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ARTIGOSCafé

[NECAF – UFLA] – Nutrição e Fertilidade do Cafeeiro

Giovani Belutti VoltoliniGraduando em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Núcleo de estudos em Cafeicultura – NECAF e membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD. E-mail: giovanibelutti77@hotmail.com

Ademilson de Oliveira AlecrimEng. Agrônomo, Mestrando em Fitotecnia pela UFLA, membro do Núcleo de estudos em Cafeicultura – NECAF e membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD.

Nicolas Bedo Teodoro de Sousa – Graduando em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro do Núcleo de estudos em Cafeicultura – NECAF

https://www.facebook.com/necaf.ufla/

 

Importância

O manejo da fertilidade do solo está estreitamente relacionado com a produtividade das plantas, desde que os demais fatores de produção estejam adequados as exigências das culturas. O cafeeiro tem como característica grande exportação de nutrientes do solo, necessitando de adequada aplicação de corretivos e fertilizantes para alcançar altas produtividades.

Em geral necessitam, para o ciclo de vida, de dezessete nutrientes essenciais, sendo três (C, H e O) vindos do ar e da água, que compõem aproximadamente 95% do total do peso de uma planta, e os outros restantes divididos em macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) e micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, B, Cl, Mo e Ni). Como os solos tropicais, via de regra, são caracterizados pela baixa fertilidade, a nutrição da planta com esses nutrientes deve ser por meio da adubação.

Estes nutrientes exercem específicas e importantes funções na planta e podem ser divididos em estrutural, constituinte de enzimas, e ativador enzimático, com isso garantem adequado crescimento, desenvolvimento e produção, além de outros benefícios, como o aumento da resistência da planta ao ataque de pragas e doenças.  Porém se os nutrientes não estiverem em concentrações adequadas nos tecidos da planta, podem ocorrer problemas com sintomas de deficiência ou toxidez.

Em folhas de café, esta deficiência altera os conteúdos de alguns aminoácidos, ácidos orgânicos e açúcar. Portanto, nas plantas deficientes ou com toxidez, tem-se um comprometimento no desenvolvimento de todas as estruturas de crescimento da parte aérea e das raízes, influenciando negativamente na produtividade e consequentemente na rentabilidade da atividade cafeeira.

Assim a cafeicultura necessita da adição constante de fertilizantes e corretivos. Para realizar uma adubação equilibrada, se faz necessário a realização de uma amostragem de solo correta. Pois somente através dela a correta nutrição do cafeeiro será possível, pois ela mostra a demanda dos nutrientes requeridos pelo cafeeiro, onde a determinação é feita por análises químicas. Assim se torna necessário a coleta de amostras de solo representativas do ambiente explorado pelo sistema radicular. A realização da amostragem de folhas, para análise foliar, também tem se mostrado uma ótima ferramenta para quantificação e realização das adubações no cafeeiro, principalmente nas ultimas adubações.

Tipos de Amostragem

O procedimento de amostragem de solos é uma prática de grande relevância a fim de determinar a fertilidade do solo, para que se possa fazer a correção de forma mais precisa das características produtivas do solo, que afetará o potencial de rendimento final do cafeeiro. Portanto devem-se seguir critérios técnicos para realizar a coleta do solo, onde o solo deve ser coletado na projeção da saia do cafeeiro, mais precisamente onde se aplica os adubos, atentando para coletar no mínimo 20 sub-amostras por gleba homogênea quanto ao tipo de solo, topografia, variedade, espaçamento e idade da cultura.

Figura 1. Esquematização da divisão de glebas e pontos de coleta para amostragem de solo.

Para quem pretende implantar uma lavoura, deve-se efetuar amostragens de 0 a 20 cm e de 20-40 cm na mesma perfuração, pois na implantação é uma das únicas oportunidades de realizar correções do solo em maiores profundidade. Para lavouras que já se encontram implantadas, fazer coletas de 0-20 cm de profundidade, atentando para realizar essas coletas preferencialmente no período de maio a agosto. É aconselhável ainda a cada dois anos realizar amostragens de 20 a 40 cm de profundidade, na faixa adubada para verificar como esta a fertilidade do solo em profundidade.

Também pode ser feita a análise das folhas do cafeeiro, visando maior eficiência na adubação, assim como o uso racional dos fertilizantes. Geralmente, a coleta das folhas é realizada no mês de dezembro, 30 dias após a segunda adubação. Com isto, será quantificado os teores foliares de nutrientes na planta, adequando assim, a 3ª e 4ª adubação.

A amostragem deve ser feita por meio da coleta do 3º e 4º pares de folhas, no terço médio da planta, em 25 plantas por gleba, coletando-se um par de folha de cada lado da planta.

No entanto, com o advento da agricultura de precisão, muito tem se discutido a respeito de sua adequação à cafeicultura, onde por meio dos GPS’s, é possível fazer todo um levantamento da área, onde cada curva de fertilidade é identificada no solo, e portanto, a adubação é feita seguindo estas curvas.

