Quantas instituições de ciência no Brasil completam mais de um século de existência com atuação ininterrupta? Há uma em Campinas (SP), interior paulista, um raro exemplo de tradição, modernidade e excelência em pesquisa agronômica, que transfere seus resultados para todo o território nacional. Fundado em 27 de junho 1887 por D. Pedro II, o Instituto Agronômico (IAC) irá comemorar seus 135 anos nesta terça-feira, 28 de junho, a partir das 15h, na sua Sede, em Campinas (SP).
Dentre as comemorações, além do lançamento da cultivar de Erva-Cidreira (Lippia alba) IAC Citral 1, serão lançadas também seis cultivares de batatas-doces ornamentais, a Plataforma Aberta IAC de Soluções para o Agro e duas publicações: o Boletim 100 – Recomendações de Adubação e Calagem para o estado de São Paulo e o livro A Cultura da Batata-doce.
Este ano serão agraciados o pesquisador científico, Hamilton Humberto Ramos, responsável pelo Programa Aplique Bem, que já treinou 75 mil trabalhadores, aproximadamente, para aplicar corretamente defensivos agrícolas com maior eficiência para a lavoura e maior segurança para o ambiente e as pessoas. O Programa já foi transferido para seis países.
Em parceria com a UPL, o Aplique Bem avalia pulverizadores em uso com base na ISO 16122 e realiza o treinamento de trabalhadores para o uso de defensivos. A atividade é feita com laboratórios móveis, chamados TechMóveis, levados às propriedades rurais do país. Também serão reconhecidos dois funcionários de apoio: Roselaine de Fátima Baradel Testi de Lima, que atua na área administrativa e responde pelo setor de recursos humanos do IAC, e Sebastião Boarolo, funcionário na área técnica em pesquisas com seringueira. O produtor rural Magno Della Coletta será homenageado na categoria externa.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é instituto de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e tem sua sede no município de Campinas (SP). Foi fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, tendo recebido a denominação de Estação Agronômica de Campinas. Em 1892 passou para a administração do Governo do Estado de São Paulo.
Sua atuação garante a oferta de alimentos à população e matéria-prima à indústria, cooperando para a segurança alimentar e para a competitividade dos produtos nos mercados interno e externo. Seu corpo de servidores conta com 161 pesquisadores científicos e 319 funcionários de apoio. ‘Sua área física de 1.279 hectares de terras abriga a Sede, Centro Experimental de Campinas e 12 Centros de Pesquisa distribuídos entre Campinas (SP), Cordeirópolis (SP), Jundiaí (SP), Ribeirão Preto (SP) e Votuporanga (SP), ocupados com casas de vegetação, laboratórios, demais infraestrutura adequada aos seus trabalhos.
Não é por acaso que no Estado de São Paulo são cultivadas, com sucesso econômico, plantas provenientes das mais diversas regiões e climas do mundo. Por trás desse sucesso agrícola, esta o trabalho sério e persistente do Instituto Agronômico (IAC), que pesquisa sistemas de produção de mais de 100 tipos de plantas. As questões sobre o que, quando e onde plantar, como melhorar o solo e protegê-lo ou como produzir economicamente sem causar danos ao ambiente, encontram respostas nas tecnologias geradas pelo IAC. Esse trabalho iniciado em 1887, tem garantido a oferta de alimentos a população e de matéria-prima as indústrias, aumentando a competitividade dos produtos agrícolas.
O café da manhã de milhares de brasileiros tem sabor da pesquisa do IAC. Praticamente, todo café cultivado no pais foi criado em seus campos de experimentação e em seus laboratórios. O pão, os biscoitos, as bolachas e bolo são elaborados, com certeza com farinha de diferentes tipos de trigo pesquisados na instituição. Da mesma forma, o chocolate, o chá, os cereais, o açúcar, a manteiga e a geleia são provenientes de plantas melhoradas pelo IAC. Mesmo os produtos de origem animal tem influencia do seu trabalho, a melhoria das pastagens e nos componentes básicos das rações.
