Simpósio Brasileiro do Amendoim trouxe renomados pesquisadores do Brasil e da Argentina e foi realizado junto ao 3º Dia do Amendoim.
Com a participação de quase 400 inscritos, entre produtores de diversas regiões do estado, representantes de empresas do setor produtivo, técnicos e pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa, a Unoeste realizou durante toda sexta-feira (15/12) o 3º Dia do Amendoim que, pela primeira vez, contou também com um Simpósio Brasileiro do Amendoim para aprofundar os conhecimentos técnico-científicos acerca da cultura que no Brasil tem 80% da área plantada, sendo o estado de São Paulo responsável por 90% da produção nacional.
Estudantes de Agronomia também participaram dos dois eventos, sendo que o primeiro no período da manhã consistiu num dia de campo na área experimental de plantio do campus 2, e o segundo em palestras com experts do setor no Espaço Solarium.
Pensado e trabalhado já há alguns meses, esta edição do evento destacou o fato do oeste paulista estar avançando e assumindo protagonismo junto a instituições parceiras na produção e difusão de novos conhecimentos científicos e tecnológicos para a produção assertiva do amendoim.
Ambos os eventos foram liderados pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, o pesquisador Dr. Fábio Rafael Echer que é uma referência no assunto. Além dele, marcaram presença o Pró-reitor Acadêmico Dr. José Eduardo Creste, o diretor da Faculdade de Ciências Agrárias, Dr. Carlos Sérgio Tiritan, além dos renomados pesquisadores Dr. Ignácio José de Godoy, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e Dr. Ricardo Javier Haro, do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta), da Argentina.
O pró-reitor Acadêmico da Unoeste elogiou a organização ao considerar que a cada edição o evento vem sendo amplificado com a proposta de propagar o que há de melhor em conhecimento científico para quem investe nesse tipo de cultura. “Aqui a Unoeste acaba cumprindo seus três importantes pilares com quais tem trabalhado fortemente que são a pesquisa, o ensino e a extensão. Essa tríade, assim por dizer, traz resultados do desenvolvimento da pesquisa nessa cultura que é importante não só para a nossa região, mas para o Brasil inteiro. De que forma? Através dos trabalhos científicos realizados aqui na Unoeste e em outras instituições. Nossos próprios estudantes saem daqui alicerçados, conhecendo grandes nomes, um pouco mais da cultura e compartilhando suas pesquisas junto aos produtores, por meio de trabalhos, painéis, artigos científicos que trazem novidades de primeira mão”, destacou Dr. Creste.
O objetivo principal dos dois eventos é integrar a academia e os produtores rurais que respeitam a importância das pesquisas, que geralmente sinalizam os caminhos para obtenção de melhor produtividade, qualidade da lavoura, e consequentemente rentabilidade. O diretor da Faculdade de Ciências Agrárias explica porque o Dia do Amendoim da Unoeste vem ganhando proporções e projeções cada vez maiores.
“Esse é um marco importante porque a cultura do amendoim está se consolidando no Brasil, principalmente aqui na nossa região. E dar esse passo de realizar o primeiro simpósio brasileiro dentro da universidade vai ficar realmente na história. Obviamente não vamos parar por aqui, teremos outros eventos. Mas esse já é um início importante para uma cultura que vai crescer muito ainda. E o que gente espera é fomentar a difusão tecnológica sobre a cultura, promovendo a interação entre pesquisadores da nossa faculdade e de outras instituições brasileiras e internacionais”, garantiu o Dr. Carlos Tiritan.
Já o Dr. Fábio Echer esclareceu que apesar de ambos os eventos serem generalistas, diversos tipos de conhecimentos foram propagados no dia de campo e no simpósio que foi a grande novidade deste ano. “O simpósio veio como uma estratégia de melhorar o envolvimento dos pesquisadores e futuros pesquisadores, ou seja, os estudantes que estão envolvidos com a cultura do amendoim. E também de fomentar novos estudantes que queiram seguir a jornada dentro da cultura. Então quando a gente faz um evento mais técnico-científico, estamos na verdade buscando uma evolução na formação das pessoas que estão envolvidas no processo”, explicou.
No simpósio, foram abordados assuntos como o déficit hídrico que é uma condição importante para o oeste paulista, melhoramento genético do amendoim e informações sobre os números e dados da cadeia produtiva do amendoim. Também teve painel de proteção de plantas com manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. O painel contou com a participação de especialistas na área. E teve ainda apresentação de trabalhos científicos. “São apresentações de 22 pôsteres que vão compor os Anais do evento, então teremos um documento dos trabalhos científicos enviados que ficará disponível ao público. E ele vai entrar numa edição especial do Boletim de Pesquisa do Programa de Pós-graduação em Agronomia que será disponibilizado em PDF a todos os participantes e comunidade que quiser acessar o documento”.
Dia de campo
No dia de campo, para que todos os participantes pudessem ter acesso às informações mais técnicas e específicas, por meio de pesquisadores, técnicos e profissionais da área, eles foram convidados a percorrer todas as estações que foram montadas dentro da área experimental do campus 2. Nessa área, o IAC plantou sete cultivares em pequenos canteiros para demonstração das variedades. Já a IAC OL3, que é uma das principais cultivares produzidas no oeste paulista por ser tolerante ao déficit hídrico e bem produtiva, podendo produzir até seis toneladas por hectare, estava na maior parte da lavoura de experimento.
