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Molécula usada como mucolítico pode combater doenças bacterianas em culturas agrícolas

Os produtores de laranja na região noroeste do Estado de São Paulo e os de oliva, na Itália, enfrentam um problema comum: a bactéria Xylella fastidiosa, causadora de várias doenças em plantas, tem infectado as duas culturas e provocado prejuízos econômicos.

A solução para combatê-la pode estar em uma molécula antioxidante, chamada N-acetilcisteína (NAC), utilizada em saúde humana como mucolítico para desobstruir as vias respiratórias.

Pesquisadores do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, do Instituto Agronômico (IAC), em Cordeirópolis, no interior paulista, constataram por meio de estudos em laboratório e em campo, apoiados pela FAPESP, que a molécula é capaz de controlar doenças que atacam citros. Entre elas estão a clorose variegada dos citros (CVC) – conhecida popularmente como “amarelinho” –, além do cancro cítrico, causado pela Xanthomonas citri.

Em campo, em testes com oliveiras – realizados em parceria com pesquisadores italianos –, os pesquisadores do IAC observaram que a molécula também foi capaz de retardar significativamente a progressão da doença nas oliveiras infectadas pela Xylella fastidiosa. “Vimos que quando as oliveiras estão com sintomas iniciais de doenças causadas pela bactéria, o NAC consegue diminuir o avanço da infecção”, disse Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do IAC e coordenadora do projeto, em palestra na FAPESP Week Belgium. O encontro, realizado em Bruxelas até dia 9 de outubro, e em Liège e Leuven, no dia 10, reuniu pesquisadores brasileiros e belgas com o objetivo de estreitar parcerias em pesquisa.

Estratégia de ataque

Em humanos, de acordo com Souza, o NAC é capaz de afetar uma estrutura formada por bactérias que causam infecção, chamada de biolfime, para se tornarem mais resistentes a compostos microbianos.

Após o sequenciamento completo do genoma da Xylella fastidiosa, em 1999, com apoio do Programa Genoma, da FAPESP, os pesquisadores do IAC também descobriram que, após infectar a planta, a bactéria forma um biofilme para que os microrganismos invasores possam aderir ao xilema da planta. Dessa forma, invadem os vasos condutores de água e de sais minerais da planta.

Com base nessa constatação, Souza decidiu testar a hipótese de o NAC ser capaz de romper esse biofilme no início de sua formação, combatendo a doença e desentupindo o xilema da planta para possibilitar o fluxo de água e sais minerais.

Os resultados foram bastante positivos e estimularam a pesquisadora Simone Cristina Picchi a testar o uso do NAC também no combate à bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, durante seu pós-doutorado em biolfime bacteriano, no IAC, sob orientação de Souza.

Picchi licenciou a patente da aplicação da molécula para o controle de pragas agrícolas e fundou uma startup, a CiaCamp. Por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, a equipe da CiaCamp está realizando experimentos de campo a fim de viabilizar a utilização da molécula em produtos que possam ser usados como alternativas sustentáveis no manejo de doenças fitopatogênicas que acometem a citricultura.

Resultados promissores

As pesquisas resultaram em dois produtos à base de NAC, um para ser pulverizado e outro para ser aplicado como um fertilizante na raiz das plantas. “Vimos que a molécula também tem potencial para destruir algumas bactérias que atacam tomate, batata e hortaliças”, disse Souza à Agência FAPESP. “Por ser uma molécula pequena, há grandes possiblidades de melhorá-la, complexando-a a outras moléculas, ou mesmo melhorando a forma de absorção, de modo a torná-la ainda mais eficiente e sustentável”, afirmou.

Nos testes em campo, as plantas com cancro cítrico e que receberam o produto pulverizado apresentaram uma regressão da doença comparável ao das tratadas só com cobre. E os laranjais com CVC ou sadios tratados com os produtos à base de NAC apresentaram maior produtividade e diâmetro maior dos frutos que os que não receberam o mesmo tratamento, comparou a pesquisadora. “Isso significa que a molécula fornece um benefício adicional para a planta, que não só o controle de patógenos”, afirmou Souza. “Isso acontece porque o NAC, por ser uma molécula antioxidante, diminui o estresse oxidativo da planta”, afirmou.

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