O Estado de São Paulo não poderia produzir a enorme variedade de frutas típicas dos mais diversos climas, se não fosse a abrangência das pesquisas do Instituto Agronômico. A introdução e a adaptação de novas variedades e melhoramento genético permitiram a diversificação de culturas, criando novas opções para os produtores e atendendo a crescente exigência dos consumidores. A diversidade de culturas e a alta tecnologia de produção permitem que a mesa do brasileiro seja abastecida durante todo o ano com frutas de excelente qualidade, tanto em sabor quanto em beleza.
Acompanhando a exigência das indústrias, o IAC tem oferecido tecnologia de ponta para produção de matérias-primas de alta qualidade. E o caso do algodão paulista, cuja característica de fibra permite a fabricação de tecidos do melhor padrão comercial, competitivo em nível mundial. Toda a produção meridional de algodão herbáceo está, praticamente, alicerçada as variedades criadas no Instituto Agronômico (IAC).
Com base nas pesquisas do IAC foi introduzida em São Paulo a seringueira, produtora do látex usado na obtenção de borracha para calçados, pneus, produtos farmacêuticos, etc. Do mesmo modo o bambu e a cana, produtoras de fibras alternativas para a indústria de papel.
Mediante melhoramento genético cultivares de plantas industriais, como cana e mamona são desenvolvidas para o mercado. Plantas nativas e exóticas são estudadas para obtenção de ativos medicinais, corantes, aromatizantes e saborizantes naturais. Além disto, o Instituto Agronômico mantém uma das mais completas coleções de plantas nativas e exóticas da América Latina, para recuperar áreas degradadas e formar matas ciliares.
CULTIVAR DE ERVA-CIDREIRA
O Instituto Agronômico (IAC) celebra 135 anos de existência com o lançamento de um material inédito no Brasil e no mundo. Trata-se da cultivar IAC Citral 1 de Lippia alba desenvolvida pelo IAC – a primeira cultivar no mundo resultante de melhoramento genético. Em 2022, a cultivar IAC Citral 1 foi registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tendo de forma inédita os descritores mínimos da espécie Lippia alba. A novidade irá atender ao mercado crescente de plantas aromáticas e medicinais, chá e óleos essenciais.
A Lippia alba, conhecida como a erva-cidreira, ocorre no Brasil todo, mas o que existem são plantas nativas, de origem espontânea na natureza, sem nunca terem sido melhoradas para apresentarem melhores qualidades aromáticas e químicas.
A cerimônia comemorativa será no próximo dia 28 de junho, a partir das 15h, em Campinas (SP). Com a presença do secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Francisco Maturro, e de lideranças da ciência e da agricultura do Brasil, agricultores de diversos setores e representantes da indústria do agro, a comemoração também terá o lançamento de seis cultivares de batatas-doces ornamentais e outras tecnologias, além da entrega do Prêmio IAC, oferecido anualmente aos servidores do IAC que se destacam em suas contribuições. Nos últimos 12 meses, o IAC disponibilizou 40 novas cultivares de diversas espécies.
“Essas sete novas cultivares IAC que serão lançadas no aniversário de 135 anos do Instituto Agronômico e que, somadas aos resultados nos últimos 12 meses, somam 40 novas cultivares mostram a força e a competência desta Instituição na geração e na transferência dessas tecnologias que contribuem com diversos segmentos agrícolas de São Paulo e do Brasil. Nossas equipes reúnem excelência científica e motivação capazes se superar as dificuldades e seguir demonstrando porque o IAC tem sua credibilidade inabalada junto a agricultores, empresas, agências de fomento e demais instituições de pesquisa e ensino no Brasil e no exterior”, comenta o diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.
O potencial agroindustrial de Lippia alba motivou a pesquisa que deu início, em 2003, ao Programa de Melhoramento Genético da espécie no IAC. Segundo a pesquisadora do IAC, Márcia Ortiz Mayo Marques, a espécie é produtora de óleos essenciais com ampla variação química, denominados de quimiotipos, dentre esses citral, linalol, mirceno/cânfora e eucaliptol. Esse amplo perfil contribui para o potenci al uso da Lippia alba como matéria-prima para diversas finalidades ou aplicações no setor industrial, incluindo o de alimentos e bebidas, biodefensivos, veterinária, farmacêutica, aromaterapia, perfumaria e cosmética.
