27,5 milhões. A arbitragem pode abrir razoavelmente na entrada do Conilon.

No Brasil o mercado físico continua bastante travado, com a venda dos produtores chegando a 79% da safra segundo a agência Safras & Mercado. Juntando a isto a costumeira retração de venda em Dezembro por temas fiscais, o mercado deve continuar muito enxuto de vendedores.

Os embarques de Dezembro normalmente mostram uma retração, e neste ano não deve ser diferente com os feriados de final e ano e os gargalos logísticos.

E já começamos a temporada de “caça“ das estimativas de safra Brasil!! Já saímos com estimativas de 34 a 45 milhões de sacas de Arábica para a próxima safra!

O clima esquentou nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais… como disse a algumas semana atrás… não vai ser um ano fácil para os profissionais que rodam o país tentando decifrar o número.

No macro, no começo da semana o fator “Alckmin Presidente“ chegou a levar o Dólar na casa dos R$5,90, porém durou pouco. Com o aumento da taxa básica de juros por aqui em 1% para 12,25%, e a promessa de pelo chegarmos aos 14,25% (mais provável bater os 15%) faz mais sentido adiar no momento a troca.

Com o pacote de ajuste fiscal sendo “desidratado“ no Congresso, a reforma tributária aprovada pelo Senado, mas longe de ser o que poderia ser para modernizar o país (vamos ter o IVA mais alto do mundo em 28,5%), e uma inflação que continua caminhando para os 5%…difícil termos um grande fluxo de capital vindo ao país.

Na sexta-feira o BC ainda teve que realizar um leilão de quase US$1 bilhão para segurar as cotações, e mesmo assim fechamos em R$6,03. Acho que continuamos com a situação que as cotações atuais entre $5,80 e $6,20 refletem o desgaste já absorvido pelo mercado.

Não podemos também de deixar refletido que as últimas pesquisas de intenção de votos que colocam Lula e/ou Haddad na frente de Tarcisio/Marçal/Caiado para 2026 desanimam qualquer Cristão, Muçulmano, Judeu, Budista, etc, etc. O fator risco Brasil continua aumentando, e no momento existem outros destinos mais balanceados para risco/retorno para o capital internacional.

Lá fora, continuam as apostas que o FED americano vai derrubar em 0,25 p.p. a taxa básica de juros semana que vem.

O mercado começa a prever uma maior cautela do FED em 2025, mesmo porque o FED deve esperar para ver e entender os impactos da política econômica do governo Trump.

Não é novidade, todos vocês devem ter lido as reportagens sobre o aumento de preços do café na gôndola aqui e no resto do mundo. Sendo a segunda bebida mais consumida no mundo (somente atrás de água), o café é conhecido por ser uma mercadoria muito inelástica… ou seja, precisa ter uma variação de preços expressiva para uma queda de consumo. E é claro, esta percepção de valor vai variar muito de país para país. Hoje temos uma dinâmica econômica e de consumo diferente dos choques de preços do passado.

Temos um consumo muito maior no Oriente Médio e Ásia, o advento e crescimento do consumo de cápsulas, que tem uma dinâmica de aumento de preços diferenciadas, um efeito “Starbucks“ muito mais pronunciado em todo o mundo, nominalmente (não proporcionalmente) um número muito maior de consumidores com um potencial financeiro de consumo maior (não precisa fazer muita conta… é so começar por China e Índia). Por outro lado, não temos mais o estoque regulador do IBC, e somente Brasil e Vietnam cresceram suas produções em escala no últimos anos para acompanhar o consumo. Sem contar com todo assunto de mudanças climáticas.

Se continuarmos no mesmo ritmo de consumo, usando o consumo estimado do ICO, em cerca de 10 anos estaremos em 200 milhões de sacas ao ano de consumo. A gente já conhece a história… com preços altos o mundo inteiro vai plantar etc, etc, etc… mas na verdade, na verdade, em termos de área, recursos naturais, infraestrutura de armazéns, só o Brasil tem a rápida capacidade de expansão.

Sim, vamos ver alguns milhões a mais de Colômbia e algumas outras origens, mas mover o ponteiro mesmo, somente nós temos a capacidade. Ok… a África também tem área e recursos naturais, mas sem infraestrutura, geopolítica e capacidade financeira bem complicada. Isto sem falar que no fundo mesmo, só Kenya e Ethiopia teriam volumes de qualidade. Se a expansão não ocorrer para colocar mais 30-35 milhões de sacas no mercado em 10 anos… é simples… não vamos consumir 200 milhões de sacas. O preço não vai permitir.

Boa semana a todos!
Joseph Reiner

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