JOSEPH JUNQUEIRA DE M. REINER
Especialista com 36 anos de mercado em exportação e empresas de varejo.
Atuou também no gabinete do Ministro Blairo Maggi e
hoje atua em Conselhos, além de ser produtor de café no Sul de Minas.
Escreve semanalmente sobre o mercado de café para a CAFEZAL SUL DE MINAS
O mercado fechou sexta-feira em 297,55 centavos, base Setembro, contra um fechamento sexta-feira retrasada em 303,60 centavos. Ficou preso no canal entre 275 e 310 centavos. É a segunda vez em um curto espaço de tempo que o mercado testa o suporte e volta. Mesma dinâmica quando se aproxima dos 310 centavos, só que com vendas técnicas.
Os certificados de Arábica caem para perto das 800 mil sacas, enquanto os estoques certificados de Robusta sobem. O espelho da arbitragem que continua na faixa de 150 centavos, e que continua sendo uma supresa do ponto de vista do torrador. Veremos se isto continua com as tarifas sobre o café brasileiro, caso as mesmas ocorram.
Produtor de café não tem paz. Se não é geada, é seca ou granizo. O evento de sexta-feira sobre o Sul de Minas teve uma dimensão geográfica surpreendente. Eu não me recordo nos últimos de uma área tão extensa sendo atingida por granizo, que normalmente é um fenômeno mais localizado.
Eu estava em Varginha na sexta-feira no final da tarde, enquanto a 30 km dali, a rodovia Fernão Dias parecia uma cena da Alpes Suíços. Varginha foi uma chuva torrencial com fortes ventos por quase 1 hora. E impossível mensurar o tamanho do prejuízo. Em poucos quilômetros ia de granizo para chuva e de chuva para granizo. Neste momento não dá para mensurar área plantada de café realmente atingida.
O que dá para mensurar é que com 70 a 75% da safra colhida, o vento derrubou café no chão dos 25% restantes, e o que estava no terreiro não teria como resistir a umidade pelo vento e intensidade das chuvas. Teremos mais problemas de qualidade.
A semana vinha bem até a queda de sexta feira (mercado e granizo). Foi até uma semana de bons negócios no físico, com o café chegando ali nos $2.000 Reais. No FOB vimos mais negócios no entorno de 20 abaixo para os cafes duros MTGB de Agosto a Outubro.
No macro, o Real continua mostrando uma resiliência surpreendente. Nada de concreto mostra ate agora que Trump vai rever sua posição sobre o Brasil. É uma mistura de politica (BRICS), econômica (big techs), e talvez um pouco de pessoal (Bolsonaro passando o que eu passei).
O impacto pode ser bem razoável na economia, caso além de tarifas, tenhamos sanções em setores específicos.
Técnicos avaliam que pode impactar o PIB em quase 0,6% em 2026. Neste contexto, o Real até resiste, mesmo porque o fluxo cambial começa a reverter com menos entrada de capital produtivo e saída de capital especulativo. Veremos o que realmente vai acontecer, mas o fato é que $5,50 se consolida como importante suporte.
Do lado político Lula banca a briga. Não tem nada a perder. Como dissemos, sai de um governo moribundo, para um governo que defende a soberania e um “nós contra eles” turbinado. Volta a ter chances para 2026.
A Casa Branca fechou na última semana acordos com Japão, Indonésia e Filipinas. A Indonésia saiu de 32 para 19% de taxação. De tudo que eu li, não observei nenhuma exclusão do café. O Japão ficou em 15%. De um modo, é um alívio pois a tarifa pre acordo estava em 24% para o Japão, porém o pais sai de 1,6% em tarifas não agrícolas para 15%. Um aumento muito expressivo, e que no fundo não vai trazer nenhuma vantagem competitiva para industrias americanas (nem no automotivo).
Os $550 bilhões de dólares que o Japão disse (ou melhor, Trump disse) que vai investir nos EUA, por enquanto é só promessa (como também a abertura maior para os produtos americanos nos mercados locais).
Deputados americanos tentam ainda convencer o departamento de comércio que tarifas sobre alimentos não produzidos (ou muito pouco produzidos) no país, não trazem nenhum benefício a não ser aumentar os preços para os consumidores. Café no topo da lista.
Até o momento não temos nenhuma visibilidade da exclusão de café da lista de tarifas (nossa ou de outros produtores).
Dificilmente Trump vai voltar atrás antes do dia 1° para o Brasil e o resto do mundo, com exceção da EEUU que podemos ver um fechamento de acordo entre hoje e terça-feira, na casa dos 15%, e a China que é um caso à parte e com data final para um acordo em aberto (China não volta a 145% dia 1°). Também estou bastante curioso qual vai ser o tratamento para a Argentina.
Lula já em campanha, talvez não esteja nem aí para possíveis tarifas e sanções, mas tem muita gente preocupada se os EUA aplicarem o Ato/Lei Magnitisky. Foi uma lei inicialmente direcionada para os oligarcas Russos, e depois em 2016 expandiu para alcance global. É direcionada a indivíduos e entidades envolvidas em crimes de direitos humanos e corrupção.
As sanções são amplas, desde revogação de vistos, a bloqueio de contas bancárias, uso de cartões de crédito de empresas americanas, etc. Tem mais… a Inglaterra, EEUU, Austrália e Canadá tem leis quem espelham a Magnitisky. Via de regra, caiu na malha fina de um…cai na de todos.
Quem tem conta lá fora, se não está, deveria ficar bem preocupado, se for um possível alvo. Não é à toa, semana passada o Banco Master foi o primeiro a oferecer um cartão de crédito chines (lá na China muito usado como cartão de débito), que utiliza o sistema de compensação chines e não o usual Swift.
A advogada que fez todo processo para a aprovação foi ninguém menos que a esposa do Ministro Alexandre de Moraes. Falar o que né, pessoal??….
Com ou sem tarifa, os EUA não conseguem ficar sem o café brasileiro (nem o mundo). Não existe Arábica com preço mais competitivo, e mesmo os países com tarifas menores, os mesmo irão ajustar seus preços para não ficar abaixo do brasileiro. A substituição de parte do blend para Robusta deveria ser o grande foco, com a arbitragem em 150 centavos. Isto pode mudar um pouco o balanceamento no início, mas lá na frente vai faltar para alguém (e a arbitragem deverias fechar bem).
A atenção somente para o consumo. Quem acredita que os percentuais de aumento registrados em safras anteriores, está se mantendo este ano, está enganado. Este é outro fator que pode também balancear fluxo e blends. Não temos como escapar da realidade que muito dificilmente vamos atingir 40 milhões de exportações.
O mercado deve continuar invertido com ou sem migração para Robusta… depois da florada veremos se invertido indo para 200 centavos, ou invertido voltando para 400 centavos.
Dólar suportado a R$5,50… não vemos base para vir abaixo . NY… segunda-feira interessante. Vamos ver se os Fundos vão mudar as perspectivas após o evento climático de sexta-feira.
Boa semana a todos!
Joseph Reiner