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[NECAF – UFLA] – Recomendações Técnicas para o Manejo do Cafeeiro, sob Diferentes Tipos de Podas

Giovani Belutti Voltolini
Téc. em Agropecuária (IFSULDEMINAS), graduando em agronomia
pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Dalyse Toledo Castanheira
Eng. Agrônoma (UFLA), doutoranda em fitotecnia pela
Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Thales Lenzi Costa Nascimento
Graduando em agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Ademilson de Oliveira Alecrim
Eng. Agrônomo (UFLA), doutorando em fitotecnia pela

Universidade Federal de Lavras (UFLA).

https://www.facebook.com/necaf.ufla/

 

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, produzindo cerca de 30% de todo o café produzido mundialmente. Porém, ainda sofre com a baixíssima média de produção que o mesmo possui por unidade de área, com aproximadamente 23 scs.ha-1. Isto se deve, em grande parte, as características que se encontram o parque cafeeiro nacional, com lavouras depauperadas, muito antigas e sem os devidos cuidados corriqueiros (manejos) de grande importância, como a parte química e física dos solos de cultivo.

Contudo, atualmente, diversas tecnologias estão sendo empregadas visando a elevação da produtividade, recuperação das lavouras e consequentemente maior produção nacional. Neste sentido, técnicas como a análise de solo, análise de folha, calagem, gessagem, fosfatagem, manejo de aplicação de insumos via foliar, podas e também a utilização de novas tecnologias na área dos fertilizantes fazem com que os baixos índices produtivos possam ser melhorados.

As podas são amplamente utilizadas na cafeicultura, e na maioria das vezes, como uma das melhores ferramentas para auxiliar o cafeicultor na renovação das lavouras cultivadas. Sabe-se que existem vários tipos de podas, cada quais com seus objetivos e particularidades. Dentre estas, podemos citar as podas de limpeza, podas de recuperação e podas de produção.

O primeiro ponto a ser observado é porque realizar a poda na lavoura, ou seja, em quais situações a mesma se fará necessário. Geralmente, a poda é recomendada para lavouras que se encontram depauperadas, com derrame da saia, ou seja, quando há o “cinturamento” da lavoura pela morte dos primeiros ramos plagiotrópicos, ou também quando as mesmas já não se mostram responsivas a adubação, e em casos extremos de condições climáticas adversas, como quando ocorre a geada.

A tomada de decisão sobre podar ou arrancar uma lavoura se tornou uma recorrente dúvida, devendo-se analisar alguns aspectos importantes que auxiliam na escolha. A poda deve ser realizada em lavouras que apresentem boa genética, bom estande de plantas, bom espaçamento e também em condições fitossanitárias adequadas. O cafeeiro perde parte de suas raízes quando submetido à algum tipo de poda, por isso se fazem necessárias as condições anteriormente citadas, que irão afetar no crescimento da planta e consequentemente na maior recuperação da estrutura vegetativa. No entanto, quando a lavoura apresenta um estande falho, afetada por pragas e doenças, espaçamento inadequado, que sempre teve sua energia convertida apenas em crescimento e formação de folhas, mas nunca para produção de grãos, o correto manejo a se fazer é arrancar.

O momento correto de se realizar a poda é muito variável, sendo de acordo com a cultivar, com o clima, com a região e também com as condições financeiras do cafeicultor. Sobretudo, o tipo de poda também irá interferir nos manejos realizados nas lavouras, assim como o momento correto de se realizar cada atividade.

Recepa

A recepa é uma poda baixa, drástica, que promove a renovação quase total da estrutura vegetativa dos cafeeiros. Sendo muito utilizada em lavouras atingidas por severas geadas e lavouras depauperadas.

Há dois tipos de recepas, variando a altura do corte, podendo ser baixa (sem pulmão), onde toda a estrutura vegetativa é eliminada e a altura do corte varia de 20 a 40 cm, e alta (com pulmão), sendo mantidos os primeiros ramos plagiotrópicos inferiores, onde a altura de corte varia entre 50 e 80 cm. O corte no ramo ortotrópico deve ser realizado em bisel, evitando assim o acúmulo de água no tronco.