Para avaliar o potencial aproveitamento dos clones de Lippia alba do quimiotipo citral pela indústria de bebidas, em especial a de chá, a pesquisadora coordenou um estudo, de 2018 a 2019, com quatro cultivars do Banco de Germoplasma do IAC. “Fizemos o cultivo dos quatro cultivares selecionados de Lippia alba em que foram avaliadas a produtividade da biomassa, composição química dos óleos essenciais e a análise sensorial dos chás, onde são avaliados o aroma e sabor”, comenta Márcia.
A cultivar IAC citral 1 destacou-se dos demais pela boa produção de biomassa, produção de óleo essencial e características sensoriais, sendo recomendada para consumo na forma de chá.
Como parte do estudo, a equipe realizou uma análise sensorial com a finalidade de atender critérios da indústria de bebidas para avaliar a recepção do público com o chá produzido com a cultivar IAC Citral 1. Essa etapa envolveu a participação de 60 avaliadores, que provaram a bebida e fizeram a análise sensorial, após tomarem o chá com o material IAC e outras duas bebidas elaboradas de capim-limão.
“Os avaliadores provaram o chá com a Lippia alba melhorada pelo IAC e compararam com duas amostras de chá feitos com capim-limão de duas marcas disponíveis no mercado. As 60 pessoas que tomaram o chá da cultivar IAC Citral 1 gostaram muito”, explica Márcia.
Essa fase teve a colaboração do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), também vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e à Secretaria de Agricultura.
A partir de intercâmbio de material genético diversificado teve origem a formação de um Banco de Germoplasma de Lippia alba no IAC, em Campinas, com plantas com características químicas diferenciadas. “Com esse germoplasma foram realizados experimentos de estabilidade e adaptabilidade fenotípica em diferentes regiões do Estado de São Paulo e de cruzamentos controlados e de polinização aberta, resultando em 110 clones de Lippia alba com óleos essenciais de diferentes quimiotipos”, explica o pesquisador do IAC que liderou a pesquisa, Walter Siqueira, atualmente aposentado. Os pesquisadores explicam que dentre esses 110 clones há uma coleção específica de plantas do quimiotipo citral, que deu origem ao cultivar selecionado para o mercado de chá.
“O mercado de chá é muito grande no mundo todo e o consumo vem aumentando. Por isso, a cultivar IAC Citral 1 consiste em uma nova opção de renda pa ra produtores rurais na área de plantas aromáticas e medicinais e para a indústria brasileira de chá”, avalia a pesquisadora do IAC.
O mercado de bebidas naturais, funcionais e mais saudáveis com foco na saúde, tais como o chá, tem ganhado espaço no cotidiano da população mundial. Essa tendência tem sido acompanhada pelo consumidor brasileiro. De acordo com a Euromonitor International o consumo de chá no Brasil cresceu 25% de 2013 a 2020, correspondendo a quase o dobro da média mundial.
Conheça a Lippia alba
A Lippia alba se destaca entre as espécies nativas do gênero Lippia da flora das Américas, pertencentes ao grupo de plantas aromáticas e medicinais, com potencial para exploração agronômica e industrial.
No Brasil, ela está distribuída por todo território nacional. Por aqui é popularmente co nhecida como erva-cidreira, cidreira-brasileira, falsa-melissa, entre outros nomes.
De acordo com Walter Siqueira, trata-se de espécie não domesticada, porém muito conhecida e disseminada no Brasil, pelo uso consagrado das folhas e inflorescências na medicina tradicional, na forma na forma de decocções e infusões devido às propriedades digestivas, tônicas, anti-inflamatórias e analgésicas.
Toda a pesquisa contou também com os pesquisadores do IAC Carlos A. Colombo, Joaquim Adelino, Sandra Maria Pereira da Silva, Hélio Minoru Takada, Antonio Lúcio M. Martins e Luís Carlos Bernacci, este último responsável pelos descritores mínimos presentes no registro do material.
SERVIÇO
Aniversário de 135 anos do IAC
Data: 28 de junho de 2022
Horário: a partir das 15h
Local: Sede do IAC, avenida Barão de Itapura, 1481, Campinas (SP)