Em palestras que duravam, em média, 15 minutos cada, os participantes se inteiravam de informações diversas e técnicas, além das novidades na área. Os temas debatidos foram vários, entre eles as cultivares mais propícias do amendoim para a região, a qualidade das sementes, a fertilidade e nutrição desse tipo de cultura, além da técnica em sistema de plantio direto do amendoim. A dinâmica no campo impressionou o pesquisador Dr. Ricardo Javier Haro, do Inta da Argentina. Ele foi um dos palestrantes do simpósio e parabenizou a Unoeste pela empreitada.
“Os pesquisadores e alunos da Unoeste estão realizando excelentes pesquisas sobre a cultura do amendoim para transferir conhecimento técnico-científico ao público que está produzindo o grão. Esse público hoje em dia são produtores e técnicos, e num futuro a curto prazo serão os estudantes quando concluírem sua graduação. Então considero um evento importante porque aborda temáticas essenciais e, em geral, o público está acostumado a fazer da cultura do amendoim um trabalho automático, quando na verdade deveriam participar de eventos do tipo para melhorarem as suas produções e obterem mais produtividade, sempre claro com uma visão de sustentabilidade. O cultivo do amendoim deve ser de maneira responsável, preservando o solo”, defende o pesquisador argentino.
Também palestrante do simpósio, o pesquisador Dr. Ignácio José de Godoy compartilha seus 48 anos de conhecimento da cultura na estação do Instituto Agronômico de Campinas onde trabalha. “A gente procura sempre atender demandas específicas. Tem regiões que demandam determinadas características diferente de outras. Por exemplo, para a região oeste do estado a tolerância à seca é uma coisa importante, além de resistência a doenças. Para outras regiões, tem outras cultivares que tem o potencial produtivo alto. Então são essas variações que são importantes o produtor saber pra ele tomar sua decisão de forma acertada”, explicou.
O pesquisador do IAC também falou da importância da Unoeste no cenário da cadeia produtiva do amendoim. “A Unoeste é uma universidade particular e hoje muitas pesquisas estão ‘nas mãos’ das universidades públicas. Nada contra elas até porque são bem estruturadas, mas o fato de ter universidades particulares se interessando por amendoim significa que ela [Unoeste] está definitivamente inserida na região e trabalha com bastante foco na demanda regional. Estatisticamente o crescimento de produtores que passaram a apostar no amendoim já é uma realidade. Nos últimos 10 anos tem havido um crescimento linear, isso significa que a cada ano cresce um pouco mais. Esse ano vai se repetir em termos de área plantada, estaremos crescendo em relação ao ano passado. Esse crescimento é lastreado principalmente pelo mercado externo. Tem muito amendoim no mundo a ser consumido e está faltando produto de qualidade. E o Brasil está cada vez mais apto a oferecer produto de qualidade”, destacou.
Exportações em andamento
Inscrito no evento, o produtor Jonas Lençoni de Almeida, que planta e beneficia amendoim em Ribeirão dos Índios, já faz parte dessa realidade mencionada pelo Dr. Ignácio. A cultura do amendoim na família dele está enraizada desde os tempos do avô paterno, que foi quem começou a apostar nesse tipo de cultivo. A beneficiadora existe desde 1.989 e atualmente Jonas cultiva 509 hectares em Ribeirão dos índios e em propriedades nas cidades de Santo Anastácio e Piquerobi. A produção dele, em média, gira entre 165 a 270 sacas de 25 quilos por hectare. Em números, são entre 6 mil e 8 mil quilos de amendoim produzidos por hectare.
Nesta semana, a empresa dele que foi a primeira do oeste paulista a começar a exportar amendoim em 2017, embarcou 125 toneladas do grão para a Argélia. Mas o produto que sai das terras do oeste paulista, segundo ele, também já foi enviado para a Turquia, México e Taiwan. “Para o ano que vem a perspectiva é que aumente ainda mais, tanto a exportação como o abastecimento do mercado interno porque a produtividade que a gente espera ter esse ano é muito maior que o ano passado. Tanto que em 2024 estamos querendo entrar na Europa”, revelou.
Sobre a iniciativa da Unoeste, só teceu elogios. “É muito gratificante ver o quanto o amendoim está crescendo no Brasil, na região, ver a vontade que o pessoal está tendo em trazer novas tecnologias para o ramo. E o que é melhor, tudo acontecendo aqui pertinho de casa. Antigamente ninguém plantava amendoim, era mais soja e cana, agora o pessoal tá vendo a rentabilidade e o retorno que o amendoim dá. As novidades apresentadas aqui pela Unoeste já estão ajudando a gente a produzir cada vez mais e com qualidade. E a busca é essa, sempre por aumentar a produtividade e a qualidade. Sem a tecnologia fica praticamente impossível atender a esses dois critérios”, comentou.
Novos investidores
Presidente da Cooperativa Agroindustrial Holambra, que fica em Paranapanema (SP) (região sudoeste do Estado) e agrega produtores que apostam em diversos cereais irrigados, a exemplo da soja, milho, feijão, trigo e algodão, além da laranja, o produtor Simon Veldt também participou do 3º Dia do Amendoim e do 1º Simpósio Brasileiro do Amendoim da Unoeste.
Veio porque começou a produzir amendoim em Rosana (SP) neste ano, a exemplo de outros dois colegas da cooperativa que começaram em 2021. Ele conta que veio ao evento em busca de conhecimento. “Tem alguns produtores nossos que estão vindo para essa região, que já têm experiência em outras culturas mas não em amendoim. Então vim para conhecer o potencial dessa cultura para essa região. Aqui temos solo e clima bons para o amendoim e o limitante é a irrigação. E a gente tem uma experiência muito boa em irrigação, então acho que se juntar isso com as características da região acho que tem muito a acrescentar nessa cultura”, acredita.