As desbrotas devem ser realizadas periodicamente, visando à eliminação do excesso de brotos, deixando apenas os mais vigorosos e melhor inseridos no caule, conservando o alinhamento do cafeeiro. Geralmente são efetuadas quando os brotos atingem cerca de 20 cm, mantendo de 2 a 4 hastes.

O manejo de plantas daninhas também deve ser realizado, evitando o abafamento dos brotos, e a concorrência por água, luz e nutrientes. Deve-se tomar os devidos cuidados, no caso do controle químico, com a ocorrência da deriva de herbicidas sobre as brotações do café, sendo que a mesma causa sérios problemas de fitotoxidez ao cafeeiro.

Figura 1. Deriva do herbicida Glifosato nas brotações da planta de cafeeiro recepado. (Créditos: Giovani Belutti Voltolini).

Decote

O decote é um tipo de poda alta, leve, que ocasiona a eliminação do terço superior do cafeeiro, sendo recomendado para lavouras em vias de fechamento e também com a copa depauperada. Também é utilizado para viabilizar a colheita mecanizada, por meio da redução do porte da lavoura, e em caso de ocorrência de geada de capote e faísca elétrica. Seu uso é amplo, pois não ocasiona queda acentuada na produção do ano seguinte.

Existem dois tipos de decote utilizados na cafeicultura, variando somente a altura de corte. O decote alto é realizado visando a redução do porte da planta, com a finalidade de adequação a colheita mecanizada, onde a copa se encontra em boas condições, evitando assim, a “reconstrução” das ramagens superiores. A altura do corte varia entre 2,0 a 2,5 m. Já o decote baixo é realizado quando a lavoura se encontra prejudicada, em condições de desuniformidade na copa ou também cinturadas, sendo necessária, a reconstituição da parte superior da planta, por meio do decote na altura de 1,0 a 1,2 m.

Outro tipo de decote não muito utilizado é o decote herbáceo, onde somente o ápice da planta é podado, cessando assim o crescimento do ramo ortotrópico, porém ocorre um crescimento compensatório dos ramos plagiotrópicos, favorecendo o fechamento da lavoura.

Plantas de café submetidas as podas devem estar sob frequentes cuidados com relação as desbrotas, pois as mesmas são de grande importância para o maior desenvolvimento do cafeeiro, evitando o excesso de brotos e consequente perda no crescimento pela competição que os diversos brotos, que funcionam como drenos, podem exercer.

Safra Zero

O sistema safra zero consiste na adoção de um programa de podas cíclicas, realizadas bienalmente, ou seja, de dois em dois anos. Este sistema de condução da lavoura consiste em duas etapas, sendo uma primeira por meio da realização do esqueletamento, e a segunda e posterior etapa, com a realização do decote. O esqueletamento consiste na poda dos ramos plagiotrópicos (laterais) a uma distância que varia 20 à 30 cm do ramo ortotrópico na parte superior da planta, e de 30 à 50 cm nas partes “baixeiras”, visando a renovação total dos ramos laterais.

Figura 2. Esqueletamento: é a primeira atividade realizada neste sistema. (Créditos: Estevam Reis, 2014)

Alguns cuidados devem ser tomados na realização desse tipo de poda, pois se os ramos plagiotrópicos forem cortados anteriormente a gema “cabeça de série”, presente no ramo, não haverá brotação no mesmo, resultando assim na morte do ramo, por isso as medidas citadas anteriormente devem ser seguidas.

Figura 3. Esquema de realização das podas no sistema safra zero.

 

Preconiza-se que a realização das podas seja iniciada o quanto antes, pois a relação da época de poda e a produtividade é direta, onde lavouras podadas mais cedo, preferencialmente a partir de junho, respondem melhor e são mais produtivas.

Após a poda, é necessário a trituração dos resíduos vegetais, para que, de certa forma, o processo de decomposição seja acelerado. O uso de trincha é essencial para a realização deste manejo.

