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Abelhas

Ribeirão Preto (SP) terá primeiro polo de criação de Abelhas Sem Ferrão do Estado de SP

Projeto prevê que a cidade tenha um entreposto em 2019 para o beneficiamento de produtos, além de programas de capacitação e organização da atividade, que está em crescimento.

Ribeirão Preto será a primeira cidade do estado de São Paulo a se tornar um polo de criação de abelhas sem ferrão. O projeto, desenvolvido por meio de uma parceria entre a AMESAMPA – Associação de Meliponicultura de São Paulo, o Departamento de Genética da USP Ribeirão e a CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, ligada à Secretaria Estadual da Agricultura, tem como meta capacitar criadores, organizar o setor e oferecer produtos como mel e própolis em escala comercial.

A iniciativa, que será colocada em prática a partir do início de 2019, prevê, também, a criação de um entreposto, em local a ser definido, para beneficiamento e distribuição desses produtos.

Quarenta agricultores estão sendo capacitados para implantar a criação de abelhas sem ferrão em suas propriedades. No próximo mês de janeiro, com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-São Paulo), eles passarão por um programa intensivo de preparação. Desses, de 12 a 15 serão escolhidos para servirem de modelo a quem deseja ingressar na atividade.

“O objetivo de organizar a cadeia produtiva é para que os criadores estejam mais em contato, para que haja uma interatividade entre os diversos atores envolvidos. Hoje, eles têm uma boa produção, mas ainda de forma um pouco desordenada, isoladamente”, afirma Carlos Henrique de Paula e Silva, diretor técnico da regional da CATI em Ribeirão Preto.

O representante comercial de calçados esportivos Eder Avelar é membro da Amesampa e organizador de eventos para a divulgação da meliponicultura – como é chamada a criação de abelhas sem ferrão. Ele avalia que a ideia de tornar Ribeirão uma referência no assunto tem dois outros motivos: o grande número de palestras, congressos e cursos de formação realizados na região e o crescimento do interesse por esse tipo de abelha.

O número de associados também é levado em conta. Dos 110 atuais membros da Amesampa, um quarto é de Ribeirão ou de municípios próximos. Número que ajuda a explicar o crescimento vertiginoso do setor. No começo de 2018, a associação tinha, apenas, nove membros em todo o estado. Em pouco mais de dez meses, portanto, o aumento de adesões foi de impressionantes 1.100%.

De acordo com Avelar, no último evento sobre abelhas sem ferrão do qual participou, realizado na semana passada em Sales Oliveira (SP), 70% dos presentes eram de novatos ou de pessoas que pretendiam entrar na criação. No anterior, sediado em Ribeirão, de 231 inscritos, 73 tinham essas características.

Pouco espaço

O técnico em automação Mateus Narcizo Xavier e a auxiliar administrativa Taís Dias estão de olho nesse mercado. O casal de namorados começou a se interessar por abelhas há pouco mais de um ano, quando participou de um curso em Sertãozinho (SP), onde mora.

Os dois já fizeram as primeiras experiências e acreditam que o investimento pode dar certo. Planejam se casar e, quando isso acontecer, vão levar, segundo Mateus, alguns enxames para a nova residência. “Os cursos têm nos mostrado que a criação é bem prática. O manejo é fácil e as abelhas sem ferrão exigem espaços pequenos”, diz.

A própria casa de Avelar, em Jardinópolis (SP), é um reduto para 44 enxames. Várias espécies estão distribuídas em uma área de 120 metros quadrados. Entre elas, a jataí, que é a mais comum entre os criadores, já que se adaptou bem a áreas urbanas, a iraí e a plebeia droryana, conhecida também como mirim.

Ele mantém outras 100 caixas numa ONG de Jardinópolis que produz plantas medicinais. Na instituição, as abelhas sem ferrão são fundamentais no processo de polinização. Mas não só lá. Imprescindíveis na produção de alimentos e na recuperação de áreas degradadas, esse tipo de abelha tem sido alvo, também, de campanhas de preservação. Muitas espécies correm risco de extinção por serem sensíveis aos agrotóxicos aplicados nas lavouras.

Ambientalistas e profissionais liberais, como Avelar, integram movimentos como o S.O.S. Abelhas Sem Ferrão, que visa resgatar enxames em locais de risco ou prédios que serão demolidos, e o Bee Or Not To Be, de caráter mundial e que contou, em Ribeirão, com a criação de uma organização de proteção às abelhas, em maio do ano passado.