Esta nova tecnologia permite que os nutrientes sejam utilizados na quantidade correta, independente da variação de fertilidade nos diferentes pontos da propriedade, representando assim, economias nos insumos, e ausência de problemas como toxidez e deficiência de nutrientes nas plantas de café.

Sobretudo, este equilíbrio entre os nutrientes assegura maior resistência da planta a estresses bióticos e abióticos, possibilitando assim, maior imunidade contra doenças como a Phoma e Cercóspora.

Figura 2. Esquematização da amostragem foliar no cafeeiro.

O gesso pode substituir o calcário na correção da acidez do solo?

Apesar de muitos acharem que calcário e gesso agrícolas são semelhantes, esses dois produtos químicos possuem características e efeitos nos solos completamente diferentes. Cada um tem uma ação e efeito particular. O calcário possui baixíssima solubilidade no solo, tem a capacidade de elevar o pH do solo, além disso fornece Ca e Mg para o solo, sendo o carbonato responsável pela correção da acidez do solo. Já o gesso e constituído por Ca e S e por ser um sal e não uma base como o calcário, não tem a capacidade de elevar o pH do solo, logo não se deve fazer o uso do gesso como substituto do calcário com a intenção de corrigir a acidez do solo.

É viável a realização de uma super gessagem?

Muito tem se discutido sobre a aplicação de super dosagem de gesso no cafeeiro, específico para obter sucesso com essa super gessagem. Além disso, e necessário observar o tipo de solo, pois em solos arenosos corre o risco de, se realizada essa super dosagem de gesso, ocorrer à lixiviação dos nutrientes da camada superficial do solo para camadas mais profundas, onde o cafeeiro não terá acesso a esses nutrientes e ocorrer deficiências nutricionais ao cafeeiro, principalmente de potássio e magnésio. Portanto se recomenda aplicar gesso de acordo com a análise de solo de 20 a 40 cm de profundidade, atentando-se para realizar a aplicação apenas se a análise química do solo atender aos requisitos abaixo:

  • O teor de cálcio for menor ou igual a 0,4 cmolc/dm3.
  • O teor de alumínio for maior que 0,5 cmolc/dm3.
  • A saturação por alumínio (m) maior que 30 %.

Qual tabela de recomendação utilizar para calculo de adubação?

Existem diversas metodologias utilizadas para recomendação de fertilizantes na cultura do café, cada qual, com suas particularidades adequadas a região que a mesma é utilizada. Portanto, a escolha do método a ser utilizado vai depender da região e das características pertinentes a área de cultivo que o cafeeiro se encontra.

Para estes fins, as metodologias mais utilizadas são o boletim 100, do IAC, a 5ª Aproximação, muito utilizada no estado de MG e a adubação modular, segundo o pesquisador Malavolta. Recentemente foi também lançado o manual de recomendação da Fundação Procafé, que também pode ser utilizado.

Abaixo estão algumas das tabelas mais utilizadas nos cálculos de adubação:

 

Tabela 1. Recomendação de adubação corretiva para o cafeeiro (Casale et. al).

 

Tabela 2. Recomendação de N e K para manutenção da lavoura (5ª Aproximação)

Tabela 3. Recomendação de P para manutenção da lavoura (5ª Aproximação).

 

O cafeeiro responde a super dosagens de fósforo?

Por muitos anos o cafeeiro foi considerado como uma planta que não respondia à aplicação de altas doses de P no solo uma vez que este é um dos macronutrientes menos exportado pelos grãos de café. Assim, a planta não precisaria de grande quantidade do nutriente para completar seu ciclo reprodutivo. Portanto, com base nessas premissas as recomendações de adubação fosfatada de manutenção da cultura que sugerem aplicações que vão ao máximo de 80 a 100 kg ha-1 de P2O5 quando houver expectativa de 60 scs ha-1 e baixos teores de P disponível no solo.

Nesse contexto, existem alguns trabalhos demonstrando que a cultura pode responder à maior adubação fosfatada em fase de produção e implantação, principalmente em solos de Cerrado, naturalmente de baixa fertilidade, e em anos de alta produtividade, testadas doses máximas de 90, 150 e 180 kg ha-1 de P2O5.  Em alguns trabalhos podem-se observar incrementos lineares de produtividade até a dose máxima anual de 400 kg ha-1 de P2O5 em sistemas irrigados e 600 kg ha-1 de P2O5 em sequeiro no sul minas.

A nutrição do cafeeiro tem relação com o surgimento de doenças?

O surgimento de doenças no cafeeiro é favorecido quando as condições ambientais são adequadas à disseminação das mesmas. Sobretudo, a propagação é maior quando a planta se encontra em algum tipo de estresse, seja ele nutricional ou hídrico.