Figura 4. Crescimento dos ramos de acordo com a época de poda. (Créditos: Cafépoint)

Após o início da brotação do cafeeiro, se faz necessário a aplicação de cúpricos visando a sanidade da planta, visto que a mesma sofreu um grande estresse, possuindo ferimentos por toda sua extensão. Neste sentido, o cobre atua como um protetor, reduzindo assim a incidência de patógenos sobre a cultura neste desenvolvimento inicial, que a planta se mostra mais vulnerável.

Ao final do primeiro ano do biênio deste sistema tem-se a diferenciação floral e a projeção da florada que originará a safra seguinte. Sobretudo, devido ao grande desenvolvimento vegetativo da planta no primeiro ano, obtém-se grandes floradas e consequentemente elevadas produções. Em diversos ensaios de campo com esta metodologia, os materiais de campo chegaram a atingir mais de 100 scs.ha-1, dependendo da cultivar e também da época de poda.

Figura 5. Vigor inicial de brotação é elevado, gerando grande quantidade de pares de folhas por ramo plagiotrópico. (Créditos: Estevam Reis, 2015)
Figura 6. Indução floral no segundo ano do biênio. (Créditos: Giovani Voltolini, 2014)
Figura 7. Florada no cafeeiro submetido ao sistema safra zero. (Créditos: Giovani Voltolini)

Adubação

O manejo nutricional das lavouras sob este sistema é diferente das convencionais, poias devido a característica de não produção no primeiro ano do biênio, as adubações via solo são realizadas somente com nitrogênio, com doses variando entre 300 e 500kg de N por hectare. Contudo, no segundo ano ocorre o inverso, pois a planta estará voltada apenas a produção, sendo necessário maior atenção à adubação potássica.

Controle fitossanitário

O controle fitossanitário deve ser realizado principalmente para doenças como Phoma, ferrugem e mancha aureolada, pois as altas doses aplicadas de nitrogênio acarretam em maior infestação dessas doenças.

A phoma é a primeira doença a se manifestar quando não realizado o controle adequado da mesma, sendo necessário o monitoramento dos primeiros sinais da doença no ano de produção. A ferrugem também é outra doença que pode ocorrer em cafeeiros podados, pois são mais susceptíveis e apresentam uma curva de progressão mais agressiva quando comparada a cafeeiros não podados.

Benefícios

Dentre os benefícios deste sistema, podemos citar a redução de custos, visto que a colheita que representa até 50 % dos custos de produção só será realizada no ano de produção. Sobretudo, a mesma ainda será com menor custo, pois a lavoura estará com elevada carga pendente, reduzindo assim o custo da mesma.

Figura 8. Segundo ano do biênio em lavoura sob sistema safra zero. (Créditos: Estevam Reis, 2015)
Figura 9. Uniformidade de produção no ramo e consequentemente maior produtividade da lavoura. (Créditos: Estevam Reis, 2015)

 

Também pode servir como ferramenta em anos de baixa no preço, reduzindo o custo e evitando maiores investimentos por parte do cafeicultor naquele ano.

Pelo fato da adubação do primeiro ano consistir basicamente de N, os custos com as adubações também se tornam menores.

Os incrementos na matéria orgânica no local de cultivo são consideráveis, visto que a deposição dos restos culturais nas linhas de cultivo são de grande escala, melhorando assim a fertilidade do solo.

Considerações finais

O sistema safra zero é amplamente utilizado na cafeicultura brasileira e está em expansão, pois se mostra como uma ferramenta de redução de custos e também da renovação dos ramos do cafeeiro.

Devido ao fato de não se produzir no primeiro ano do biênio e elevada produção no segundo ano, as adubações devem ser feitas de modo diferente das tradicionais, seguindo as necessidades de cada ano.

Os manejos fitossanitários devem ser seguidos com rigor, visto que a planta estará mais expostas a estresses bióticos e abióticos, pelos ferimentos provocados à planta e também pelo posterior vigor que a planta se apresenta no início das brotações.

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Cafezal: Como fazer a poda e aumentar sua produção 11/05/2021 at 11:12

[…] Florada no segundo ano do cafezal submetido ao sistema safra zero(Foto: Giovani Voltolini, em Revista Agronegócios) […]

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