Riscos

Avelar explica que as abelhas sem ferrão são nativas do Brasil. Cerca de 300 espécies estão cadastradas, muitas conhecidas popularmente com nomes curiosos, como marmelada, preguiça, lambe-olhos, boca-de-sapo, canudo e mocinha preta. No passado, elas chegaram a ser bastante requisitadas, mas, com a introdução de espécies europeias e africanas com ferrão no país, perderam espaço.

A fase de ostracismo durou até 2010, quando elas voltaram a chamar atenção. Cinco anos depois, a atividade se intensificou, com incremento maior agora em 2018.

No sítio arrendado em Jardinópolis, Antonio Anderson de Mattos Magalhães, que se mudou para lá há menos de dois anos por causa abelhas, cria 17 espécies. “Cheguei a ter 32, mas perdi enxames por causa de agrotóxicos”. Antes, numa casa do bairro Heitor Rigon, em Ribeirão Preto, mantinha 120 enxames em 20 metros quadrados. “Aqui no sítio, é possível ampliar a criação e tenho um manejo melhor.”

Uma das condições que facilitam é a ausência de doenças nos enxames. Como eles são bem vedados, a principal ameaça, além dos agrotóxicos, é outra abelha sem ferrão, conhecida como abelha-limão. Ela invade os enxames e espalha um cheiro muito parecido com o da fruta, fazendo com que as moradoras ataquem a si próprias, por se confundirem com inimigos.

Magalhães se interessou por essas e outras curiosidades sobre abelhas sem ferrão com 12 anos – está com 29. Mantém fresca na memória a lembrança do dia em que fazia um trabalho de escola quando viu um enxame na casa de um amigo. “Foi amor à primeira vista. Como assim, abelha sem ferrão? Aquilo me intrigou. Quis conhecer melhor.”

Mais de 100 enxames estão espalhados pelo sítio, em caixas que ele mesmo fabrica. Para isso, montou uma pequena marcenaria, onde tem a ajuda da esposa, Renata, e de mais dois colaboradores. Saem dali de 100 a 150 caixas por mês. Com elas e a venda de mel e própolis, a família se sustenta, exclusivamente, com a renda da atividade. Ele estuda, agora, comercializar também enxames.

Isso ainda não aconteceu porque a prioridade dos enxames não é o comércio. Alguns são preparados, especialmente, para voltar à natureza e, com isso, reduzir o risco de desaparecimento das abelhas. Tanto ele como Avelar participam de outras ações nesse sentido, como oficinas em escolas públicas da região para despertar, nas crianças, a consciência da preservação. No contato com elas, usam artifícios lúdicos, como abelhas de pelúcia, para despertar o interesse.

Atrativo

Magalhães explica que qualquer pessoa pode começar uma criação. Casas, mesmo pequenas, e até apartamentos comportam os enxames. Para isso, basta adquirir um ou, então, atrair os insetos. Nos cursos e palestras que promove, ele ensina a montar um ninho-isca, que consiste numa garrafa pet banhada com um líquido feito com produtos derivados das próprias abelhas. A garrafa é coberta com um plástico preto e tem o bico entortado, para impedir a entrada da luz e, com isso, oferecer maior conforto.

Quando se observa no ninho o aparecimento da realeira – célula construída pelas operárias para o nascimento de futuras rainhas –, o enxame pode ser dividido. A partir de um, outros sete podem surgir. “Esse tem sido nosso principal foco”, afirma Avelar. “Estamos preocupados com a multiplicação de enxames, tanto para atender outras pessoas interessadas em criar quanto para soltar na natureza”.

Um dos agricultores que se interessaram pelas abelhas sem ferrão foi Paulo Henrique Vitor, produtor de orgânicos. Há pouco mais de dois anos, ele virou parceiro de uma fazenda de Ribeirão Preto que tinha plantação de pitaya e de limão taiti sem agrotóxicos. Assumiu os negócios e passou também a cultivar hortaliças. A ideia de criar abelhas sem ferrão veio agora em 2018, após conhecer a Amesampa numa feira.

Ele tem 20 enxames na propriedade, que ajudam a melhorar a produtividade dos vegetais e dos quais extraiu os primeiros 600 gramas de mel para venda. O foco, por enquanto, tem sido a divisão dos enxames, mas, em 2019, espera colher um total de 20 quilos, que serão comercializados em potes de 50 gramas. “Já tem fila de espera”.

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1 comment

julio zendron 08/02/2020 at 15:00

boa tarde gostaria de saber mais sobre abelhas sem ferr’ao
pois eu tenho 15 caixas em um rancho proximo de ribeirao preto.
eu tenho a jatai e uma outra especie que ainda nao sei o nome..
gostaria de ajuda.

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