MAURÍCIO ANTÔNIO LOPES
Presidente da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Um dos principais objetivos da sociedade moderna é a superação do modelo de desenvolvimento dependente de recursos não-renováveis, gerador de poluição, de impactos negativos no clima, no bem-estar e na saúde das pessoas. A busca pela sustentabilidade, que mobiliza países, instituições e pessoas em todo o globo faz emergir com força uma nova vertente econômica – a bioeconomia – focada em indústrias e negócios de base biológica que respondam aos anseios de uma população que exige cada vez mais produtos e processos seguros, limpos e de baixo impacto ambiental.
Esse movimento terá profundo impacto na agricultura do futuro. Já vemos avançar a demanda por insumos derivados de microorganismos, extratos vegetais e outros componentes naturais ou orgânicos, como pesticidas naturais para controle de pragas e estimulantes biológicos capazes de promover crescimento e maior eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas, dentre muitos outros usos. Um grande apelo dos insumos biológicos é sua especificidade para o alvo pretendido e o baixo impacto em organismos não-alvo, o que leva a baixo risco de resistência e de impacto ambiental.
O Brasil, por ser o país com a maior diversidade biológica do planeta, pode participar com grande vantagem desse mercado emergente. Nossa biodiversidade é reserva quase ilimitada de insetos, bactérias, fungos, nematoides, protozoários e virus, além de imensa gama de compostos naturais como reguladores de crescimento, ácidos orgânicos, feromônios etc. Nos solos tropicais, estão microorganismos capazes de controlar patógenos de plantas, promover o crescimento radicular, aumentar a eficiência na absorção e uso de nutrientes, degradar contaminantes do solo, dentre muitas outras funções de interesse.
Antes de serem considerados solução definitiva e imediata para todos os problemas da agricultura, os insumos biológicos são hoje componentes importantes na evolução de uma agricultura sistêmica, integrada e sustentável. Nós ainda dependeremos, por algum tempo, das soluções convencionais para fertilização e proteção das nossas lavouras, mas com a evolução tecnológica e a ampliação do conhecimento sobre sistemas biológicos, a disponibilidade de alternativas cada vez mais completas e eficientes crescerá, até mesmo em razão das crescentes dificuldades e custos no campo regulatório, o que dará aos insumos biológicos amplas vantagens no futuro.
[publicado originalmente no jornal Zero Hora]