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ARTIGOS

[Afonso Peche Filho] – Cobertura do solo como indicador de uma boa agricultura

AFONSO PECHE FILHO
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico do
IAC – Instituto Agronômico

www.iac.sp.gov.br

Com o passar dos anos a necessidade de cobrir o solo fica evidente na agricultura brasileira. A erosão anda generalizada pelos quatro cantos do país. Muitos profissionais e agricultores sabem do problema, mas são indiferentes ou acham de pouca importância.

A luz do moderno conhecimento em agricultura tropical, não é mais possível aceitar sistemas de produção que preconizam o solo descoberto. O impacto destrutivo da exposição do solo é muito alto e cumulativo. Ocorrem perdas da fertilidade natural e redução da capacidade de recarga hídrica em caráter irreversível. Em áreas planas a intensidade erosiva é ainda maior.  Muitos são os fatores que justificam cobrir constantemente o solo agrícola, mas três são fundamentais: chuvas torrenciais, altas temperaturas na superfície, e a falta de reposição da matéria orgânica.

O fato é muito conhecido, mas os agricultores não se previnem para enfrentar os efeitos que caracterizam o verão e o outono do território brasileiro. Neste período as constantes chuvas brandas vão saturando o solo e aumentando sua vulnerabilidade erosiva, ou seja, sua erodibilidade. Ao mesmo tempo ocorrem os maiores aumentos de temperatura no ano e também alta taxas de decomposição dos restos culturais deixando o solo parcialmente exposto. A figura 1 mostra os efeitos devastadores da erosão em áreas planas e com o solo exposto plano.

Quando o solo exposto estiver saturado de água e receber uma chuva pesada fatalmente vai ocorrer erosão, com maior ou menor intensidade. A condição de solo saturado, associada ao de solo exposto potencializa os efeitos destrutivos das chuvas torrenciais (erosividade). Esse tipo de chuva produz gotas grandes e pesadas que ao chocarem com o solo provocam desagregação intensa gerando alta quantidade de materiais finos (argila ou silte) que são carreados pela água entupindo a porosidade interna, reduzindo a velocidade de infiltração e como consequência aumenta o escorrimento superficial.

Sem cobertura o solo fica exposto aos raios solares provocando, grandes variações térmicas nas camadas superficiais. Em determinados momentos do dia fatalmente ocorre picos de altas temperaturas produzindo o estresse térmico que muito prejudica o desempenho produtivo das plantas sendo também, fatal para uma grande quantidade de espécies de microrganismos benéficos. Quando o solo está coberto a amplitude de variação térmica é praticamente nula mantendo uma temperatura ideal para o pleno desenvolvimento fisiológico das plantas. O esquema da figura 2  sintetiza características e efeitos de uma boa cobertura do solo.

A falta de reposição de matéria orgânica também é um sério problema que causa perdas nas qualidades produtiva dos nossos solos. Nas regiões tropicais a taxa de decomposição de material orgânico é naturalmente alta e com o uso intensificado das áreas agrícolas ocorre um agravamento do fenômeno. O viés econômico da produção agrícola às vezes impõe culturas com características deficitárias na reposição de material orgânico como é o caso do feijão e outras leguminosas. Com a palhada contendo uma taxa da relação carbono/nitrogênio baixa ocorre uma rápida decomposição superficial aumentando a emissão de carbono para a atmosfera e a exposição de solo. A figura 3 mostra uma panorâmica da cobertura realizada pela palhada do milho e do trigo, ambas com relação C/N alta e portanto propiciam uma cobertura mais duradoura além de efetivamente aumentar a porosidade livre e a agregação do solo.

Para resolver esse défice de material orgânico na superfície do solo um plano de rotação com culturas contemplando milho, trigo ou ainda pastagens é muito importante. Essas gramíneas vão deixar restos culturais em quantidades suficientes para sanear o défice causado pela decomposição e ainda proteger o solo da insolação direta.

Para obter qualidade na agricultura tropical vale a regra: “O solo deve estar coberto sempre, Com cobertura morta ou verde. Mas sempre coberto”.

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