Arnaldo Luiz Corrêa
FALÁCIAS E OPORTUNIDADES
Semana muito calma no mercado de açúcar talvez em função da Copa do Mundo ou mesmo da completa falta de atividade no mercado físico. NY fechou a 12.05 centavos de dólar por libra-peso, praticamente inalterado em relação à semana passada.
Uma discussão que temos ouvido muito no mercado é acerca da influência do dólar no preço do açúcar em NY. Existe a percepção entre muitos traders que uma desvalorização do real em relação à moeda americana implica necessariamente em uma queda das cotações do açúcar no mercado futuro de NY. Os números não confirmam essa suspeita. Os dados de fechamento que coletamos do açúcar em NY e do real, desde o início do ano, mostram uma correlação próxima a zero.
Observamos a correlação em períodos mais curtos para tentar encontrar alguma tendência se formando. Usando 20 dias chegamos num máximo de -0,50, ou seja, uma mudança no dólar afetaria o preço do açúcar em apenas metade da variação. Por exemplo, dólar sobe 1%, açúcar cai 0.5%. Nada consistente. Uma razão para esse descasamento pode ser o mecanismo de formação de preço da gasolina que toma por base os preços internacionais do petróleo. Variações positivas da moeda americana são percebidas pelo mercado como maior preço para o combustível na bomba, melhor remuneração do etanol e, portanto, suavizando ou eliminando o possível efeito que elas teriam no preço do açúcar em NY. É mais uma daquelas falácias destruídas pelos números.
Tenho sempre insistido da necessidade de as usinas olharem com muita atenção a movimentação dos spreads no mercado futuro de açúcar. Os spreads refletem inequivocamente no mercado futuro, a percepção que os participantes do mercado possuem da movimentação do mercado físico. Enquanto a trajetória de preços no mercado futuro pode vez por outra ser impulsionada por razoes técnicas que fogem dos fundamentos do mercado (o caso dos fundos que levam para cima e jogam para baixo em função do enorme volume), é o spread que faz o papel de refletir no mercado futuro as movimentações ou percepções reais do mercado físico do produto.
No comentário semanal do final de semana de 13 de abril, dissemos aqui que: “O spread outubro/2018-março/2019 terminou a sexta-feira cotado a 118 pontos, representando um carrego equivalente a 24.3% ao ano, convidando os atentos consumidores industriais a apontarem seus lápis para aproveitar essa enorme distorção”. O que as usinas deveriam fazer? Rolar suas posições de outubro para março, o máximo que pudessem para capturar essa distorção, ou apenas comprar o spread (a compra do futuro de outubro concomitantemente à venda do futuro de março), sabendo que vai faltar cana e o spread fatalmente estreitaria.
O que aconteceu? Bem, o spread fechou na última sexta-feira cotado a 57 pontos. Ou seja, caso a usina tivesse seguido nosso alerta aqui, estaria hoje ganhando – sem tomar risco direcional, pois o spread não é direcional – 13.45 dólares por tonelada. Se tivesse apostado em apenas 100.000 toneladas hoje teria embolsado um lucro equivalente a R$ 2,50 por saca. É muita grana em cima da mesa para ninguém se importar com ela.
Mudando de assunto, em São Paulo, no início da semana passada, a UNICA promoveu um excelente evento com oito dos principais presidenciáveis. Com a competente coordenação do jornalista William Waack, os candidatos tiveram 15 minutos para falar livremente às mais de 600 pessoas do setor sucroalcooleiro sobe o que fariam com a política de preços dos combustíveis. Depois disso, os candidatos responderam a algumas perguntas formuladas pelo jornalista e por dois diretores diferentes de empresas do setor.
A escolha é difícil, não pela qualidade dos candidatos, mas exatamente pela falta dela. Apenas João Amoedo, do Partido Novo e Jair Bolsonaro, do PSL, que lidera as pesquisas, parecem concordar com a privatização da Petrobrás, embora este último não tenha deixado a coisa tão clara assim. Marina, numa língua muito parecida com o português, não consegue desenvolver um pensamento lógico. Ciro Gomes é estatizante e vomita números que carecem de veracidade, como o custo do barril de petróleo no pré-sal que ele diz ser de 8 dólares por barril, ou da dívida pública, que ele diz que vence a quatro dias. Sua eleição seria a pior catástrofe que poderia acontecer ao setor sucroalcooleiro. Meirelles não representa nada de novo e tem o carisma de uma samambaia e Alckmin não empolga. Que fase.