ARTIGOSCafé

[Wanderley Cintra Ferreira] – “Venda Futura”

WANDERLEY CINTRA FERREIRA
Cafeicultor, ex-Presidente do Sindicato Rural de Franca (SP),
ex-Presidente da COCAPEC e ex-Presidente da CREDICOCAPEC.

No início dos anos 90, portanto há 25 anos, quando eu estava na presidência do Sindicato Rural de Franca e na Presidência da COCAPEC – Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas, frequentemente era procurado pelos associados e cooperados para dar minha opinião sobre venda futura.

Pela autoridade do café que eu era naquela época, minha opinião pesava muito na hora de sua decisão. Sempre dizia: “cautela, cuidado, pois você está vendendo uma coisa que não existe e o futuro costuma ser muito ingrato com este tipo de negócio. É um jogo. Para alguém ganhar, alguém deve perder”.

Lembro-me, em certa oportunidade, um grupo de cooperados recebendo de uma grande empresa uma proposta de venda futura de café e com fechamento em dólar. A princípio era uma proposta tentadora; mas, o risco era muito grande.

Pediram a minha opinião,e eu fui contrário, principalmente com a proposta de participação da cooperativa. Sofri uma pressão muito grande, sendo até acusado de estar prejudicando os interesses dos cooperados e da própria cooperativa.

O grupo, sem a participação da cooperativa, fez o contrato futuro, com fechamento em dólar e data marcada para entrega do café. Foi um desastre. Amargaram um prejuízo muito grande e perdendo grande parte de sua safra.

Infelizmente, a cada ano a história se repete. Vejo amigos produtores de café trabalharem com muita dedicação para produzirem um produto de qualidade e, no final, amargarem prejuízos devido a venda futura.

Acredito, até hoje, que a venda futura é uma oportunidade muito importante de venda. Mas que seja o mínimo possível de sua safra e desde que o preço oferecido seja acima de seus custos de produção, garantindo pelo menos o pagamento dos insumos utilizados.

Sonhar em auferir grandes lucros nesse tipo de mercado é pura ilusão e na maioria dos casos os prejuízos são muito grandes e irrecuperáveis.

Cafeicultor sabe produzir. Jogar em bolsa de valores é para quem sabe. Não podemos esquecer, também, que as mudanças climáticas, a cada ano, vem comprometendo muito o nosso parque cafeeiro e precisamos estar muito atentos no momento de vender um produto que não existe e não sabemos se vamos colher, dentro de nossas previsões.

“Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

Related posts

[Silas Brasileiro] – Balanço Semanal CNC — 25 a 29 de março de 2019

Mario

[Davi Moscardini] – Considerações sobre o fósforo na implantação do cafezal

Mario

[Marco Antônio Jacob] – Carta aberta sobre Preços Mínimos

Mario

Deixe um Comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar Leia Mais