Agricultura Natural

[Ana Maria Primavesi] – Matéria orgânica: o alimento da vida e da terra

ANA MARIA PRIMAVESI

Engenheira Agrônoma, nascida e formada na Áustria em 1920. Foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Durante seu período de faculdade a Europa enfrentava a 2ª Guerra Mundial e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal imigrou para o Brasil, onde viveram em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Ícone da Agricultura Ecológica, escreveu o livro que seria o divisor de águas na compreensão da prática natural da agricultura: “Manejo Ecológico do Solo”. Além desse, outros livros foram publicados e que foram relançados pela Editora Expressão Popular (https://www.expressaopopular.com.br/)

Contato: https://www.facebook.com/anamariaprimavesi

Enquanto se acreditava que matéria orgânica fosse somente adubo, todos a enterravam para que as raízes, quando chegassem a maiores profundidades na terra, a encontrassem ali. Mas ocorre que, no clima tropical, enterrar a matéria orgânica não leva a nada porque ela não se decompõe mas simplesmente enturfa. Após 8 anos podia-se encontrar palha enterrada a 40 cm de profundidade.

E mesmo se houvesse bactérias que a decompusessem, as substâncias que produziriam não seriam benéficas às plantas, ao contrário, seriam tóxicas como o metano, sulfetos e outros. E ainda iria imobilizar o nitrogênio do ar da terra, retirando-o dos nutrientes vegetais e não como normalmente acontece, fixando-o do ar atmosférico por meio de bactérias fixadoras. Por isso é que, após a aplicação profunda da matéria orgânica, tinha de se esperar no mínimo três meses antes de poder plantar alguma cultura.

Onde é que na natureza se deposita a matéria orgânica? Sempre na superfície, porque ali ela precisa da renovação de sua “pele” e de seus macroporos. Lá embaixo da terra, enterrada, não adianta nada. A camada esponjosa que deve chupar a água e aspirar o ar tem que estar na superfície.

O papel da matéria orgânica não é o de servir como adubo mas de nutrir a vida da terra e renovar os grumos gastos.

Se a superfície funcionar, a planta não terá lajes no caminho de sua raiz e pode procurar os nutrientes em maior profundidade como o faz o milho ou algodão, ou pode estender as raízes na superfície e cobrir grandes extensões como o faz o centeio e o cactos.

O que a matéria orgânica tem de fazer é criar condições para a entrada de ar e de água na terra através da diversificação e intensificação da vida. Cita-se primeiro o ar porque sem oxigênio não há absorção de água. Sem ar, faltará energia para a planta, seu metabolismo será fraco e a planta não terá como “digerir” sua alimentação e formar substâncias orgânicas. No caso da água, sem ela, não há vida.

Que fique muito claro que matéria orgânica existe como alimento da vida na terra para que esta realize seu trabalho. Se a matéria orgânica também libera nutrientes durante sua decomposição (ou como o povo diz, apodrece), deve ser considerado um brinde.

Tentaram descobrir qual a relação entre a quantidade de matéria orgânica e o nitrogênio da terra e o desenvolvimento das culturas. Por quê? Porque o importante não é o nitrogênio nela contido mas a formação de poros de arejamento. É o metabolismo vegetal que tem que funcionar.

Por exemplo:

Existem fazendas perfeitamente orgânicas, certificadas internacionalmente e mesmo assim há muita coisa pouco orgânica. Assim, um hortifrutigranjeiro colheu anualmente menos, embora aplicasse cada vez mais composto. O composto, igual a adubo químico, foi enterrado para ficar à disposição das raízes e plantas. Mas as raízes ficaram cada vez mais curtas e as plantas murchavam com duas horas de sol.

Por isso se irrigava direto. Muitas plantas morriam, especialmente mudas, e apesar de 40t/ha de composto, as raízes como as de cenoura ou beterraba vermelhas, bem como das verduras como repolho, alface e outras ficaram cada vez menores. Foi uma luta acirrada, e a batalha estava se perdendo. Por quê?

Matéria orgânica e composto não são adubos mas essencialmente “condicionadores” físicos do solo. A matéria orgânica deve ajudar a formar poros na superfície do solo. portanto, nunca deveria ser enterrada. Enterrada com uma super irrigação solta gás metano e gás sulfídrico altamente tóxicos para as plantas, matando muitas e sem melhorar a estrutura da superfície. Com muita umidade, as raízes se tornaram menores ainda, prejudicadas pelos gases e pelo excesso de água.

O que faltava era simplesmente boro. Aplicando boro, as raízes cresceram mais, a irrigação pôde ser muito mais espaçada e a matéria orgânica aplicada à superfície, não como adubo, mas como condicionador, não deixou mais morrer muda nenhuma. E, de repente, as plantas ficaram grandes, viçosas e saborosas. Pouca coisa mudou, as esse pouco era decisivo.

Micronutrientes como boro são orgânicos? Diz um artigo das convenções orgânicas que plantas e animais devem ser mantidos com saúde. Portanto, se é indispensável à saúde, é orgânico.

O Instituto foi fundado no dia 3 de outubro de 2019, data de aniversário de 99 anos de Ana e possui um canal no youtube com vídeos sobre agricultura orgânica.

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