ARTIGOSAves e Suínos

[Ruscarla Moraes e Ana Paula Gomide] – Controle do ambiente térmico de suínos com uso de biogás é uma opção sustentável e econômica na produção suinícola?

RUSCARLA CARVALHO MORAES
Zootecnista e mestranda em Zootecnia pelo

IF Goiano campus Rio Verde – GO.

ANA PAULA CARDOSO GOMIDE
Doutora em Zootecnia e professora do

IF Goiano campus Rio Verde – GO.

O conforto térmico visando proporcionar bem-estar na suinocultura é um dos principais desafios para a produção dos mesmos, sendo que a maior influência nesse conforto está relacionada as variáveis temperatura e umidade do ar e taxa de renovação do ar proporcionada pela ventilação gerada nesse meio. Grandes variações em tais fatores geram desconforto e situações de estresse para os animais levando a perdas expressivas na produção (BORTOLOZZO et al. 2011).

As instalações para suínos devem ser arquitetadas para garantir controle das variações climáticas (umidade, temperatura, velocidade do vento, incidência solar etc.), além da qualidade do ar dentro dos abrigos (níveis de poeiras, amônia e outros gases). A soma desses elementos denomina-se Ambiência Animal — Térmica e Aérea (TURCO, 1998).

Na produção de suínos em cada fase da vida do animal tem-se sua zona de conforto térmico, que corresponde a temperatura onde não haja frio nem calor para o animal e que consiga otimizar o seu desempenho (BORTOLOZZO et al. 2011), ou seja, através de mudanças comportamentais o animal consegue manter sua homeotermia.

Suínos recém nascidos no escamoteador

Na fase de maternidade e creche, os animais são jovens e seu sistema termorregulador é pouco desenvolvido, portanto possuem alta superfície em contato com o ambiente e baixo isolamento térmico, havendo maior demanda térmica por calor proveniente do ambiente, para atender sua exigência com conforto térmico. (CAMPOS et al., 2008).

Matriz amamentando leitões recém nascidos.

Já na fase adulta ocorre o contrário, são muito sensíveis ao calor, sendo o grande desafio na fase de terminação é manter um conforto térmico devido as altas temperaturas e umidades na maior parte do ano, uma vez que restringe as perdas evaporativas pela respiração, pois os suínos apresentam dificuldade para dissipar o calor (BORTOLOZZO et al., 2011).

Suínos na fase de crescimento.

Entretanto, para a manutenção e gestão das condições de ambiente confinado visando o bem-estar dos animais temos uma elevada demanda por energia elétrica energia e, consequentemente, aumento nos custos produtivos (GODOY JUNIOR, et al. 2006), podendo inclusive limitar e até mesmo impossibilitar o controle deste ambiente confinado.

Suínos em Terminação.

Como alternativa à redução nos custos, economia de energia e uma produção mais sustentável, a opção é utilização dos dejetos desses animais, durante o processo de biodigestão anaeróbia, com produção de metano como forma de fornecimento de energia por meio do biogás que é produzido nos biodigestores.

O biogás é uma fonte de energia renovável formado por metano (CH4), gás tido como principal causador do efeito estufa, com concentração de 65% e gás carbônico (CO2) com concentração de 35%, provenientes da digestão anaeróbica de bactérias (GUSMÃO, 2008). O biogás é semelhante ao gás liquefeito de petróleo (GLP), é gasoso e tem um conteúdo energético alto. Podendo ser utilizado em três formas de geração de energia na produção de suínos: a mecânica, elétrica e térmica (BEZERA, et al. 2014).

Máquinas geradoras são alimentadas com biogás gerando energia, que será usada na gestão de controle de ambiente confinado ambiente fornecendo aquecimento aos leitões na maternidade e creche e resfriamento aos animais adultos, buscando-se assim proporcionar conforto térmico nas diferentes fases de vida de produção dos suínos. Esta energia proveniente do biogás também poderá ser utilizada para diversas outras funções na granja, entre elas iluminação das diversas instalações, funcionamento das máquinas, como misturadores de ração, lavadoras e até mesmo o gás para substituição do GLP na cozinha (GODOY JUNIOR, et al. 2006).

Biodigestor

A utilização de biogás como fonte de energia, obtém certificado de produção com emissões reduzidas (créditos de carbono), reduz o custo de produção de suínos pois vai substituir a energia elétrica, o gás (GLP), gerar receitas, disponibilizar o excedente de geração de energia elétrica para a empresa concessionária de energia elétrica da região (MARTINS & OLIVEIRA, 2011).

Portanto, a utilização da energia proveniente do biogás viabiliza a gestão de controle de ambiente confinado, proporcionando conforto térmico dos animais, conforme sua fase de produção, possibilitando maior bem-estar a estes, sem onerar ainda mais o produtor e aumentando a sustentabilidade na produção suinícola.

Sistema de conversão do biogás em energia.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, K. L. P., FERREIRA, A. H. C., CARDOSO, E., MONTEIRO, J. M., AMORIM, I. S., JÚNIOR, H. A. S. J., & SILVA, R. Uso de biodigestores na suinocultura. Nutritime, Viçosa, Mg, v. 11, n. 275, p. 3714-3722, 2014.

BORTOLOZZO, F. P.; KUMMER, A. B. H. P.; LESSKIU, P. E.; WENTZ, I. Estratégias de redução do catabolismo lactacional manejando a ambiência na maternidade. 2011.

CAMPOS, J. A.; TINÔCO, I. F. F.; BAÊTA, F. C. et al. Ambiente térmico e desempenho de suínos em dois modelos de maternidade e creche. Ceres, n.55, v.3, p.187-193, 2008.

GODOY JUNIOR, E., CARROCCI, L. R., SILVEIRA, J. L. et al. Biodigestores associados à sistema de cogeração para o aproveitamento do biogás produzido a partir de resíduos de suinocultura. In Procedings of the 4th Encontro de Energia no Meio Rural, Campinas (SP) [online]. 2006.

GUSMÃO, M.M.F.C.C. Produção de biogás em diferentes sistemas de criação de suínos em Santa Catarina. 2008. 170 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

MARTINS, F. M.; OLIVEIRA, P. A. V de. Análise econômica da geração de energia elétrica a partir do biogás na suinocultura. Eng. Agríc., Jaboticabal, v. 31, n. 3, pág. 477-486, junho de 2011.

TURCO, S. H. N. Avaliação Térmica Ambiental de Salas Convencionais e Salas com Amplas Janelas e Cortinas em Maternidades Suinícolas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.5, p.982-987, 1998.

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