Nesse sentido, a nutrição do cafeeiro é de grande importância para o manejo fitossanitário da lavoura, onde a correta e equilibrada nutrição faz com que ocorra redução nas chances de incidência de doenças na lavoura. A relação entre as quantidades dos nutrientes na planta também possui relação direta com a incidência de doenças, principalmente a relação K:Ca, na incidência de cercosporiose no cafeeiro.

Outros casos, como o aumento da incidência de Mancha de Phoma no cafeeiro quando em excesso de Nitrogênio também são frequentes, e se não bem manejados podem reduzir aumentar o custo de produção para minimização deste problema, e consequentemente reduzir a rentabilidade da cultura.

Com relação aos nutrientes, preconiza-se uma relação de 9:3:1, se tratando de Cálcio, Magnésio e Potássio, respectivamente.

Portanto, o manejo correto dos fertilizantes no cafeeiro, garante menores custos no controle de doenças nas plantas, onde as plantas equilibradas e bem nutridas terão maiores condições de evitar a disseminação das mesmas.

A utilização de silicatos substitui a calagem?

Atualmente tem se discutido muito a respeito do uso de silicatos na agricultura, onde os mesmos são utilizados na correção de solos, e também no controle de patógenos, atuando como fungicidas na aplicação via foliar e nematicidas via solo.

A correção dos solos por meio do uso de silicatos é realizada, porém sua eficiência é muito baixa, visto que a reatividade destes é muito reduzida no solo, pois sua granulometria na maioria das vezes é muito grosseira.

Sobretudo, a correção do solo deve ser feita com a aplicação de calcário, pois sua solubilidade é muito alta, com preço reduzido, assim seu custo benefício se torna mais atrativo que a utilização de silicatos para estes fins.

Ademais, seu uso via foliar, tem se mostrado muito eficiente no controle de doenças no cafeeiro, onde, por meio da interação das barreiras físicas e químicas que o silicato promove nas folhas, a disseminação dos fungos é muito reduzida.

É viável a realização de adubações de inverno?

A realização de adubações de inverno ainda é pouco disseminada entre os cafeicultores, sendo mais comum o parcelamento das adubações entre os meses de outubro e março. No entanto, alguns trabalhos evidenciam que a realização de adubações de inverno, principalmente se utilizando o nitrogênio (N), apresentam ganhos no inicio da vegetação na safra seguinte, garantindo assim maior crescimento e desenvolvimento do cafeeiro.

No sul de minas, foram feitos ensaios parcelando a recomendação total da adubação da lavoura em 12 parcelamentos, sendo um a cada mês. Os resultados foram representativos, onde a absorção de nutrientes pelo cafeeiro foi feito de maneira gradual e pontual, assegurando assim ótimo vigor na planta, pela não ocorrência de deficiências. O crescimento vegetativo se mostrou superior quando comparado ao parcelamento tradicional entre os meses de outubro a março.

É viável a utilização de macronutrientes via foliar?

Muito se discute a respeito de aplicações via foliar de macronutrientes no cafeeiro, no entanto, o fornecimento de N, P, K, Ca, Mg e S na maioria das vezes são suplementados via solo. Geralmente as quantidades requeridas por esses nutrientes são elevadas, inviabilizando o fornecimento via foliar.

Sabe-se que os micronutrientes são fornecidos via foliar, por serem requeridos em menores quantidades. Sobretudo, cabe atenção por parte dos cafeicultores para que não ocorra falta de nenhum dos micronutrientes, pois se somente um deles estiver deficiente, a produção da planta estará comprometida (Lei do Mínimo).

Tabela 4. Recomendação de Macro e Micronutrientes em aplicações via foliar.

Novos estudos mostram que a complementação da adubação via solo com macronutrientes fornecidos via foliar, em momentos estratégicos do ciclo fenológico do cafeeiro, como a florada e o enchimento dos grãos, podem representar ganhos na produção, assim como maior pegamento de florada e menor incidência de grãos chochos.

Por outro lado, a utilização de micronutrientes via solo, como o Manganês, Ferro, Zinco e principalmente o Boro podem trazer resultados muito positivos, evitando pulverizações foliares frequentes visando a manutenção deste nutriente na planta, visto que, no fornecimento via solo, sua absorção e assimilação e gradativa.

Por fim, um ponto que vem sendo discutido é a questão do enxofre no cafeeiro, que muitas vezes é negligenciado, e mesmo sendo um macronutriente, é raro a adoção de fertilizantes específicos para este elemento. Para sanar este problema, o cafeicultor deve sempre lançar mão de fertilizantes que contenham o S em sua constituição, mesmo que de forma alternada, para que, pelo menos em uma adubação do parcelamento o cafeeiro tenha acesso a este nutriente.

Como fornecedores de S na cafeicultura temos principalmente os fertilizantes Superfosfato Simples, Sulfato de Amônio e o Gesso Agrícola.

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